TRIBO FORTE #229 – ADOÇANTES E ALGO COM RISCO MONSTRUOSO PARA DIABETES II

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Neste Episódio:

Adoçantes;
Risco para Diabetes II;
E mais;

Escute e passe adiante!!

Saúde é importante!

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Caso de Sucesso do Dia

Referências

Vigitel Brasil 2019

Artigo no JAHA

Transcrição do Episódio

Transcrição estará disponível em breve.

Rodrigo Polesso: Olá pessoal, bem-vindos ao podcast número 229 aqui da Tribo Forte, teu episódio semanal de ciência da nutrição, estilo de vida saudável, emagrecimento e tudo o que pode te ajudar a ser a melhor versão de você mesmo. Hoje a gente vai falar sobre adoçantes um pouco né, falar um pouco também sobre um risco monstruoso para diabetes tipo 2, o que que realmente pode ser associado um risco monstruoso para diabetes tipo 2? A gente vai ver isso em conexão com o podcast anterior que a gente comentou, eu já coloco você a par disso aí. Doutor Souto, bem-vindo esse podcast, como está por aí?

Dr. Souto: Tudo bem Rodrigo! Bom dia! Bom dia aos ouvintes!

Rodrigo Polesso: É isso pessoal, vamos lá! No podcast passado, se você acompanha a gente aqui toda semana: parabéns e obrigado pela sua audiência! Mas é o seguinte, a gente falou sobre um estudo de Harvard defendendo o consumo de grãos integrais para diminuir o risco de diabetes tipo 2, nós falamos aqui que comer grãos integrais é um marcador de pessoa que geralmente faz um esforço extra para comprar grãos integrais. A gente argumentou que não eram de fato os grãos integrais que tavam gerando esses benefícios e diminuição de risco de diabetes tipo 2, mas sim um conjunto de outros hábitos mais saudáveis que pessoas que fazem um esforço para comprar grãos integrais geralmente tem né. Então, como a gente falou grãos integrais seria um marcador do tipo de pessoa de maior renda e talvez maior escolaridade também, maior consciência do estilo de vida saudável, mas claro que Harvard aí esqueceu que fez um estudo epidemiológico e achou que a relação causal fosse na questão dos grãos né. Mas você já conhece a Escola De Saúde Pública de Harvard se você acompanha a gente aqui né. As associações entre o consumo de grãos integrais e diabetes no estudo foram fracas, estudos associativos, enfim, foram fracas não preenche aos requisitos de Bracken Hill, enfim, é coisa de poucos pontos percentuais entre os grupos, mesmo eles tentando achar uma diferença grande né. Agora, para demonstrar o que realmente está associado fortemente com o desenvolvimento de diabetes tipo 2 e corroborar de fato isso que a gente tá falando, a gente pode analisar agora alguns poucos dados aqui da pesquisa da Vigitel, da população brasileira de 2019, ok?! Para a gente descobrir o que pode estar mais associado ao diabetes tipo 2 que não o consumo de grãos integrais. E a gente levantou a bola, eu acho que o Doutor Souto falou inclusive no podcast passado, sobre a questão de renda, de marcador de renda sendo associado a maior quantidade de doenças, maior incidência de diabetes tipo 2 também, e aqui tem alguns dados oficiais da Vigitel falando o seguinte: o primeiro é o percentual de indivíduos que praticam atividade física ao ar livre, percentual de indivíduos que praticam atividade física ao ar livre, existem três categorias de escolaridade, pessoas que tem 0 a 8 anos de escolaridade formal, pessoas que tem de 9 a 11 anos de escolaridade, e pessoas que tem 12 anos de escolaridade ou mais. Então, a gente vai falar aqui em porcentagem de cada uma dessas faixas de escolaridade, não é porcentagem de pessoas que se exercitam ao ar livre, no tempo livre. Então, pessoas que tem de 0 a 8 anos de escolaridade, 25%, ou seja, 1/4 dessas pessoas fazem exercício no tempo livre. As pessoas que têm mais escolaridade de 9 a 11, 39% delas fazem exercício ao ar livre. E pessoas que são mais “educados”, digamos assim, de todos têm mais anos de escolaridade, metade delas, 50% delas se exercitam para atividade física ao ar livre de pelo menos 150 minutos de intensidade moderada por semana. Então, a gente vê que quanto mais escolaridade a pessoa tem, mais ela tende a ter a consciência de fazer atividade física no seu tempo livre, ok?! O próximo ponto…

