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No Episódio De Hoje:

  • O que comer depois de fazer jejum? Como deve ser a primeira refeicao?
  • Fatos chocantes sobre quem deveria ser modelo de saúde nos Estados unidos.
  • Estatinas, um dos remedios mais consumidos do mundo teria beneficios questionaveis e maleficios ainda maiores?

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Referências

Artigo Military Times

Estatinas Causar Danos Musculares

Estatinas em Pessoas Com Baixo Risco de Doença Cardiovascular

 

 

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Olá! Bem-vindo a mais um podcast aqui da Tribo Forte. O podcast número 1 sobre saúde e estilo de vida saudável. Eu sou Rodrigo Polesso e hoje a gente vai falar sobre os seguintes assuntos nesse podcast: o que comer depois de fazer jejum? Como deve ser a sua primeira refeição depois de um jejum prolongado, por exemplo? Fatos chocantes sobre quem deveria ser modelo de saúde nos Estados Unidos. E outra: estatinas, um dos remédios mais consumidos do mundo teria benefícios questionáveis e malefícios ainda maiores? Será? Vamos ver. Esse episódio vai ser interessante. Acho que você vai curtir de saber desses fatos um tanto inusitados e até divertidos. Tristes, mas divertidos de conhecer um pouco, e é nosso papel aqui passar para você da forma mais simples possível. Então, dr. Souto, tudo bem por aí?

Dr. Souto: Tudo bem! Boa tarde, Rodrigo. Boa tarde aos ouvintes.

Rodrigo Polesso: Beleza! Por que não a gente começar com uma pergunta da comunidade sobre jejum? A pergunta vem do Fábio Campos Teixeira. Ele fala: “Boa tarde, venho praticando a dieta paleo com jejum intermitente já há alguns meses e os resultados estão sendo empolgantes. Tenho acompanhado os excelentes vídeos do YouTube sobre jejum e observei que o assunto é abordado de forma segura, clara e objetiva. Porém não localizei a abordagem sobre o que comer após um jejum prolongado, ele fala, de 5 dias, por exemplo. Entendi que devemos excluir os carboidratos que elevam a insulina, porém a dúvida é se na primeira refeição pós jejum tenha que ser obrigatoriamente uma alimentação “leve”, frutas, verduras, etc. Ou pode ir direto para um espeto corrido comendo apenas carne gorda?” Então, a pergunta dele, em poucas palavras é quando você faz um jejum intermitente, ou até um jejum um pouco mais prolongado, qual deveria ser a sua primeira refeição para quebrar esse jejum? Dr. Souto quer pegar essa bola aí?

Dr. Souto: Pode ser. Eu acho que a resposta para isso vai ser uma resposta empírica. Não vai ser uma resposta baseada em evidências. Não tem um estudo que eu possa citar. Aquela experiência de quem já fez isso… que eu sei que você Rodrigo já fez, eu já fiz e a experiência que a gente tem de consultório. A ideia, eu acho, seria de primeiro de fazer uma refeição mais leve. Não precisa nem ser uma refeição completa. Seria, por exemplo, assim: come umas nozes, come um enroladinho de presunto e queijo, uma coisa assim. Deixa aquilo assentar no estômago, deixa o efeito hormonal dessa alimentação se instalar, diminuindo, por exemplo, os níveis de grelina que vão estar bem altos. Grelina é um hormônio associado… quando o estômago está bem vazio a grelina se eleva e isso tende a provocar fome. Então, a grelina ela vai aumentando com o passar das horas e dos dias de jejum. Então a gente deixa se instalar um pouquinho da saciedade dessa alimentação inicial. Eu acho que isso é interessante, por quê? Porque se o sujeito for, aí como disse o nosso leitor ouvinte, pra um espeto corrido, daqui a pouco ele vai estar com muita fome, vai comer mais do que ele deveria comer, vai parar de comer só quando estiver com a barriga doendo de tanto comer, depois vai se sentir mal. Quer dizer, às vezes é uma coisa… não precisa ser assim.

Rodrigo Polesso: Bom senso, não é?

Dr. Souto: Eu acho que a gente pode… É, bom senso. E o dr. Jason Fung é talvez o maior expert em jejum intermitente, no seu livro sobre o assunto orienta justamente isso. Ele sugere, então, que um jejum mais prolongado seja quebrado de uma forma mais suave, com uma pequena pré-alimentação antes. Ele diz assim que pode ser até uma salada. Come uma salada e aí espera um tempo. O que você acha, Rodrigo? Qual é a sua experiência?

