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Neste podcast:

  • Vamos falar de uma terrível recomendação da revista Saúde para diabéticos;
  • Exemplo de como NÃO fazer ciência!!

Escute e passe adiante!!?

Saúde é importante!

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Caso de Sucesso do Dia

André Luis Jorge

 

 

Referências

TMAO

 

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Olá, olá! Bem-vindo a mais um podcast da Tribo Forte, número 153. A sua dose semanal, como você sabe, de estilo de vida saudável, saúde, boa ciência nutricional e também alertas contra a má ciência e má informação que é distribuída por aí. Pessoal, seguinte, nesse podcast a gente vai falar de uma recomendação absolutamente terrível que eu vi na mídia, dando para as pessoas que têm diabetes, que realmente é muito triste. E também mostrar um exemplo perfeito de como não fazer ciência. Na verdade é a volta dos mortos-vivos! A gente vai falar de uma coisa que já falamos antes e vai ser um ótimo exemplo para você notar como é que má ciência… como é que é possível as coisas mudarem, ideias mudarem radicalmente. Como é possível? Você vai entender que é somente com má ciência que isso é possível. Uma coisa faz bem um dia, faz mal outro dia, vira uma coisa maluca. É uma barbaridade, você vai entender já já o que a gente está falando. Deixa eu dar as boas vindas ao dr. Souto para essa nossa diversão de hoje. Tudo bem, dr. Souto?

Dr. Souto: Tudo bem. Boa tarde, Rodrigo e boa tarde aos ouvintes.

Rodrigo Polesso: Então a gente vai começar com essa terrível recomendação que eu vi na mídia e guardei para a gente falar. Mas antes só um lembretinho, pessoal. Se você não adquiriu o meu livro ainda, o livro chama-se Este Não É Mais Um Livro De Dieta, você pode achar em qualquer livraria da tua preferência, pode ir na Amazon, ou talvez o site direto EsteNaoEMaisUmLivroDeDieta.com.br é onde eu explico passo a passo do embasamento, todo esse estilo de vida da alimentação forte que a gente fala tanto aqui. Leva para sua casa, dá de presente para a galera, isso vai te ajudar. De novo, o nome do livro é Este Não É Mais Um Livro De Dieta, é um livro de estilo de vida saudável baseado em ciência. Vamos lá, então! Dr. Souto, eu peguei e capturei aqui… não é a primeira vez que a gente fala da revista Saúde, mas é infame. Eles colocaram aqui no Instagram, publicação deles, o seguinte: o título dessa imagem é Diabéticos podem e devem comer frutas. E daí o seguinte, eles entrevistaram uma nutricionista da Sociedade Brasileira de Diabetes, que diz que eles entendem que o diabético tem um desafio de controlar a glicemia no sangue, tem que evitar açúcar e tudo mais, só que eles dizem categoricamente no texto desse post o seguinte: Assim como a população em geral, quem tem diabetes precisa comer de três a cinco porções de frutas por dia. É uma afirmação bem forte. É uma prescrição o que eles estão fazendo aqui. Você precisa, diabético ou não, comer de três a cinco frutas por dia. Quando eu falei disso no meu Instagram recentemente, minha assessora de imprensa quase me xingou aqui. Me ligou e disse que não pode falar mal, mas eu não consigo ficar quieto vendo uma prescrição dessa vinda da Sociedade Brasileira de Diabetes, onde eles dizem na mesma postagem que o diabético precisa ter cuidado com o açúcar e na mesma postagem diz que você precisa comer de três a cinco porções de frutas por dia. É difícil de lidar com esse tipo de situação.

Dr. Souto: É desesperador, porque na realidade, vamos começar por de onde saiu as de três a cinco porções de frutas por dia.

Rodrigo Polesso: Pois é!

Dr. Souto: Houve algum ensaio clínico randomizado comparando pessoas que foram randomizadas para não comer frutas, versus pessoas randomizadas para comer uma fruta, versus pessoas randomizadas para comer cinco? Não, não houve. Então, como não houve, não se pode com toda essa empáfia, com todo esse ar de certeza, chegar e dizer que as pessoas devem fazer isso. Quanto mais ter uma certeza tão grande a ponto de dizer: olha, eu sei que a fruta tem um monte de açúcar, eu sei que você é diabético e não tolera açúcar, mas é tão necessário você comer cinco porções de fruta, que você deve usar mais insulina, aumentar a sua medicação para poder comer essa fruta. Olha, pessoal, para ter esse nível de certeza, para dar algo que você sabe que vai aumentar a glicose da pessoa, você tem que realmente ter um nível de evidência elevadíssimo de que aquilo ali é fundamental. E esse nível não existe. E a segunda coisa é o seguinte, frutas não necessariamente contém grande quantidade de açúcar. Eu hoje antes de vir para cá começar a gravar, depois do meu almoço, eu comi seguramente umas oito frutas.

