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Neste episódio:

  • Falamos novamente sobre a criação de gado;
  • De novo temos a participação especial da zootecnista Anna Flavia;

Escute e passe adiante!!

Saúde é importante!

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Referências

Link Forbes

Estudo Sobre o Gás

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Olá olá, bom dia ou boa tarde pra você! E bem vindo aqui a mais um episódio do seu podcast semanal, da sua dose semanal baseada em evidência sobre saúde, estilo de vida saudável, emagrecimento e tudo mais, o podcast da Tribo forte. Esse é o podcast número 184, e adivinha, esse é o segundo podcast da série que a gente ta fazendo sobre a criação de gado no Brasil. Sobre impacto do gado tanto na saúde como também no meio ambiente. Esse é o tópico desse podcast de hoje. Então pra isso eu e o Dr. Souto trouxemos aqui uma convidada ilustre, a zootecnista Anna Flavia, já participou do podcast anterior. Então se você não ouviu ainda o podcast anterior, onde a gente comentou, e falou, ela compartilhou mais fatos por trás dos mitos espalhados por aí sobre como funciona a pecuária no Brasil de fato, como funciona a criação de gado no Brasil de fato… e quais são os mitos e quais são as verdades, o que precisa se preocupar, o que não precisa se preocupar… então esse seria o primeiro podcast, o 183, onde a gente fez essa introdução. Hoje a gente vai tocar um pouco mais no impacto do gado na pecuária, e afins, no meio ambiente. Que é um tópico mais quente talvez aí no mundo hoje seria a questão do meio ambiente. Então será que tem mitos sobre isso também? Ou será que tudo que eles falam por aí é verdade? Humm… Então a gente vai comentar um pouco mais aqui porque a Anna Flavia também entende bastante disso, e é uma insider, uma pessoa que ta por dentro, então ela sabe o que está acontecendo pra poder ajudar a gente aqui. Então deixa eu dar as boas vindas nesse podcast a Anna Flavia e também ao Dr. Souto. Tudo bem pessoal?

 

Dr. Souto: Tudo bem! Tudo bem Rodrigo, tudo bem Anna Flavia?!!

 

Anna Flavia: Tudo ótimo! Boa tarde aos ouvintes!

 

Rodrigo Polesso: Olha só, ah, claro, vamos agradecer também a repercussão que teve o podcast anterior… obrigado a todo mundo que passu a frente né, compartilhou o podcast anterior. Porque muita coisa é errada, é de fato dita sobre a pecuária no Brasil, a criação de gado, no mundo inteiro, e no Brasil não é exceção. E a gente sabe que o poder de marketing pra propagar as ideias contrárias é muito maior do que nós, formiguinhas, tentando fazer um trabalho baseado em evidência. Então todo mundo que potencializa nossa disseminação de informação, a gente agradece bastante por isso também. Lembrando também que você pode fazer parte da Tribo Forte acessando triboforte.com.br , e dando uma olhadinha lá o que te espera lá dentro. Inclusive todas gravações dos eventos ao vivo da Tribo Forte. Ok, pessoal, o tópico de hoje como eu já falei será a criação de gado, a questão da agricultura, enfim, tudo isso em relação ao impacto que isso causa no meio ambiente. Impacto positivo ou negativo que isso causa. E o primeiro tópico que eu acho talvez um dos maiores tópicos, enfim, sempre mencionado quando o assunto é o meio ambiente, é o bendito CO2. O gás carbônico, que todo mundo ta contando pra gente aí que essa é a razão do aquecimento global e daí ta cheio de gente, cheio de documentário, cheio de mídia, crucificando a criação de gado, colocando a culpa nas costas das pobres vaquinhas, que tanto nos alimentam com aquela costela linda… enfim, então esse é o problema. Vamos começar do princípio, aqui Anna Flavia, CO2, então… quer explicar um pouco pra gente no contexto de pecuária, da grama, etc, como é que funciona esse ciclo do CO2, qual a importância disso? O que você acha que merece ser dito aí que o pessoal não saiba ainda sobre esse assunto?

 

Anna Flavia: Bom, cê perguntou sobre o sequestro de carbono né, e o que seria o sequestro de carbono? Nada mais é do que a retirada do carbono do ar atmosférico. A gente, nós, seres humanos, a gente respira O2 e expira CO2. Então o ar é cheio de CO2, as plantas retiram esse carbono e distribuem para as partes das plantas. 90% do peso seco das plantas são de compostos oriundos dessa fixação de CO2 do ar.

 

Dr. Souto:  Então só pra ficar claro pro pessoal, relembrando lá da escola, existem dois processos inversos, um é a fotossíntese, que a planta pega a luz do sol, o CO2 e a água e vai fabricar glicose. E essa glicose é usada pela planta pra fabricar outros carboidratos mais complexos, como a celulose que é a madeira, como o amido, etc. Bom, e nós temos a respiração, da qual a gente pega essa glicose, combina com o oxigênio do ar e gera CO2. Então o CO2 que é usado pela planta é o mesmo CO2 que outros seres vivos produziram na respiração. E o oxigênio que a planta libera é o mesmo oxigênio que é utilizado pelos seres vivos. Então é um ciclo. Nesse ciclo, Anna Flavia, a gente cria carbono novo?

 

Anna Flavia: Não, de jeito nenhum. Durante o dia a planta consome o CO2 e a noite é ao contrário, como você falou. Só que o carbono no solo ele é duas vezes maior do que o da atmosfera, e é 3 vezes maior do que o da vegetação. Por isso da importância da gente cuidar dos nossos solos.

 

Dr. Souto: Perfeito. Ou seja, se a gente tem um solo, que a gente permite que ele se torne um deserto, um processo de desertificação, coisa que a pecuária não provoca, mas que uma agricultura mal feita pode provocar. Se a gente perde solo por erosão, a gente tá, aí sim, colocando um carbono que estava sequestrado no solo a muito tempo, e aquele carbono no solo ele só traz benefícios. Mas agora aquele carbono que saiu do solo, bom, esse foi pra atmosfera. Mas quem faz isso não é a vaca né Anna Flavia?

 

Anna Flavia: Não. Esse ciclo aí de carbono e nitrogênio quem faz são as plantas. E o solo é interação. Porque assim, a gente fala que, em produção animal, em agropecuária a gente tem interação solo, planta, animal. Você pode discorrer sobre as interações solo e planta e pode falar sobre a interação planta e animal, ou pode falar da interação animal solo diretamente.

 

Rodrigo Polesso: Então basicamente tem o carbono no ar, a planta absorve aquele gás carbônico, ela transforma aquilo em coisas nutritivas, nutrientes, carbono de várias formas. A vaca vai e come isso aí, absorve na carne dela, e daí ela claro expira, assim como nós, o CO2 de volta, que esse mesmo vai ser depois reabsorvido por plantas novamente. Assim fecha o seu ciclo…

 

Anna Flavia: A gente só tá esquecendo de um outro componente nesse ciclo aí… as plantas fazes a fotossíntese, a respiração, crescem, adquirem o tecido delas. Os herbívoros se alimentam delas. Depois esses herbívoros vão ser abatidos pelos animais carnívoros. Os animais carnívoros um dia morrem, então eles vão fazer parte da matéria orgânica, da decomposição no solo, pelos microrganismos. E aí o ciclo se completa com os microrganismos que vão deteriorar aquela matéria orgânica, tanto faz se é decomposição de tecido vegetal ou se é de tecido animal.

 

Dr. Souto: Ah, muito bem colocado. Então lembrando de quando a gente aprendeu na escola também, que aquela coisa preta que tem na terra fértil que se chama húmus, aquela coisa preta ela é preta por que? Por que ela não é cor de rosa, azul ou roxa? Ela é preta porque preta é a cor do carbono. Ok? Então isso que a doutora Anna Flavia falou é bem importante, a decomposição dos restos de animais e plantas, bem como dos dejetos, como por exemplo o estrume que os animais fazem no campo, essa matéria orgânica vai se integrando no solo através da ação de microrganismos formando essa coisa complexa de matéria orgânica, que é rica em carbono, que é o solo. Então o carbono esse que nós queremos que saia da atmosfera, pra ele sair da atmosfera, ele precisa voltar para o solo, e nós vamos discutir mais adiante aqui nesse podcast que existem forma de fazer isso com a agricultura integrada a pecuária.

 

Anna Flavia: Só ressaltando aqui novamente sobre os microrganismos. A gente tem um mundo paralelo embaixo de nós. Por que eu falo embaixo? Os microrganismos do solo. A importância da gente desfazer essa ideia da monocultura, tanto de pastagens como de lavouras ou de produção vegetal, é justamente pra estar realimentando esse mundo paralelo dos microrganismos, porque eles que vão completar o ciclo.

 

Rodrigo Polesso: Perfeito. Então a palavra aqui acho que é ciclo. A palavra é ciclo. A vaca não cria um carbono novo, ela não aumenta o carbono na atmosfera, simplesmente recicla. Acho que isso já quebra muitos argumentos que são ditos pra gente aí em documentários, por exemplo Netflix.

 

Dr. Souto: Inclusive é interessante lembrar, que por exemplo, é bem sabido que na América do Norte havia uma população de ruminantes antes da chegada dos europeus, maior do que a quantidade de ruminantes que existe na América do Norte hoje. De modo que isso era num período em que não havia nenhum aquecimento global antropogênico provocado por ação humana…

 

Anna Flavia: Eu iria além disso que você tá contando. Depois da extinção dos dinossauros tiveram duas espécies que favoreceram, digamos assim, que mais cresceram após um mundo novo, pós dinossauros. Foram os mamíferos, e a maior parte deles herbívoros, boa parte deles ruminantes e as aves. Então assim, não faria sentido os ruminantes serem prejudiciais ao meio ambiente, se eles são a parte das espécies que mais se desenvolveram no mundo novo.

 

Dr. Souto: Perfeito. Mais uma vez salientando aos ouvintes, por que isso? Porque não importa quanta grama um herbívoro paste, esse CO2 que ele liberou na atmosfera será utilizado pela mesma grama quando ela começar a crescer de novo. E o que estimula o crescimento dela? É o fato dela ter sido pastada. Na hora que você faz o pastar, na hora que o animal vai lá e arranca a folha da gramínea, as raízes continuam no solo, ela não morre com isso. O fato dela ter sido… bom, qualquer um que tem grama em casa sabe o que tem que fazer pro gramado ficar bonito né? É passar o cortador de grama com regularidade.

