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Neste Podcast:

  • Café com gastrite é ruim? O que fazer?
  • Consumo de ovos, saúde e diabetes! O que as evidências dizem?
  • Os benefícios do jejum intermitente que independem do peso perdido.
  • A falácia do obeso saudável, mais evidências acerca disso.

Escute e passe adiante!?

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Casos de Sucesso do Dia

Vivian

 

 

 

Referências

Artigo no Science Daily Sobre Ovos e Risco Cardiovascular

Artigo no The American Journal of Clinical Nutrition

O Efeito de uma Dieta Rica em Ovos e os Fatores de Risco Cardiovascular em Pessoas com Diabetes Tipo 2

Artigo do Dr. Souto

Novo Ensaio Clínico Publicado Agora dia 10 no Jornal Cell Metabolismo

Estudo Conclui que Perda de Peso e Alterações no Estilo de Vida Deveriam ser Medidas Tomadas por Todos Indivíduos com Obesidade

 

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Olá! Bem-vindo a mais um podcast aqui da Tribo Forte. Eu sou o Rodrigo e você está ouvindo mais uma dose semanal de saúde e estilo de vida saudável, ciência, low carb, alimentação forte… enfim, tudo o que pode te ajudar a viver um estilo de vida mais saudável na sua melhor forma. Hoje tem vários tópicos aqui diferentes que a gente via conversar. Tem uma pergunta da comunidade também. A gente vai passar por ovos, passar por diabetes, passar por benefícios metabólicos do jejum intermitente que podem ir além da perda de peso, algumas nuances a respeito disso. Vamos ver também um pouco de obesidade saudável, do mito da obesidade saudável que a gente já mencionou antigamente, mas tem coisa nova que saiu. E também uma pergunta da comunidade que pode aplicar para bastante gente que está ouvindo. Então vai ser bastante bacana o papo aqui. Dr. Souto, bem-vindo a este podcast. Tudo bem?

Dr. Souto: Bom dia, Rodrigo. Bom dia aos ouvintes. Tudo tranquilo.

Rodrigo Polesso: Beleza! Vamos aquecer então com uma pergunta da comunidade direto. Quem manda é a Joice Cibele. Ela pergunta: “Oi, seria bem legal se você pudesse dar dicas para quem tem gastrite. Porque tipo, quando eu tomo café meu estômago dói. Aí eu fico sem saber se eu devo tomar ou não, já que você sempre fala do café em seus vídeos. Obrigada por sua dedicação.” O que eu penso é o seguinte: é engraçado como com o tempo a gente começa a ignorar sinais claros do nosso corpo. Se dói, deveria ser meio óbvio que bem não está fazendo. O problema em si, na minha opinião, não é o café em si, mas sim o elefante na sala (que é a gastrite). E, na minha opinião, você deveria focar primeiro em curar a bendita da gastrite, tentar achar o que está causando ela. E para quem não conhece, as causas mais comuns, digamos, da gastrite (o dr. Souto pode elaborar depois) é consumo excessivo de álcool, estresse, uso intenso de medicações como aspirina e semelhantes, infecções na parede do estômago por bactérias. Gastrite é algo comum, mas é algo que não é normal. É uma grande diferença. Então, dr. Souto, a pergunta é a respeito do café, mas eu acho que a pergunta vai além disso. Qualquer coisa que machuca o estômago, ou quando o estômago estiver machucado, não deveria ser bem-vindo. E o próprio corpo diz isso muito claramente estimulando os sensores de dor. Então a gente teria que ouvir isso primeiro e tentar atacar o problema. O que você tem a dizer sobre essa pergunta da Joice?

Dr. Souto: Acho que é uma pergunta que tem várias camadas que a gente pode responder. A primeira coisa que me chamou a atenção é que eu acho que as pessoas às vezes consideram coisas que a gente sugere como uma opção como se elas fossem uma obrigação. O que eu quero dizer com isso? Tomar café é um hábito muito comum. Tem muita gente que gosta. Mas tem gente que não gosta. Tem gente que não gosta, mas tem gente que não tolera. Ela não é a única pessoa que sente dor de estômago ou tem azia quando consome café ou alguma bebida cafeinada. Então o fato de que a gente fala bastante de café tem mais a ver com o meu gosto pessoal e o do Rodrigo, que a gente aprecia o café. Porque a pessoa não precisa beber café para seguir um estilo de vida low carb, com uma alimentação forte. Isso me lembra uma história de consultório, acho que eu já contei aqui, que eu estava explicando para um paciente que, por exemplo, às vezes frutas gordas como coco e abacate, podem ser mais interessantes se ela quiser consumir uma fruta no café da manhã. Consumir um abacate pode ser mais interessante do que consumir uma fruta doce, se o objetivo é emagrecer com low carb ou controlar os níveis de glicose para um diabético, por exemplo. Depois de eu fazer essa explicação a pessoa volta um mês depois e ela diz: está tudo bem, está tudo dando certo, só tem uma coisa, eu não suporto o tal do abacate, eu não aguento, eu acho ruim. Eu digo assim: então está comendo por quê? Aí ela olhou para mim e disse: mas eu achei que tinha que comer. Então quando a gente menciona o abacate, não é porque você precisa comer um abacate todos os dias para ser saudável. Não. Significa que você tem mais uma opção na sua alimentação. Mas se você não gosta de abacate, simplesmente não coma abacate. Se café lhe faz mal, não tome café. Por um tempo… eu gosto de tomar chá pela tarde no consultório, e por um tempo eu observei que quando eu tomava chá eu tinha azia. Azia mesmo, dor no esôfago. E se eu não tomava chá não me dava. Então, bom, o que eu fiz? Eu parei de tomar chá. Depois eu me dei conta que o problema não era o chá, o problema é que a pessoa que fazia o chá aqui no consultório gostava de colocar pedacinhos de cravo no preparo. E por algum motivo, se tem cravo no meu chá, isso me dá azia. Então o que eu faço? Eu não boto cravo no meu chá. Está certo? Isso é uma coisa peculiar minha, para outras pessoas pode não acontecer. Então, você falou e eu concordo plenamente: a gente parece que esquece de escutar o próprio corpo. Então, mais importante do que qualquer coisa que a gente diga dos estudos científicos, se faz bem, se não faz bem, etc… É assim, você se sente bem quando toma café? Sim ou não? Agora, a outra camada é essa aí que você colocou. Daqui a pouco o café está sendo um irritante par ao estômago dessa pessoa porque o estômago dessa pessoa está com problemas. Porque ela tem uma infecção H. pylori, por exemplo, que é uma bactéria. E essa bactéria pode ser tratada pelo médico, pelo gastroenterologista e daqui a pouco aquele estômago cicatriza, já não está mais inflamado por essa bactéria e passa a tolerar um café que ele não tolerava antes. É uma coisa que acontece. A gente vê isso muito… saindo de estômago, mas ainda na parte digestiva, em pessoas que vinham de uma alimentação ocidental padrão, ou seja, comendo porcaria, e aí mudam para uma alimentação adequada e o intestino passa eventualmente a tolerar determinadas coisas que antes causavam intolerância. A pessoa não tolerava, sei lá, comer ovos, mas agora ela tolera. Então, eu acho que pesquisar a causa, ver se realmente não tem uma associação de H. pylori, com muito stress, ou como você disse (é uma causa muito importante) a causa medicamentosa, o uso assíduo de anti-inflamatórios, de aspirinas… pode ser. Agora, sempre tem a chance de que a pessoa descubra que café e ela não combinam.