Rodrigo Polesso: Oito frutas… morango?

Dr. Souto: Exatamente! Devem ter sido uns 6 morangos… Acho que até foram mais do que 8. Acho que foram uns 5 ou 6 morangos e umas 4 ou 5 amoras. Se eu medisse a minha glicose antes e depois disso ia dar uma mudança muito pequena. E eu comi frutas que são extremamente ricas em nutrientes, que são extremamente ricas em antioxidantes, que são ricas em fitonutrientes. Enfim, falar simplesmente frutas dessa forma, nesse plural, sem especificar para diabéticos é, na minha opinião, má prática.

Rodrigo Polesso: E a fruta que eles comentam possivelmente não é amora e morango. O pessoal tem na cabeça maçã, manga, banana.

Dr. Souto: Mas lógico! Por que as pessoas preferem essas frutas? Porque elas são atoladas de açúcar. Vamos combinar, açúcar é saboroso, açúcar é gostoso. Se açúcar tivesse um gosto horrível, se tivesse um gosto de novalgina, aí a gente não precisaria estar aqui perdendo tempo convencendo as pessoas para não consumir. A gente sabe que é uma delícia. Então, qual é a fruta que a maioria das pessoas gosta? É a fruta mais doce que elas puderem colocar na boca. É manga, é banana, é abacaxi. Não é que banana faça mal para uma pessoa magra, atlética, que não tenha diabetes. Eu não estou falando disso. Nós estamos falando de uma pessoa que o que define a doença dela… A gente já falou isso várias vezes aqui, mas não custa lembrar. Tem algumas formas de fazer o diagnóstico de diabetes. O sujeito ter qualquer glicose acima de 200, ou ter, pelo menos, duas glicoses em jejum acima de 126, ou ter uma curva glicêmica alterada. Bem, como é a curva glicêmica? Eu dou 50 gramas, ou 75 gramas dependendo do protocolo, de glicose para essa pessoa e vejo como a glicose dessa pessoa se comporta. Se a glicose 2 horas depois estiver acima de 200, eu tenho um diagnóstico de diabetes. Ok, eu tenho uma forma de dar 50 gramas de glicose para uma pessoa, sabe como? Duas bananas. Então, se eu der duas bananas e a pessoa provar através de uma curva glicêmica que ela não tolera duas bananas, que ela explode o medidor, o troço passa do limite, aí qual é o tratamento dela? Cinco bananas! Vocês entenderam? Duas bananas levaram a glicose dessa pessoa o suficiente para ela ser declarada portadora de uma doença chamada diabetes, que caracteriza-se por não tolerar excesso de glicose. E aí o que eu mando ela fazer? Coma 5 bananas! Você não tolera duas, coma cinco que vai lhe fazer bem.

Rodrigo Polesso: Deixa eu falar mais uma outra coisa aqui que essa, na minha opinião, infeliz nutricionista da Sociedade Brasileira de Diabetes falou: “Apesar de realmente impactar nas taxas de açúcar do sangue, a frutose não fará mal nenhum se for consumida dentro de uma quantidade esperada de carboidratos na refeição.” E ela fala ainda o seguinte: “Nunca coma tudo de uma vez, afinal a dose de carboidrato oferecida nesse caso é tão grande que eleva a glicemia.” Então ela sugere que você espace, fracione ao longo do dia esse consumo. É incrível! É veneno de cobra. Veneno de cobra se tomar muito de uma vez te mata, mas se você tomar um pouquinho de cada vez você não vai morrer, mas vai ficar saudável? Não vai, não é?