Dr. Souto: E Rodrigo, não só a consciência, mas também até, porque não, o privilégio de ter esse tempo livre, de não ter que estar em dois empregos para conseguir pagar o aluguel, de poder dispor de um tempo livre para naquele tempo ao invés de tá trabalhando ou fazendo a faxina da casa, porque a hora que a pessoa não está trabalhando e não tem como pagar alguém para fazer aquilo, bom, então essa pessoa tem tempo para fazer atividade física, mas o principal, e eu sei que você vai continuar falando isso, mas só porque eu quero que o pessoal escute você já pensando nisso, é você ver que não é que a escolaridade de alguma forma torna você menos preguiçoso, ou que falta de escolaridade faz você ter preguiça, não é isso, mas uma coisa pode ser o marcador de outra, e obviamente se você tem muito mais chance de estar fazendo atividade ao ar livre, isso vai se refletir na sua saúde, mas vamos adiante, tem números mais legais né…

Rodrigo Polesso: Exato! A questão da atividade física é um dos marcadores de um tipo de pessoa mais afluente, como você não perceber aqui, com maior escolaridade e etc. Segundo ponto interessante que eles estão trazendo aqui é o percentual de indivíduos que referiram diagnóstico médico de hipertensão arterial, então pessoas que foram diagnosticados como tendo hipertensão arterial. E a mesma coisa, mesmas categorias aqui, então pessoas de 0 a 8 anos de escolaridade, 41 % dessas pessoas reportaram ter sido diagnosticadas com hipertensão arterial, ao passo que o grupo do meio de 9 a 11, foram somente 20%, ou seja, metade já de hipertensão e incidência, e pessoas com mais escolaridade, somente 14%. Então, pra a gente comparar o pessoal de 12 anos ou mais de escolaridade 14% com hipertensão, o pessoal de 0 a 8, 41% de hipertensão, será que isso pode impactar desenvolvimento de diabetes, câncer, outros problemas estilo de vida, problema de saúde, será? Provavelmente né.

Dr. Souto: Ô se pode! E mais uma vez, vocês observem aqui: não é aquele risco relativo ridículo que Harvard encontra entre comer uma coisa ou comer outra, que é alguma coisa do tipo assim “um risco de aumentar em 1,15 % o risco”, aqui vamos fazer uma continha rápida de cabeça, nós estamos vendo 14% dos que tem 12 anos de escolaridade ou mais X 41% dos que tem de 0 a 8. Bom, se fosse 15, o dobro seria 30…3x… é praticamente 300% maior chance de hipertensão de acordo com a escolaridade, e eu pergunto a escolaridade muda quanto sal você come? Ou a escolaridade afeta diretamente as suas artérias e deixa-as mais duras? Eu quero que vocês entendam que os estudos associativos, frequentemente estão medindo outras coisas, e é mais legal quando a gente tem, como aqui, uma situação em que obviamente o motivo não é biológico, é sociológico, significa que essas pessoas que têm menos escolaridade tem uma série, um grande conjunto de hábitos menos saudáveis do que as pessoas que têm mais escolaridade, provavelmente devido ao fato de que pela renda mais baixa essas pessoas não tem o privilégio de poder escolher os melhores alimentos, de poder fazer a sua atividade física no seu tempo livre, tempo livre esse que muitas vezes não existe, ou não tem uma renda para pagar uma academia, são tantas coisas que influenciam, só que aqui como é óbvio que não há uma conexão biológica, quer dizer, não é o tempo sentado na cadeira da escola que tá afetando o quanto a camada muscular das suas artérias contraem, não há um nexo biológico, você diz “bom, claro, deve ter outros motivos”, a grande diferença é que Harvard tá vendo o mesmo tipo de associação, com variáveis de confusão, só que eles estão traçando ilações causais que eles não podem, só porque tão falando de comida, então eles explicam “ah, através da fibra da comida, isso explicaria e tal”, a chance disso ser verdade é tanto como, sei lá, o livro que você come pelo cheiro, que você respira, o cheiro do livro tá afetando nossa pressão…

Rodrigo Polesso: É, exato! A gente não pode esquecer que Harvard, como você sabem, tem uma grande força ideológica do lado da plant based, então eles tentam sempre defender isso aí, se é a fibra, os grãos integrais, se é a diminuição de gordura saturada… então, eles sempre tentam achar esses vieses, e como o Doutor Souto falou, geralmente é a associação que eles trazem é muito fraca, e a gente traz aqui um fator sócio-econômico, uma consideração socioeconômica, e a gente vê uma associação muito mais forte também. Eu vi alguém falando, não tenho a referência agora, é do pessoal dos maiores distribuidores de carne, eu acho que é, nos Estados Unidos, eles viram um gráfico muito legal, infelizmente eu não tenho aqui a bendita da referência… Mas eles dizem assim: quando as pessoas recebem o salário, elas compram bem mais carne e essa curva de carne começa a cair ao longo do mês na medida que o dinheiro vai se esvaindo, então quando as pessoas têm dinheiro elas vão e compram mais carne quando elas podem, e quando elas têm menos, infelizmente, elas compram menos. E essa curva acontece todo mês, na medida que as pessoas ganham salário, e depois gasta o salário, o que é interessante também.