 

Rodrigo Polesso: Bom, é legal falar sobre isso, mas eu não posso deixar de compartilhar a minha opinião pessoal sobre essa questão do CO2. Porque o CO2 ele basicamente é o bode expiatório, onde todo mundo põe a culpa e todo argumento por trás do gado e outros animais em torno do CO2, CO2 na atmosfera e tudo mais. Não é o tópico desse podcast, mas eu tenho convicção, eu Rodrigo, tenho convicção simplesmente não causa nenhum aquecimento global. Inclusive o CO2 é o gás da vida, se a gente for ver, qualquer um que tem uma estufa sabe disso, se você coloca mais CO2 na estufa você vê que as plantas crescem mais. Inclusive a NASA, todo mundo pode ir no site e ver, o mundo se tornou mais verde com esse pequeno aumento de CO2 que ta acontecendo nas últimas décadas. E o CO2 teve muito mais alto antigamente, na história da humanidade, isso também é um fato que pode ser facilmente consultado. E geralmente também, outra coisa que é fato, que pode facilmente ser consultado, é que o aumento ou diminuição do CO2 ela acontece depois do aumento ou diminuição da temperatura. Basicamente incentivando os oceanos a liberarem ou absorverem mais CO2. Então o CO2 é um bode expiatório e não tem nada a ver, e na verdade é o gás da vida. Mas esse poderia ser o título pra talvez 10 episódios do podcast só isso né, mas pra deixar claro o problema é muito maior…

 

Dr. Souto: Rodrigo, eu posso até discordar disso, eu penso que talvez a gente não tenha o conhecimento técnico pra, nenhum de nós, aprofundar essa discussão do ponto de vista climatológico, mas eu acho que o ponto principal é: mesmo que eu ache que o CO2 é sim um importante gás estufa, e o aumento do CO2 tem a ver com o aquecimento global como causa. O ponto é, e eu acho que esse e o ponto que temos que discutir aqui, não tem como esse aumento ser devido a ação de ruminantes. Porque isso é CO2 de ciclo, respiração fotossíntese. O CO2 novo, aquele que não estava na atmosfera, é o CO2, como a doutora Anna Flavia falou, é o CO2 que tava restrito, preso, sequestrado no solo, e óbvio, o grande elefante na sala, a Anna Flavia falou ali da extinção dos dinossauros. Antes disso nós tivemos outros períodos de extinção em massa, muitas florestas foram soterradas, e isso virou carvão e petróleo. E esse CO2 tava retido a quilômetros de profundidade, a cerca 100 a 200 milhões de anos, e agora ta sendo colocado pra fora. Então, o pessoal vai falar da vaca, que é uma coisa ecológica, que faz parte do ciclo de respiração fotossíntese, quando, se você realmente acredita, como eu acredito, que o CO2 tem a ver com o aquecimento global, bom, você tem que procurar por uma fonte de CO2 novo, que não seja do ciclo. Porque você pode pastar, a grama cresce de novo, a mesma quantidade de CO2 que a vaca tirou da grama, volta pra grama. E ainda por cima parte disso vira matéria orgânica e fixa CO2 novo no solo, ou seja, você sequestra CO2.

 

Anna Flavia: Na verdade eu tenho um valor pra te passar; 90% dos nutrientes minerais… porque assim, tem muito agricultor que reclama, que fala assim, que se colocar o gado lá depois, em cima da plantação de vegetais lá, que não seja capim, que ele vai sequestrar os nutrientes dos vegetais. Só que isso não é verdade, 90% dos nutrientes minerais, inclusive nitrogênio, contidos na forragem, consumidos pelos animais, retornam a interface solo planta.

 

Dr. Souto: Nossa, 90%, é muita coisa.

 

Anna Flavia: 90% do que o gado come retorna.

 

Rodrigo Polesso: Interessante, muito interessante, maravilha! Legal, legal, essa discussão é bacana. Bom, eu vou tentar me segura pra não falar muito mais do CO2 tá, porque é bastante óbvio que ele não causa o efeito estufa pra quem olhar…

 

Dr. Souto: É, o que eu digo Rodrigo, independente da gente pensar de um jeito ou de outro…

 

Rodrigo Polesso: Sim, o ponto não é esse nessa discussão..

 

Anna Flavia: A gente tem que discutir aquilo que a gente sabe…não adianta… que é o nosso know how… não adianta a gente ficar falando de coisas da pesquisa dos outros né?!!

 

Dr. Souto: Vamos partir do pressuposto, pra fins de discussão intelectual aqui, que todos nós 3 acreditamos piamente que o CO2 emitido pelo ser humano é a causa única do aquecimento global, ok?! Mesmo partindo desse pressuposto você tem que dizer que nós deveríamos criar mais gado, essa é a conclusão que nós temos que chegar no final desse podcast, baseado na melhor evidência.

 

Rodrigo Polesso: Exato, exato. É só pra dizer que tá errado em vários níveis. Mas enfim, o CO2 não é só um dos gases estufa. Agora também tem armas apontando pra questão do metano né Anna Flavia?!! Agora o gado, bom, o CO2 é old News, notícia velha, agora metano é muito pior que o CO2. E aí, o que você fala sobre isso?

 

Anna Flavia: Bom, eu tenho várias coisas pra falar sobre o metano. Primeira coisa, o que é o metano? A metanogênese é a etapa, antes pensava-se ta, que a metanogênese era a etapa final no processo de degradação anaeróbica da matéria orgânica, por bactérias que  gente chama de arqueobactérias metanogênicas. Só que já tem vários trabalhos, inclusive, eu to aqui nas minhas mãos, e eu vou disponibilizar pro Rodrigo, pra ele deixar no site da Tribo Forte, o link do artigo tá? É um artigo de revisão, que foi publicado em 2015 mostrando que não são só os ruminantes que produzem metano. Na verdade não os ruminantes, não as bactérias metanogênicas presentes no rumem. Os eucariotos, de uma forma geral, plantas, animais e fungos produzem metano. Como é que é produzido metano a partir dessa plantas, animais e fungos? Tem uma discussão sobre a questão da disfunção mitocondrial, causada em condições de hipóxia, que pode aumentar o estresse oxidativo da célula. E tem alguns precursores da célula como aminoácidos, por exemplo, metionina, que é o mesmo aminoácido tanto usado em plantas como em fungos, que fazem parte dessa formação e da liberação de metano pelas plantas e pelos fungos. Mas aí não são só eles, vamos pensar, tem outras, a gente tava falando de ambiente né, as áreas alagadas, no mundo inteiro… aqui no Brasil a gente tem dois maiores exemplos, o Pantanal e as plantações de arroz inundados. Por que? Porque pra se produzir o metano, como pensava-se antes, baste que você tinha uma matéria orgânica, um ambiente anaeróbico, e tivesse as arqueobactérias metanogênicas. Então em pântanos, áreas pantanosas do mundo inteiro você tem altíssima produção de metano. Se esse gás fosse tão ruim assim será que pântanos produziriam metano? Um ambiente criado por Deus, digamos assim, um ambiente que faz parte da natureza ia debradar?

 

Dr. Souto: Então talvez a gente devesse fazer um grande projeto de drenagem do Pantanal pra acabar… secar o Pantanal… mas agora, parando de brincadeira, o arroz, por exemplo, o arroz como você disse é o responsável por talvez a maior parte da produção de metano de toda agricultura né?

 

Anna Flavia: Provavelmente.

 

Dr. Souto: E no entanto por que a gente não ouve de falar disso? Por que quando falam de metano falam só do gado? Porque o gado não pode deixar de produzir metano. Já o arroz, eu poderia estar plantando outros tipos de cultivo, que não fossem alagados. E o arroz ele produz basicamente amido com uma densidade nutricional baixíssima, enquanto o gado produz proteína e nutrição de altíssimo valor biológico. E o gado, como a gente vai ver depois, sequestra carbono no solo. Então é curioso, já que o arroz produz tanto por que quando fala em aquecimento global nunca as manchetes se referem a arroz? É da gente pensar né?

 

Anna Flavia: Tem outro agente também nessa história, que quase nenhum das pessoas acredita que saibam, são os cupins. Os insetos são em número 3 ou 4 vezes maior do que nós, a quantidade de insetos que tem no mundo é absurda. E cupins, os cupins crescem em qualquer savana, em qualquer ambiente que não seja de floresta, eles crescem em áreas mais secas, com uma umidade mais baixa. Por exemplo, se você anda Brasil afora nas estradas, e você vê aquele montinho vermelho nas pastagens, aquilo ali é cupim. Tanto faz se é pastagem plantada, se é pastagem nativa, é muito comum, por exemplo, no serrado brasileiro você ter esses montinhos de cupim. Aí tem um trabalho que mostra assim, dos 100% que eles analisaram lá de agentes metanogênicos, 72% pântanos, e 13% de cupins. E tem gente ainda achando que é uma opção pro ser humano começar uma alimentação a base de proteína de inseto. E tem gente também interessado, tem até empresa no Brasil que fabrica farinha de inseto pra fornecimento para os animais. Eu acho, eu vejo assim a questão ecológica, entendeu, que diferença faz você ter um monte de ruminantes, já que é pra falar de números, de quantidade, que diferença faz um monte de ruminantes ou um monte de inseto? O aumento da população de insetos ia ocasionar um desequilíbrio ecológico do mesmo modo. Só que os ruminantes, como eu falei, a evolução da terra eles foram uma espécie que sobressaíram devido as condições do ambiente. Agora, oi, cupim, a gente não acredita.

 

Dr. Souto: E outra coisa, com todos os cupins e ruminantes que sempre houveram, o mundo não tava aquecendo por causa disso, certo?! E outra coisa que vale lembrar, por que se fala tanto no metano? Porque o metano é um gás estufa mais potente do que o CO2, é um fato isso. Se eu não estou errado cerca de 70 vezes mais potente que o CO2. Agora, o metano, ele dura relativamente pouco na atmosfera, ele não é perene na atmosfera. Não é verdade.

 

Rodrigo Polesso: 9 a 14 anos o ciclo dele.

 

Anna Flavia: O metano é de 10 a 14 anos. E o CO2 de 50 a 200 anos.

 

Dr. Souto: É, eu até já ouvi falar que o CO2 poderia durar mais de mil anos. Mas na realidade é o CO2 novo que vai ficar mais de mil anos, se esse número for real. Porque o CO2 que a vaca ou nós respiramos botamos CO2 pra fora agora, daqui a pouco está sendo captado pela árvore ali do lado. Então esse é ciclo… o metano ele se degrada em CO2 espontaneamente dentro de um prazo de 10 a 14 anos, e esse CO2 é captado novamente pelas plantas e o ciclo fecha outra vez. Ou seja, ele é de transição, ele não é permanente. Agora, deixa eu falar pra vocês um número que eu tava pesquisando enquanto nós tavamos falando, porque eu sabia que o principal componente do gás natural é metano, mas eu não tinha ideia do número. 94% do gás natural é metano. E o gás natural ele é vendido como sendo uma alternativa mais ecológica, um combustível mais limpo. Então eu acho que as pessoas tem que se decidir. Tá certo? O metano é bom ou é ruim?