Rodrigo Polesso: Exatamente a mesma ideia que você. Eu acho… fazer uma… comer umas folhas ou umas nozes, umas coisas pequenas, tipo um snack logo antes de você almoçar para realmente estimular todos os sucos gástricos, todo o sistema hormonal e depois fazer uma refeição. Para justamente… Se você ficou principalmente 5 dias sem comer, você vai no espeto corrido e enche o estômago de coisa, depois você vai se sentir mal com certeza porque teu corpo não está preparado. É 8 ou 80, não é? É melhor ficar mais ou menos no meio aí. E, claro, isso assumindo que você fez um jejum muito prolongado. Porque se você fez um jejum intermitente, 16 horas… 18… até 24 horas, eu particularmente não vejo porque fazer nenhuma modificação especial na forma como você come logo depois desse jejum, porque é um jejum mais curto, nesse caso. Então acho que nenhuma necessidade especial precisa ser feita. Essa observação sobre cuidado especial seria mais para jejuns mais prolongados, na minha opinião, a partir de dois dias, como ele falou cinco dias que é bastante aqui.

Dr. Souto: É, isso aí. De fato, Rodrigo. Eu penso… todo mundo a rigor, a não ser que a pessoa nunca durma… cada vez que a pessoa dorme, ela vai quebrar o jejum. Tanto que o termo em inglês para café da manhã é breakfast. Break Fast, quebrar o jejum. E o termo em português, especialmente em Portugal se usa é o desjejum. Ou seja, quebrar o jejum. Então 12 horas, por exemplo, deveria ser o normal de todo mundo. Como eu sempre digo, a pessoa jantou às 20h, vai tomar um café às 8h. então, obviamente não precisa de nenhum cuidado especial para um jejum curto como 12… 16 horas.

Rodrigo Polesso: É, isso aí! Bom, maravilha! Olha só, o primeiro tópico que eu quero falar aqui é um fato bastante interessante. Um artigo no jornal The Military Times tem a seguinte manchete: A força militar americana tem um enorme problema com obesidade que só está piorando. Veja, em 2001 a quantidade de homens obesos na força militar americana era de 1,3%. Agora é de 7,4%. É um aumento de quase 600% em apenas 16 anos. A quantidade de mulheres obesas era de 3,2% e agora é de 10,3%. Mais de 300% de aumento. Bom, será que esses militares estão comendo errado e sendo preguiçosos, não é verdade? A Nina Teicholz que postou também sobre esse artigo, ela falou: “Viu, isso que dá ser preguiçoso.” Um militar preguiçoso vai ficando gordo. Será que é esse o problema? Bom, militares vivem em um regime controlado. A gente sabe, eles comem de acordo com as diretrizes americanas de alimentação e se exercitam rotineiramente e intensamente, muitas vezes. Ou seja, os militares deveriam ser os melhores modelos possíveis da estratégia de estilo de vida saudável pregada pelos Estados Unidos. E o que a gente está vendo aqui é fato, é o exato oposto, é um absoluto desastre o que vai acontecer. É mais um prego nesse caixão das diretrizes padrão americanas e, porque não também brasileiras, de você consumir alto carboidrato, todos esses grãos integrais, todo esse tipo de coisa. Por mais que você se exercite, como a gente vê até os militares, isso não consegue anular o efeito negativo causado por essa alimentação que leva as pessoas a ficarem cada vez mais obesas. Não é verdade?

Dr. Souto: Esse exemplo aí é muito bom. Porque, se você acredita que todo problema da obesidade se resume a: você come calorias demais e gasta calorias de menos, o famoso calories in, calories out (calorias que entram, calorias que saem), a conclusão necessariamente, como diz o Gary Taubes, é o seguinte: o problema é preguiça e gula. É comer muito e ser preguiçoso. Poxa vida, como o Rodrigo disse, eles são militares de um exército altamente disciplinado, que é o exército norte americano. Então, vai dizer que eles são indisciplinados? Vai dizer o que? Que eles são preguiçosos? Isso é gente que corre todos os dias, que faz um treinamento severo. E gente que é disciplinada na sua vida. Se mandam eles fazerem uma determinada coisa, eles fazem. E então a ideia aqui é que justamente eles estão ficando com problema de obesidade não porque eles não fazem, mas porque eles fazem aquilo que mandam fazer. Eles realmente devem estar comendo 60% de carboidratos e um monte de grãos, está certo? Porque, afinal, mandaram eles fazer, eles vão fazer.

