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Neste podcast:

  • Grãos integrais,
  • Low Carb
  • Abacate

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Casos de Sucesso do Dia

sucesso

 

 

Referências

Estudo Sobre Como Evitar a Diabetes Tipo 2

Outro Estudo Sobre Grãos e Diabetes

Artigo De Nina Teicholz Publicado no Washington Street Journal

 

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Olá para você! Bem-vindo a mais um episódio da Tribo Forte, episódio 132. Sua dose semanal de saúde e estilo de vida saudável, baseado em evidência. Hoje a gente vai discorrer por tópicos que vão desde grãos integrais até low carb… E também abacate. Como assim? É isso aí. Antes da gente começar aqui, deixa eu dar as boas-vindas ao Dr. Souto para mais esse episódio. Tudo bem por aí, Dr. Souto?

Dr. Souto: Tudo bem, Rodrigo. Boa noite e boa noite aos ouvintes.

Rodrigo Polesso: Beleza! É isso aí. Vamos começar aquecendo com uma pergunta da comunidade, que tem a ver com o abacate. A pergunta vem do Isaac Guimarães de Souza. Ele fala: “Poxa, estou com uma dúvida. Por favor, me diga. Eu e minha esposa gostamos muito de abacate. Ela faz vitamina e coloca adoçante. Isso pode prejudicar minha alimentação forte?” Inclusive, eu estava falando com meu irmão recentemente… Da questão do Whey Protein… Eu já tomei no passado, há vários anos atrás, Whey Protein… Normalmente ele é uma coisa gostosa, cremosinho se for de qualidade, tem um saborzinho… Normalmente é adoçado. Os melhores são adoçados com stevia, alguma coisa nesse sentido. Acaba sendo uma opção interessante para quem quer uma proteína rápido. No entanto… Por ser tão gostozinho, meio docinho… E você bater com iogurte, bater com uma fruta ou outra… Acaba se transformando numa sobremesa. Meu estava comentando comigo e falou… Não tem porque comprar sorvete… É só você bater umas frutas congeladas junto com Whey. Fica uma sobremesa. Ele por um tempo passou comendo isso de almoço, mais frequentemente. E depois é um sacrifício muito grande você se desvencilhar disso. Então, na minha opinião é o seguinte… Gostas de abacate, tudo bem. Gostar de Whey Protein, tudo bem. Agora, consumir só porque se tornou um hábito e não uma necessidade, uma conveniência, pode ser um problema. Isso tende a acontecer quando você deixa esse alimento hiperpalatável — ou seja, gostoso demais. Isso é muito fácil de se fazer com abacate, quando você bate ele com açúcar… Quer dizer, com adoçante… Fazendo um creminho… É muito gostoso. Então, é fácil você comer isso bastante. Você acaba gostando da sobremesa mais do que do abacate. Porque eu nunca vi ninguém comer… Assim, nossa, vou me deliciar com abacate, um avocado, sem colocar sal, sem colocar açúcar nem nada, porque ele tem um gosto muito neutro. Então esse é o abacate assim como o café com açúcar não é café, é sobremesa. O café não tem. Então, é basicamente essa a questão. Pode atrapalhar quando você começar a ingerir em excesso por causa da hiperpalatabilidade desse alimento. Óbvio que eu não tenho nada contra o abacate. Eu gosto do abacate também. Um creme de abacate com leite de coco, por exemplo, pode ser uma deliciosa opção. E colocando adoçante também pode ser uma deliciosa sobremesa. Então, se você consumir de vez em quando, eu não vejo problema nenhum. Só fica essa minha observação a respeito dessa armadilha muito grande de você começar a consumir alimentos demais ou até frequente demais por causa da hiperpalatabilidade. E isso acontece devagarinho. Você começa a comer segunda-feira… “Nossa, que gostoso!” Terça-feira vão repetir. Daqui a pouco passam duas semanas e você não percebe. Você está comendo a mesma coisa como sobremesa no almoço, lanche da tarde e depois sobremesa à noite também. E depois não sabe porque o peso não está caindo. Você está engordando mesmo com alimentos, digamos, saudáveis, que fazem parte da alimentação forte. Enfim, Dr. Souto, qual é seu take nisso aí?