Rodrigo Polesso: Também. É uma hipótese, não é? Tem que ser considerada.

Dr. Souto: Agora, deixa eu abrir um parêntese aqui e aproveitar e dizer o seguinte: muito do que se diz sobre o que se deve ou não se deve comer em relação à gastrite é anedótico e senso comum. Aí fica sempre aquela situação: a pessoa pergunta o que não pode comer, o médico vai falar algumas coisas que sempre vai incluir o senso comum nutricional. O senso comum nutricional vai dizer que não pode comer nada com gordura, etc… Se você vai na literatura, tem algum ensaio clínico randomizado falando sobre isso? Não. Isso aí é coisa de comadre. Então não é porque o médico está dizendo que aquilo é baseado em evidências. Muitas vezes é o que: quando chega nessa seara da alimentação, que a maioria dos médicos não domina, ele deixa de falar de remédio (onde ele está falando de ensaios clínicos randomizados), quando ele começa a falar de alimentação ele passa a falar de senso comum. É a mesma coisa de você perguntar para a sua tia, para a sua comadre. Então, sim, eu sei que muitos dos alimentos que a gente menciona, são ditos que não deveriam ser consumidos. O exemplo que a gente sempre fala aqui: o jejum. A pessoa que tem gastrite não deveria fazer jejum. Isso não é baseado em evidência. E na realidade já citamos em outros episódios, inclusive, um estudo no qual uma úlcera que não cicatrizava, em uma época anterior à invenção do omeprazol, era tratada com jejum prolongado. Porque o jejum diminui a produção de ácido no estômago. Então, muito do que se diz, se diz como senso comum. Mas o senso comum vindo da boca do médico, não se torna sabedoria, continua sendo senso comum.

Rodrigo Polesso: É. É uma falta de respeito com a natureza, eu diria, as pessoas dizerem que jejum vai causar úlcera porque tem muito ácido no estômago. Pessoal, a única função do estômago é ter ácido dentro, ele foi feito para isso. Então é um absurdo que seja senso comum, na verdade, que o jejum vai causar problema de gastrite ou úlcera lá porque tem ácido lá sem comida para digerir. Isso é ciência de cartoon de televisão.

Dr. Souto: É. Dito isso, predomina aquilo que você falou: a pessoa ouvir o seu corpo. Se a pessoa, portadora de gastrite, não se sente bem no jejum e se sente melhor comendo, então coma. Agora, se a pessoa portadora de gastrite muda a sua alimentação, seu estômago nunca esteve melhor, e aí dizem para ela que ela não pode fazer jejum porque jejum é proibido para quem tem gastrite. Mas se ela está se sentindo melhor, esqueça o senso comum e faça isso que está funcionando para você porque não existe evidência nem para um lado, nem para o outro.

Rodrigo Polesso: Realmente… Para fechar esse assunto, você falou que te dava azia… Eu lembrei agora, muita gente deve também perceber e talvez reage de forma semelhante. O chá verde é aceito universalmente como saudável. E tem o matcha, o chá verde mate que é o mais caro de todos. É a folha em si, triturada e você toma como se fosse um expresso de café. E você toma o mate, que é uma coisa cara e um ritual muito incrível. E para mim o mate de estômago vazio me dá enjoo. Um enjoo bem claro. Uma vez eu tomei um concentrado e quase tive… Eu fui para o banheiro, na verdade, mas não cheguei a vomitar. E eu notei também que chá preto de estômago vazio eu também sinto enjoo. E tem um componente, que não me vem na memória o nome agora, do chá que causa em muitas pessoas a sensação de enjoo. Na minha namorada já não causa. E, claro, não vou ficar tentando aprender a tomar isso aí, porque para mim não precisa. Eu simplesmente não tomo. Aceito que meu corpo não gosta muito e tomo outras coisas que me valem a pena. Mas fica como um exemplo empírico de como o corpo responde diferente de pessoa para pessoa.

Dr. Souto: É isso aí. E não é porque é caro, elaborado e está na moda que você vai tomar e vai sentir esse enjoo. Se você sente o enjoo quando toma em jejum, então você não deve tomar em jejum.

Rodrigo Polesso: É verdade! Exatamente! Bom, olha só: ovos. Pesquisadores da Universidade de Sydney tentam clarificar recomendações alimentares conflitantes sobre o consumo de ovos. Quem já escutou? Pelo amor de Deus! A gente já fala isso há muito tempo! Há mais ou menos mais de 100 episódios. Um novo estudo mostra que o consumo de até 12 ovos por semana por um ano não aumentou o risco cardiovascular em pessoas com pré-diabetes e diabetes tipo 2. Para quem assistiu What the Health, então toma esse estudo na cabeça. Um estudo de três meses… É um follow-up, na verdade. Esse estudo continua de um estudo anterior, chamado Diabegg. Eu adoro esses nomes criativos que eles criam para estudos! O Diabegg, que foi um ensaio clínico randomizado de três meses de duração, que mostrou que uma dieta alta em ovos, igual a 12 ou mais de 12 ovos por semana, comparada com uma dieta de menos de 2 ovos por semana, não afetou adversamente os fatores de risco cardiovasculares em adultos com diabetes tipo 2. Uma nota sobre esse estudo é que ambos os grupos tiveram a mesma quantidade, a mesma ingesta de proteína, mas o grupo que consumia mais ovos reportou ter menos fome e maior sensação de saciedade após o café da manhã. Então, sumarizando, o consumo de ovos (até 12 por semana, ou mais) não foi associado nesse estudo, no caso… Não associado até porque foi um ensaio clínico randomizado, mas não… Pelos marcadores que eles tiraram do pessoal, todos os marcadores sanguíneos, não teve nenhuma influência negativa. Dá para ir contra o que todo mundo aparentemente diz na televisão, nos documentários sobre ovos e diabetes. Dr. Souto, você deu uma lida nesse estudo também? Você que me mandou esse estudo. O que você achou disso aí? Claro, é uma coisa que a gente fala há muito tempo.