Rodrigo Polesso: Exato. Eles deviam servir de modelo que essa diretriz, essa estratégia funciona. Mas é um modelo perfeito de que não funciona. Então, coitada da população que tem que seguir a mesma coisa.

Dr. Souto: Então, acho que não deixa de ser um… chamado experimento natural. É aquele no qual ninguém desenhou um estudo, mas naturalmente, pelo tipo de pessoa que segue essa carreira, pelas demandas que a carreira coloca pra eles, eles tendem sim a ser pessoas mais  disciplinadas e tendem sim a ser pessoas que praticam bastante atividade física. E a gente vê que o problema, então, não é falta de exercício.

Rodrigo Polesso: Exatamente. Então fica aí, fica a pulga atrás da orelha, pessoal. Vamos lá. Estatinas. A gente já falou sobre esse assunto antes no podcast mais de uma vez. Estatinas causam mais mal do que bem será? Tem um artigo novo aí no jornal Express do Reino Unido que diz o seguinte a manchete: “Estatinas podem causar danos musculares. Nova tempestade sobre estatinas acontece enquanto experts discutem os seus benefícios.” Isso é resultado de uma nova revisão que teve sobre essa questão das estatinas. A parte crucial disso tudo, e nós já falamos, como disse, mais de uma vez sobre estatinas é o seguinte: o dr. John Abramson, que é um especialista em política de saúde da Escola Médica de Harvard, reviu, fez uma revisão de um estudo que foi originalmente publicado no jornal americano da Sociedade Médica. Ele encontrou que 217 pacientes precisariam tomar estatina para que se prevenisse um caso de ataque cardíaco não fatal e 313 pessoas teriam que tomar estatinas para que se prevenissem um caso de infarto não fatal. Ele também reportou que pelo menos uma pessoa em cada 21 que tomam estatina, sofre danos musculares (esse efeito colateral) e uma em 204 desenvolve diabetes. Então, olha só, imagine um médico te fazendo a seguinte proposta, vamos ver o que você vai decidir. Um médico fala: eu tenho uma droga fantástica chamada estatina. Tomando ela você tem 0,4% menos chances de ter um ataque cardíaco não fatal. E 0,3% de chance menor de ter um infarto não fatal. De bônus você tem um risco aumentado de 4,7% de sofrer danos musculares e 0,5% de desenvolver diabetes. Em resumo: você tem o benefício total de 0,7% de diminuição de risco e um aumento de 5,2% de sofrer efeitos colaterais. E aí, topa tomar isso aí?