 

Anna Flavia: Então, é igual o tmao lá… uma hora ele bom…

 

Dr. Souto: É igual o tmao, o metano é ruim quando ele é emitido pela vaca porque nós somos filosoficamente contra a criação de animais. Mas o metano não é ruim quando é emitido pelo Pantanal ou pelo arroz. O metano é ruim quando ele é emitido pela vaca, mas o metano não é ruim quando ele é um combustível mais limpo para os nossos automóveis, esse combustível é 94% metano. Hoje em dia existem estudos usando rádio isótopos. Porque o ouvinte vai se lembrar, que o carbono mais comum é o carbono 12, mas tem outros isótopos de carbono. E esses isótopos de carbono estão presentes em quantidade diferentes, no carbono de ocorrência natural do ciclo respiração fotossíntese, e no carbono oriundo do petróleo e do gás natural. E o carbono que está aumentando na atmosfera é o carbono oriundo do petróleo e do gás natural, porque obviamente não tem como aumentar muito o outro carbono, porque o outro é cíclico. O outro o animal bota pra fora e a planta puxa pra dentro. O que ta entrando de carbono novo na atmosfera é o carbono oriundo dos combustíveis fósseis. Mas aí na hora de falar de aquecimento global vão falar do que? Da vaca.

 

Anna Flavia: Inclusive, inclusive, inclusive né, quando fala-se da vaca não se sabe nem a direção do gás né?!! 95% do metano é arroto dos animais, não é pum, ainda tem esse detalhe. Porque o que acontece? Como é que é produzido o arroto? O animal ingere a forragem, se ela tiver, a forragem ou qualquer alimento oferecido, se aquele alimento estiver muito fibroso, tiver com uma qualidade muito ruim, vai ocorrer uma fermentação ruminal, que é anaeróbica, e aí o ruminante ele se aproveita de ácidos graxos de cadeia curta, produzido pelas bactérias ruminais. Aproximadamente, nesse caso que eu to falando, de uma pastagem ruim, 62% de ácido acético, 22% de ácido propionico e 16% de ácido butírico. Então esse ácido acético, a rota dele produz mais hidrogênio. Então o animal precisa drenar esse hidrogênio, pra manter o ph ruminal correto, então ele faz o que? Eructação. Ele arrota.

 

Rodrigo Polesso: Eructação?

 

Anna Flavia: Eructação.

 

Rodrigo Polesso: A próxima vez vou falar para um amigo meu que estiver soltando.

 

Anna Flavia: Volta parte do alimento, que seriam contrações secundária. Voltam parte do alimento pra boca, o ruminante, a saliva dele tem bicarbonato, tem mecanismos pra regular a acidez, e ele vai mastigando ali e engole novamente. Então a eficiência da digestão do ruminante ta relacionado com o metano. O metano ele diz se a dieta do animal ta ruim ou não tá. Entendeu, a gente pode… igual ao Souto falou, vamos supor que a gente tenha na nossa cabeça que existem os gases do efeito estufa, que realmente o ruminante seja ruim, a gente pode mexer na dieta do animal, pra que esse animal tenha uma maior produção de ácido propiônico e ácido butírico, que vai por consequência ter uma menor produção e emissão de metano.

 

Dr. Souto: E só para as pessoas lembrarem, nunca esquecerem que nós estamos falando de um ciclo, então aquele animal que está fazendo a sua eructação e eliminando metano naquele momento, ele ta pastando um capim que cresceu graças a uma animal que eructou 12 anos atrás. Ou seja, é ciclo, e o que ele ta eructando agora, daqui a 12 anos vai ta virando capim ou árvore, ou a plantinha que você tem aí na sua varanda. É um ciclo, isso não é carbono novo… como eu falei já num outro episódio do podcast, a última vez que o carbono foi criado foi no núcleo de alguma estrela antes da formação do sistema solar. O resto do carbono que a gente tem no planeta é sempre o mesmo, ele não é criado e nem destruído, ele só se converte em plantas, em bicho, em solo, é um ciclo. A diferença é, o carbono que está sequestrado no solo ou sequestrado no subsolo, lá no petróleo e no carvão, versus o carbono que está na atmosfera. Pois bem, os animais e as plantas tem um ciclo no qual essa quantidade de carbono na atmosfera tende a se manter constante. Carbono novo vem de erosão do solo, vem de derrubada de floresta, e vem especialmente, mas de largada, muito longe, como principal causa dos combustíveis fósseis.

 

Rodrigo Polesso: É, eu acho que isso é meio que o tema central aqui, pra deixar claro, desse podcast, essa questão de ciclo, que é simplesmente o mundo natural né pessoal, como sempre foi, então o mundo natural continua ciclando as coisas. Sobre o metano, ainda antes de fechar sobre o metano, só uma coisa, a incidência de metano nos gases atmosféricos é muito, muito pequeno, tanto que a medição do metano se dá em partes por bilhão, ao contrário de partes por milhão, como se dá com o CO2. E quando você monta um gráfico  de metano e você usa a mesma escala, você vê que basicamente não tem nenhuma alteração significativa nas últimas décadas no metano também. Então são vários ângulos que a gente poderia conversar sobre esse assunto também. Mais alguma coisa sobre esses gases ou querem, vamos partir pro próximo grande tópico aqui?

 

Dr. Souto:  Sim, porque aí no momento que… porque a narrativa sempre vai mudando né Rodrigo?! Agora que a gente pegou e argumentou, explicou que isso não é CO2 novo e etc, aí a pessoas vai dizer: pois é, mas Rodrigo, cada vez que você assa seu filé, 1kg de carne, você está consumindo 15 mil litros de água.

 

Rodrigo Polesso: Quantas vezes os documentários já falaram isso para as pessoas? Quantas vezes vocês já leram isso?

 

Dr. Souto: Como é que você se sente? Tem gente lá em São Paulo que durante o ano anterior ficou com seca, não tinha água, as torneiras estavam secas. E a culpa é de quem? Minha e do Polesso? Porque a gente cada um comeu 1 kg de carne. Isso já dá 30 mil litros de água né…

 

Rodrigo Polesso: Anna, explica pra gente essa questão da água. É verdade, 15 mil litros pra cada quilo de carne? Que água é essa? Água mineral…

 

Anna Flavia: Ó, pra início de conversa, pra início de conversa, assim como as emissões de gases, esse valor aí, esses 15 mil litros de água, é absurdo. Por que assim ó, você tem animais abatidos, animais de diferentes raças, de diferente idades, de diferentes categorias, animais que foram alimentados com dietas diferentes, tem tudo isso… porque por exemplo, alimento também tem água, então assim, se um animal come uma forragem mais seca, mais suculenta, necessidade dele de água é menor. E assim, e também varia com a idade, varia com o peso. Só a título de curiosidade aqui, um bovino de corte de até 250 quilos, ou seja, um bezerro, um garrote, consumiria aí em torno de 22 a 27 litros de água por dia. Já um animal considerado de alto peso, de 455 quilos, consumiria aí em torno de 41 a 78 litros de água por dia. Então varia… em que ambiente que esse animal tá, que época do ano? Por exemplo, a carne, o animal foi abatido, aí estipulou esse valor aí de água pra produzir 1kg de carne. Mas o anima foi abatido na época seca? Se ele foi abatido na época seca provavelmente ele tomou mais água. Ou ele foi abatido na época das águas, quando as pastagens estavam melhores e provavelmente ele tomou menos água. Ele era um animal grande? Ele era um animal pequeno? Então tem uma série de fatores que mudam esse valor ai. Então, 15, como é que é?

 

Dr. Souto: 15 mil litros para um 1 kg de carne.

 

Anna Flavia: É um absurdo…

 

Dr. Souto: Mas olha só, deixa eu lembrar pra vocês uma coisa. Lembra quando teve aquele acidente nuclear no Japão, em Fukushima? Houve um tsunami, um terremoto, houve uma interrupção das bombas que bombeavam águas pra resfriar o reator. Aí houve aquele derretimento daquele reator, foi um desastre tremendo, e até hoje eles estão bombeando não sei quantos litros de água por dia pra tentar manter resfriado aquilo ali. E essa água que sai dali sai contaminada com urânio e plutônio, e outras coisas, de modo que ela não sei por quantos milhares de anos, 50 ou 100 mil anos, será uma água poluída imprópria pro consumo. Anna Flavia, quando uma vaca bebe água, a água que passa pela vaca fica contaminada com plutônio ou algo assim?

 

Anna Flavia: De jeito nenhum. Pra começar que a água que a vaca vai ingerir não vai chegar até mim diretamente.

 

Dr. Souto: Ou até ela chega um dia. Mas antes ela vai ser absorvida pelo solo, vai ser filtrada…

 

Anna Flavia: Ela vai passar por todo processamento digestivo dela. Ela vai virar fezes, urina, vai passar pelo processo das plantas. Aí depois ela vai cair no solo… a medida que vai avançando os horizontes do solo, até chegar aos aquíferos lá, essa água já foi filtrada pelo meio, pelo ecossistema. Ela chega limpa pra mim.

 

Dr. Souto: Quando a gente perfura um poço artesiano, até o aquífero, e retira aquela água, e se é um aquífero que ta num local que não tem contaminação por ação, digamos industrial humana, eu não preciso nem filtrar essa água, tá certo? Ela é uma água própria para o consumo?

 

Anna Flavia: Não, só que tem um detalhe… não é porque você adquiriu uma propriedade rural você vai sair fazendo poço a torto e a direito, pra você fazer um poço artesiano você precisa ter outorga do órgão ambiental.

 

Dr. Souto: claro. Mas o argumento que eu quero dizer é o seguinte; esse processo que a água passa pelo solo, os microrganismos atuam, ela é filtrada em várias camadas e chega no aquífero, purifica essa água, tá certo?

 

Anna Flavia: Com certeza!

 

Rodrigo Polesso: Mas qual é a definição, na pecuária se usa muito a definição de água verde, água azul… que tipo de águe que o animal, enfim, usa, pro pessoal entender um pouco mais? O que tem por trás desse argumento de tanta água por quilo de carne…

 

Anna Flavia: É água verde e água da chuva. Armazenada na parte não saturada do solo. Que é a maior parte consumida na produção animal. Inclusive a infiltração facilitada dessa água no solo, ou seja, a passagem dessa água da superfície até os aquíferos, ela é facilitada pelas raízes, principalmente das forrageiras tropicais. Lembra que eu falei pra vocês no episódio passado sobre zonas temperadas e zonas tropicais? As zonas tropicais as plantas tem que ter mecanismos pra reter água, porque elas passam por períodos de seca, de escassez hídrica. Então assim, as raízes dessas plantas elas favorecem mais a infiltração da água no solo.

 

Rodrigo Polesso: E no caso a desertificação é o oposto né? A água corre pela superfície e não consegue ser absorvida pelo solo como deveria, o que pode acontecer pelo excesso de monocultura por exemplo…

 

Anna Flavia: Como é, peraí, não entendi…

 

Rodrigo Polesso: No caso de terras desertificadas, pobres, que foram utilizadas de forma não sustentável, elas se tornam pobres, e a água ao invés de ser absorvida para baixo, ela acaba escorrendo pela superfície, como acontece no deserto, e acaba evaporando, e acaba não fazendo parte do ciclo natural.