Dr. Souto: Eu acho você pegou muito bem, Rodrigo. Eu não vejo que o adoçante em si seja o problema… O adoçante vai travar a perda de peso… O adoçante vai alterar a insulina. Eu acho que ele atua para criar a hiperpalatabilidade. Bom, isso é uma coisa muito individual. Tem gente que não dá uma bola para doce. Tem gente que diz… “Olha, já não como doce.” E tem outras pessoas que têm uma relação mais compulsiva com doce. É o meu passado que me condena. Eu sempre gostei muito de doce. Sou aquele formigão. Eu tenho essa experiência de daqui a pouco ter um bolinho low carb com cobertura de chocolate… Tudo low carb em casa… E comer aquilo mesmo sem estar com fome, mesmo depois de ter almoçado, só porque é gostoso, só porque é docinho. Se está dando tudo certo com nossa leitora, se ela está perdendo peso, se ela está obtendo os resultados que ela quer, eu não acho que seja ruim para ela. Como você disse, abacate é saudável. Ele é uma fruta de baixo teor de açúcar, é rico em fibras, rico em minerais, rico em magnésio, rico em potássio. Pessoal fala assim… “Tem que comer banana por causa do potássio.” Tem um monte de alimentos que têm potássio e o abacate tem o dobro do potássio da banana, sem ter o açúcar da banana. Então, abacate é bem interessante. Agora, se ela está tendo dificuldade… Daqui a pouco é uma dessas pessoas que não tem muita facilidade para perda de peso… Pode ser que esse abacate esteja sendo consumido porque ele é doce. O estímulo da hiperpalatabilidade que o adoçante provoca. Então, eu concordo em gênero, número e grau. Acho que se o adoçar faz você comer mais só porque é doce, daqui a pouco é interessante evitar. Usar menos adoçante.

Rodrigo Polesso: Com certeza. Há um tempo atrás… Há uns dois anos atrás eu comecei a comer de sobremesa manga seca. Manga feia. A mais orgânica e feia que existe. É bem feia quando você olha. Não é aquela cor radioativa que a gente vê no mercado de vez em quando, que é no açúcar e cristalizado. Mas manga seca mesmo, cheia de fibra. Eu comecei a comer um pedacinho ou dois depois do almoço. Eu caí na armadilha que eu mesmo acabei de contar para vocês. Eu comecei a comer devagarzinho. Depois, passam umas duas, três semanas, eu estava começando a ir no mercado comprar essa manga demais. Eu comecei comendo dois pedacinhos, depois é três, depois é quatro, depois é quase um pacote por refeição. Caramba! Daqui você começa a notar que seu peso está começando a se alterar apesar da manga seca ser parte da alimentação forte. É um alimento natural e tudo mais. Mas não vai estar ajudando quem quer emagrecer e não está me ajudando a manter meu peso, além de tirar meu controle sobre o doce, porque a manga acaba sendo um pouco doce também. Então, esse cuidado é importante, porque as coisas acontecem devagarzinho. Um passo de cada vez. No final você olha quanto você andou, rumo a um hábito, um vício que pode não ser útil para você. Vamos lá. Primeiro tópico aqui. Seguindo a nossa causa no podcast, de tentar criar senso crítico na maior quantidade de pessoas possível… A gente vai ver hoje mais caso de tentativa voluntária, ou involuntária (vai saber)… Vamos dar sempre o benefício da dúvida… De enganar pessoas com informações erradas. Olha só. “Quer evitar diabetes tipo 2? Coma mais grãos integrais”. Essa foi apenas uma das manchetes que saíram recentemente ecoando novamente o enorme problema que temos de estudo observacionais fracos e uma repercussão forte, e até inconsequente, na minha opinião, pela mídia. Um novo estudo observacional, conduzido na Dinamarca, mostrou uma associação entre se comer mais grãos integrais com menor risco de desenvolver diabetes do tipo 2. Esse estudo utilizou uma base de dados de mais de 50 mil pessoas que preencheram nossos famigerados questionários alimentares com incontáveis perguntas, e começou a fazer malabarismos de dados para achar associações. E se você já acompanha nosso trabalho aqui, você deve já estar pensando… Estudo observacional jamais mostra causa e efeito. Então, será que, por exemplo, comer grãos integrais pode ser um marcador de pessoas mais saudáveis ao invés de ser causa? Aliás, será que seria possível que as pessoas estudadas teriam menor chance de diabetes tipo 2 apesar do consumo maior de grãos integrais e não por causa dele? É até engraçado, porque você começa a analisar estudos fracos e você acha inconsistências na própria descrição da conclusão desse. Como por exemplo, esse próprio estudo aqui fala o seguinte: Para homens a ingestão de grãos integrais, no caso todos os grãos integrais que foram investigados… O trigo, o centeio e a aveia… Todos foram significativamente associados com um menor risco de diabetes tipo 2, mas somente o trigo e a aveia foram associados significativamente no caso das mulheres. Então a aveia não caiu bem nas mulheres? O centeio não caiu bem nas mulheres? Como que essa associação aplica para o homem e não para mulher? Nós não somos tão diferentes assim em se tratando de processo digestivo e metabolismo. Então a gente começa a ver furos nesse queijo suíço já de cara. Dr. Souto, mas isso não impede a mídia mundial de espalhar isso em várias manchetes por aí. Não cheguei a ver se chegou no Brasil isso aí ou não. Mas o que você tem a dizer sobre mais esse caso de estudos observacionais?