Dr. Souto: Então vamos explicar para o pessoal. Essa é a notícia que foi gerada, a notícia que a imprensa britânica publicou. Mas o estudo é um estudo muito sério. É um estudo que… quem é da área da saúde, nós vamos deixar o link. É de um site espetacular chamado The NNT. NNT é number necessary to treat, quantas pessoas eu preciso tratar para beneficiar uma. E ele é um estudo que tem, então todas as suas referências além dessas conclusões que o Rodrigo leu, te todo um texto, um arrazoado. E a questão é: eu estou absolutamente convencido, Rodrigo, que a forma certa de conduzir as coisas deveria ser exatamente como você falou agora. Porque muitas vezes quando a gente pressiona determinados médicos que são favoráveis a determinadas intervenções… Se a gente chega e diz assim, olha, pessoas de baixo risco para doença cardiovascular… que nós estamos falando aqui não é de quem está com stent na coronária, ou em quem já enfartou. Essas são pessoas de alto risco e para essas o uso das estatinas tem um beneficio bem maior. Nós estamos falando para as pessoas de baixo risco, que corresponde a pelo menos 70% de todas as pessoas que estão usando o remédio no mundo atualmente. Quem são essas pessoas? São pessoas que só tem o colesterol um pouco alto. O colesterol passou de 200 o médico disse: olha, melhor tomar uma estatina para baixar esse colesterol. Isso corresponde a 70% das pessoas que usam o remédio. Pessoas que você coloca na calculadora de risco cardiovascular e o risco é baixo. Nessas pessoas, você pergunta para alguns médicos e eles vão dizer: não, mas tem benefício, reduz o risco. Mas aí você diz: tá, mas a redução do risco é 0,4%. Aí ele diz assim: ah, mas 0,4% são 4 em mil pessoas, portanto são 40 em 10.000 pessoas, são 400 em 100.000 pessoas. Aí, eu sempre coloco… quando a discussão chega nesse ponto, eu digo: tá, e você diz isso pro paciente? Diz para ele o seguinte… Porque a forma de comunicar isso deveria ser a seguinte: a redução do seu risco pessoal é de 0,4%, ou seja, 217 pessoas na sua situação teriam que tomar o remédio para que uma delas tenha o benefício de evitar o ataque cardíaco não fatal. Porque veja bem, a gente não reduz a chance de morrer em pessoas de baixo risco. Os estudos não mostraram que reduz mortalidade, eles mostraram que reduz o risco de eventos não fatais, e mesmo assim um em cada 217 pessoas. E aí a gente completaria: mas eu acho que você deve tomar o remédio mesmo assim para melhorar a estatística de saúdo do IBGE, do governo. Por quê? Porque em um milhão de pessoas nós talvez melhoremos 4.000 pessoas. Está certo? Então a pessoa tem que ter o direito de saber os números e saber se ela quer fazer um sacrifício pessoal de tomar o remédio pelo resto da vida, correr o risco dos efeitos colaterais, sendo que ela tem apenas uma chance em 217 de ser ela a sorteada para não ter esse infarto não fatal. Mas ela tem uma chance em 21 de ser a sorteada para ter dano muscular, ela tem uma chance em 204 de ser sorteada para desenvolver um diabetes de graça, que ela não desenvolveria se não estivesse tomando a droga. É assim… A gente tem que ser honesto. Me perguntaram num evento onde eu dei uma palestra… Em Volta Redonda. Uma colega cardiologista que estava assistindo a palestra levantou a mão depois, na hora das perguntas, e colocou o que eu achava das estatinas. Eu respondi exatamente isso. Eu acho que a gente tem que ser honesto e fornecer os números absolutos, e não o risco relativo. Risco relativo é picaretagem. É desonestidade. Risco relativo é assim… A pessoa tinha 0,8 de risco. Agora tem 0,4, então ela reduziu em 50% sua chance. Isso é picaretagem, porque a pessoa acha que uma redução de 50% é assim… Ela tinha 100% de chance de morrer daqui um ano, agora ela só tem 50%. Ela imagina na cabeça dela que 50% é isso, quando na realidade o correto é dizer… Reduziu em 0,4, e ainda colocar para ela: 0,4 significa 1 em 217. Então, se a gente for honesto e colocar desta forma para o paciente… Mas se o paciente for tão apavorado com a perspectiva de um evento cardíaco… Porque seu pai, porque sua esposa teve um evento cardíaco e ele está traumatizado… Ele vai dizer, “Olha, mesmo sendo 1 para 200, eu quero tomar.” Aí eu acho que está certo. Mas a gente tem que ser honesto. E vou dizer, Rodrigo: A maioria das pessoas não comunica com honestidade esses números para os pacientes.

Rodrigo Polesso: Concordo plenamente. Eu tendo a acreditar também. O pior é que essa pequena diferença… O próprio Dr. John Emerson fala o seguinte… De Harvard. “Para esses pacientes com baixo risco, existe uma pequena redução estatisticamente significante no risco de doença cardíaca e infarto (que é esses números que a gente acabou de falar).” Ele continua. “Mas essa diferença pode não ser clinicamente significante. E esse estudo mostra que não existe aumento de longevidade.” Ou seja, essa diferença de 0,4% de potencial benefício é muito discutível se ela existe por si só.

Dr. Souto: Para mim… Eu… Eu que estou aqui falando. Uma diferença de 0,4 para mim é absolutamente irrelevante do ponto de vista clínico. Eu jamais tomaria uma medicação se me dessem estes números. Essa é a minha opinião. Mas eu concordo… Acho que o paciente deve fazer parte da tomada de decisão. A gente já falou sobre isso num outro podcast. Hoje em dia se usa esse termo. Se chama “decisão compartilhada”. Nós já saímos da época impositiva da medicina onde o médico era uma figura de autoridade que dizia assim: “Rodrigo, você tem que tomar esse remédio.” Aí o Rodrigo pergunta: “Mas, por quê?” Eu digo assim: “Tem que tomar porque estou mandando. Eu sou o médico. Eu sei. Eu estudei para isso.” Isso não existe mais. Se você vai num médico e ele tem esse tipo de atitude, você tem todo o direito de procurar uma segunda opinião. Nenhuma entidade médica… Nenhum curso de ética médica… Nenhuma faculdade de medicina ensina mais, hoje em dia, no Século XXI, os médicos a terem esse tipo de comportamento. Hoje em dia a palavra de ordem é: decisão compartilhada. Ou seja, você informa o paciente dos riscos e benefícios. Ele vai pegar isso… Misturar com seus valores pessoais e ajudar você a decidir se é melhor ou não ele seguir esse rumo de tratamento, sabendo dos riscos e sabendo dos benefícios. Essa é a forma como a gente deve conduzir a medicina atualmente. Então, acho que todo paciente deve saber sempre esse numerozinho: NNT (Number Necessary to Treat). Ou seja, o número de pessoas que a gente precisa tratar para que uma se beneficie. Acho que muitas pessoas estão tomando remédio porque imaginam que o benefício é muito grande quando, na verdade, o benefício é na ordem esse aí: 0,5%.