 

Anna Flavia: Prejudica a recarga dos aquíferos com certeza.

 

Dr. Souto: E Anna Flavia, quer dizer o seguinte, que a maior parte, que você disse, a pastagem corresponde a maior… então a maior parte da água, essa legada pra fazer a carne, é a água da chuva? Correto?

 

Anna Flavia: Sim.

 

Dr. Souto: Bom, então eu tenho uma pergunta bem complexa, bem complexa, desculpa. Se eu retirar o gado do pasto vai parar de chover?

 

Anna Flavia: Não.

 

Dr. Souto: Não. Ah, então quer dizer que essa água, esses 15 mil litros de água, é água que cairia no pasto, no mesmo local, de qualquer jeito? É isso?

 

Anna Flavia: Sim sim.

 

Dr. Souto: Então qual é o problema… digamos que chova muito no ano, ao invés de chover 15 mil litros pra quantidade de pastagens suficiente pra gerar 1 kg de carne, chova… tenha “el nino” naquele ano e vai chover 30 mil litros. Se o gado não estivesse ali choveria 15 mil litros ou menos? Não, é claro que não. Então não vamos cair em peça de propaganda, vocês que estão nos ouvindo… água da chuva cai e na realidade é ao contrário, seria um pecado deixar aquela água cair e ser absorvida e voltar pro aquífero sem que a gente produzisse nenhuma quantidade de alimento ou proteína adequada pro ser humano. Porque a água estaria caindo de qualquer forma. Então ela pode ser bem utilizada ou desperdiçada. Agora, se eu pegasse essa água e botasse pra resfriar o reator nuclear de Fukushima, bem aí seria diferente, porque aí essa água deixaria de ser essa água verde e se tornaria uma água contaminada imprópria pra qualquer atividade. Mas a vaca até onde eu me lembre, não produz poluição, ela não destrói o ambiente e não contamina de forma definitiva coisa nenhuma.

 

Rodrigo Polesso: Certo, então reduzir… a pergunta chave aqui sobre o sistema de água é o seguinte, que a preocupação do pessoal é  medo que o pessoal põe no outro pessoal, que é basicamente; o gado, Anna Flavia, esse consumo de água pelo gado ele reduz de alguma forma a água disponível pra nós seres humanos. Tem gente que vai passar sede por causa desse gado.

 

Anna Flavia: Claro que não, claro que não.

 

Rodrigo Polesso: Porque esse que é o medo principal…

 

Dr. Souto: Porque eu achei que o gado ele ia na torneira, eu achei que era assim… tem o departamento municipal de águas e esgotos, então não é essa água que o gado ta consumindo, ele não ta competindo com o resto das pessoas da cidade?

 

Anna Flavia: Pra começar, pra começar tá… apenas 2,5% da água do planeta terra é doce. Desses 2,5 69% é gelo. Não tem gado nas geleiras tá?!! Até onde eu saiba, nunca vi… 30% tá no solo e 1% nos rios. Cadê? Cadê o gado pra acabar com essa água?

 

Dr. Souto: Mas eu achei que o gado transformava água doce em água do mar. Pessoal, vocês que estão nos ouvindo, desculpe a ironia, mas a ironia ela pode ser uma forma de discurso, tá certo?!! Que quando a coisa é muito bizarra a gente não pode deixar a bola picando, ela deve ser chutada. Desculpe Anna Flavia, continue…

 

Anna Flavia: Não, é isso, o gado não compete com a nossa água.

 

Dr. Souto: Nem destrói ela nem transforma ela… na idade média, até assim, o advento da era científica, existia um negócio chamado alquimia, que as pessoas achavam que o sujeito podia misturar outras coisas pra criar ouro. Bom, depois se descobriu que isso não é possível. Da mesma forma a vaca, ela não tem como pegar a água e transformar a água em plutônio, transformar a água em veneno, tá certo?!! A água sai da vaca por transpiração, por respiração, por evacuação e por liquição, e nada disso polui o ambiente.

 

Anna Flavia: Agora eu vou falar, a gente, aproveitando esse assunto de água, eu vou falar de um outro gás que a gente acabou não falando, mas que ele tá ligado com água, é o óxido nitroso. O pessoal fala assim “ah, o confinamento”. Todo mundo reclama do confinamento do gado né?!! Só que as pessoas esquecem que, por exemplo, suínos, a carne mais consumida no mundo é a carne suína. E o suíno, seus dejetos líquidos, assim como nos confinamentos, os dejetos passam por tratamento. Pro produtor, o nosso ouvinte que tá no assistindo nesse momento, tenha na cabeça o seguinte, cocô pra produtor rural é dinheiro, entendeu? Então tanto no confinamento de bovinos, quanto na produção dos suínos, na produção das aves, o esterco, e aí vai água junto óbvio, urina também dos animais, toda água que seria no caso jogada fora vira biodigestor, vira compostagem, vira… a gente tem vários tratamentos de água, lagoa de decantação, enfim, tem uma infinidade de processos de tratamento de água. Aí o nosso ouvinte pensa assim; “o que é feito do cocô dele na cidade?”. Alguém já teve a curiosidade de saber como é o tratamento dos dejetos humanos numa cidade? Não né?!! Mas ta todo mundo preocupado com o cocô do boi.

 

Dr. Souto: É, porque o do boi tá lá adubando o pasto, o das pessoas nem tanto.

 

Anna Flavia: E se tiver no confinamento, se o boi tiver no confinamento o cocô dele vai ta num biodigestor, vai ta num tratamento, vai virar fertilizante, igual o dejeto do suíno. Que é na verdade… por que eu falei do suíno? Porque o dejeto dos suínos… eu não to falando que os suínos poluem não, pelo amor de Deus. Mas o dejeto dos suínos é o que tem o maior potencial poluidor justamente porque em termos de degradação, de excreção de nutrientes, é mais rico o esterco do suíno. Mas ninguém fala mal do suíno entendeu? Ninguém acha né…

 

Dr. Souto: É estranho né, o pessoal se fixou na coitada da vaca…

 

Anna Flavia: Pois é, então assim, o dejeto suíno ele tem um potencial poluidor muito maior, no entanto não se fala dele, só se fala do gado. O dejeto suíno ele ta sempre sendo coletado, sempre sendo tratado. O do gado não, ele já tá diretamente no pasto…

 

Dr. Souto:  Pessoal, isso que a Anna Flavia falou dos dejetos humanos é uma coisa que a gente tem que pensar. Eu moro em Porto Alegre, Porto Alegre tem um rio aqui do lado, o Guaíba, que é um rio essencialmente morto. Ele vem duma junção de outros 5 rios, que vem da região metropolitana, altamente poluídos, pouquíssimo esgoto é tratado. Então a maior parte dos dejetos humanos são despejados sem tratamento no rio. Então prolifera uma grande quantidade de bactérias anaeróbias. Aquilo ali vai acabando com o oxigênio enchendo de nutrientes em excesso. Porque como foi dito aqui, fezes são nutrientes. E aí prolifera uma série de algas que acabam provocando um desequilíbrio ecológico, e o rio é um desastre. Quem tá causado isso aí não são as vacas. Então assim, a vaca tá lá no pasto quando ela evacua no pasto ela tá melhorando o equilíbrio ecológico, ela não tá poluindo. Então é impressionante como as pessoas tem uma cegueira seletiva né?!! Outra coisa que a Anna Flavia falou, a compostagem. Ta muito na moda hoje né?!! As pessoas que pegam seu lixo orgânico pra fazer compostagem doméstica pra daí gerar fertilizante pra poder fertilizar a sua hora em casa. Compostagem geral qual gás Anna Flavia?

 

Anna Flavia: Putz, não sei, fala aí…

 

Dr. Souto: Metano né?!!

 

Anna Flavia: Ah sim, é verdade…

 

Dr. Souto: Agora, se o metano e o CO2 for gerado pela compostagem pra fazer uma horta orgânica em casa aí ele não causa aquecimento global? Aí ele é bom?

 

Rodrigo Polesso: Se você acredita que o metano e o CO2 causam aquecimento global por favor não morra, que quando você morrer você vai virar metano e CO2… morrer não é ecológico.

 

Anna Flavia: E eu esqueci, também não contei pra vocês… pesquisando né pra fazer o podcast, eu também me deparei com um artigo do qual Costelo e colaboradores 2013, que fala… o Dr. Souto pode falar melhor pra nós se ele já leu algo a esse respeito… Fala da respiração humana, nesse trabalho de 1 a 2 terços dos adultos saudáveis expiram metano. Fontes microbianas do sistema de digestão. Ou seja, a gente também produz metano, e aí?!! Vai morrer todo mundo?

 

Dr. Souto: Assim, existe uma linha radical do veganismo que propõe basicamente a extinção de todos animais. Eu acho que essa seria uma forma… é levar o argumento as últimas consequências, porque basicamente tirando as plantas, o resto tem comportamento predatório. Então sinto muito, é o jeito que a vida evoluiu no planeta. E só pra completar aquele assunto da compostagem… por que a compostagem não é um problema? Por que o CO2 e o metano que ta sendo produzido pela compostagem vai ser absorvido pelas próprias plantas que você ta plantando na sua hora. Aliás, aquela planta cresce quando cria-se ali um pepino, uma abobrinha. Aquele pepino e abobrinha é feito de CO2, que foi absorvido da atmosfera por fotossíntese. É um ciclo, não é CO2 novo. Mas o mesmo vale para as vacas e seu metano.

 

Anna Flavia: E uma outra coisa que eu não entendo é  seguinte; que diferença tem entre um pepino e um capim? Os dois são vegetais poxa. Por que um pode existir e o outro não? Por que um faz bem pro meio ambiente e o outro não?

 

Dr. Souto: A diferença é que o pepino provavelmente ainda precisa de água bombeada por irrigação e tal. Enquanto o capim cresce sozinho. O capim é bem mais ecológico. E o gosto é o mesmo.

 

Anna Flavia: As pessoas esquecem… os pecuaristas também esquecem, que na verdade pecuarista é agricultor de capim. Então o pecuarista também é um agricultor. Não tem porque ser atacado. Só que ele tem uma diferença, ele tem um maquinário de colheita de planta natural, que é o gado. Agora, o agricultor, o médio e o grande, não o pequeno né, mas o agricultor, o maquinário de colheita dele é o trator, que usa combustível fóssil.