Dr. Souto: É impressionante. É mais do mesmo. Parece um disco quebrado. Se a gente pegar e olhar aleatoriamente… Bota aí 50 podcasts para trás… Vocês vão encontrar a gente falando mais ou menos a mesma coisa, talvez até sobre o mesmo assunto, grãos integrais e diabetes. A instituição mais séria, que faz metanálises do mundo é a Cochrane. A Cochrane é uma instituição sem fins lucrativos, que reúne só grupos sérios de pessoas especializadas, que fazem metanálises. E a metanálise mais recente da Cochrane sobre grãos integrais e prevenção de diabetes diz que não há como estabelecer essa relação, porque são somente estudos observacionais e não existem ensaios clínicos randomizados que tenham demonstrado isso. Qual é a primeira coisa que vem à cabeça quando a gente vê um estudo observacional desse tipo? Eles estão comparando com o quê? As pessoas que consomem grãos integrais estão sendo comparadas com as pessoas que consomem grãos refinados. A gente já falou isso em outros podcasts, mas só para relembrar.

Rodrigo Polesso: Ou não consomem grãos e consomem outras coisas piores.

Dr. Souto: É, mas na realidade, o que que acontece? No mundo que a gente vive, praticamente todo mundo consome farinha, consome grãos.

Rodrigo Polesso: Ou um ou outro.

Dr. Souto: Exatamente. Então aqueles que consomem os grãos integrais são aqueles que em inglês são chamados de health-conscious. Pessoas conscienciosas, preocupadas com sua saúde. Essas pessoas são aquelas que vão dizer, “Não, não vou comer o pão branco. Vou comer um pão integral. Eu não vou comer o biscoito de farinha refinada. Eu vou comer o biscoito integral.” Então, quando seu grupo de comparação é a pior coisa possível… Açúcar refinado com farinha refinada… Qualquer coisa vai parecer melhor. Sim, eu realmente acredito que se você passar a vida inteira comendo pão de centeio, você vai ter um risco um pouco menor de diabetes do que se você passar a vida inteira comendo bisnaguinha. Agora, isso não significa que o pão de centeio preveniu o diabetes. Isso significa que é possível aumentar seu risco de diabetes com bisnaga mais do que você aumenta com o pão de centeio. Vocês entendem? Vamos imaginar assim… Que eu diga o seguinte… Eu comparei as pessoas que andam, circulam pelas favelas do Rio de Janeiro com as pessoas que circulam pelas favelas de Aleppo, na Síria. E cheguei à conclusão de que a chance de levar um tiro em Aleppo é maior do que no Rio de Janeiro. Eu nem sei se isso é verdade.