Dr. Souto: Então, vamos por partes. Primeiro, eu gostei da manchete do Science Daily. A manchete traduzindo para o português diz assim: Ovos não estão ligados a risco cardiovascular a despeito de conselhos em contrário. Então, essa manchete já inclui dentro de si uma série de coisas interessantes. Digamos, os conselhos em contrário à orientação no sentido de que não se deveriam comer ovos, essas nunca foram baseadas em evidência. Está certo? Não se trata do fato de que há anos se sabe que os ovos aumentam o risco cardiovascular. Não. Nunca se soube, isso nunca apareceu nos estudos, ok? Segundo: esse estudo é mais um de uma grande quantidade de estudos mostrando que não há correlação entre o consumo de ovos e fatores de risco cardiovascular. Então de onde é que vem essa história? Essa história vem daquela ideia da teoria lipídica, da doença cardiovascular, lá dos anos 60. Então, colesterol é o que está na placa, então você não deveria consumir colesterol. Eu escrevi uma postagem sobre esse assunto em 2016, janeiro de 2016. A gente vai linkar aqui no final do podcast lá na página. Mas quem quiser procurar no Google bota lá: Souto dieta ovos europeus. Depois eu vou explicar para vocês o que tem os ovos dos europeus. Mas a questão é o seguinte, o primeiro estudo que eu cito naquela postagem é um estudo feito sabe por quem? Ancel Keys. Quem é o Ancel Keys? O Ancel Keys era o cara que postulou essa teoria lipídica da doença cardiovascular. Mas nesse caso aqui, é para mostrar o seguinte: que nem o Ancel Keys acreditava que o ovo era um problema. Nem ele! Nem o pai da criança acreditava que isso era o problema. Então eu vou ler para vocês aqui um parágrafo. “Ironia das ironias: um dos primeiros autores a estabelecer de forma experimental o fato de que o colesterol na dieta não aumentava significativamente o colesterol no sangue foi Ancel Keys – nada mais nada menos do que o PAI da hipótese lipídica da doença cardiovascular. Em um estudo de 1965…” Quantos que estão nos ouvindo já tinham nascido em 65? Não são muitos. “Keys explica que uma redução de 50% na ingestão de colesterol reduziria o colesterol sérico em apenas 7 mg/dl, e que as variações da dieta típica dos americanos à época (desde um extremo até o outro) mudariam em apenas 9 mg/dl o colesterol total.” E ali eu boto a referência. Então, o Keys tinha medo da gordura. Mas nem mesmo ele achava que o colesterol da dieta era importante. Bom, aí o que aconteceu? Surgiram alguns estudos. De que tipo? Observacionais, epidemiológicos. Que sugeriam que pacientes diabéticos e pré-diabéticos tinham uma incidência maior de problemas cardiovasculares quando eles consumiam muitos ovos. Bom, qual é o problema desse tipo de estudo? Eu acho que quem nos escuta há algum tempo consegue deduzir. Mas nós vamos dar uma ajudinha. Desde os anos 60 todo mundo acha que não pode comer ovos. O Keys não compartilhava dessa ideia, mas as diretrizes da Associação Americana de Cardiologia e depois as Diretrizes Americanas a partir de 1977, diziam que não podia comer mais do que 300 mg de colesterol por dia. Se você comer um ovo já está praticamente estourando isso aí. Então, se o cara é diabético e ele tem, portanto, por ser diabético um risco cardiovascular maior que o resto da população. Se ele consome um monte de ovos ele é um sujeito que segue as diretrizes ou que não segue as segue as diretrizes? Ele é um sujeito que não segue as diretrizes, está certo?

Rodrigo Polesso: É o perfil, não é?

Dr. Souto: É o perfil. Comer muitos ovos em um mundo que todo mundo diz que comer ovos faz mal, significa um marcador de alguém que não segue as diretrizes saudáveis. Marca pessoas que fazem menos exercício, que fumam mais… O de sempre, pessoal. Aquilo que a gente sempre diz. Bom, nesse caso é muito interessante porque em 2016 saiu uma nova metanálise sobre consumo de ovos e o risco de diabetes. E aí essa metanálise mostrou uma coisa muito interessante. Quando se pegava todos os estudos, não há nenhuma associação entre consumo de ovos e diabetes ou risco. Agora, se a gente comparar só os estudos norte americanos com os estudos europeus, na Europa pode comer quantos ovos quiser e não faz diferença. Mas nos Estados Unidos quanto mais ovos, mais risco. E aí que eu botei o título da postagem. O que os ovos dos europeus têm que os ovos dos americanos não têm?

Rodrigo Polesso: É uma galinha mais chique na Europa.

Dr. Souto: É evidente que eu estou fazendo piada porque não é a questão dos ovos. A diferença é o seguinte: é que os Estados Unidos foram muito mais influenciados pelas diretrizes com fobia de gordura, com fobia de colesterol do que os europeus que continuaram comendo ovos, que continuaram comendo manteiga e continuaram comendo queijo. E que por sinal tem uma incidência de doença cardiovascular muito mais baixa que a dos americanos. Então, o que esses estudos observacionais estão captando é o seguinte: nos Estados Unidos consumir mais ovos está associado com um tipo de comportamento de desafio às regras que significa que também são pessoas que bebem e dirigem, não usam cinto de segurança, fumam e são sedentárias. E por isso elas têm um risco maior de uma série de doenças. Mas na Europa não existe essa mesma associação epidemiológica. Eu posso ter 100% de certeza de que a explicação é essa? Não, não posso ter 100%. Mas alguma explicação tem que ter, porque é o mesmo ovo, é o mesmo pássaro, galinha, que bota o ovo. Porque que o ovo está associado com risco em um continente, aí você atravessa o Atlântico e ele não está associado com risco? Esse estudo que nós estamos conversando agora, esse que saiu essa semana, ele é um ensaio clínico randomizado. Então ele não é estudo observacional. Mas os desfechos que ele está olhando não é mortalidade, não é diabetes, não é infarto. Não é desfecho concreto, é desfecho substituto: é colesterol, é triglicerídeos, é HDL. Mas o fato é que não mudaram os desfechos substitutos. Então, a gente tem que juntar tudo isso agora e pensar o seguinte: se nos estudos observacionais tomados como um todo, não só os americanos, mas os europeus, não há associação. Se nos estudos americanos exclusivamente (aqueles de Harvard) tem associação, mas aqueles de Harvard são estudos com médicos e enfermeiras, e médicos e enfermeiras acreditam que ovo faz mal. Então, quando eles consomem ovo é porque eles não estão dando bola. E não estão dando bola para uma série de outras coisas na sua saúde. Ou seja, o consumo de ovo naquele grupo de Harvard é um marcador de “não estou nem aí”. Na Europa não, é simplesmente um marcador cultural porque a Europa come melhor que os Estados Unidos. E aí quando nós vamos ver o ensaio clínico randomizado… Porque o único motivo que alguém na vida achou que o ovo é um problema é porque pioraria os fatores de risco cardiovascular, pioraria o perfil lipídico, o lipidograma. O ensaio clínico randomizado está mostrando que comer 12 ovos ou mais por semana não muda, não piora nem o perfil lipídico. Entendeu? Nem os exames de sangue pioram. Então a pergunta é: por que em 2018 nós ainda estamos tendo que falar sobre esse assunto que deveria estar morto e enterrado quando Ancel Keys escreveu sobre isso em 1965?