 

Dr. Souto: Que bota CO2 novo, que tava a 200 milhões de anos debaixo da terra. Então pessoal, vamos comparar como disse a Anna Flavia, uma colheitadeira, você deve ter visto, quem é da cidade ter visto na tv, é uma máquina gigantesca. Aquilo bebe óleo diesel como se não houvesse amanhã. O outro é um animal que é movido a energia solar, que é tratado com água da chuva e que o que sai dele basicamente fertiliza o solo. Mas o problema…

 

Anna Flavia: E ainda alimenta outros animais…

 

Dr. Souto: Cria biodiversidade, assim, isso já foi falado no outro podcast, mas assim, pra maioria que estão nos ouvindo que nunca foi no campo, se vocês forem num local de criação de gado, de ovelha, de pecuária, tem biodiversidade. Vocês querem ver bichos ali, ver capivara, ver aves diferentes, ver todo tipo… biodiversidade é onde se cria bicho. Agora, vão numa monocultura pra vocês verem a tristeza que é.

 

Anna Flavia: Você entrou num ponto que eu queria chegar, da gente falar sobre a biodiversidade. A gente tem a nossa pauta aqui, mas a gente acaba desfazendo a ordem das perguntas, mas eu acho interessante falar dessa questão da biodiversidade tá? Por exemplo, o pessoal acha lindo dizer que numa produção vegetal, gente, eu quero deixar bem claro, eu não sou contra a produção de vegetais, eu sou contra a monocultura, independente se é de capim ou de grãos. O pessoal acha lindo falar das abelinhas, dos insetinhos, de uma forma geral, dos pássaros estarem polinizando as plantas. Mas o bovino, ele também poliniza, sabe por que? Porque a semente que passou pelo trato digestivo dele e não foi digerida, cai no solo junto com as fezes dele, tem temperatura e germina ali. Além disso, o bovino carrega as sementes das plantas nos pelos e nos cascos. Então o bovino, os ruminantes de uma forma geral, dispersam sementes. Assim como as abelhas, como os pássaros…

 

Dr. Souto: Eu nunca ouvi falar que um bovino matasse os insetos. Já os inseticidas são outros quinhentos né?!! Na realidade o bovino… o pessoal que não é do campo, nunca viu, vocês já viram que a pontinha do rabo ela é peluda, cabeluda? Ele fica usando o próprio rabo pra espantar os insetos, tanto inseto que tem ao redor do bovino.

 

Anna Flavia: E outro dado que eu queria compartilhar com vocês, com relação a biodiversidade, que é muito interessante, é um dado do icm bio, uma publicação do icm bio de 2011, falando sobre grandes predadores no Brasil. Lembra que eu falei pa vocês da importância da gente ter zebuínos no Brasil? São animais bravios, com habilidade materna. Nós temos na pecuária brasileira, a cada 100 bovinos criados por ano, a cada 100 fêmeas criadas por ano, de 1 a 2 bezerros são abatidos por onças. Então essa história de falar que a pecuária destrói os animais silvestres, que ta acabando com os animais silvestres, a gente sabe que sobra capivara. Quem já foi numa fazenda, que tem por exemplo um rio, uma represa, a gente sempre vê capivara. Onça come capivara, mas ela gosta de comer os bovinos entendeu?!! Tanto que os pecuaristas tem essa perda, a gente fala 10% da perda dos bezerros anualmente por conta de onças. Cadê que tá acabando com a biodiversidade? Cadê?

 

Dr. Souto: Isso deve causar uma dissonância cognitiva muito grande em algumas pessoas, porque eu imagino que as pessoas não queiram a extinção das onças.

 

Anna Flavia: Exatamente!!

 

Rodrigo Polesso: É o oposto né?!!

 

Dr. Souto: É uma espécie ameaçada hoje em dia no Brasil. A onça é uma espécie ameaçada. Mas a onça come o que? A onça come tofu?

 

Rodrigo Polesso: Acho que não. Sobre insetos, sobre insetos em particular, tem uma coisa interessante, se for até o FDA nos Estados Unidos, por exemplo, qualquer tipo de farinha, qualquer tipo de semente, chia, etc, essas coisas que tipicamente, bom vamos falar vegano, pois são os que mais comem, esse tipo de coisa, até chocolate, etc. EXistem uma quantidade mínima aceita de partes de inseto por quantidade desse alimento. E outra coisa que não é segredo pra ninguém, nessas lavouras gigantescas, quando você passa a colheitadeira lá, você acaba moendo tudo que é coisa junto, inclusive a planta, inclusive centenas de tipos de espécies de insetos, e também animais pequenos, como coelhos. Isso está verificado aí, controlado pelo FDA. Então o gado, se ele matar alguma coisa vai ser um mosquito com uma rabada que você falou Dr. Souto. Toda essa biodiversidade que a gente não vê, não é porque a gente não vê o rostinho bonitinho do inseto a vida dele não é válida.

 

Dr. Souto: E agora até me lembrei por causa da história da onça, de fazer um link, porque assim, deixa eu perguntar para o Rodrigo Polesso: Rodrigo, se você fosse um boi, você seria um boi magro né, não seria um boi gordo.

 

Rodrigo Polesso: Seria bem forte e bem bonito.

 

Dr. Souto: Forte e magro. Se você fosse um boi você preferia ser abatido num abatedouro ou por uma onça? Pense antes de responder.

 

Rodrigo Polesso: Quem assistiu National Geographic sabe que eu vou responder que com certeza um abatedouro.

 

Dr. Souto: Então pessoal, que tem dúvida ao responder isso, não assista os documentários do Netflix, porque eles são peças de propaganda. Assista documentários do NAtional Geographic, do Animal Planet, e observe como é morrer com os dentes e garras de um predador. E talvez Anna Flavia possa nos dar uma ideia assim como é o processo assim do abatedouro comercial. Porque o pessoal as vezes fantasia um pouco. Como é que funciona isso?

 

Anna Flavia: O animal passa por um jejum alimentar né, não hídrico, mas alimentar. E depois ele entra pra sala de matança e ele é insensibilizado. A prática da insensibilização é pra qualquer espécie, só que dependendo da espécie a insensibilização é feita uma forma diferente, por conta da anatomia do animal. No caso dos bovinos a gente chama assim, de pistola de dardo cativo tá? Você já viram aquela maquininhas de cola?

 

Rodrigo Polesso: Aham…

 

Dr. Souto: Aham…

 

Anna Flavia: Sabe, assim, de cola quente? Parece uma maquininha de cola quente, só que grande, óbvio né… aí bota ali na testa do animal e “tum”… é um só. O animal cai ali desmaiado, não vê nada. E aí após a insensibilização com a pistola de dardo cativo, o animal é sangrado. E aí na sangria, a vida dele se estingue ali em menos de um minuto, acabou. Sem sofrimento total.

 

Dr. Souto: Em menos tempo do que ele levaria pra recuperar a consciência né?!

 

Anna Flavia: Exatamente, exatamente.

 

Dr. Souto: Uma coisa pessoal, assim, quem é da área da saúde, ou veterinária, ou o que fora, sabe isso, mas talvez os outros não saibam, e eles assistem documentários no Netflix e se assustam. Então, quando a gente faz… bom, não vamo longe, quem tem idade suficiente pra ver uma galinha ser morta, sabe que quando corta a cabeça da galinha, a galinha sai caminhando ainda, correndo, se mexendo. Aquilo ali é um movimento automático, o corpo da galinha não tem consciência, o cérebro tá fora, ta na cabeça, já morreu. Então da mesma forma se lá no século 18, revolução francesa, guilhotina, quando cortava a cabeça das pessoas o corpo fica se mexendo. Então quando vocês veem um gado que ele sofre esse processo, onde é colocado essa arminha de pressão que entra no cérebro, o bicho fica inconsciente imediatamente, mas sim, ele tem convulsões que são inconscientes. O tronco cerebral faz com que as pernas se mexam. Isso não significa que o animal está sentindo alguma coisa.

 

Rodrigo Polesso: E claro, se a pessoa que estiver ouvindo agora e falar “tudo bem, a diferença Dr. Souto, é a seguinte, é que você que a escolhendo quando que o animal morre e não ta morrendo na hora natural dele”. Esse é um argumento que as pessoas podem usar. Enfim, a ordem natural do mundo a gente não consegue alterar infelizmente…

 

Dr. Souto: Certo, Anna Flavia, você que é zootecnista, como é que é a morte natural dos animais? Assim, eles morrem cercados pelos seus parentes com velas aromáticas e um sacerdote rezando?

 

Anna Flavia: Não, a natureza é cruel… eles morrem vendo que pedaço de perna ta sendo arrancado. É assim que morre…

 

Dr. Souto: Ah, então, vamos imaginar que a partir de amanhã se tornasse ilegal o abate de animais. Então se tornou ilegal, passou uma lei, e agora o Brasil é a primeira nação na qual é proibido completamente o abate de animais. A morte natural deles seria por predação provavelmente então né?

 

Anna Flavia: Com certeza.

 

Dr. Souto: Porque mesmo que você dissesse não, eles vão morrer de velho seja… porque o animal também, se você deixar ele pode desenvolver câncer, ou ele va perder os dentes e não vai conseguir se alimentar e vai se desnutrir, não é uma coisa bonita, não é cercado pelos parentes. E quando esse animal ta velho e fraco, é quando ele é predado. Então não tem morte natural, exceto talvez, de vez em quando um animal tem uma fibrilação ventricular e tenha um ataque cardíaco fulminante e morra, e daí seja predado pelos urubus e tal, depois de morrer, mas 99% das vezes o animal será predado por alguém. A diferença, como o Rodrigo disse assim, o pessoal vai argumentar, bom, nós temos condições de raciocinar e pensar, eu acho que nós temos que usar esse raciocínio pro bem e fazer com que essa morte seja o mínimo sofrida possível. E é justamente o que a Anna flavia falou, é insensibilizaro animal, torna-lo inconsciente na hora da morte.

 

Rodrigo Polesso: É, e a Anna Flavia falou também que no norte, os bezerros lá, 10% deles são predados naturalmente por onças. Então os sortudos são aqueles que passam pelo abatedouro, e não os que são mordidos pouco a pouco pelas onças.

 

Dr. Souto: Exatamente, esses são os sortudos. Eu diria, sem sombra de dúvida, assim, como médico eu já vi coisas que assim, não gostaria de ter visto, que muitos desses animais morrem melhor do que muitos de nós humanos. Que tem muitos de nós humanos que somos mantidos vivos de forma fútil, com grande sofrimento, doses de morfina, consumidos por doenças horríveis. E muitas vezes o paciente pede pra morrer, mas enfim, isso é ilegal. E o animal bem, o animal ele não sabe o que ta acontecendo. Aí vão dizer “ah, mas ele pressente”. Tá, e quando a onça chega ele não pressente no caso?!! Entende, o animal que nós não… ouvinte, escute o que eu vou dizer, o animal que o ser humano não matar não será imortal. O animal que o ser humano não matar vai morrer. A pergunta é, ele vai morrer como? Ele vai fazer o que? Ele vai fazer uma overdose de alguma droga? Ele vai pegar e vai tomar uma dose de lsd pra morrer numa boa? Então as pessoas tem que parar de assistir documentário de propaganda no Netflix, E acho que o Polesso falou o certo, vamos assistir o National Geographic e Animal Planet, enquanto existe, porque eu acho que o Animal Planet vai virar o Plant Planet daqui a algum tempo.