Rodrigo Polesso: Acho que não.

Dr. Souto: Isso não significa que o Rio de Janeiro seja seguro. Isso significa que Aleppo é pior. Dá para entender? Então, dependendo daquilo que a gente está usando como grupo de comparação, realmente a outra coisa parece melhor. Então, este estudo não prova que o acréscimo de grãos integrais a uma dieta que não tem grão nenhum previne o diabetes. Esse estudo sugere que observacionalmente aqueles que consomem grãos integrais têm um desfecho melhor do que aqueles que consomem grãos refinados. Além do que, pode ser que não tenha nada que ver com grão nenhum e seja simplesmente aquilo que nós estávamos dizendo de ser preocupado, consciencioso com sua própria saúde. Aquelas pessoas que comem o pão integral são as mesmas que se exercitam, são as mesmas que não fumam, são as mesmas que cuidam do peso. A mesma ladainha de sempre, pessoal. Quem se preocupa com a saúde tem uma chance maior de ter resultados melhores com sua saúde.

Rodrigo Polesso: Mas o elefante na sala, Dr. Souto… O problema cerne de tudo isso aqui é a epidemiologia. Estudos associativos. E sobre isso tem um artigo bacana que saiu do John Ioannidis. Você pode contar um pouco para a gente sobre o que aconteceria no mundo se a gente tomasse conclusões de estudos associativos como conclusões verídicas e transformássemos nossos hábitos de acordo.

Dr. Souto: O John Ioannidis é um professor de epidemiologia, pesquisa, da Universidade de Stanford. O John Ioannidis se especializa, na verdade, em uma coisa chamada de meta-pesquisa. O que é a meta-pesquisa? É a pesquisa sobre a pesquisa. Então, a área de expertise dele é estudar a problemática dos estudos científicos, da pesquisa científica. Ele é o maior expoente disso. Um dos estudos mais famosos dele… Se vocês botarem o nome dele no Google… É um estudo publicado há mais de 10 anos cujo o título era “por que a maioria dos estudos científicos está errado?” Sensacional.

Rodrigo Polesso: Eu imagino como é frustrante o dia a dia desse cara.

Dr. Souto: Exato. Então, todo dia esse cara abre o jornal e vê esse tipo de balela, esse tipo de bobagem, esses estudos epidemiológicos. E ele publicou um artigo, um ponto de vista no JAMA, na revista da Associação Médica Americana, bem recente, poucos dias depois que saiu aquele artigo que dizia que se você fizer low carb você vai viver 4 anos a menos. Mas foi por coincidência, na realidade, esse tipo de artigo científico publicado em revistas como o JAMA são coisas que são submetidas meses antes. Então, não foi uma resposta àquele artigo. Mas bem que poderia ter sido uma resposta. O título é: O desafio de reformar a epidemiologia nutricional. Eu só teria mudado o título, porque eu acho que não tem como reformar a epidemiologia nutricional. É que nem o presídio central aqui em Porto Alegre. Os especialistas dizem que só botando abaixo. Não tem mais como reformar. Mas enfim… Aí ele pega e comenta o seguinte. Numa metanálises atualizada recente de estudos de coorte… Estudos de coorte, vocês sabem, são os observacionais… Esses que não podem estabelecer causa e efeito. Praticamente doso alimentos revelaram associações estatisticamente significativas com risco de mortalidade. Aliás, tem um outro estudo famoso do Ioannidis em que eles pegaram um livro de receitas. Esse cara é genial. Eles pegaram um livro de receitas e foram olhando os ingredientes da receita e escolheram os 40 primeiros ingredientes que eles encontraram. Aí fizeram uma metanálises de estudos observacionais dos ingredientes do livro de receita. Aí eles descobriram isso, que não tinha um único que não tivesse associado com câncer num estudo observacional, porque estudo observacional acha relações entre qualquer coisa. Bom… Aí ele pega e diz o seguinte aqui. Vamos partir do pressuposto de que as evidências das metanálises dos estudos observacionais realmente representem associações causais com doenças. Pegando uma expectativa de vida média, de 80 anos de idade… Se nós acreditássemos nesses estudos nós teríamos que acreditar (falsamente, ele diz ali) que comer 12 nozes por dia aumentaria a expectativa em 12 anos – ou seja, um ano para cada noz.