Rodrigo Polesso: A gente vai continuar falando por um bom tempo, eu acho. Até reverter.

Dr. Souto: Claro! Eu acho que isso aí deveria servir como uma história de cautela para que as pessoas pensem que isso é apenas um dos vários exemplos onde a nutrição é uma zona livre de evidências. Onde a nutrição passou a ser uma série de memes repetidos, de dogmas repetidos de geração em geração e que resistem a evidência. Eu repito: em 1965 já havia estudo experimental mostrando que o ovo não era problema. As metanálises mais recentes mostram que não é problema. Ensaio clínico randomizado de desfecho substituto mais recente mostra que nem mesmo em desfecho substituto é um problema. Então o problema não está no ovo, o problema está na nutrição enquanto área de conhecimento.

Rodrigo Polesso: É! Eu particularmente já estou puxando a mudança por mim mesmo. Eu não estou nem aí. Se você está convencido também, manda a ver. Eu estou comendo agora, no momento, uns 20 ovos por semana, pelo menos. Como geralmente 3 ou 4 ovos na janta. E isso há muito tempo. Então se não bastasse toda a questão científica que a gente sabe que não tem base nenhuma para dizer que você precisaria restringir os seus ovos, digamos assim, a gente tem de sobra experiências empíricas para mostrar pessoas saudáveis, com exames melhores do que nunca, com o consumo dessa comida milenar que, inclusive, não só humanos, mas animais na natureza procuram essa fonte de nutrição também. Então a gente perde a perspectiva um pouco. A gente está nomeio dessa resistência de evidência, como você falou, tentando reverter esse quadro – que nunca foi provado, por sinal. E tentando reverter com muitas provas, não uma, mas muitas provas.

Dr. Souto: Olha só, vamos até linkar com o assunto do início, da pergunta do leitor, daquela pergunta do café. Daqui a pouco alguém vai dizer assim: “Mas, Rodrigo, eu não aguento ovo, eu odeio ovo, eu não consigo comer ovo…” Então não coma ovo! A gente está falando do ovo, porque o ovo é um alimento barato, nutritivo e que foi vilipendiado desnecessariamente por diretrizes que não eram baseadas em evidências. Não significa que para você seguir uma alimentação low carb ou uma alimentação forte, você precisa comer ovo. Se você não gosta e não quer, não coma. Então vale para o abacate, vale para o ovo, vale para o café. Vale para qualquer outra coisa.

Rodrigo Polesso: Não gosta de ovo, mas adora um quindim, não é? Fala a verdade!

Dr. Souto: Ah, sim! Quando o ovo é misturado com açúcar, aí muda, não é? Aí fica gostoso!

Rodrigo Polesso: Aí fica bom demais! Olha só, vamos para o próximo assunto, mas antes um break aqui. Um caso de sucesso semanal como eu sempre falo. A Vivian Monteiro falou: “Estou há uma semana só no Código Emagrecer de Vez e consegui resultados que nunca consegui na vida. Faz 13 anos que eu tento dietas sem praticamente êxito algum. Dessa vez, em apenas 8 dias eu emagreci 2,9 kg.” Parabéns para a Vivian! Uma semana, 8 dias, na verdade, que ela está fazendo… Mas ela falou que em 13 anos ela não conseguiu resultados desse tipo. Então é realmente impactante. A gente recebe isso várias vezes por dia, inclusive. A diferença que faz quando seus hábitos fazem sentido fisiológico. Quando você respeita a ciência e não só os dogmas, essas crenças, esses mitos que a gente está falando até aqui. Então, a pessoa quando vê resultados bons na primeira semana o que acontece? Ela se motiva a seguir em frente, ela ganha aquele gás novamente para seguir em frente. É uma coisa diferente, uma nova explosão de entusiasmo e motivação. Por isso que eu acho que são importantes esses resultados rápidos, na primeira semana. E a gente sabe que com low carb, com cetogênica, com alimentação forte otimizada para low carb ou cetogênica, a gente vê resultado rápido e isso é um ponto crucial para motivar as pessoas, para elas verem que estão na direção certa. Se você quer entrar no programa é só entrar em CódigoEmagrecerDeVez.com.br.

Dr. Souto: Rodrigo, eu me lembrei de mais uma coisa. Às vezes não vem na hora, então eu ainda estou voltando lá ao assunto dos ovos, mas não é para falar dos ovos. É para chamar a atenção dos nossos ouvintes para como às vezes a gente tem dificuldade de imaginar quais são as variáveis ocultas que estão por trás dos resultados. No caso dos ovos a gente já falou: as pessoas que desafiam as diretrizes tendem a ter resultados de saúde pior. Não porque as diretrizes estão certas, mas porque elas tendem a não seguir outras coisas que são saudáveis, como atividades físicas e não fumar. Saiu esses dias um estudo sugerindo que a atividade física, vamos combinar que atividade física é uma coisa boa… Que a atividade física não é tão protetora contra doença cardiovascular, contra mortalidade, se for uma atividade física laboral (ou seja, uma atividade física de trabalho) versus uma atividade física de lazer. Era um estudo observacional, epidemiológico. Não era um ensaio clínico randomizado. E o que eles viram foi o seguinte: pessoas que fazem a mesma quantidade, o mesmo volume de atividade física, no entanto em um caso esse volume de atividade física é trabalhando (pessoas que fazem trabalho manual, como agricultura, esse tipo de coisa) comparado com pessoas que fazem o mesmo volume de atividade física (de esforço), mas essa atividade física é uma atividade física recreacional, incluindo academia de ginástica ou esportes… E o grupo que faz o esporte parece ter resultados de saúde muito melhores e uma chance menor de mortalidade e desfechos ruins. O Tim Noakes, um dos nossos gurus, postou esse estudo no Twitter e fez um comentário. E o comentário dele foi na mosca. Ele diz assim: “Olha, talvez o que o estudo esteja medindo não seja o impacto da atividade física na vida das pessoas, e sim o impacto da renda, do nível socioeconômico.” Todo mundo sabe que do ponto de vista epidemiológico, um dos maiores determinantes de longevidade é a renda e o nível socioeconômico. Pessoas que têm uma renda mais alta, que têm um nível socioeconômico mais elevado tendem a viver mais. Por quê? Porque elas têm acesso a uma série de benefícios, acesso a cuidados de saúde, acesso a uma série de questões de estilo de vida que são protetores e porque elas, ao mesmo tempo, não estão expostas aos mesmos estressores e aos mesmos problemas ambientais que impactam negativamente a vida que afetam as pessoas com baixa renda. Então daqui a pouco a gente está olhando aquele estudo sem esse pensamento crítico e tentando entender qual é a diferença, já que o músculo que contrai para carregar tijolo é o mesmo músculo que contrai para levantar halteres.

Rodrigo Polesso: É, não tem nada a ver com exercício.