Dr. Souto: Olha que interessante! Agora o próximo número que você vai falar Rodrigo, eu acho que é o mais impressionante, que mais vai dar “pano pra manga” aqui para gente conversar…

Rodrigo Polesso: Exato! Até porque, exatamente, o que tem a ver com o estudo passado que a gente falou, que é a incidência de diabetes tipo 2. A frequência, o percentual de pessoas de acordo com a escolaridade que foram diagnosticadas com diabetes aqui, ok?! Então, olha só, lembrando que lá em Harvard eles tentaram comparar o primeiro quintil com o último para tentar achar a maior diferença possível e, se não me engano, o que eles acharam foi acho que foi 25%, um negócio assim, de diferença em incidência de risco em diabetes tipo 2 comparado com as pessoas que quase não comiam nunca grãos integrais, e as pessoas que mais comiam grãos integrais. Então, vamos ver aqui só o fator sócio-econômico de novo, de escolaridade, as mesmas faixas, as pessoas de 0 a 8 anos, 14.8 % ou seja 15% das pessoas foi diagnosticado com diabetes tipo 2, ok. De 9 a 11, 5.4 %, já caiu três vezes. E de 12 a mais anos de escolaridade 3.5 %, vamos comparar: pessoas com escolaridade de 0 a 8 anos 15% delas têm diabetes e o pessoal de 12 ou mais 3.5 %. Qual é o risco relativo aqui Doutor Souto?

Dr. Souto: Vamos fazer a continha, eu faço questão de abrir aqui a calculadora. Então, vamos ver 14,8 / 3,5 = 4,22, é um risco relativo de 4,22, 422%. Então, se é realmente a diferença dos grãos integrais, comer mais grãos integrais que diminui em 25, 5% suas chances de ter diabetes, então com certeza isso prova que de alguma forma o histórico escolar entra nas suas veias e afeta as células Beta do seu pâncreas. Eu imagino que se eles comparassem também pelas notas quem tirou mais 10 e – 0, pegou menos recuperação também teria um efeito nas células Beta do pâncreas…

Rodrigo Polesso: Só uma nota: no estudo de Harvard eles não adicionaram nenhum parâmetro sócioeconômico lá, porque ia ficar muito clara a força da associação, então eles eliminaram isso dos estudos.

Dr. Souto: Óbvio né! Então, assim pessoal, o fascinante desses dados do Vigitel é para mostrar que para quem imagina que “ah, mas não é possível que só esses fatores socioeconômicos que realmente sejam tão importantes”, não, do ponto de vista biológico, seja lá o que você come ou deixa de comer, mesmo açúcar pessoal, se você comer açúcar e beber refrigerante com açúcar todos os dias não dá uma diferença tão grande como seu número de anos de escolaridade, e açúcar com certeza tem relação com desenvolvimento de diabetes, mas o que a gente quer dizer é que nos estudos observacionais quando você olha algo como renda ou escolaridade você tá vendo um conjunto amplo de fatores, então sim, quem tem menos escolaridade tem uma chance muito maior de consumir açúcar, mas também de consumir farináceos baratos, tem uma chance muito pequena de consumir proteína de boa qualidade na maior parte das refeições, tem menos tempo para fazer atividade física ao ar livre, e muito importante, menos acesso à informação, não tem plano de saúde, tem menos acesso a medicina, a possibilidade de fazer um exame e descobrir precocemente que alguma coisa tá ficando alterada, que tá desenvolvendo pré-diabetes ou gordura no fígado e mudar o estilo de vida e prevenir que aquilo se transforma em diabetes, tem menos estresse financeiro, sabe pessoal, é tanta, tanta, tanta coisa e aí querem me dizer que o estudo observacional vai demonstrar que é os grãos integrais que tão prevenindo contra diabetes. E aí que a gente chamou atenção para vocês a questão aqui da escolaridade e da renda? Porque isso é simplesmente uma das formas de dividir os quintis do grupo em renda, quem é que vai se preocupar em ir numa casa especializada, no mundo verde, numa loja de produtos naturais para comprar o pão com maior número de fibras funcionais e grãos especiais, aqueles grãos que só crescem nas encostas dos Andes, sabe? É quem tem renda para torrar. E quem tem renda para torrar? Em geral, estatisticamente falando do ponto de vista do IBGE, são as pessoas que tem um nível de escolaridade maior. Então, quando você está comparando quem consome mais grãos integrais e menos grãos integrais você não está apenas comparando grãos integrais, querido, você está comparando pessoas com rendas e escolaridades diferentes, e como nós vimos, renda e escolaridade provocam diferença de 400% na incidência de diabetes. E aí você realmente acredita que é possível o controle estatístico de variáveis excluir tudo isso e isolar o efeito dos grãos?