Rodrigo Polesso: É. Você falou dos médicos… Acho que até a própria palavra “doctor” em inglês vem do grego que significa “ensinar”. “Informar e ensinar”. Hoje em dia a gente vê os médicos fazendo o oposto disso. Colocando goela abaixo… “Está aqui a prescrição. Tchau. Toma isso aí.” Não informando o paciente… Não ensinando o paciente como ele pode viver uma vida melhor, ou informando as opções que ele tem na mesa. Estatina é a droga mais prescrita no Reino Unido. E é tomada rotineiramente por 12 milhões de pacientes. Um a cada quatro adultos no Reino Unido toma estatina. Outros estudos… Informações desse artigo que vou colocar o link depois na referência… Estudos mostram que até 6 pessoas em 10… Até 6 em 10 pessoas sofrem efeitos colaterais de estatinas. É relacionado à impotência, dores musculares, problemas mentais, fadiga e diabetes. A gente está falando de 1 em cada 21 para ter danos musculares… Até 6 de cada 10 sofrem efeitos colaterais de estatinas para uma chance de talvez ter 0,4% de benefício. Quando visto dessa forma, é bem interessante. A gente discutiu somente um efeito colateral. E todos os outros? Vale menos a pena ainda.

Dr. Souto: É. Você falou uma coisa importante, Rodrigo. Acho que vale salientar para as pessoas. A diferença entre uma coisa estatisticamente significativa e uma coisa clinicamente significativa. Estatisticamente significativo representa apenas o seguinte conceito. De que aquela diferença que eu encontrei entre o grupo que tomou o remédio e o grupo que tomou o placebo… Que aquela diferença tem uma chance muito pequena de se dever ao acaso. Então, eu tenho 95% de chance de que essa diferença encontrada entre os grupos seja uma diferença real… Seja por causa do remédio. Agora, a diferença, embora estatisticamente significativa… Se for uma diferença ínfima, como é o caso… Ela não é clinicamente significativa. E qual é a questão? Os laboratórios científicos sabem que muitas vezes os médicos das pessoas, enfim… Não tem clareza da diferença dessas coisas… Do que é uma coisa clinicamente importante e do que é uma coisa estatisticamente importante. E não é difícil a gente conseguir uma diferença estatisticamente significativa desde que a gente tenha muito dinheiro. Como que a gente faz isso? Faz um estudo muito, muito, muito grande. Se eu conseguir recrutar 25, 30 mil pacientes para meu estudo científico, eu consigo mostrar diferença estatística mesmo que seja… Vamos imaginar um remédio para pressão. Um remédio para pressão que reduz a pressão sanguínea em 2 milímetros de mercúrio. A pessoa tinha uma pressão de 12 por 8. 120 por 80. Agora ela vai ficar com 118 por 78. É uma coisa clinicamente significativa isso? É claro que não. De 120 para 118 não muda nada. Mas se eu tiver 100 pacientes no meu estudo, eu consigo provar que esse remédio com certeza baixa 2 milímetros de mercúrio. Então, é estatisticamente significativo. Essa redução de 2 milímetros de mercúrio é por causa do remédio mesmo, não é ao acaso. Mas e daí? O que que importa? Quem se importa com 2 milímetros de mercúrio? É isso que a gente quer passar para quem está nos ouvindo. Nem sempre quando um estudo mostra uma melhora estatisticamente significativa, isso é importante de fato na sua vida. Tem que ver se há uma melhora grande. Reduzir em 0,4% a chance de ter um evento cardíaco não fatal às custas de aumentar em quase 5% o risco de ter efeitos colaterais… Na minha forma de ver… José Carlos Souto… Na minha forma de ver… Não é clinicamente significativo. É clinicamente um absurdo.