Dr. Souto: Não tem nada que ver com exercícios! Nós estamos medindo uma variável que está em um nível socioeconômico. Sempre, pessoal, ouvintes, quando vocês virem um estudo observacional epidemiológico, tem que fazer um esforço… é quase um jogo de xadrez, é como vocês estivessem resolvendo palavras cruzadas no jornal. Tem que pensar, tem que raciocinar sobreo que pode estar por trás disso além daquela correlação que o autor do estudo está fazendo. O autor do estudo está pensando em exercício, mas o que pode estar por trás? Porque o estudo é observacional, é epidemiológico, ele não pode estabelecer causa e efeito. Só ensaios clínicos randomizados podem estabelecer causa e efeito. Eu achei que era importante lembrar porque eu achei muito legal esse exemplo. E é parecido com a história dos ovos. Quer dizer, os ovos frequentemente em estudos, assim como carne vermelha ou qualquer outra coisa que tenha sido demonizada por muito tempo, passa a ser um marcador de compliance, de seguir ou não seguir diretrizes como um todo.

Rodrigo Polesso: Eu acho que se a gente tiver esse objetivo e conseguir educar a maior quantidade de pessoas possível a respeito das falhas potenciais de estudos epidemiológicos, a gente vai chegar longe, a gente conseguir valer o nosso tempo, pelo menos, só por isso. Porque a maioria do que sai na mídia é repercussão de estudos epidemiológicos, cheios de falhas, que podem mostrar qualquer resultado. Então se a gente conseguir colocar esse senso crítico, esse ceticismo dentro de você, esse poder de interpretação desse tipo de coisa, é um poder de autoproteção e autopreservação de saúde que vai valer muito a pena a longo prazo. Vamos lá para o segundo tópico aqui que é o seguinte. Novo ensaio clínico publicado agora no dia 10… No dia 10 agora… No jornal Cell Metabolism… Que mostra que jejum intermitente pode melhorar a sua saúde até na falta de perda de peso. O que esses caras fizeram? Eles acompanharam homens adultos com pré-diabetes por 10 semanas seguindo dois protocolos, um de cada vez. Um depois o outro. O primeiro protocolo limita a janela de alimentação desse pessoal a seis horas por dia, sendo a primeira refeição no café da manhã e a última refeição (a janta, no caso), às 3 da tarde. Então, eles comem dentro dessa janela de 6 horas. O segundo protocolo é a janela de 12 horas. É basicamente o que todo mundo faz sem fazer, digamos, jejum intermitente. Toma o café da manhã às 8, almoça, tem janta às 8 da noite, vai dormir e daí repete o ciclo. Ambos protocolos foram montados para que essas pessoas comecem a mesma quantidade calórica no total, o que é interessante. Os resultados mostram que o jejum intermitente que reduziu a seis horas por dia, colocou o café e a janta até às 3 da tarde… Na primeira parte do dia… Proporcional melhoras na sensibilidade à insulina, melhoras na diminuição do estresse oxidativo, baixa na insulina, baixa na pressão sanguínea também e ainda uma diminuição do apetite à noite, que é uma coisa meio contraintuitiva. Então, eles estão tentando focar… Mostrar benefícios que vão além da perda de peso. Muita gente diz que o jejum funciona bem porque o pessoal perde peso, e isso pode ser verdade sim, mas existem outras coisas aparentemente que podem melhorar sem você perder o peso de fato. Outro ponto que o Dr. Souto pode comentar agora, é essa coisa de você seguir um pouco mais o ciclo circadiano, colocando a alimentação um pouco mais para o começo do dia, e não mais tarde… Jantar tarde da noite, final do dia… À noite, como escolha… Que é outro ponto que pode ter influenciado também essa escolha. É um resultado interessante de fato.

Dr. Souto: É muito interessante. É importante chamar atenção também que o estudo é muito bem feito. É um estudo muito bem conduzido. Uma das coisas importantes é que os participantes receberam a alimentação durante a duração do estudo. Não é aquela coisa que a gente orienta as pessoas, elas vão para casa e daqui a pouco não vão seguir aquilo que foi orientado. Receberam integralmente a alimentação fornecida pelo estudo, o que assegura que todos comeram os mesmos alimentos, e assegura que eles comeram o mesmo número de calorias… De modo que a diferença aqui foi simplesmente fazer uma janela restrita de alimentação. Chama time restricted feeding… Traduziria por uma janela restrita de alimentação. E as diferenças de redução da insulina pós-prandial, em aumento da sensibilidade à insulina, em melhora das funções das células beta do pâncreas, que são as que secretam insulina, em diminuição do estresse oxidativo, inclusive a diminuição do apetite à noite foram observados no grupo fez a janela restrita de alimentação… Repito: independentemente da questão calórica. Então, é mais um estudo que se junta a um catatau de estudos mostrando vantagens da estratégia do jejum intermitente aqui neste formado de jejum com restrição da janela de alimentação. Porque volta e meia pinta algum estudo mostrando o seguinte… Na perda de peso a diferença é só uma questão de calorias, então, claro, quando a pessoa está no jejum ela não está comendo. Ela vai perder peso. Mas se ela simplesmente restringisse as calorias, ela ia perder peso também. Existem benefícios… E eu concordo com esse estudo. Eu acho que os benefícios do jejum são muito mais metabólicos do que calóricos. Calorias a gente pode restringir de outro jeito. Sabe qual é uma forma sensacional de restringir calorias? Low carb.

Rodrigo Polesso: Sem perceber você acaba restringindo.