Rodrigo Polesso: Sensacional.

Dr. Souto: Que beber 3 xícaras de café por dia produziria um ganho similar de 12 anos de vida. Ou seja, se você bebesse três xícaras de café por dia… Eu acho que não vou morrer nunca, porque eu bebo bem mais do que três.

Rodrigo Polesso: Exatamente.

Dr. Souto: Comer uma única laranja por dia aumentaria em 5 anos a sua vida. Por outro lado, consumir 1 ovo por dia reduziria sua expectativa de vida em 6 anos, e assim por diante. Então, ele está colocando isso para dizer assim… Pessoal… Isso é bizarro! Parem com isso. É evidente que isso não é verdade. Não existe nenhuma intervenção em toda medicina que vai agregar 12 anos na sua vida. Agora, uma laranja vai agregar 12 anos. Uma noz por dia… Então, assim… É muito absurdo. Mas no entanto, esses estudos são os estudos que estão baseando esse tipo de manchete. E se fosse só manchete, né, Rodrigo? Mas são estudos que tem profissional de saúde baseando suas condutas e tem entidades profissionais baseando suas diretrizes nesse tipo de estudo. Seria mais ou menos como se nós fizéssemos o seguinte. Nós estamos em época de prévia de eleição no Brasil. Se a gente simplesmente dispensasse as eleições e povoasse o congresso nacional e os cargos todos com pesquisa eleitoral. Mal comparando, é isso. Pesquisa eleitoral, diga-se de passagem, é algo muito mais científico do que esses estudos aí.

Rodrigo Polesso: Pois é.

Dr. Souto: Porque as pessoas têm uma chance razoável de estarem falando a verdade quando elas dizem que elas pretendem votar no candidato X ou no candidato Y, mas elas não têm condições de lembrar o que elas comeram para preencher aqueles formulários.

Rodrigo Polesso: Exatamente.

Dr. Souto: Basicamente, assim… A epidemiologia nutricional combina tudo o que há de pior dentro desse tipo de estudo. Ou seja, associações múltiplas entre incontáveis variáveis, o que praticamente garante que a gente vai encontrar alguma associação falsa puramente ao acaso. Dificuldade das pessoas em lembrar pela memória aquilo que elas comeram, o que significa que os questionários são extremamente pouco confiáveis, o que qualquer um pode ver simplesmente pegando a tabela 1 desses estudos e vendo as calorias que as pessoas alegam consumir. Vocês veem na tabela 1 que o índice de massa corporal das pessoas é 30 e poucos. Quer dizer, elas são obesas. Mas essas pessoas alegam consumir 1400, 1500 calorias por dia, o que significa que elas deviam estar extremamente magras. Por quê? Porque elas subestimam o que elas comem. Então, você pega dados não confiáveis, coletados por esse tipo de ferramenta, de questionário. Tem incontáveis dados para fazer correlações matemáticas espúrias e aí tem um problema que é inerente ao estudo observacional, o fato de que mesmo se as ferramentas de coletas de dados fossem confiáveis, mesmo que as memórias das pessoas fossem confiáveis e mesmo que não houvesse o problema matemático de cruzar incontáveis colunas da tabela… O que vai acabar dando coincidências… Mesmo que nada disso existisse… O estudo não pode estabelecer causa e efeito. Juntando todas essas coisas que eu falei, isso e nada é a mesma coisa. O máximo que esse tipo de estudo pode fazer é postular uma hipótese a partir da qual a gente pode dizer, olha, é interessante, vamos pesquisar isso com um estudo científico de verdade. Ou seja, um experimento, um ensaio clínico randomizado.