Dr. Souto: É. Então, olha só, é tão importante assim comer várias frutas por dia? Vou dar uma ideia, então. Coma pepino, coma pimentão, coma tomate, coma abacate, coma coco, coma moranguinho, coma amora, coma berinjela. Tudo isso que eu falei é fruta. Chuchu, chuchu é fruta. Abobrinha, sabe abobrinha zucchini? É fruta. Se é que existem compostos mágicos verdadeiros, unicórnios nutricionais que estão presentes exclusivamente nas frutas, que faz com que o diabético tenha que comer 5 frutas por dia, que sejam essas que eu falei. Porque ele é diabético, ele não tolera grandes quantidades de açúcar. E embora eu discorde dessa ideia de que há coisas exclusivas nas frutas, eu acredito que as pessoas possam comer outros vegetais e ter também, mas mesmo assim, vamos supor que tenha que ser fruta. Bom, então explica. Na hora que vai falar um negócio desse numa revista dessa, diz assim: frutas sim, mas apenas aquelas extremamente pobres em açúcar, já que você, meu caro, é um diabético e a sua doença é definida pela intolerância à glicose. A definição, lembra, pessoal? A definição da doença, a definição médica, clínica, o diagnóstico é feito pela não tolerância da glicose. Então, não posso uma vez que eu faço um diagnóstico provando que a pessoa não tolera algo, mandá-la se atolar daquele mesmo algo. É tipo lógica one-one.

Rodrigo Polesso: Exato! Eu falei, inclusive, essa questão…

Dr. Souto: Desculpa, às vezes a gente fica um pouco esquentado. Mas é duro, não é?

Rodrigo Polesso: Eu falei dessa questão do diabético, ele é intolerante à glicose e alguns diabéticos vieram todos nervosos falar: “Você já ouviu falar em contagem de carboidrato? A gente não é intolerante à glicose, a gente tem resistência à insulina.” Eu falei: “É, você tem que aprender um pouquinho mais. Uma coisa é exatamente a mesma da outra, praticamente.” E esse pessoal está doutrinado, e não é nem culpa deles. Óbvio, você pode comer o que quiser, inclusive colheres de açúcar, desde que você conte isso na sua quantidade permitida, digamos assim, de carboidratos por dia.