Rodrigo Polesso: É, é um absurdo. O ponto-chave aqui é pessoas que tem de 0 a 8 anos de escolaridade e pessoas que tem 12 ou mais, são pessoas completamente diferentes em termos de hábitos de vida, e não tem como comparar maçã com cacto, não tem como fazer isso. Então, o pessoal de Harvard… “Ah, mas o pessoal de Harvard deveria saber disso”, eles sabem, só que a ideologia desses caras é mais forte que a razão deles pessoal, por isso que a gente fala: seja cético sempre, tenha senso crítico, não importa quem está falando nunca a opinião de alguém vai ser mais importante do que a evidência que suporta essa opinião, a gente está vendo um exemplo claro disso.

Dr. Souto: Olha, é assim, incrível né! E aí pessoal, vocês já estão cansados de ouvir a gente falar em ensaio clínico randomizado. Mas o ensaio clínico existe justamente porque se reconheceu a importância de todas essas variáveis de confusão, m as variáveis de confusão cujo a existência a gente conhece e tenta controlar matematicamente quando faz um estudo observacional, mas tem outras variáveis de confusão que você não conhece, que você nem sabe que são importantes. E o ensaio clínico randomizado ao sortear pessoas para dois grupos, pelo sorteio estatisticamente os grupos tendem a ser similares em relação a todas as variáveis, exceto aquela que você está testando, e aí vem aquele fenômeno interessante: quando você pega pessoas com sobrepeso, com diabetes, com pré-diabetes, e randomizado para um grupo que tem restrição de carboidrato (porque se restringe carboidrato, restringe os grãos integrais) e um outro grupo que não restringe carboidratos, você vê perda de peso, remissão do diabetes, remissão da gordura no fígado, redução da síndrome metabólica no grupo que restringe os grãos integrais. E eu pergunto Rodrigo Polesso: como é possível que se você tirar os grãos no ensaio clínico randomizado o diabetes vai embora, mas no estudo observacional se você comer poucos grãos isso provoca diabetes? É possível?

Rodrigo Polesso: De acordo com a lógica de Harvard, acho que sim. Então, cuidado pessoal que estuda em Harvard, pode aprender uma lógica diferente daquela do resto do mundo né. É impossível que uma coisa que cause mal e causa bem ao mesmo tempo, não tem como caber as duas coisas aí.

Dr. Souto: Saiu esses dias uma notícia aqui em vários municípios do Estado de São Paulo, onde estava se revisando a violência policial, que houve um aumento do número de homicídios praticados pela polícia, e eu não me lembro em quantos municípios a totalidade das pessoas que tinham sido mortas pela polícia eram negros. Isso tá bem na moda agora, é uma coisa que tá sendo bastante discutido no mundo. Se você for seguir a lógica de Harvard você vai chegar à conclusão que ser negro atrai fisicamente a direção da bala, né?!

Rodrigo Polesso: É, meu Deus do céu! É isso que Harvard diria né, sacanagem!

Dr. Souto: É isso aí! Então assim, obviamente a cor da pele está associada com uma série de outros fatores do ponto de vista epidemiológico, mais uma vez, como renda, como escolaridade, como estar mais sujeito a viver em comunidade onde existe mais tráfico de droga e violência, então assim como a gente tem esse bom senso e esse ceticismo quando pensa nessas coisas sociológicas, vamos pensar que a alimentação e estilo de vida fazem parte dessas coisas sociológicas, e elas podem ser marcadores sim de renda, de status social, de acesso à saúde, e , portanto, quando você compara quem come grãos integrais com quem não come, quem bebe vinho com quem não bebe, você está comparando não apenas o vinho, porque não é um estudo randomizado, não apenas o grão integral, porque não é um estudo randomizado, é o tipo de pessoa e você está segregando grupos de pessoa baseadas em algumas características que distinguem esses grupos em relação aos outros, em relação a uma série de outras coisas. Vamos dizer: comparar o quintil que come mais grãos integrais com o quintil que come menos grãos integrais poderia ser comparar quem anda de ônibus e trem lotado com quem anda no próprio carro, vocês entendem pessoal? Pelo amor de Deus! É importante que isso fique claro cada vez que você lê um estudo observacional de epidemiologia nutricional você está fazendo equivalente ao que eu publiquei anos atrás lá no meu blog, onde eu botei uma notícia lá do Enem, que mostrava que se você comparar alunos brancos e alunos negros tem uma grande distância, os alunos negros e pardos tem um desempenho muito pior no ENEM, e você concluir como Harvard concluiria, no que diz respeito a comida, que isso aí é o quê? Porque a cor da pele deixa eles com QI mais baixo. Você sabe que não é, você sabe que essa cor da pele é um marcador de escolaridade, é um marcador de injustiça social sócio-econômico, então use esse mesmo senso crítico que você usa para ler essa notícia do Enem e use para comida e para notícia de alimentação e, né Rodrigo, para tudo na vida!