Rodrigo Polesso: Perfeito, perfeito.

Dr. Souto: De vez em quando alguém entra lá no blog e critica corretamente… Tem coisas que não podem ser aferidas por ensaios clínicos randomizados. Um exemplo clássico que todo mundo sempre cita é o cigarro. Não seria ético eu pegar 10 mil pessoas e mandar 5 mil delas começarem a fumar. Tudo bem, eu entendo, mas nós podemos sim fazer um ensaio clínico randomizado de dieta. Por quê? Porque eles já foram feitos. O WHI (Women’s Health Initiative) foi um estudo com 48 mil mulheres, prospectivo e randomizado, de dieta, que durou 8 anos. Então, quando se quer… Porque era para tentar provar que uma dieta de baixa gordura é boa… Spoiler: não rolou. Não deu certo. Mas quando o objetivo era provar que aquilo que o governo acreditava era bom, achou-se o dinheiro, acharam 48 mil pessoas e o estudo foi feito. Então, se houver vontade política e dinheiro das entidades governamentais, dos principais países do primeiro mundo, é bem possível sim fazer um teste prospectivo randomizado durando vários anos, de dieta low carb, de dieta mediterrânea. Dá para fazer.

Rodrigo Polesso: Dá sim. Acho que a mensagem é que a epidemiologia tem seu lugar, mas o problema é que as pessoas não sabem o que ela é, os limites dela. Então, tem que jogar com ela dentro do escopo que ela permite e não extrapolar além disso. Acho que o grande problema hoje é isso. As pessoas faltam essa destreza científica para entender as armadilhas que elas podem cair ao lidar com estudos epidemiológicos. Agora quem não está se baseando em estudos epidemiológicos é o caso de sucesso de hoje, para a gente dar um break aqui. Ele foi enviado pela Elaine Pereira. Ela falou, “Terminando hoje a semana 4 do Desafio 30 Dias com 11 quilos eliminados. Que alegria imensa. Agora é só emagrecer mais.” Quatro semanas só… Terminando, na verdade, 30 dias, ela perdeu 11 quilos seguindo ensaios clínicos randomizados, que é o Código Emagrecer de Vez estruturado, passo a passo, mês a mês, fase a fase para você chegar no seu objetivo com coisas que são comprovadas de terem funcionado. Contém embasamento científico. Não é comendo 12 nozes por dia, ou uma laranja, ou menos um ovo. É seguindo o que a gente vê que funciona realmente. Se você tem interesse, é só entrar em CodigoEmagrecerDeVez.com.br para conhecer o programa lá. Inclusive no Instagram eu fiquei até de boca aberta. Até ia pedir para verificar. O cara mandou… “Rodrigo, só para compartilhar com você…” Ele mandou um antes e depois… “Menos 47 quilos em 3 meses”. Eu falei, “Mas não é possível”. Será que é possível uma transformação tão grande assim em 3 meses? Eu não respondi ainda. Dei parabéns para ele, mas não perguntei se era verdade mesmo, porque é um resultado de cair o queixo de tão grande que é. Mas, enfim… Autorreportado, voluntário, enfim… Sou muito grato por receber esse tipo de coisa. Agora, falando ainda em epidemiologia, e fazendo um follow-up daquilo que a gente acabou de mencionar… Aquele estudo que low carb encurta a vida em 4 anos que saiu na mídia em todo lugar por aí… Olha só… A Nina Teicholz, autora do livro Gordura Sem Medo, escreveu um ótimo artigo agora no Washington Street Journal com a seguinte manchete: Os defensores dos dogmas dietéticos continuam a enganar o público e colocar a saúde dos americanos em risco. Ela discorre sobre o mesmo estudo que eu falei que comentamos aqui em poucos podcasts sobre a low carb… De ela ser condenada e dita encurtar a vida, enquanto não há absolutamente nenhuma base para se dizer isso… O que tinha era um péssimo estudo observacional. Ela discorre sobre todos os problemas desse estudo e que basicamente nenhuma conclusão é possível de ser tirada muito menos que justifique todas as manchetes que saíram. Ela diz também que os autores do estudo ignoraram sumariamente os mais de 70 ensaios clínicos randomizados já conduzidos sobre low carb ao focar a atenção somente no estudo observacional fraco e com dados anciãos, dados bem antigos. Agora um detalhe adicional que a gente não tinha falado e que eu achei interessante que ela mencionou sobre esse estudo que deu origem a todo esse bafafá. Para a gente saber o quão mais fundo ainda o poço pode ser. Ela diz o seguinte no artigo: “o jornal Lancet Public Health (que é onde foi publicado esse estudo, um jornal separado do The Lancet que tem mais prestígio, como se fosse um jornal filho) cobra 5 mil dólares como taxa de processamento de artigo ou estudo. O jornal publica estudos que precisam ser distribuídos rapidamente para avançar as políticas de saúde pública.” E ela fala: “Qual foi a pressa aqui? Levando em consideração a falta de rigor do estudo, parece que o objetivo dele não foi de ajudar as pessoas a comerem melhor ou viverem mais. Mas ao invés: acabar com o interesse público em low carb, assustar as pessoas sem motivo algum para longe de dietas que beneficiam a saúde com benefícios que são bem estabelecidos como a low carb pode colocar o público em risco.” Então é interessante essa nuance que ela acabou pegando, hein, Dr. Souto, do Lancet Public Health que cobra essa taxa. Enfim, não é um crime cobrar a taxa, mas o argumento é que assim eles conseguem processar rápido e publicar porque é um bem comum para a saúde pública, o que não é o caso desse estudo.