Dr. Souto: Pois então, quem escreveu isso realmente não entende o que escreveu, porque é justamente o fato de que você é resistente à insulina, você só vai piorar a sua resistência à insulina se você der uma carga grande de glicose para o corpo que o obrigue a ter níveis ainda mais elevados de insulina, o que por sua vez piora a resistência à insulina. Então, a solução do problema da resistência à insulina é ter hábitos que requeiram cada vez menos insulina. Existem dois tipos de hábitos que fazem com que o seu corpo requeira pouca insulina. Um deles é não comer açúcar. Quando eu digo açúcar, eu estou falando de açúcar, amido, glicose, ok? Não comer carboidratos. E a outra coisa é exercício físico. Porque exercício físico aumenta a sensibilidade à insulina do músculo e ajuda. Então a combinação de exercício físico com uma dieta baixa em carboidrato é com certeza o que dá o melhor resultado para o diabético. Saiu ontem no Medscape uma notícia de uma reanálise do estudo ACOORD, que foi um estudo no qual eles deram uma dieta da Associação Americana de Diabetes versus a dieta americana padrão e ambas foram horríveis. Nesse estudo eles estavam comparando o manejo intensivo do diabetes com drogas versus o manejo habitual do diabetes. Então era assim: era o manejo habitual do diabetes com drogas e o manejo intensivo do diabetes, que é ainda mais drogas. Esse estudo foi interrompido, porque a mortalidade foi maior no grupo que recebeu mais medicação. O que deixou o pessoal perplexo, porque chegaram à conclusão de que embora as pessoas estivessem controlando melhor, a hemoglobina glicada estivesse um pouco melhor, mas elas morriam mais. Quando se foi ver essa reanálise, eles viram o seguinte, que as pessoas que morreram mais, foram aquelas pessoas que engordaram mais durante o tratamento. E as pessoas que engordaram mais foram as pessoas que usaram insulina, foram as que usaram drogas que aumentam a insulina. Então, sim, ter resistência à insulina é um problema, mas aumentar essa insulina para poder se entupir de frutas aumenta a sua mortalidade, muito embora a glicose fique controlada. Você controla a glicose com mais insulina e morre mais. O problema, concordo, o problema é a resistência à insulina. E a forma como a gente trata isso é: um corpo resistente à insulina maneja mal uma dieta de alto carboidrato, a solução não é aumentar as doses de insulina, não é aumentar a glipizida, não é aumentar drogas que estimulam seu pâncreas a funcionar mais para que você coma aquilo que você já não devia estar comendo. Sabe qual é a analogia que eu sempre faço? Pega um fumante que está com falta de ar, que está com asma, com bronquite. Deixa ele continuar fumando, mas começa a dar bombinhas, começa a dar corticoides, começa a fazer nebulizações para ver se ele respira um pouco melhor. E aí você se surpreende depois, porque a doença pulmonar progride a despeito dos remédios que você está dando. Sim, você não tirou o cigarro dele. O cigarro é para o fumante, para o pneumopata, assim como o excesso de carboidratos é para o diabético. O diabético tem uma fonte de energia que pode processar sem dificuldades, que é gordura e proteína. Então, por que eu vou dar para ele justamente aquilo que vai piorar a sua glicemia? Ah, mas ele pode contar carboidratos e ajustar a insulina. Isso é burrice, pessoal! Desculpa falar dessa forma. Isso é burrice, isso é idiotice. Os resultados são piores. Quem quiser dá uma olhada quando nós falamos em um podcast, vários podcasts atrás, sobre o estudo que saiu na Pediatrics do grupo do Type One Grit, o grupo de diabéticos tipo um que fez low carb. Olha, esses diabéticos com diabetes tipo um tinham uma hemoglobina glicada melhor do que boa parte das pessoas que não são diabéticas. E, por outro lado, saiu esses dias um resultado deprimente, que os diabéticos tipo um que seguem essas orientações idiotas de comer um monte de carboidrato e usar um monte de insulina, 80% deles não conseguem atingir sequer o target, sequer o objetivo de hemoglobina glicada da Associação Americana de Diabetes, que é um objetivo lamentável de hemoglobina glicada de 7%. Para quem não entende o que eu estou dizendo, é assim: hemoglobina glicada é a média da glicose nos últimos 90 dias. Hemoglobina glicada normal é abaixo de 5,7, segundo alguns autores; segundo outros autores é abaixo de 6. Então uma hemoglobina glicada de 7 já é ruim. 80% dos diabéticos tipo um nos Estados Unidos não conseguem atingir nem a hemoglobina glicada de 7, eles estão acima de 7. Já o grupo do Type One Grit, que fazia low carb e era diabético tipo um, a hemoglobina glicada média deles, estou puxando de cabeça, se não me engano era 5,4. Ou seja, absolutamente normal e melhor do que a glicada de muitos não diabéticos. Quando a coisa chega em vamos ver dados, vamos ver resultados, não tem para ninguém. Se a pessoa é viciada em açúcar e quiser comer açúcar e dosar a insulina para isso, é um problema dela. É o fumante que é viciado em cigarro e quer aumentar a bombinha para respirar melhor. É um problema dele. Agora, ir em uma revista e dizer que pessoas cuja doença é definida por intolerância à glicose devem se entupir de glicose só porque a glicose está na fruta… Pessoal, eu sinto dizer para vocês, mas a glicose toda ela é natural. A glicose da Coca-Cola vocês acham que vem da onde? Ela vem ou da cana de açúcar ou do milho. Tudo vem de planta, toda glicose do planeta é fotossíntese.

Rodrigo Polesso: É, é tudo igual.

Dr. Souto: Então, é tudo igual. A glicose da banana eleva a sua glicose tanto quanto a glicose da cana-de-açúcar. Suco de uva vai elevar a glicose tanto quanto caldo de cana. Ambas foram feitas pegando CO2 do ar, a água do chão, combinando os dois na fotossíntese. Não tem glicose diferente, não tem glicose boa e glicose ruim. Entendeu? Tem pacientes diabéticos que toleram mal a glicose, então, a totalidade da glicose que um diabético deve consumir deve ser aquela mínima glicose que está presente em alimentos que são bastante nutritivos e bastante úteis, nutricionalmente densos, mas que vêm com um tiquinho de glicose junto. Tipo amora, tipo tomate, tipo brócolis. Agora, brócolis é um monte de fibra com uma quantidade irrisória de glicose. Banana é um monte de glicose com uma quantidade irrisória de fibras. Então, se eu sou um diabético eu não vou comer a banana. Eu não estou demonizando a banana para todo mundo. Se você é atleta de muay thai e jiu jitsu, tem 10% de gordura corporal, tem exames maravilhosos, se quiser comer 5 bananas por dia, be my guest. O que nós estamos aqui falando é o equivalente nutricional de pegar alguém com doença celíaca, por exemplo, e mandar comer pão com argumentos do tipo: pão é gostoso.