Rodrigo Polesso: Para tudo na vida! E isso com certeza vai te proteger de muita armadilha que a gente vê por aí. Pessoal, importante esse podcast hein! Passe para a galera aí! Passe a mensagem para frente, porque as pessoas que entendem isso que a gente acabou de falar, isso dá uma liberdade para você entender tanta coisa e ficar muito menos suscetível a qualquer armadilha aí que a gente vê no mundo, porque esse tipo de estudo são usados em todo lugar pela mídia, para manipular as pessoas, para gerar manchetes que falam o que que não condiz com o estudo e etc, e esse é um conhecimento poderoso que eu acho que todo mundo deveria saber, então ajude a espalhar esse podcast da Tribo , esse episódio é o número 229. Para gente finalizar aqui, um papo rápido sobre adoçantes e bebidas adoçadas. Olha só, tem um novo ensaio Clínico randomizado publicado agora no dia 22 de julho Jornal De Associação Americana Do Coração, onde eles procuraram testar diferentes impactos de bebidas adoçadas com açúcar, bebidas não calóricas, mas adoçadas artificialmente e bebidas não adoçadas, e marcadores metabólicos, peso, sensibilidade ao sabor doce e etc. Particularmente, eu achei o estudo um pouco fraco, você vai entender porquê, e não muito bem controlado, no entanto, eu acho que a gente pode ainda assim discutir alguns pontos aqui. Foram 203 adultos que foram acompanhados, pessoas essas que costumeiramente consomem bebidas adoçadas com açúcar, e elas foram divididas aí em três grupos no estudo e durante um ano inteiro o pessoal do estudo mandaria para casa de cada pessoa de cada um desses grupos bebidas adoçadas ou bebidas adoçadas artificialmente ou bebidas não adoçadas. Então, eles enviar para casa de cada um desses três grupos durante o ano inteiro esses três diferentes tipos de bebidas, no final do estudo eles foram ver a diferença entre os grupos, então enquanto eles não viram grandes diferenças em termos de marcadores metabólicos, eles notaram uma diferença favorável nas pessoas que tinham mais a adiposidade central né, gordura visceral, essas pessoas ao substituírem bebida adoçada (que elas estavam acostumadas a tomar) e começar a beber bebida adoçada artificialmente ou bebida não adoçada, elas perderam mais peso. Outro ponto foi que o consumo de bebidas não , nesse grupo as pessoas reportaram que ficaram um pouco mais sensíveis ao sabor doce também, talvez muita gente que tenha feito a substituição pode se relacionar a isso. O estudo é de difícil conclusão porque as pessoas todas, como eu falei, elas estavam segundo as suas dietas habituais em casa, fora do controle do pessoal do estudo, então tem muita variável de confusão também, apesar de ser um ensaio Clínico randomizado as pessoas estavam em casa comendo que tavam comendo e só recebiam essas caixas de bebida em casa durante um ano, para análise né. Mas mesmo assim, eu acho que no contexto das outras literaturas que a gente tem disponível sobre o consumo de bebidas adoçadas com adoçante não calóricas e etc, a gente pode, enfim, reforçar alguns pontos aqui Doutor Souto.

Dr. Souto: Eu acabei dando bola para o estudo, porque ele é um estudo que investigador principal é o David Ludwig, e eu sou descaradamente fã do Ludwig, o que ele escreve eu leio, ele é de Harvard, mas ele não é da Escola De Saúde Pública. Bom, eu acho que ele é um estudo que tem fraquezas, como você levantou, por outro lado ele não deixa de ser um estudo um pouco mais de vida real, não é as pessoas em ala metabólica super controladas, é as pessoas vivendo mesmo, dentro das suas casas, e nos ajuda a pensar assim: o que contece se a gente fizesse simplesmente essa substituição de tirar as bebidas adoçadas com açúcar? Então, no grupo como um todo, não fez muita diferença, no grupo com obesidade central, ou seja, em pessoas com resistência à insulina, com síndrome metabólica, bem, nesses indivíduos houve diferença de perda de peso, de melhora de outros , então, claro, como era uma análise de subgrupo, aqueles que estão nos ouvindo que conhece um pouco mais de metodologia científica sabem que tem que ter um certo de ceticismo em relação a esse resultado, que quando você começa a analisar subgrupos o estudo perde um pouco do seu poder, mas pelo menos faz sentido e casa um pouco com uma experiência de consultório, viu Rodrigo, eu já vi pacientes, aí sim, com síndrome metabólica, com pré-diabetes ou diabéticos, que chegam na primeira consulta relatando que eles tomavam, vamos dizer, dois litros de refrigerante com açúcar por dia e que ao tirar o refrigerante, como única mudança, só tirar, perderam vários quilos. Então, isso é o que esse estudo tá mostrando, que na população como um todo, simplesmente tirar bebida açucarada, se isso for a única intervenção, não vai fazer muita diferença, mas para aqueles que consomem grandes quantidades e são metabolicamente disfuncionais, para esses, só isso pode eventualmente fazer uma diferença.