Dr. Souto: É, então, só para deixar claro. Porque o pessoal diz assim: olha, o mesmo Lancet onde saiu o estudo Pure, saiu esse estudo mostrando a redução da expectativa de vida. Não. Não é verdade. O Lancet onde saiu o Pure é o The Lancet. Uma das revistas médicas mais importantes do mundo que não cobra nada para publicar, porque na verdade é uma revista peer review clássica. Não é uma dessas revistas open access onde basicamente a gente paga para publicar. Ao contrário do Lancet Public Health. Não vamos confundir, os nomes são parecidos mas são publicações distintas. Eu publiquei no meu blog, sou honesto nesse sentido, eu acho que nem o Pure e nem esse aí devem basear condutas em saúde pública na medida em que ambos são estudos observacionais. Tirando o holocausto na Segunda Guerra Mundial, uma das coisas que mais matou gente na história do século XX foi ter baseado a saúde pública em estudos observacionais. É o fato de que baseados em estudos observacionais nós dissemos que as pessoas não deveriam comer comida de verdade, deveriam só comer farinha, que açúcar não tinha problema. Então essa catástrofe mundial que nós temos, essa epidemia de obesidade, de síndrome metabólica, de diabetes como nunca se viu é em parte, pelo menos, consequência de termos baseado condutas de saúde pública em estudos observacionais. Então nós não devemos fazer isso. O correto é: já que nós não temos certeza, então não façamos nada ao invés de basear nossas condutas em coisas que podem estar profundamente erradas. Por que, afinal, como que a humanidade comia antes dos nutricionistas e dos médicos?

Rodrigo Polesso: Como era possível, não é?

Dr. Souto: Como é que a humanidade não se extinguiu antes de inventarem essas duas profissões? A humanidade não precisou da invenção das especialidades do nutricionista, do médico para aprender a comer. Nós, eu digo humanidade, nós homo sapiens, estávamos muito melhor quando nos baseávamos na tradição, quando cada povo comia de acordo com a culinária da tradição dos seus pais, dos seus avós. Teria sido muito melhor que tivesse ficado assim do que esse desastre mundial que foi criado em 1977. Então se é para basear as condutas em estudo epidemiológico depois de já ter visto o que isso causou na nutrição nos últimos 40 anos… então não faz, não faz diretriz nenhuma. Agora, felizmente o tempo passou, a ciência evoluiu e como a Nina Teicholz diz, agora temos mais de 70 ensaios clínicos randomizados mostrando que como intervenção para tratamento de diabetes, síndrome metabólica e obesidade, low carb é uma opção provavelmente melhor que as outras. Mas, com certeza, no mínimo igual a várias; provavelmente melhor. Então, no mínimo nós não temos porquê ficar assustando as pessoas e impedindo que elas usem low carb, que seja como uma estratégia terapêutica. É desesperador mesmo, eu concordo com ela. É desesperador. Agora, se for para comparar epidemiológico com epidemiológico, o The Lancet, a revista principal onde foi publicado o Pure, fornece (em termos de reputação) uma reputação muito maior, é o estudo Pure. Que é um estudo bem maior, um estudo multinacional feito em 18 países. É outro padrão.