Dr. Souto: Sem perceber você come menos. A pessoa diminui os carboidratos, fica com menos fome, a insulina baixa, passa a queimar sua própria gordura, passa a ter uma fonte endógena de calorias, que é a sua própria gordura sendo queimada, e sente menos fome. Está restringindo calorias? Tá. Mas é muito diferente de ficar passando fome, pensando desesperadamente na próxima refeição. Restringir calorias, tem um monte de formas de fazer isso. O que o estudo está mostrando são benefícios metabólicos independentes da restrição calórica. Primeiro ponto. Segundo ponto é esse que você falou do ritmo circadiano. Eu sigo – já falei aqui – um autor – no Twitter, que é o Bill Lagakos. Um cientista, um cara que estuda muito isso aí. O grande foco dele é no ritmo circadiano. Ele é apaixonado por isso. Tem uma série de estudos pré-clínicos em animais que mostram que alinhar a alimentação com o ciclo circadiano pode ser interessante justamente nessas coisas aqui… Resistência à insulina, pico de insulina pós-prandial, pico de glicose pós-prandial, função da célula beta, estresse oxidativo, esse tipo de coisa. Ele vem postando isso aí. Ele já postou outros estudos em humanos sugerindo isso também. Eu estava conversando com o Rodrigo antes da gente começar a gravar que é importante a gente botar em perspectiva esse tipo de coisa, porque algumas coisas são mudanças que fazem uma diferença enorme, e outras são mudanças que podem ser boas para você, mas é sintonia fina. É detalhe. Então, por exemplo… Eu não acho que comer… Pizza com borda… Pizza doce com borda de noite ou de manhã vai fazer muita diferença. Digamos assim… A implicação que eu quero deixar aqui… A qualidade da alimentação é o elemento mais importante a ser modificado. Para mim, realmente é secundário um paciente que está comendo muito mal… Que está comendo errado… É secundário se ele vai concentrar suas calorias de manhã, se ele vai alinhar sua alimentação com o ciclo circadiano, ou se ele vai comer uma refeição por dia só… E se essa única refeição dele é a janta. Para mim, isso é secundário em relação a melhorar a qualidade dessa alimentação. O que é melhorar a qualidade? Tirar alimentos processados e ultraprocessados. Eliminar o açúcar da dieta. Tirar os farináceos. Concentrar em plantas e bichos. Carnes, peixes, ovos, aves e todo tipo de vegetal de baixo amido. Isso aí é a base da coisa. Bom, digamos que a pessoa já fez isso e ela já está obtendo uma série de benefícios. E a pessoa venha me perguntar… “Bom, o negócio é o seguinte. Eu gostaria de fazer uma janela restrita de alimentação. Eu quero ver se eu concentro minha alimentação num período maior… Passo um tempo maior em jejum.” Eu vou dizer, “Ótimo, é uma maravilha. É uma boa ideia. Eu concordo.” Daqui a pouco a pessoa me diz assim, “Olha, no meu estilo de vida, a hora que eu tenho tempo de cozinhar, de fazer uma comida e de comer junto com minha família, é de noite.” Aí eu vou dizer, “Ótimo, faça sua janta de noite.” Aí a pessoa diz assim, “Eu não sinto fome de manhã. Eu prefiro tomar um café preto de manhã e ir trabalhar.” Eu vou achar maravilhoso. E a gente já citou aqui estudos de pessoas que não estavam habituadas a tomar café da manhã e passaram a se forçar a tomar café da manhã e ganharam peso. Agora, se a pergunta for especificamente a seguinte: “O que é melhor, fazer uma restrição de horário de alimentação, restringir minha janela de alimentação… Quero comer tudo o que eu como num intervalo de 6 horas… Se essas 6 horas forem de manhã até o meio da tarde, ou se essas 6 horas forem de almoçar tarde até jantar tarde…” A literatura tem indicado que o melhor é concentrar as calorias de manhã – ou seja, tomar o café da manhã, almoçar e a refeição melhor a ser pulada é a janta. Vários estudos têm mostrado isso. Sim, curiosamente, isso está alinhado com as diretrizes nutricionais que sugerem que o café da manhã é a refeição mais importante do dia. Mas veja bem, até um relógio quebrado pode estar certo duas vezes por dia.

Rodrigo Polesso: Exatamente.

Dr. Souto: Eles acertaram pelos motivos errados. Eles acham que é importante porque a hora de comer cereais, porque é a hora de comer Sucrilhos, porque é a hora que a indústria alimentícia brilha, porque na cabeça deles isso… Vamos dizer… Vai fazer você comer menos na janta e o problema da janta é uma questão calórica, porque vai comer carboidrato de noite, depois vai dormir e não vai ter condições de queimar carboidrato. Não tem nada a ver com isso. Tem a ver com alinhar o ritmo circadiano… Você acorda de manhã… Normalmente vai ter aquele pico de cortisol. Aí depois o cortisol vai diminuindo. A sensibilidade à insulina é maior de manhã, é menor de noite. E tem estudos tanto em animais quanto em humanos que sugerem que possa ser uma vantagem. Qual é a importância disso no computo geral das coisas? Já falei, mas vou dar minha opinião de novo. Sintonia fina. É detalhe. É otimização. Eu tenho certeza absoluta de que alguém que comer a dieta ocidental padrão, comer um monte de carboidrato refinado, mas consumir café da manhã, almoçar, depois comer um lanchinho e não jantar… Vai ter um resultado pior do que alguém que comer toda sua comida na janta e não comer no resto do dia, se esse comer toda a comida na janta for comida de verdade, alimentação forte, low carb. Ou seja, a qualidade da alimentação é muito mais importante. Mas em termos de sintonia fina, está parecendo que o predomínio dos estudos sugere que antecipar as calorias para mais cedo, ou seja… Daqui a pouco a pessoa experimenta comer alguma coisinha no café da manhã, mesmo que não tenha o hábito, almoçar e tentar comer o mínimo possível à noite… Para quem tem resistência à insulina, especialmente para quem é pré-diabético e etc., tem estudos que mostram que isso pode melhorar as coisas – como sintonia fina. Estou sendo repetitivo. Sim, é de propósito.

Rodrigo Polesso: Acho que é muito importante essa parte. O pessoal tenta focar de manhã e acham que isso é remédio, como a gente falou. A melhor dica eu acho que você falou também. Por que não tirar uma semana e tentar fazer isso numa semana para ver se você se dá bem… Se você se adapta ao estilo de vida… E se isso não se torna uma fonte de estresse… Se é uma fonte de estresse, vai ser contraprodutivo, já que é um refinamento que a gente está falando aqui. São muitas variáveis. Mais uma vez, escutar nosso corpo novamente. Você acorda com fome? Como você se sente? Talvez você está acostumado… Então, então faz diferente. Vê como você se sente e depois você avalia. Mas isso é para quem está no nível de refinamento alto. O seu estilo de vida já está otimizado. Isso a gente está repetindo 7 vezes, no mínimo, a cada 10 minutos. É muito importante que essa parte fique frisada. Otimização.

Dr. Souto: Porque senão parece… “Então, mudou tudo. Agora o que eu vou fazer? Eu estava tão feliz. Eu não tinha fome de manhã.” Não, pessoal. É um pequeno detalhe. Sintonia fina para quem quiser. Sabe para quem gosta de biohacker? O cara que gosta de fazer auto-experimentação. Deixa eu verificar como vai ficar meu índice Homa de resistência à insulina depois de eu fazer essa modificação circadiana na minha alimentação. Quem sabe… Tem gente que gosta de fazer exame todo mês e comparar com diferentes coisas. Como é com exercício resistido? Como que é com hit? Como é que é comendo de manhã? Como que é não comendo de manhã? Para a maioria… Para 99% das pessoas que estão nos ouvindo, o que importa é o seguinte. É trocar o pão pelo salmão. É tirar o açúcar. Se é de noite, se é de manhã, é secundário. Agora, se você é daquele que… Eu já estou super bem, mas eu quero ficar melhor ainda, porque eu sou fanático por essas coisas. Ok, acho um tweaking interessante… Uma mexida interessante. Faz o teste. Tenta fazer o time restricted feeding, que é a janela de alimentação mais cedo. Tenta jantar cedo.