 

Rodrigo Polesso: É, e não escute a narração também, não escute a narração. Porque lá que eles colocam essas sementes de mentiras de ideologia. Assista só as imagens.

 

Dr. Souto: Bom, não precisa ir muito longe né, quem é que assistiu ao Rei Leão? O leão bonzinho da história ele não comia carne né?

 

Rodrigo Polesso: Ah é? Eu não lembro…

 

Anna Flavia: Eu não lembro não…

 

Dr. Souto: É, sim… ele foi pro mato lá… e tinha o Pumba, que era aquele porco do mato. Tinha aquele outro que era…

 

Rodrigo Polesso: Timão… é o Timão e o Pumba…

 

Dr. Souto: E ele não comia eles. E aí eles ensinaram pra ele que era errado. Então do que eles sobreviviam? Eles abriam troncos podres e comias os vermes que estavam ali dentro.

 

Rodrigo Polesso: Porque o verme é planta né…

 

Dr. Souto: É, porque o verme é planta, não é um animal. E aí o leão que era o leão do bem não comia outros animais. Já o tio dele que era o tio maligno…

 

Rodrigo Polesso: O Scar…

 

Dr. Souto: Esse, a primeira cena que aparece ele no filme é dele com uma ossada… aparece assim, dá aquela música, o bicho tem uma cara feia e tal. Ele é do mal e ele trai os outros animais. E ele é um leão que come carne vê se pode… ideologia é isso pessoal, isso se chama ideologia.

 

Rodrigo Polesso: Tem um outro grande assunto aqui pra gente falar antes de concluir isso aqui, que essa questão toda do desmatamento e das queimadas, que teve a mídia tão a tona aí… bom, eu já falei das celebridades, que eles são pessoas famosas, não são gênios. Tem que lembrar disso, não é porque ele é famoso que eles sabem das coisas, mas tudo bem… Anna Flavia, em termo de desmatamento, o pessoal fala “nossa, estão acabando com a Amazônia pra poder plantar pasto em todo lugar”. O que é protegido por lei, o que não é? Que desmatamento que é crime? Qual não é? Qual que é um pouco da verdade dessas queimadas e dessas derrubadas de árvores? Pro pessoal entender se a culpa de novo é da vaca ou tem coisa mais nessa história?

 

Anna Flavia: Então deixa eu contar pra vocês… a NASA também confirmou os dados que nós temos no Brasil aqui, no mesmo lugar, da mesma fonte que contei pra vocês no podcast passado sobre a nossa quantidade de área de pastagem e de grãos, 64% do nosso território é de áreas protegidas por legislação.

 

Rodrigo Polesso: Não é um dos maiores do mundo? É um dos maiores do mundo…

 

Dr. Souto: Eu acho que é o maior do mundo…

 

Anna Flavia: É, é o maior do mundo. O código florestal, a legislação brasileira é a mais chata do mundo. Nós já temos uma das maiores biodiversidades do mundo, por estarmos num clima tropical, e ainda nossa legislação é bem rigorosa. Então assim, desses 64%, 15,6 unidade de conservação. 14 terras indígenas. Agora vocês me contem o que os índios produzem de bom pra esse Brasil? A área de reserva legal e preservação permanente 31%. E, assim, dessa área protegida por legislação tem uma parte que tá disponível pra agropecuária. Por exemplo, o gado pode pastar numa pastagem nativa, num lugar conservado nativo. Essa área seria 6% que poderia ser utilizada. Por exemplo, se você tem, a gente chama de aguada, se na sua fazenda tem um rio, um lugar que tem água corrente natural, o gado pode entrar e beber água lá. Então essa área seria 6%. Mas esses são os dados do Brasil, 64% das nossas terras estão preservadas. Agora, falando sobre a questão da Amazônia, dos desmatamentos, a gente sabe que existem sim desmatamentos no norte do Brasil. Mas quando as pessoas falam sobre a pecuária na Amazônia, pra início de conversa, apenas 14% dos solos da Amazônia são férteis, 86% são de baixa fertilidade. Então não adiantaria desmatar a Amazônia pra botar pasto lá. Os solos não são bons… Aí cê fala; “mas como assim? Uma floresta tão maravilhosa, biodiversidade, blá blá blá”. Acontece que o ambiente amazônico, porque as pessoas confundem, o bioma, a Amazônia, e a Amazônia legal. O bioma amazônico vai além do Brasil, os países vizinhos também tem. Agora, falando da nossa área de reserva legal, a pecuária… por exemplo, o estado do Pará, é um estado que contribui muito com produção de gado no Brasil, mas é no sul do Pará, é ali no finzinho. A pecuária ela está nas bordas da Amazônia. Não tem gado dentro da Amazônia. E a Amazônia não tem só floresta densa, ela tem diferentes áreas. Áreas de savanas, áreas mais fechada, áreas um pouco mais abertas. Então assim, não é uma coisa só, uma floresta densa, fechada, como as pessoas pensam, são diferentes áreas. E o gado não tá la dentro, ta na borda, entendeu?

 

Rodrigo Polesso: Aham! E as queimadas também, são pessoas que estão queimando por causa da utilização do gado, do pasto? Como é que é? Os processos naturais… como é que é?

 

Anna Flavia: Não. Lógico que tem queimadas que a gente não sabe né, não foi apurado e tal. Mas a gente sabe que a maioria são grilheiros, são madeireiros, entendeu? Não é o pessoal da pecuária, não é.

 

Dr. Souto: E aí tem uma outra questão que é a seguinte: vamos imaginar que uma pequena parte dessa queimada ou d desmatamento seja pra abrir floresta pra criar gado. Que como você já disse, o solo não se presta muito pra pastagem, mas digamos que seja numa área de fronteira entre a floresta e a savana. Ok. Então isso é ruim, eu acho que ninguém é  favor da derrubada de floresta. Mas aí eu pergunto, e se fosse pra plantar soja? Aí seria tudo bem ou seria ruim também?

 

Anna Flavia: A gente diz o seguinte, os animais de uma forma geral acompanham a agricultura. Se a agricultura sobe os animais sobem. E tem a tendência agora, infelizmente, do gado subir. Por que? Porque a soja ta subindo. Os grãos tão subindo.

 

Dr. Souto: Essa soja ela serve pra várias coisas. Ela serve pra biodiesel, ela serve para a alimentação de animais. Mas a maior parte deles, me corrija se eu estiver errado, a maior parte não é do Brasil, é na China ou na Europa. Porque a maior parte do nosso gado, aliás, a gente falou disso no podcast anterior, 88% do gado no momento do último censo era gado alimentado integralmente a pasto na qual a soja era irrelevante.

 

Anna Flavia: Deixa eu só fazer um adendo aqui. No podcast passado eu falei que a BIEC era a associação brasileira de importadores… não, é exportadores de carne. O Brasil, a maior parte, eu não sei o número exato, mas eu creio que em torno de 80% da carne produzida fica aqui, entendeu? É pra abastecer o mercado interno. Então assim, a gente exporta, não importa gado. Então é associação brasileira de exportadores de carne.

 

Dr. Souto: Agora, vamos imaginar que eu estivesse destruindo uma parte da floresta porque eu descobri que lá tem ouro, e fosse pra mineração, também seria ruim pra biodiversidade tá certo?

 

Anna Flavia: Uhum…

 

Dr. Souto: Então a questão é, vamos deixar de usar minerais porque pode derrubar floresta. Vamos deixar de comer vegetais porque pode derrubar a floresta. Vamos de comer carne porque pode derrubar a floresta. Será que o certo não seria simplesmente coibir a derrubada da floresta? Ao invés de hipocritamente dizer que o negócio é não comer carne vermelha, quando nós sabemos que boa parte é para soja. Mas quando essa soja é usada pra fazer um hamburger vegano ela passa a ser bonita. Porque aí não matou nenhum animal…

 

Anna Flavia: E tem um outro detalhe muito importante, não só na Amazônia, mas no cerrado também acontece. A gente tem processos naturais de redução de florestas por conta do fogo. Na Amazônia ocorre, porque você tem um ambiente quente, elevadas temperaturas, as plantas tropicais de uma forma geral estão ali ressecadas… no período seco do ano que acontece? Pega fogo. Então assim…

 

Dr. Souto: Isso é importante porque muita gente não sabe isso. Porque as pessoas olham as fotos da floresta amazônica cheia de água, alagada. Mas existe uma época de seca.

 

Anna Flavia: Exatamente. E aí por conta desse fogo natural que ocorre tanto na Amazônia quanto no serrado, a gente tem plantas resistentes, entendeu? Plantas resistentes assim, pega fogo na floresta aí na hora que o fogo abaixa, lógico, ali naquela, onde tinha vegetação não fica nada, é tudo cinza, mas as sementes que ficaram ali no solo são resistentes, e elas rebrotam, e aí a floresta, ou o serrado, rebrota com força total.

 

Rodrigo Polesso: Tem árvores também que são imunes ao fogo, que é incrível, elas não morrem quando passa o fogo…

 

Dr. Souto: E isso é assim justamente porque isso não é um fenômeno humano, é porque faz parte, como a Anna Flavia falou, do ciclo natural de vários tipos de biomas, não só ali da floresta amazônica, que periodicamente ocorrem queimadas naturais. Claro, é obvio que tem que ser investigado se existem queimadas criminosas, mas, eu to olhando por exemplo um artigo da Forbes que foi publicado recentemente, que o título é o seguinte: “Forget the Amazon hype”, quer dizer, o exagero sobre a Amazônia. Os fogos globalmente declinaram 25% desde 2003 devido ao crescimento econômico. Então eles explicam aqui, que existem picos de queimadas em determinados anos em relação a outros, mas que a tendência secular tem sido de redução. Justamente porque cada vez mais existe tecnologia na produção agropecuária, e as pessoas descobrem formas mais eficazes do que usar o fogo pra limpar vegetação seca velha. Então depois, eu mando aqui pro Rodrigo acrescentar esse artigo também nos artigos linkados. Então na realidade vocês viram que o assunto veio e o assunto morreu agora na medida em que começou a ficar claro que, bom, essas queimadas não são tão diferentes das que anualmente ocorrem. E que havia um componente político também de exploração dessa notícia.