Rodrigo Polesso: É isso aí! Dá uma respirada aí, porque você gastou caloria falando pra cacete! Inclusive, eu quero ver o pessoal que estava falando no Instagram… intolerância à glicose, não sei o que… você tem que ouvir esse podcast depois para entender um pouco mais sobre isso aí, o tamanho do problema, pessoal. E o segundo assunto… o segundo assunto vai ser mais divertido. Talvez um pouco menos revoltante, mais divertido, mas antes dele, deixa eu passar para vocês aqui o emagrecimento rápido. Quem mandou para a gente foi o André Luiz Jorge, ele falou: “É isso mesmo? 3 kg em quatro dias?” Ele só escreveu isso. Ele postou lá no fórum do pessoal que faz parte do código emagrecer de vez, assustado com esse resultado rápido. Mal sabe ele que esse resultado vai se manter ao longo do tempo se ele continuar seguindo as diretrizes baseadas em evidências do programa e não essas babaquices que a gente vê por aí, nesses lugares como a gente disse hoje. Parabéns para você pelo resultado rápido! Isso motiva as pessoas a seguirem para a segunda semana, terceira semana, quarta semana, porque elas conseguem ver resultados. Se você quer emagrecer, entra aí: CodigoEmagrecerDeVez.com.br.

Dr. Souto: Rodrigo, agora que eu respirei um pouquinho, vou só fazer um adendo.

Rodrigo Polesso: Diga.

Dr. Souto: E dizer assim: sim, eu entendo que a nutricionista que falou isso na revista está repetindo o que as diretrizes falam. Ok? Ela não inventou isso da cabeça dela. E seguramente é uma pessoa bem-intencionada, ela não quer o mal de nenhum diabético, ela está repetindo o que as diretrizes falam. Ela não tem culpa que as diretrizes estão equivocadas, elas não estão baseadas na melhor evidência, elas não estão baseadas nos melhores ensaios clínicos randomizados. Elas estão baseadas em estudos observacionais epidemiológicos, que é o caminho mais curto entre a hipótese e a conclusão errada.

Rodrigo Polesso: É isso. Mas eu particularmente me sinto mal ao repetir alguma coisa como um papagaio sem mesmo contestar se aquilo é verdade ou não. Porque, afinal, sou eu que estou dizendo. Mas, enfim, é uma questão minha. Eu prefiro não estar errado quando eu posso questionar o que estou falando. Vamos falar de TMAO. A gente já falou de TMAO antes aqui, você já deve ter ouvido falar. Primeiro eu vou contar para vocês o que saiu nesse novo estudo e depois a gente vai te contar qual é o histórico disso, para você entender essa montanha-russa maluca que o pessoal chama de ciência. Saiu um estudo novo no ScienceDaily falando: coma seus legumes (e peixe), outro motivo pelo qual eles podem promover a saúde cardíaca. Eles falam que o peixe e as bactérias do intestino podem proteger contra doença cardíaca em ratos hipertensos. Dito isso a gente já sabe que… bom, são ratos! Eles falam o seguinte: “Níveis elevamos de TMAO, composto ligado ao consumo de peixes e frutos do mar, e uma dieta principalmente vegetariana pode reduzir sintomas relacionados à hipertensão e doença cardíaca.” De novo, ratos! Nova pesquisa em ratos verificou que um tratamento com doses pequenas de TMAO reduziu fibrose cardíaca e marcadores de falha cardíaca em ratos hipertensos. Este estudo está publicado no Jornal Americano de Fisiologia. Em outras palavras, eles estão dizendo que níveis mais altos de TMAO estão associados à proteção cardíaca. Dizem que o peixe, frutos do mar e vegetais estão associados a níveis altos de TMAO. Então eles são bons. Porém, a dissonância cognitiva começa aqui, carne vermelha e ovos, como a gente vai falar, também aumentam o TMAO no sangue. Mas como a gente já falou várias vezes, o culto religioso que o incompetente científico prega, uma dieta com carne e ovos é ruim para o coração, todo mundo sabe. Logo, veja o raciocínio infantil utilizado pelos pesquisadores. O TMAO alto no sangue parece ser bom. Carne e ovos levantam o TMAO no sangue. Ah, mas espera aí, carne e ovos fazem mal, então vamos achar outra forma de dizer a mesma coisa. Ah, legal! A gente viu que peixes, frutos do mar e vegetais também aumentam um pouco do TMAO no sangue. Ufa! Agora sim a gente pode dizer que uma alimentação com peixe e legumes é saudável, aumenta o TMAO e é recomendada. E aí vem a novidade para esses asnos aí, porque não tem nome melhor. O TMAO que a gente acabou de falar da glicose é o mesmo, é o mesmo que está no peixe, é o mesmo que está na carne, é o mesmo que está nos ovos. Se ele é protetor, ele é protetor sempre. E a metodologia que foi utilizada nesse estudo é inacreditavelmente ruim. O relatório de conclusão que eles escreveram é abismal de tão incoerente. E outra, TMAO é um assunto em si, mas antes da gente contar um pouco do histórico, dr. Souto, a minha opinião sobre esse TMAO (que o nome completo é ridiculamente difícil de pronunciar)… na minha opinião pessoal ele é total e completamente irrelevante no contexto de se focar nisso na alimentação e esperar qualquer benefício. O nosso fígado, por exemplo, produz TMAO. O nosso corpo produz coisas que são importantes. Esse tipo de estudo ridículo e inútil é para mim uma declaração de incompetência nutricional e fruto da necessidade de se publicar coisas na literatura científica com frequência, mas sem necessidade. Então, basicamente esse estudo em si é um grande problema. Tem dissonância cognitiva inerente. Esse estudo não é novo e agora estão dizendo que o TMAO é bom. Então, coma peixe e tudo mais, porque o TMAO é bom. Só que déjà vu, hein, dr. Souto! No episódio 146 a gente falou do TMAO já. Mas não foi para promover ele, foram estudos dizendo que ele fazia mal. E tem outras coisas que você pode contar para o pessoal para eles começarem a notar como é uma loucura a má ciência nutricional.