Rodrigo Polesso: Exatamente! Mas a gente, como vocês devem saber, a gente não fala bem de estudos observacionais, ainda mais quando a gente tem um corpo, como o dr. Souto acabou de falar, enorme de ensaios clínicos randomizados cobrindo. Agora, o que mais dói na alma é ver pessoas por aí se enganando com esses profissionais de YouTube, profissionais de Instagram que vêm, como eu falei, chamar a atenção da gente (ou de outras pessoas) se defendendo: tá aí, ó, um estudo mostrando que low carb encurta a vida. Vocês não sabem nem o que significa um estudo observacional, não sabe nem as limitações desse tipo de estudo. Quem dera se eles soubessem o quão envergonhados eles deveriam estar por utilizar uma coisa dessas. É como se o mecânico perguntasse para você o que é uma chave de fenda, uma coisa que ele deveria saber. Você não vai ir ao mecânico e deixar sua BMW lá se o cara te pergunta o que é chave de fenda. Você não vai confiar nesse mecânico. A mesma coisa com um profissional da saúde que lida com ciência, com medicina e não entende nem as limitações de um estudo epidemiológico. Meu Deus! É crise mesmo! Mas, falando em low carb como estilo de vida, por que você não compartilha com a gente o que você degustou na sua última refeição, dr. Souto?

Dr. Souto: Na minha última refeição… Deixa eu pensar, Rodrigo. Não me faz pergunta difícil!

Rodrigo Polesso: Vou te mandar um questionário, hein!

Dr. Souto: Sempre neste momento do podcast é quando eu penso como esses questionários são completamente absurdos! Hoje eu comi um bife de hambúrguer. Mas assim, não era um hambúrguer desses com soja. Era bife de hambúrguer cuja composição era exclusivamente carne bovina. E aquilo ali foi feito em uma chapa com um pouquinho de azeite de oliva e em cima desse único bife, eu coroei com três ovos.

Rodrigo Polesso: Então seria o que? Dezoito anos a menos num cálculo rápido?

Dr. Souto: É, dezoito anos a menos de vida. Mas eu comi também algumas fatias de tomate. Será que isso não compensa?

Rodrigo Polesso: Deve equilibrar um pouco, sim!

Dr. Souto: Deve equilibrar um pouco!

Rodrigo Polesso: Eu acabei de comer, está fácil de lembrar, uma bela de uma ripa de costela de porco feita no forno. Muito, muito simples. Você precisa de um papel de forno, de uma forma, de um forno, de uma bela costela, sal, pimenta e é isso. Acabou. Deixei um tempo lá, uma delícia! É uma sobremesa natural que a natureza proveu para a gente. Adoro! Tento fazer uma vez na semana, pelo menos, uma costelinha de porco. Beleza! Maravilha então, pessoal. A gente vai fechando esse podcast. Se você quer ter acesso a um acerco enorme de receitas e ainda assim a gravações completinhas das várias e várias palestras de todos os eventos ao vivo da Tribo Forte, você pode se juntar à Tribo Forte entrando em TriboForte.com.br, se tornando um membro lá e tendo acesso a tudo isso. Ok? Então ficamos por aqui. A gente se fala na semana que vem! Um grande abraço! Dr. Souto, obrigado, até mais!

Dr. Souto: Obrigado! Um abraço e até a próxima!