 

Rodrigo Polesso: Com certeza. E de novo, a celebridade, isso virou uma hype muito rápida. Toda vez que tem uma hype muito alta a resistência cresce muito rápida também. E se vocês prestaram atenção em todas essas hype, Leonardo de Caprio, que agora tem uma ong que ta coletando dinheiro pra salvar o planeta, porque ele é tão bom. O Tony Robbins acabou espalhando essa coisa também. E todas mensagens tem lá embadado, incluído, essa questão da mensagem de você diminuir o consumo de carne vermelha. Se vocês assistiu o documentário novo que saiu no Netflix, muito bonito, o documentário se chama Our Planet, que é narrado pelo Attenborough, o clássico narrador desse tipo de programa. Se você assistir, é lindo de assistir, ok?!! Mas como eu falei, se você prestar atenção na narração você vai se sentir como eles querem que você se sinta, como um idiota que tem que ficar com medo, com um monte de fato sem referência, com argumento sem referência, e passando essa mensagem ideológica de que o problema é o consumo de carne, que o problema é esse tipo de coisa, se você entrar no site do Our Planet, que eles falam pra você entrar no site deles em todo episódio dessa série no final eles falam “entre no site pra você ver como pode fazer pra salvar nossos oceanos, pra salvar nossas florestas”, e você clicar no vídeo bem curto que dá 5 passos pra você fazer, o primeiro passo é você diminuir o consumo de carne vermelha. Isso aí ta embasado, essa ideologia ta em todo lugar…

 

Dr. Souto: E a pergunta é, se isso fosse honesto onde está o passo de diminuir o consumo de arroz? Tá certo? Não existe coerência. E não existe coerência nós não tamos falando de gene ignorante. Nós não estamos falando de gente ignorante. Você que está nos ouvindo que daqui a pouco trabalha e estuda uma área totalmente diferente você não tem obrigação de saber. Sujeito aqui que é enfim, advogado, professor de química, bom, não tem obrigação. Mas quem trabalha nessa área sabe que existem fontes de metano muito maiores, se é que não sabe que o metano faz parte do ciclo e portanto tanto faz, o metano que importa é o metano do subsolo, metano do gás natural como a gente falou. Então essas pessoas estão usando a pena que as pessoas tem dos animais, a preocupação que as pessoas tem do clima, pra avançar uma agenda específica, que é demonizar produtos de origem animal, de modo a tornar produtos industriais ultra processados interessantes, por que? Porque eles não envolvem sofrimento animal, a gente sabe que sim, porque a lavoura destrói a vida de incontáveis animais. E porque esses produtos, mesmo sendo multi processados e tal, ele não tem carne vermelha, e portanto não produzem aquecimento global. Então vocês entendem, as pessoas bem intencionadas estão sendo utilizadas como inocentes úteis pra avançar uma agenda que interessa a grande indústria produtora de alimentos. E daqui a pouco o inimigo da ecologia são aqueles bichinhos pastando que vocês veem na beira da estrada, enquanto que o amigo do mundo e o futuro da terra são grandes corporações e fábricas. Pessoal, vamos acordar!

 

Rodrigo Polesso: Eu vou fazer um adendo a isso que você falou, eu acho que isso e pertinente. Como você falou, muita gente escuta a gente, advogado, psicólogo, pintor, qualquer coisa, e não é de obrigação de nenhuma dessas pessoas de saber desses fatos que a gente ta falando sobre nutrição, sobre pecuária, clima, sobre gases, etc. Agora, no momento que você decide espalhar ou repercutir uma informação que você escuta do seu artista favorito, nesse momento você assume uma responsabilidade sobre essa informação. Porque você passa a ser uma fonte secundária dessa informação. Então no momento que você passa adiante isso, aí n minha opinião era obrigação sua ter verificado a fonte, pra ver se de fato você concorda com aquilo, e assume essa responsabilidade de impactar todas essas pessoas que estão no seu ciclo que vão ser influenciadas por essa mensagem. Então tem essa escolha de responsabilidade.

 

Anna Flavia: Eu quero fazer um adendo aqui. Quando as pessoas tão doentes e precisam se tratar, elas não procuram um artista, elas procuram um médico. Por que diabos que a hora de falar de gado não procuram um profissional de ciências agrárias? Não vão numa fazenda visitar um produtor, ver como funciona? Por que o artista é que tem que ser consultado.

 

Dr. Souto: É, muito bem colocado.

 

Rodrigo Polesso: Muito bem colocado. Pessoal, vocês alguma informação a adicionar antes da gente fechar esse podcas?

 

Anna Flavia: Não.

 

Rodrigo Polesso: Eu acho que foi dito muita coisa. Eu espero que isso possa ser disseminado…

 

Dr. Souto: O podcast anterior já bombou, foi sucesso… acho que esse aqui vai bombar mais ainda. Eu não duvido que a gente não tenha que reunir aí outras perguntas que forem surgindo e quem sabe no futuro fazer um terceiro.

 

Rodrigo Polesso: Com certeza.

 

Anna Flavia: Então eu quero só deixar uma mensagem; o problema não é a criação de gado, o problema é a gente manejar bem a nossa pastagem. Porque se a gente tratar bem a nossa pastagem, se a gente botar na cabeça que o pecuarista é um agricultor de capim, a gente sequestra carbono, a gente controla a erosão do solo, a gente mantem a boa estrutura do solo, os microrganismos do solo. A gente faz com que a pastagem filtre poluentes no meio ambiente, a gente promove um habitat adequado inclusive para os animais domésticos, opa, animais silvestres. Entendeu? Então a pecuária feita de forma correta ela só tem a agregar ao planeta, e não ao contrário.

 

Dr. Souto: Rodrigo, eu posso fazer mais duas perguntinhas pra Anna Flavia?

 

Rodrigo Polesso: Claro, claro…

 

Dr. Souto: Anna Flavia, você acha que a Amazônia é o pulmão do mundo e produz 20% do oxigênio do planeta?

 

Anna Flavia: Não.

 

Dr. Souto: Não. Pessoal, existe um conceito de florestas maduras. Floresta madura é assim, pra cada árvore que nasce tem uma morrendo. Então assim, a Amazônia consome o oxigênio que ela produz… segundo…

 

Anna Flavia: Exatamente. Toda planta, toda planta ta gente, as plantas no mundo inteiro são assim. Consomem o oxigênio que produz.

 

Dr. Souto: É porque elas respiram também pessoal…

 

Rodrigo Polesso: Então oxigênio também é um ciclo?

 

Anna Flavia: A fotossíntese e a respiração, a transpiração, não são exclusivas da soja, aveia, do grão de bico, da linhaça, a pastagem também faz isso. Não são exclusivas da floresta. Qualquer planta do mundo faz isso.

 

Dr. Souto: Perfeito. E a outra perguntinha rápida, porque eu vi na pauta que a gente esqueceu. Mas em 1 minuto e 45 segundos, de que forma que o gado poderia sequestrar carbono? Ou seja, ter efeito negativo no carbono atmosférico, fazer que diminua o carbono… existe uma forma de fazer isso?

 

Anna Flavia: Não.

 

Dr. Souto: Não? É que eu acho que seria possível haver um sequestro de carbono no solo, pelo manejo adequado da pastagem, através das fezes do animal, não sei…

 

Anna Flavia: É assim ó, se você dar, a questão da emissão de gases, do sequestro de carbono, ele tá relacionado a dieta que você dá ao animal. Se você proporcionar uma pastagem ruim ele vai emitir mais gases do que sequestrar, entendeu? Esse é o ciclo, depende da dieta que você dá pro animal.

 

Dr. Souto: Mas em tese seria possível fazer uma agricultura regenerativa na qual o animal inclusive sequestre carbono no solo né?

 

Anna Flavia: Sim.

 

Rodrigo Polesso: Ah, então se você ressuscita o solo ele começa a sequestrar carbono a mais…

 

Dr. Souto: Quem tá preocupado com o ambiente, ao invés de querer a abolição do gado, deveria lutar pela criação correta, por ter zootecnistas e técnicos que vão fornecer uma alimentação correta e que vão poder integrar a agricultura com a criação de gado pra fazer o que chama agricultura regenerativa na qual você vai movendo o gado do lugar e aquele esterco que ele faz é incorporado, começa a fazer parte do humus, aquela coisa preta que tem no solo, cria solo novo. E esse solo novo é carbono que uma vez tava na atmosfera e não tá mais, agora ta no solo.

 

Anna Flavia: Eu tenho só um… eu não gosto de termos, sabe? Já me perguntaram sobre boi verde… esses termos eu acho que só trazem separação entre as pessoas, entendeu? A questão não é o nome, a questão é; o pecuarista ele tem uma cabeça diferente do agricultor, ele acha que ele sabe, que ele não precisa, que ele é independente das pessoas. A maioria não pensa que é um agricultor de capim. Então assim, dieta por exemplo, que mais acontece com bovinos… eu não falei pra vocês, que durante a época seca do ano a gente dá uma suplementação mais pesada, com proteínas, vitaminas, só que isso acaba ficando em excesso. E esse excesso além de representar um custo pro pecuarista, acaba degradando, indo pro meio ambiente esse excesso, por exemplo, nitrogênio. Então assim, não é o nome em si, é a pecuária em si ela já é uma forma de reciclagem de nutrientes né?!! Mas tem que ter realmente uma consciência melhor dos pecuaristas. Sem precisar dar terminologias entendeu? É isso que to querendo dizer.

 

Dr. Souto: Claro. Assim como é possível fazer agricultura de forma errada, e não é por isso que as pessoas vão ser contra toda e qualquer plantação de qualquer coisa. Não, elas vão dizer, vamos plantar certo. É possível fazer pecuária errada, mas não é por isso que a gente vai querer a abolição da carne da pecuária, e sim que a gente lute por fazer a coisa certa. E a história da Amazônia é a mesma coisa, só porque a gente pode fazer extração ilegal de minério e prejudicar a floresta com isso não significa que a gente tenha que não usar mais minérios no mundo.

 

Anna Flavia: E outro detalhe, sabe, existe gente morando lá, pelo amor de Deus, Manaus, e quantas cidades não tem por exemplo na nossa área legal da Amazônia. Vocês sabem, 13% só de saneamento básico que tem o pessoal da Amazônia, sabe? Poxa, essas pessoas não merecem que tenham um certo desenvolvimento por lá? Quer dizer que a gente é obrigado a ficar… eu não to falando que tem que desmatar a floresta, mas assim, tem que ficar o local lá entocado sempre, aquelas pessoas não merecem ter uma vida melhor?

 

Dr. Souto: Se elas tiverem uma vida melhor é a melhor coisa que você pode fazer pra preservar o ambiente. Porque já falamos aqui, que pode ser pior do que os dejetos não tratados de milhares de pessoas despejados diretamente nos rios? Isso é uma coisa que… isso aí não é produto do desenvolvimento, isso é produto da pobreza e miséria.

 

Anna Flavia:  Dejeto de bicho vira comida. E lucro. Dejeto humano vira o que? Poluição.

 

Dr. Souto: Então vamos seguir a lógica predominante hoje em dia, exterminar as pessoas. Tem formas de fazer certo pessoal.

 

Rodrigo Polesso: Claro que tem. Se tem uma coisa que a gente pode dizer que é natural nesse planeta terra são animais pastando. Então quanto mais perto do natural a gente deixar isso melhor pra nós também. Agora vamos falar de comida, o que vocês degustaram aí na última refeição.

 

Dr. Souto: Hoje começa pela Anna Flavia.