Rodrigo Polesso: Podia pensar assim, para simplificar esse ponto seu, que a gente sabe como fato que bebidas adoçadas, ou seja, a ingestão de açúcar em pessoas que são metabolicamente doentes é uma coisa ruim, a gente sabe disso como fato. A gente não sabe como fato que bebidas adoçadas artificialmente sem açúcar são boas ou ruim, é uma coisa que tá um pouco inconclusiva ainda na ciência, então vamos basicamente trocar essa coisa que tá em conclusiva, fazer isso em vez de fazer o que é comprovadamente ruim para essas pessoas, tende a ser positivo, apesar da incerteza de um, a gente tem a certeza do mal do outro né.

Dr. Souto: É exato! Um detalhe interessante,eles comentam isso na discussão do artigo é: que como não havia controle do resto do que as pessoas estavam comendo, é muito provável que as pessoas que tenham tirado a bebida açucarada, tenham substituído isso com outros carboidratos refinados, o que me leva ao ponto de que o grande estudo e ensaio clínico randomizado que eu gostaria de ver feito não é esse, seria um ensaio Clínico que tivesse um grupo controle, tivesse um grupo com fazendo uma dieta pobre em carboidratos (uma dieta low carb) com adoçantes e um outro grupo uma dieta low carb sem adoçante, para ver se haveria diferença entre esses dois grupos, porque eu entendo que se você tira aquela coisa doce, seja bebida adoçada com açúcar, seja bebida adoçada com adoçante, daqui a pouco você vai ficar com mais vontade de doce, aliás, nós vamos discutir daqui a pouco que esse estudo mostrou isso, e se você fica com mais vontade de doce, mas você está fazendo um tipo de alimentação que você pode comer doce, quer dizer, você não está fazendo uma dieta low carb, essa compensação, na minha teoria na minha cabeça, seria mais provável com o pior tipo de compensação possível. Então, você deixou de tomar o seu refrigerante e vai comer doce de leite, vai comer brigadeiro no lugar para matar a vontade do doce, a diferença é se você está no protocolo low carb e você comparar adoçante artificial ou não adoçante artificial, não havendo a possibilidade de comer doces em nenhum dos 2 casos, se haveria diferença eu realmente não sei, gostaria de ver esse estudo, curiosidade…

Rodrigo Polesso: É exato! Você mencionou a questão do sabor, da sensibilidade ao doce, acho que muitas pessoas podem se relacionar a isso também, eu com certeza, sou uma pessoa que sempre gostou muito de doce, quando era adolescente eu queria as coisas mais doces possíveis, então nada era doce suficiente, mas quando você remove o doce ou diminui, por exemplo, a sua intensidade, você tende a sentir uma certa de, digamos, “sensibilização” das papilas a respeito do doce, menos doce parece satisfazer mais, você fica mais sensível a esse doce, e esse estudo acabou mostrando também alguma coisa nessa direção também, né Doutor Souto?! Claro, a diferença principal foi as pessoas que tomaram as bebidas não adoçadas, ou seja, removeram aquele doce enorme da bebida adoçadas, adoçadas com açúcar ou artificialmente, e elas relataram que uma menor quantidade de doce ia satisfazer elas da mesma forma, e teve talvez, uma indicação em relação ao benefício para as bebidas adoçadas com adoçantes também, mas aí fica um pouco mais no ar, a gente não sabe se essas bebidas são tão doces quanto as adoçadas com açúcar, mas parecem ter indicado uma direção nesse sentido né…