Dr. Souto: Quando eu vi esse estudo aqui, eu dava pulos…

Rodrigo Polesso: Convulsões de riso, não é?

Dr. Souto: Convulsões de riso! Porque, reparem o seguinte, desde 2013 eu me encontro com o tal do TMAO. Então, em 2013 saía a seguinte reportagem na revista Veja: Pesquisa descobre nova relação entre consumo de carne vermelha e risco cardiovascular. É rica essa manchete, não é? Que é nova relação, ou seja, já sabe que carne vermelha faz mal para o coração, agora a gente está com um outo motivo. E qual é o outro motivo? É o TMAO! Não pode comer carne vermelha porque vai aumentar o TMAO. Então olha só, estudando 2.595 pacientes que se submeteram à avaliação cardiológica, os pesquisadores detectaram uma associação… Associação, pessoal! Associação não é causa e efeito. Entre os níveis séricos de L-carnitina e doença cardiovascular, mas apenas naquelas pessoas que além de ter a L-carnitina alta também tinham níveis elevados de TMAO. Resulta que o TMAO é produzido a partir da L-carnitina por certas bactérias intestinais. Ok. Isso foi em 2013. Eu tive que escrever uma postagem na época explicando para o pessoal que isso era bobagem, que era estudo observacional, toda aquela preguiça que dá. Aí agora estamos em 2018, nós estávamos, e aí saíram novas notícias que o TMAO é um problema. Ainda em 2013… porque eu botei no Google: TMAO e carne, e aí achei. Rodrigo, você que gosta, camundongos que receberam antibióticos para eliminar a flora intestinal, não produziram o TMAO e não desenvolveram aterosclerose. Então, quer dizer, o TMAO é ruim, o TMAO é péssimo, o TMAO causa doença cardíaca. Tá, por quê? Porque isso ajuda explicar aquilo que nós sabemos, que “carne vermelha faz mal”. Então assim, se o camundongo, se a pessoa está comendo carne vermelha, eu já sei que faz mal, então eu tenho que achar culpados. E aí tem essa substância TMAO e deve ser ela! Ok, vamos fazer agora um fast forward para 06 de novembro de 2018. e nós temos a seguinte notícia: coma seus vegetais e peixe, mais um motivo pelos quais eles promovem a saúde.

Rodrigo Polesso: E qual é o motivo?