 

Anna Flavia: Ah, hehe, de novo né?!! Eu comi dois fígados de galinha, e 4 ovos mexidos com manteiga.

 

Rodrigo Polesso: Meu, que orgulho. Quase caiu uma lágrima agora.

 

Anna Flavia: Haha, eu amo fígado.

 

Rodrigo Polesso: Eu tenho certeza que o Dr. Souto vai falar a mesma coisa. Diga Dr. Souto.

 

Dr. Souto: Hoje eu comi peixe. Era peixe simples…

 

Anna Flavia: De novo, eu to achando que você ta entrando na agenda viu. É a segunda vez que você come peixe.

 

Dr. Souto: Mas o meu peixe ele dá pum e arrota.

 

Rodrigo Polesso: Você ou o peixe?

 

Dr. Souto: Bom, aliás, existe, eu sempre digo que existe a lei da preservação dos gases. Que é o seguinte; o gás será emitido. Depende se será emitido pelo ruminante ou por você. Então, se você comer…

 

Rodrigo Polesso: Exato, ele precisa ser emitido de qualquer forma.

 

Dr. Souto: É isso… o ruminante ele come capim e solta gases. Aí você come o ruminante e bom, você não solta gases quando você tem uma dieta baseada em carnes. Se você comer a dieta…

 

Anna Flavia: Ninguém tem pena do peixe né? Eu conheço muitos vegetarianos que comem peixe…

 

Rodrigo Polesso: É, a gente já falou sobre isso, é incrível…

 

Anna Flavia: O que que o peixe fez coitado? Ninguém tem pena dele…

 

Dr. Souto: É, deixa eu dizer… assim, eu tenho uma ideia, eu posso estar errado, mas eu acho que a maioria das pessoas que nos escutam são bastante urbanas. Talvez alguns nunca tenham pescado. Quem já pescou sabe que é um negócio meio cruel. Ele morde um anzol que fica atravessado, ele tá vivo esperneando lá dentro, aí você tira ele da água, e aí você arranca o anzol com guelra e tudo, e o bicho morre por asfixia. Mas até ele morrer por asfixia ele fica vivo um bom tempo. Bom, quem morre melhor, a vaca ou o peixe?

 

Rodrigo Polesso: É a vaca com certeza.

 

Anna Flavia: A vaca, a vaca.

 

Dr. Souto: Entendeu pessoal, vamos pensar um pouco. Vamos parar de cair na propaganda, vamos para de assistir Netflix e tipo, usar a cabeça pra algo que não seja chapéu.

 

Rodrigo Polesso: Tem uma frase que eu li uma vez que fala assim: todo ser vivo no planeta terra merece, tem direito a vida, exceto o porco, uma coisa tão saborosa não merece viver.

 

Anna Flavia: Coitado.

 

Rodrigo Polesso: Coitado né?!! É por isso que eu comi camarão hoje. O Anna Flavia, como é o nome daquela palavra correta para o arroto mesmo que você falou?

 

Anna Flavia: Eructação.

 

Rodrigo Polesso: Eructação. Tá, você falou em eructação eu lembrei, eu provei o tal do hambúrguer impossível, o hambúrguer do futuro, beyond burguer, e comparei com o hambúrguer de carne, wagyu, alimentado a pasto 100%, e por sinal paguei o mesmo preço nos dois. O vídeo ta indo ao ar na segunda-feira, o pessoal no canal do Youtube, o canal do Emagrecer de Vez no Youtube, eu provei os dois e eu eructei o bendito do hambúrguer vegano, apesar de ter comido 2 pedacinhos só…

 

Anna Flavia: O wagyu a pasto?

 

Rodrigo Polesso: Não. O beyond burguer. O a pasto foi a única coisa que me salvou. Eu provei 2 pedacinhos desse hambúrguer vegano, que eu li todos ingredientes dele né, que na verdade encheram de baconzitos e cor de cenoura. Uma coisa bizarra, e aí fiquei eructando a tarde inteira por ter comido 2 pedacinhos. E eu sabia que era ele porque ele tinha aquele sabor do baconzitos, vinha a tona toda vez toda vez que eu erutava aquele alimento…

 

Dr. Souto: Mas agora eu tenho uma dúvida genuína. Ele pelo menos é um pouco gostoso assim?

 

Rodrigo Polesso: Ele é tão gostoso quanto um baconzitos. Ninguém vai comer um baconzitos ou um doritos e vai dizer nossa que nojento. Você vai dizer que é artificial e tudo mais, mas ele não é ruim. Ele tem um gosto obviamente artificial.

 

Dr. Souto: É um negócio incrível né, porque eles conseguiram deixar isso com um gosto razoável. Qu o Mcdonalds consegue fazer algo mais impossível. Que é deixar carne com gosto ruim. Então agora, qual é o principal ingrediente desse hambúrguer. Qual é o principal ingrediente do beyond burguer?

 

Rodrigo Polesso: Depois… o primeiro ingrediente é água. O segundo, pessoal, olha que coisa natural, é proteína isolada de ervilha. Cê pensa em um alimento proteico você pensa em ervilha.

 

Anna Flavia: Que delícia!

 

Rodrigo Polesso: Que delícia né?! Hehe! Ele parece que é tipo… eles falam que a textura é igual a de carne, o gosto é igual… bom, a textura é durinha, parecido, não é parecido com carne. Como se fosse comer uma pamonha, tem a casquinha de milho, eu não sei o que acontece que essa proteína de ervilha, ou a fermentação que eles fazem tem esse meio que umas casquinhas no meio. Enfim, não se enganem pessoal, pelo amor de Deus. E outra, tem 25 ingredientes, e o outro é o que? 100% carne, como a natureza fez.

 

Dr. Souto: Esses dias eu debatendo com alguém lá no meu blog, sobre o assunto esse da água, eu explicando, olha, é agua da chuva e tal. Aí a pessoa já não tendo mais argumentos nesse sentido, disse assim: tá, mas e a água pro processamento da carne no frigorífico? Aí eu pergunto: e a água pro processamento da ervilha? Pra produzir proteína isolada de ervilha alguém acha que é menos do que a água pra dar uma mangueirada na carcaça? Então assim, claro, aí tem a água pra eu tomar banho. Bom, tem algumas águas que precisa, mas é uma quantidade mínima. 95% da água que é alegada lá no caso do gado, é água da chuva. Já no caso da ervilha tenho minhas dúvidas. Será que não é irrigada com água, essa sim, retirada do aquífero e do rio, essa sim compete com a água que os humanos consumiriam, porque não é da chuva…

 

Rodrigo Polesso: Pois é, e sem contar com os humanos que consome água purificada também pra alimentar um cérebro que fala besteiras como essa. Então tem problema em todos os níveis…

 

Anna Flavia: Agora tem água alcalina agora…

 

Rodrigo Polesso: Alcalina faz tempo…

 

Anna Flavia: Meu cunhado comprou um filtro de água alcalina.

 

Rodrigo Polesso: Bom, meus pêsames pra ele.

 

Dr. Souto: Quem quiser ver o que eu penso sobre água alcalina coloca lá no google, Soutro blog, 2 pesos duas medidas.

 

Anna Flavia: Você falou da água do frigorífico agora eu sou obrigada a falar tá? A resolução do CONAMA, o que que é o CONAMA, nada mais é que o conselho nacional de meio ambiente. Ele que faz todas diretrizes pra água… uso de água no Brasil. Então assim, a resolução do CONAMA 357 e 396 traz que a água… a água é classificada né em 3 classes. A classe 3 serve pro que? Abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado para irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras,  pra pesca amadora, recreação e contato secundário, e dessedentação de animais. Ou seja, a água, que não é água da chuva, que abastece o ser humano é a mesma água utilizada no frigorífico, a mesma água utilizada para as culturas de cereais. É a mesma água.

 

Dr. Souto: Ou seja, se você não quer usar essa água não adianta você deixar de comer carne para comer cereais porque ela é usada também no processamento dos cereais amiguinho?!! Tipo, não dá pra viver sem água sabia?!! Ah, então por isso não pode comer carne… não, ele usa da chuva, a chuva vai cair, você tem que entender. É a mesma coisa assim ó: olha, que desperdício, as cataratas do Iguaçu botam 3 mil metros cúbicos de água por segundo só pra despencar de uma pedra, tá certo? Poxa, que desperdício, vou á fechar as cataratas. Não pessoal, aquela água ela cai das cataratas, ela evapora, chove lá no início do rio e cai de novo. É um ciclo. Ela não se perde, ela não é destruída. Essa água que cai das cataratas ela não entra numa fenda.

 

Anna Flavia:  Só se perde coisas na cidade, a natureza, ela se recicla.

 

Dr. Souto: Isso, então a água de Fukushima vai ficar radioativa por 150 mil anos. A água que cai nas cataratas do Iguaçu, amanhã tá chovendo de novo em cima do rio e vai cair de novo. É um ciclo. Ela não entra numa fenda espaço temporal e vai pra outro universo. Ela continua na terra ciclando chovendo e caindo de novo. Assim como a água da chuva que faz a grama crescer, que permite o gado comer, ela é da chuva, ela volta pro ambiente. O gado respira, o gado urina, a água volta.

 

Rodrigo Polesso: Tudo que ta na terra fica na terra. Se você olhar a terra da lua vai ver que não tem nada vazando no nosso planeta. Tudo que tá aqui é um ciclo.

 

Dr. Souto: Então como a gente falou, as pessoas que falam isso não devem ser ignorantes de fatos que são ensinados no ensino fundamental até a oitava série, esse ciclo da fotossíntese, das águas e tal, se não é ignorância é má fé. Eles tão usando você como inocente útil porque tem pena dos bichinhos e não quer destruir a natureza para o seus filhos e netos, sem saber que o bicho na realidade teria uma morte pior se fosse comido por uma onça e que a água não está sendo destruída, ela é sempre reciclada. Mas você tá sendo um inocente útil pra avançar uma agenda da indústria pra valorizar as ações do hambúrguer do futuro que o Rodrigo comeu e ficou eructando.

 

Rodrigo Polesso: Exatamente. Agora chega. Pelo amor de Deus já chega, vamos deixar o instagram pra galera, pessoal siga lá no Instagram, me siga lá @rodrigopolesso, o Dr. Souto é @jcsouto, a ablc.org.br . E o Instagram da Anna Flavia que é Anna Flavia?

 

Anna Flavia: @doutora_annaflavia

 

Rodrigo Polesso: Perfeito. Pessoal, siga a gente lá e entre em triboforte.com.br também pra se inteirar de mais coisas. Pessoal, espalhem essa mensagem, eu acho que o pessoal precisa saber um pouco aí, o nosso trabalho de formiguinha é pequeno mas é útil pra quem ele consegue atingir. Então é isso aí pessoal, um grande abraço pra vocês a gente se vê no próximo episódio aqui da Tribo Forte.

 

Dr. Souto: Abraço!

 

Anna Flavia: Abraço! Até!