Dr. Souto: É, então eles fizeram testes padronizados, testes sensoriais padronizados, Eentão com soluções com diferentes níveis de açúcar para que as pessoas indicassem com uma escala numérica assim: zero é nada adoçado, 10 é doce até demais, e as pessoas iam graduando aquilo ali. Eles fizeram no início do estudo e fizeram no final, o grupo que ficou um ano bebendo bebidas não adoçadas ficou muito mais sensível ao gosto doce, achava coisas com pouco açúcar já doces, enquanto o grupo que bebeu bebidas adoçadas tinha menor sensibilidade ao gosto doce, mas isso é interessante, as bebidas adoçadas artificialmente produziram também uma maior sensibilidade ao gosto doce depois de um ano, as pessoas não ficaram tão dessensibilizadas ao gosto doce do que aquelas que beberam bebidas açucaradas direto. Então, se a gente olha o gráfico no estudo, a gente vê: tem uma escadinha né, o grupo que bebia bebidas com açúcar era o que tava mais anestesiado com relação ao doce, precisavam beber coisas muito doces para acharem que eram doces, o grupo que bebia bebidas adoçadas artificialmente tava mais sensibilizado ao gosto doce, e o grupo que bebia bebidas não adoçadas era, obviamente, o que estava mais sensibilizado de todos. Houve significância estatística em relação as bebidas açucaradas, em termos de ser melhor, tanto as não adoçadas como as adoçadas artificialmente, e não chegou a ter diferença estatística entre as adoçadas artificialmente e as não adoçadas, embora tenha havido, como o Rodrigo brincou comigo, uma “tendência” diferença entre as duas, mas o que podemos dizer para simplificar,por que ficou meio complexo a forma como eu disse é: se você beber principalmente coisas não adoçadas, você vai precisar de menos doce na sua vida, agora se você beber bebidas adoçadas artificialmente, isso ainda é melhor nesse quesito de percepção da doçura das coisas, do que se você beber coisas adoçados com açúcar.

Rodrigo Polesso: É exatamente! É isso aí pessoal! Então, fica aí mais uma coisa que talvez você já sabia, mas agora tem mais evidência por trás para indicar que a direção é essa mesmo né. E claro, que fica sempre valendo a ideia de beber açúcar é uma má ideia, né pessoal, pelo amor de Deus! É uma das piores coisas que a gente pode fazer hoje em dia! Vamos lá, deixa eu contar para vocês aqui o caso da Gabriela Figueiredo, ela mandou a foto do antes e depois dela: “Rodrigo sou mais um caso de sincera gratidão. Segui dicas e em menos de 2 meses consegui destravar meu metabolismo e perdi 10 kg! Sou mãe, com 35 anos, já havia perdido as esperanças. Eu sempre malhei e acreditava estar em uma alimentação saudável e nem assim conseguia emagrecer.” Tá aí, 10 kg, antes e depois numa foto bem legal, dá para ver bem, a foto fica sempre junto com a transcrição lá no emagrecerdevez.com no número do episódio, ok?! Então, parabéns Gabriela! Obrigado por enviar seu antes e depois! Como eu sempre digo: quem quer emagrecer baseado em evidência e tá disposto a pegar um atalho, entra no programa codigoemagrecerdevez.com.br, que você pode ver a apresentação e se te agradar você pode fazer parte dessa turma que tá emagrecendo de forma saudável, baseada em evidência. Dr Souto, o que que você vai aprontar aí para o almoço?

Dr. Souto: Ah, hoje é surpresa, será um “kinder ovo”, porque hoje eu vou dar uma passada na casa da minha mãe e vou poder experimentar prato surpresa da @silamelodias, que é a cozinheira que é capaz de transformar qualquer coisa em um prato low carb delicioso!

Rodrigo Polesso: Então é surpresa hoje, a gente nunca sabe o que vai ser, mas sabe que vai ser bom né?

Dr. Souto: É, assim, o que eu sei é o seguinte: não importa se o que entrar lá for um chuchu, o que vai sair é uma iguaria!

Rodrigo Polesso: Ô, com certeza! Hoje é muito simples, vou fazer uma carne moída aqui, carne moída de gado de pasto e vou fazer simples com sei lá o quê para acompanhar. Às vezes, o acompanhamento pode ser mais carne moída também, vai muito bem, vamos ver, mas muito simples, muito barato também né, eu falo ovo com carne moída é muito barato, legumes com carne moída é muito barato, enfim, essas coisas a gente pode fazer e nem sempre as coisas para ser boa precisam ser caras, muito pelo contrário né, costela de porco, costela de gado, carne moída, são cortes muito saborosos, que também tendem a ser mais baratos, e qualquer legume que estiver na estação agora tende a ser mais barato também, faz na manteiga, no azeite de oliva onde você quiser, fica fácil uma alimentação poderosa, leve para o sistema digestivo, digamos assim, mas é muito poderosa em nutrientes, então é uma ideia de alimentação forte que pode se adaptar a qualquer bolso, a qualquer marcador sócio-econômico, digamos assim.

Dr. Souto: Rodrigo, vamos fazer uma dica de livro para os nossos ouvintes?