Dr. Souto: Níveis elevados de TMAO, um composto encontrado em peixes e em uma dieta primariamente vegetariana, podem reduzir os problemas cardíacos relacionados à hipertensão. Nova pesquisa em ratos… então, o outro também era em ratos. Nova pesquisa em ratos descobriu que um tratamento com TMAO reduz o espessamento do coração, a fibrose cardíaca, e os marcadores de insuficiência cardíaca neste modelo animal. Então, olha que coisa fantástica! Aqueles que são da área das ciências exatas, da física, devem conhecer a história do Gato de Schrödinger. Gato de Schrödinger era o seguinte, era um experimento mental do Schrödinger, que era um físico que estudava física quântica. Porque na física quântica existe uma coisa chamada superposição, um elétron pode ter um spin ao mesmo tempo para cima e para baixo. E a gente, na hora que vai observar, na hora que vai medir, aí ele deixa de estar para cima e para baixo, ele vai estar ou para cima ou para baixo. Mas até que ele seja observado, ele está nas duas situações, ele está em um estado de superposição. E aí o Schrödinger inventou uma história que se tivesse um gato dentro de uma caixa, tivesse um detector de radiação e tivesse um átomo radioativo lá que decaísse, até que a gente fosse olhar se o átomo tinha decaído ou não, ele teria ao mesmo tempo decaído e não decaído. Então, o gato estaria ao mesmo tempo morto e vivo. Então eu vou inventar um composto alimentar de Schrödinger que é o TMAO. O TMAO é ao mesmo tempo bom e ruim. Depende se você está falando de vegetais e peixe ou se você está falando de carne. Está bem? Se você está falando de carne, você precisa que o TMAO seja ruim para a saúde. Se você está falando de vegetais, você precisa que o mesmo TMAO seja bom para a saúde. Porque, afinal, vegetais são bons e carne é ruim.

Rodrigo Polesso: Só vou mencionar uma coisa rápida aqui, dr. Souto, para adicionar ao estudo. Você acabou de ler a conclusão desse estudo de 2018, dizendo que ajudou na hipertensão, a questão do TMAO. Só que está na minha frente aqui o episódio 146 em que a gente falou de um estudo de 2016 publicado no Jornal do Colégio Americano de Cardiologia, que também viu que um grupo que tinha maiores níveis de TMAO era também o grupo que tinha mais diabetes e mais hipertensão. Só para adicionar ao nível de dissonância.

Dr. Souto: O TMAO que melhora a hipertensão está associado com mais hipertensão… Então assim, pessoal, para quê que serve isso? Serve para vocês verem o seguinte, todas essas coisas que envolvem carnívoros versus vegetarianos são completamente dominadas por ideologia. Então, o vegetariano quer provar que comer carne faz mal e se para isso ele tiver que assassinar a verdade, ele o fará.

Rodrigo Polesso: É triste.

Dr. Souto: É uma filosofia daquelas de que os fins justificam os meios. Se eu tiver que inventar que a vaca é mais responsável pelo aquecimento global do que o carro, eu vou inventar. Se eu tiver que inventar que um composto faz bem porque ele está presente na planta, mesmo que um ano antes eu tenha dito que ele fazia mal porque ele estava presente na carne, eu vou inventar com a cara deslavada. Então, tudo isso são mecanismos, tudo isso é desfecho substituto, tudo isso é cientificamente irrelevante. A questão é: ensaio clínico randomizado em humanos comparando o consumo de carne vermelha versus o não consumo mostra piora nos desfechos dos marcadores cardiovasculares. Tem uma metanálise publicada no ano passado mostrando que não. Então, não tem como afirmar que faz mal. Agora, o que acontece, aí o pessoal… Chega o pesquisador vegetariano e diz assim: olha só, vamos fazer um estudo e esse estudo a gente já sabe qual é a conclusão, carne faz mal. Então, a gente vai ter que só achar coisas que justifiquem a afirmação, mecanismos que justifiquem que faz mal. Então começa, quando aquecida ela vai produzir nitrosaminas que são cancerígenas em laboratório, ela tem o TMAO e o TMAO faz mal. Aí alguém diz assim: mas, professor, olha só tem muito mais TMAO no peixe do que na carne vermelha. Aí o cara diz assim: putz…

Rodrigo Polesso: Mas não fala alto!

Dr. Souto: Não fala alto. Professor, olha só, a galera carnívora está twittando loucamente as tabelas mostrando que tem muito mais TMAO no peixe do que na carne vermelha, e agora a gente já publicou que o TMAO faz mal. Tá, não tem problema faz um outro estudo mais recente falando que o TMAO agora não faz mais mal, agora ele faz bem. Por quê? Porque ele está presente nos vegetais e está presente no peixe. Então assim, essa situação, esse nutriente de Schrödinger que faz ao mesmo tempo mal e ao mesmo tempo bem e a gente só descobre se ele faz mal ou faz bem depois de descobrir se a conclusão do estudo apoia ou é contra carne? Assim, se alguém precisa de um exemplo maior do nível de ideologização dessa área… Então é aquilo que o Steven Nissen, da Cleveland Clinic disse uma vez que eu gostei tanto. Ele disse assim: as diretrizes nutricionais são uma área livre de evidências. Tipo, se você vai entrar é mais ou menos como entrar no banco, tem que passar na porta giratória, não pode entrar com as coisas de metal e tal. A evidência fica do lado de fora. Quando você entra nesse mundo mágico…

Rodrigo Polesso: Fantasioso.