Rodrigo Polesso: É isso aí. Faz o teste para ver. O grande takeaway, a grande mensagem desse estudo… Que se aplica a mais gente… É perceber que restringir a sua alimentação e não comer o tempo inteiro… Muito menos de 3 em 3 horas e etc… Ficar comendo snack toda hora… Você restringir, fazer jejum intermitente… Pode ter benefícios metabólicos que vão muito além da perda de peso. Mantenha isso em mente. Mantenha isso em mente. Vamos lá. Olha só… Para a gente fechar o último assunto rapidinho de hoje… Novamente a gente vai falar do mito das pessoas obesas e metabolicamente saudáveis. A gente chama de um gordinho saudável… Para o pessoal que conhece um pouco mais. Uma nova análise publicada agora em maio no jornal do Colégio Americano de Cardiologia avaliou novamente um tema que a gente já falou aqui pelo menos em duas ocasiões, que é essa falácia do gordinho saudável, ou dos obesos metabolicamente saudáveis. Ao analisar os dados de 6800 membros do Mesa, que é um estudo multiétnico de aterosclerose, os autores concluíram que a obesidade metabolicamente saudável em um período de tempo não é um indicador estável ou confiável de futuros riscos de doença cardiovasculares. Quase da metade dos obesos “metabolicamente saudáveis”… Tudo entre aspas, quando estou falando em “metabolicamente saudáveis”… No ponto inicial do estudo, digamos, desenvolveram síndrome metabólica dentro do período do estudo, que foi de 12 anos, mais ou menos. A quantidade de tempo em que uma pessoa possui síndrome metabólica…Diagnosticada e volta no médico para verificar o andamento… Quanto mais tempo ela possuiu síndrome metabólica… Isso é associado linearmente a um aumento de riscos cardiovasculares. O estudo, então, conclui que a perda de peso e alterações no estilo de vida deveriam ser medidas… Tomadas por todos indivíduos com obesidade, não metabolicamente saudáveis ou não. O ponto, em outras palavras, é que uma pessoa pode estar temporariamente com os marcadores indicando nenhum problema. Então, você está acima do peso, mas não está indicando nenhum problema hoje. Mas o que está mostrando esse estudo, é que isso de você estar acima do peso e “saudável” não é um indicador que você pode colocar confiança, porque a maioria das pessoas parece acabar sendo diagnosticada depois com síndrome metabólica e quanto mais tempo você fica nessa condição, mais vão aumentado seus riscos cardiovasculares de forma linear. Esse estudo foi uma análise estatística de uma enorme base de dados, então não é um ensaio clínico randomizado. Mas é mais um estudo que vem participando desse corpo de evidências, quebrando essa falácia… Esse mito de que você pode estar obeso, muito acima do peso, e ao mesmo tempo saudável e achar que isso vai durar muito tempo.

Dr. Souto: O ponto chave do que você disse é: achar que isso vai durar. Ela é uma situação instável. Se vocês quiserem uma analogia, pensa num banquinho com três pés. Se eu tive rum banquinho com três pés, eu deixo ele no canto da sala… Se eu voltar daqui um ano, o banquinho vai estar ali. Ele é estável. Agora pensa num peão. A gente deixa o peão girando em cima de um pezinho… Em cima de um eixo só. Mas essa não é uma situação estável. Ela é uma situação instável. Nós sabemos que, mais cedo ou mais tarde, o peão vai cair. A situação da obesidade pode ser uma situação aparentemente saudável, mas é como o peão que está girando. Aquilo está fadado a se instabilizar dali adiante. O problema é que existe uma janela de tempo. Daqui a pouco, por alguns anos, os exames estão bem, o sujeito se convence de que ele está fazendo certo… Enfim, ele faz exercício, ele vai na academia, os exames estão bons. Ele não se dá conta de que essa é uma situação que não irá persistir. Eu acho que essa é a mensagem. A pessoa deve buscar uma mudança de hábitos que produza um peso mais adequado. O corpo não foi feito para subsistir numa situação de obesidade.

Rodrigo Polesso: Acho que o ponto é exatamente esse. As pessoas precisam entender também que existe uma variação de qual é o peso ideal de pessoa para pessoa. Algumas pessoas têm mais peso naturalmente, e isso é normal. Normalmente esses estudos falam em obesidade… Obesos metabolicamente saudáveis. Não é aquele quilinho acima, você estar um pouco mais cheinho. É mais peso. Quando é óbvio que você está acima do peso. Não ache que você precisa ficar magro como modelo de revista, porque esse peso não é, nem de longe, o mais saudável para a maior parte da população.

Dr. Souto: Não estamos falando num critério estético. Estamos falando, então, em diminuir a gordura visceral. Em perder centímetros de cintura. Em reduzir a gordura do fígado. Em reduzir a gordura do pâncreas. Então, a pessoa não precisa… Vamos dizer, ficar bem de biquíni. O que nós estamos falando é outra coisa.

Rodrigo Polesso: Exatamente. Bom, vamos fechando aqui, como a tradição manda… Vamos comentar o que a gente degustou na última refeição. Dr. Souto, agora é de manhã para você aí. O que você comeu ontem à noite, se é que você lembra. Ou se você comeu alguma coisa no café também, por que não compartilhar?

Dr. Souto: Então, no café da manhã, como eu disse, eu tenho comido alguma coisinha. Eu comi um pãozinho low carb. Eu passei um requeijão. Acho que é a mesma coisa que eu respondi na semana passada. Fiz um café expresso. Normalmente é isso aí. Às vezes eu faço diferente, faço um pudinzinho de chia feito na hora… Boto Whey de chocolate ou de baunilha para ter uma proteína de manhã… Às vezes são ovos… Antes mesmo desse ensaio clínico novo, eu tenho feito essa experiência de botar uma proteinazinha de manhã e realmente quase que abolir a janta. Ontem de noite, por exemplo, eu comi um bolinho de caneca que eu fiz. E isso foi tipo antes das 8 da noite.

Rodrigo Polesso: Eu estava falando antes da gente entrar no ar aqui… Essa questão de jantar cada vez mais tarde. No Brasil e em alguns países, Espanha e etc… Países latinos, o pessoal tende a jantar cada vez mais tarde. E a gente vê que se essa questão de colocar as calorias mais para a primeira parte do dia é realmente positiva, você coloca-la o mais tarde possível parece negativa. Isso parece fazer sentido independente de ciência, comer tarde a maior refeição do dia… Seja uma má ideia. Então, é um hábito que talvez a gente tenha que repensar. Encher a pança e depois ir dormir…

Dr. Souto: Salvo, né, Rodrigo, se a pessoa faz isso, gosta e está dando certo.

Rodrigo Polesso: Salvo se está tudo ótimo. A não ser que a pessoa esteja se enganando em achar que está tudo bem. Eu vejo muito esse erro também. Pessoas que se enganam, que estão se sentindo bem, para justificar a posição que elas não querem mudar. Eu não vou nem comentar veganos a respeito disso.