Rodrigo Polesso: Claro!

Dr. Souto: Então assim, infelizmente pessoal, por enquanto só em inglês, mas para quem lê o idioma em inglês o livro chama-se Sacred Cow, ou a Vaca Sagrada em português, é escrito pelo Robb Wolf, que é o autor do The Paleo Solutions, e de um livro que existe traduzido para o português que a gente pode sugerir tranquilamente aí para vocês, que é o Programado Para Comer o nome do livro, mas o livro esse é espetacular, a co-autora dele é Daiana Rodgers, que é uma nutricionista que tem uma fazenda de agricultura regenerativa, então ela sabe tanto o lado da nutrição, quanto o lado da criação de animais. E o livro, Rodrigo, é espetacular!

Rodrigo Polesso: É, eu pedi já a versão hardcover dele aqui, eu gosto de ter o livro físico, como vai ter referência e etc, eu quero ver também. E pessoal, a gente está numa época que a gente tá precisando e vai precisar ainda mais defender a ciência, defender as nossas sagradas vacas, com certeza, não só vaca como o consumo de alimentos de origem animal. Então, tem que entender um pouco mais sobre esse assunto, de fato o que acontece no mundo sobre isso, do poder de sustentabilidade dessa prática, para depois a gente não cair como “ovelhinha” na conversa, na propaganda do lado oposto que tá trazendo aí cada vez mais forte esse tipo de coisa. Então, mais uma vez senso crítico, mais uma vez se informem antes de cair nas propagandas por aí. Voce cria esse escudo, você se protege com essa informação de verdade. Então fica aí: Sacred Cow, espero que chegue no Brasil em português também, mas tem aí, enfim, tem mais desse tipo. Qual é aquele outro doutor Souto, que fala exatamente disso? É um livro mais antigo…

Dr. Souto: Que é The Vegetarian Nif?

Rodrigo Polesso: Não, não é esse não, é um outro sobre vaca também, sobre pecuária… Caramba…

Dr. Souto: Ah, eu acho que eu sei, eu li também, mas agora me falhou o nome…

Rodrigo Polesso: Mas tem mais pessoal, se vocês colocarem na Amazon talvez, procurar por Sacred Cow, às vezes sugerem livros parecidos e você consegue ver, mas o meu ponto aqui é para você se informar de fato, com o que acontece de fato na pecuária, como a prática funciona, como ela é natural ou como ela é artificial, ou quão sustentável ela é, e com base nesses fatos você pode decidir de fato e você pensar na sua cabeça e escolher aí a sua opinião. E não ficar somente aí suscetível a propaganda, muitas vezes falsa, que é colocada pelo outro lado, digamos assim.

Dr. Souto: É, esse aí é um livro para você dar de presente para aquela pessoa que, enfim, adotou o vegetarianismo porque acha que isso é bom para o planeta, ou bom para saúde, para pelo menos a pessoa ter um livro amplamente referenciado, todas as referências científicas estão lá, e o livro é escrito em três partes, uma parte sobre os aspectos da saúde e da nutrição, e como é um livro publicado bem recentemente ele inclui essas metanalises que foram publicadas sobre a carne no ano passado, depois tem uma outra parte sobre a questão ecológica, que é absolutamente espetacular, cobre assunto aqueles todos que a nós já falamos nos dois podcast aí com a Ana Flávia, e depois tem uma terceira parte, espetacular, abordando a questão do aspecto ético. Assim, ele cobre todas as bases, ele é seguramente, eu já li bastante sobre isso, não tenho medo de errar, é o melhor livro sobre esse assunto!

Rodrigo Polesso: perfeito! Ótima indicação! Acho que é um momento importante agora para a gente focar nisso também. Então pessoal, fica a dica aí tá. E para você não só pegar só essas dicas, mas pegar muitas outras dicas em todas as palestras, quatro anos de eventos da Tribo Forte, você pode entrar no site triboforte.com.br, você vai ter acesso a isso, não só isso mas a um acervo de 600 receitas lá dentro, que mais semanalmente são adicionadas lá dentro pela querida Polyana Freitas. Pessoal, vale a pena, entra aí tribofortecom.br, pega seu acesso lá para você turbinar a sua informação e o seu estilo de vida saudável. Maravilha! No mais, sigam a gente nas mídias sociais Rodrigo Polesso lá no Instagram, o Dr Souto também, tem todo lugar, no telegrama, a ablc.com.br, enfim, tem todos esses recursos para ajudar vocês pessoal! Vamos manter essa corrente positiva aí, em nome da ciência forte, ok?! Maravilha! Doutor Souto, obrigado pela atenção aí! A gente se fala no podcast da semana que vem!

Dr. Souto: Obrigado! Um abraço! Até a próxima!