Dr. Souto: E fantasioso mundo da nutrição, no qual você parte da premissa… parte da conclusão para chegar às premissas. Então a conclusão é: carne vermelha faz mal, ela é do demo, carne vermelha é uma coisa que faz os bichos sofrerem. Portanto, seja lá o que for que aparecer no estudo eu tenho que vincular com um desfecho ruim. Ahh, aumenta esse tal de TMAO aí, então o TMAO causa doença. Mas, olha só, agora tem um outro estudo que mostra que comer vegetais aumenta o TMAO. Então o TMAO está associado só a coisas boas.

Rodrigo Polesso: Veja só, pessoal, em quem acreditar.

Dr. Souto: Sabe, sinceramente, encontre uma mulher amada que pense em você dessa forma. Se qualquer coisa que você fizer tem que ser vista pelo lado bom.

Rodrigo Polesso: Exatamente! E algo me diz que a gente não vai parar de ver sobre esse TMAO ainda, ou até eles acharem outro bode expiatório. Ou outro componente bizarro.

Dr. Souto: Eu acho que assim, eles deviam até mudar o nome do composto. Quando ele for relacionado à carne ele é o TMAO, quando for relacionado com plantas é o TBOM!

Rodrigo Polesso: TBOM! Exatamente!

Dr. Souto: Só brincando!

Rodrigo Polesso: Tá aí, pessoal, tá na mesa a análise para vocês desse episódio. Mas antes de finalizar, vamos falar o que a gente degustou na última refeição, se foi algo generoso em TMAO ou TBOM. O que foi, dr. Souto?

Dr. Souto: Olha, o meu TMAO aumentou depois da minha última refeição porque eu comi carne. Mas ele também aumentou depois da minha última refeição porque eu comi bastante vegetais. Então a minha dúvida é: isso é bom ou ruim para mim?

Rodrigo Polesso: Ficou no equilíbrio!

Dr. Souto: Porque das duas formas ele aumentou no sangue, mas dependendo da minha visão moral e religiosa do mundo, isso pode ser considerado bom ou ruim. O efeito celular, o efeito ao nível das organelas celulares vai depender basicamente se esse TMAO foi benzido ou ungido por alguém que ache que ele foi bom para a humanidade e para o meio ambiente ou que ele foi ruim para a humanidade e para o meio ambiente. As células vão responder de forma diferente se o TMAO veio de plantas ou de carne. Bom, respondendo a pergunta, eu comi hoje uns bifes com molho madeira e comi também um suflê de espinafre.

Rodrigo Polesso: Que beleza! Que maravilha! É isso aí!

Dr. Souto: Então tinha TMAO de todos os tipos.

Rodrigo Polesso: Equilibrando o TMAO!

Dr. Souto: Porque o ovo aumenta o TMAO, o ovo do suflê. A carne vermelha aumenta o TMAO. Mas o espinafre também aumenta o TMAO. E aí? Eu acho que combinando esse TMAO com esse TBOM fica um TNEUTRO! Que deve estar ok!

Rodrigo Polesso: Ontem eu peguei no mercado um frango assado inteiro, que é um dos meus fast foods prediletos, e foi muito bom. TBOM, TMAO, não sei, mas estava bom, então estava ótimo. É isso que importa. Pessoal, siga a gente nas mídias sociais. Siga o dr. Souto no Instagram, @jcsouto. Siga @ablc.org. Siga @rodrigopolesso no Instagram. Faça parte da Tribo Forte, TriboForte.com.br e se muna de toda essa informação, se rodeie de coisas positivas, que quem vai ganhar é só você, sua saúde, seu estilo de vida saudável. A gente vai se falar aqui na semana que vem de novo. Até lá! Um grande abraço! Dr. Souto, um abração para você, até mais!

Dr. Souto: Até lá! Não esqueçam de comer bastante TMAO, mas pensar em coisas boas, porque é isso que determina se o TMAO vai fazer bem ou mal. Um abraço e até semana que vem!