Dr. Souto: Essa história do comer muito tarde é uma característica dos países latinos. Quem já esteve fora e conhece a cultura de outros países… É normal em países não latinos a janta ser tipo 18:30. Uma coisa assim. Essa história de preparar comida às 21 horas para comer às 22 é um negócio muito brasileiro e latino. Se a pessoa se sente bem, está dando certo, está perdendo peso, está feliz… Não vejo problema nenhum. Estamos falando para aquelas pessoas que querem otimizar e que já consertaram a base da sua dieta. Que não estão comendo lixo. Porque comer lixo mais cedo continua sendo lixo. O lixo não vira ouro porque você comeu antes das 19.

Rodrigo Polesso: Não. Exatamente. Eu morei na Noruega 3 anos. É da cultura deles ter um almoço bem simples, basicamente um sanduíche. É tradicional. Mas a janta deles é muito cedo. Muito cedo. Tipo 4 e meia da tarde, 5 horas… É normal o pessoal ter janta. Seis horas para o pessoal que vai trabalhar. É muito diferente da cultura latina. Eu particularmente tento me adaptar bem assim. Eu não tomo café da manhã. Eu tomava antigamente. Por muitos anos eu tomei. Hoje em dia eu me dou super bem não tomando. Eu como ao meio-dia… Ou para academia como um pouco mais tarde… A minha janta é 6 horas, 7 horas no máximo. Depois disso, acabou também. Não fico comendo depois disso. Cada um tem que achar seu ponto. Por que não testar? Como a gente sempre fala. Testar é bacana por 1 semana, 2 semanas. Vê como você se sente. Aí você toma a bendita da decisão. Não existe regra para todo mundo.

Dr. Souto: E aí em Taiwan, o que você comeu? Algum inseto? Algum bicho estranho?

Rodrigo Polesso: Então… Estou pensando em até gravar um vídeo, porque eu vou no mercado noturno de novo. Eu estava meio com medo. Eu sempre tenho medo de comer fora durante a semana porque durante a semana eu sou religioso a respeito da qualidade da alimentação. Final de semana eu abro um pouco de exceção quando estou viajando. Aqui eu fui no mercado noturno duas semanas atrás… E gravei para o Instagram… Coloquei lá… Comi – pasme, Dr. Souto, você ia adorar isso aí – caramujo no espetinho.

Dr. Souto: Ave.

Rodrigo Polesso: Você tem que falar, “Que legal! Que gostoso!” Eu postei achando que ia ser popular, me lasquei. A galera… “Nossa, nem pagando.” “Nossa, nem se fosse a última coisa do mundo.” Eu vi várias dessas vendas, na verdade. Não foi uma vez que eu vi e comprei. Eu vi várias. Em vários lugares o pessoal vendendo caramujo. Aí eu pensei: “Pô, eles não são loucos. Para estar vendendo isso aí, deve ser bom. Se tem tanta gente vendendo…” Eu experimentei e o gosto é muito parecido com polvo. Sabe o polvo, lula da vida, que não tem gosto? É mais de mastigar assim? É basicamente a mesma coisa. Ele tem gosto do sal, do tempero que você escolhe para colocar em cima. Não tem nada de errado.

Dr. Souto: Falando sério… Obviamente, todas essas coisas são culturais. Por exemplo, eu teria uma aversão a comer uma barata, um negócio assim. Mas eu como camarão e acho ótimo. Se a gente olhar os dois com as perninhas, com as anteninhas… São bem parecidos. Acho que… Os biólogos me digam se estou errado, mas acho que até o filo é o mesmo. Se não é, é próximo, do ponto de vista evolutivo. Os dois são bichos cheios de pernas, antenas e meio bizarros assim, só que eu adoro camarão e eu não tenho vontade de comer barata. Mas é uma coisa cultural. Eu me imagino vivendo num universo paralelo onde camarão fosse nojento e barata fosse uma iguaria. Eu sei que é cultural, mas eu estou inserido nessa cultura. Então, caramujo não é um negócio que eu tenha muita vontade.

Rodrigo Polesso: Eu também não. Com certeza não. Se um dia eu estiver numa floresta, estiver chovendo muito e não tiver comido, já sei que posso olhar no chão para coletar essa fonte de nutrição. Outra coisa que o pessoal vende aqui muito é polvo. Polvos pequeninhos. Eles colocam no espeto inteiro. É uma coisa que você não sente vontade de comer olhando, porque é um polvo. Você vê todos os tentáculos lá. Uma coisa meio bizarra. Mas vende demais. Eu comprei também. O gosto é muito bom, na verdade. Eu escolhi com cúrcuma por cima… Você escolhe com sal rosa… O que você quiser, você coloca em cima. É muito gostoso também, mas é uma diferença cultural. Você tem aquele preconceito do alimento sem antes provar. Mas enfim… Não estou baseando minha alimentação nisso. Agora de janta eu comi bacon, ovos, um pedaço de queijo brie… Mas eu confesso que comi um daqueles ovinhos conservados de perdiz. É uma nova paixão que eu descobri aqui. Por que não aproveitar? É gostoso. Enfim… Acho que vou gravar… Sexta-feira agora vou de novo nesse mercado noturno, porque eu não tenho medo mais. É muito fácil encontrar alimentação forte. É muito fácil encontrar o polvo lá no grill… Ou o caramujo, que seja. É muito fácil encontrar carne. Eles cortam a carne na hora e cozinham no grill com maçarico. Eu falei, “Caramba! É muito prático.” Então, é muito fácil comer. Agora vai num mercado desse na América do Norte ou até no Brasil… Você vai encontrar o quê? Pão de tudo que é jeito, doce de tudo que é jeito, porque o pessoal não vai querer comer o polvo… A carne faz mal, não sei. Então, sei lá. Tem que aproveitar também. Vou tentar gravar e postar no YouTube isso aí. Aproveitando, siga a gente no Instagram, se você quer ver essas peripécias. Dr. Souto é o @jcsouto. Eu é @rodrigopolesso. Siga a gente lá para acompanhar tudo isso aí. Dr. Souto posta direto também… Foto de comida low carb… Se não falasse que era low carb embaixo, não iam perceber nunca que aquilo é comida, Dr. Souto.

Dr. Souto: Eu volta e meia mostro as fotos do Instagram para paciente que está consultando. “Olha aqui. Não pensa que estou te propondo uma coisa restritiva, sofrimento. A gente come bem.”

Rodrigo Polesso: Enquanto uns comem caramujos, outros ficam comendo essas delícias lindas.

Dr. Souto: Entre caramujos e cogumelos recheados, eu prefiro cogumelos recheados.

Rodrigo Polesso: Cogumelo recheado também, com certeza. Maravilha, pessoal. É isso aí. Nosso show se fecha por hoje. Espero que tenha sido útil para você. Se você não é membro da Tribo Forte ainda, entre lá: TriboForte.com.br. Faça parte desse movimento. Vista a camisa você também. Aproveite os benefícios. A gente se fala na próxima semana. Dr. Souto, um abraço. Até lá.

Dr. Souto: Abração. Até lá.