Rodrigo Polesso: Exatamente. Assino embaixo. Tenho exatamente a mesma opinião. Tenho mais algumas informações para compartilhar sobre esse mesmo artigo. Eles falam o seguinte. “O novo estudo revisou o resultado de 22 dos maiores estudos sobre estatinas. Todos os exceção de um só foram patrocinados pela indústria farmacêutica.” Agora, o interessante é o seguinte. O acesso aos dados originais desses estudos patrocinados é proibido por causa de confidência comercial. O Sir Richard Thompson, um presidente prévio do Royal College of Physians pede uma revisão independente de estatinas, insistindo que a decisão final do uso deve ser feita pelas pessoas sem vínculo nenhum financeiro ou conflito de interesse científico. Para fechar com chave de ouro, depois disso tudo que a gente falou aqui… Olha só… Um porta-voz da Agência Regulatória de Saúde e Medicamentos vem e diz o seguinte: “Os benefícios das estatinas estão bem estabelecidos… E considerados gerarem mais benefícios do que efeitos colaterais na maioria dos pacientes.” Dr. Souto, que tipo de dissonância esse cara tem?

Dr. Souto: Eu vou fazer uma analogia para as pessoas entenderem esse problema de porque que o… Porque que é grave o fato de não se ter acesso aos dados primários desses estudos promovidos pela indústria. Primeiro o seguinte… Já foi feita uma revisão sistemática comparando… Se nós pegarmos só os estudos patrocinados pela indústria e se nós pegarmos só os estudos que têm patrocínio público… De estatinas. E imagina qual foi o resultado, Rodrigo? Os que tinham verbas públicas não mostraram praticamente nenhum benefício em pacientes de baixo risco. Estou falando sempre em pacientes de baixo risco. Não estou falando da pessoa que enfartou mês passado. Enquanto os que eram patrocinados pela indústria mostravam benefício… Pequeno, como esse que estamos mostrando aqui, mas mostravam. Mas vamos imaginar o seguinte. Imagina que houve… Eleições. E que o resultado das eleições deu muito próximo, com uma diferença de 0,5% entre um candidato e outro. E aí os candidatos pedissem à Justiça Eleitoral que fizesse uma recontagem dos votos. E a Justiça Eleitoral dissesse, “Não, é segredo. É proibido fazer a recontagem dos votos. Ninguém pode ver. Ninguém pode olhar voto nenhum. Nenhuma urna eletrônica nem coisa nenhuma.” A gente ia desconfiar. Basicamente, o que está acontecendo é que esses grandes estudos que foram promovidos pela indústria farmacêutica… A indústria alega que todo o conhecimento… Banco de dados gerado por esses estudos é segredo industrial. É como se fosse o segredo da fórmula da Coca-Cola. Então, ninguém pode olhar. Você só tem que acreditar em nós, que os resultados são esses.

Rodrigo Polesso: Exatamente.

Dr. Souto: Vamos combinar que eles têm alguns motivos para enviesarem esses dados. E se isso parece uma coisa de teoria de conspiração… Vou contar uma historinha rápida aqui. Lembra da época que deu uma epidemia da gripe H1N1? E aí se falava só nisso… Realmente, tinha gente morrendo. E as pessoas estavam tomando um remédio chamado Tamiflu. O Tamiflu era um remédio que não tinha para todo mundo, então estava sendo racionado para ser usado por aquelas pessoas que estivessem realmente uma suspeita de ter essa gripe H1N1. Quem produz esse remédio é a Roche. E a Roche conduziu vários estudos. E adivinha? Os dados dos estudos eram propriedade industrial da Roche. Foram conduzidos estudos pela Cochrane… Essa instituição que faz revisões sistemáticas independentes, que não recebem dinheiro da indústria. E a Cochrane chegou à conclusão que parecia praticamente não haver benefício do uso do Tamiflu. O benefício parecia muito pequeno. Parecia muito menor do que um grande estudo feito pela Roche sugeria. Eles começaram a exigir que… Desculpa, a Cochrane começou a exigir que a Roche fornecesse os dados. E a Roche se negou. Houve uma troca de cartas e e-mails. E o pessoal da Cochrane resolveu fazer uma coisa sensacional. Publicou as cartas, tanto as enviadas como as respostas, no British Medical Journal. Isso provocou muito ressentimento… Muita raiva das pessoas quando isso veio a público. Depois de… Acho que levou alguns anos essa história… A Roche finalmente liberou os dados. E uma reanálise independente dos dados mostrou que, na maioria dos casos o Tamiflu não era melhor do que o placebo. Então, quer dizer, não é teoria de conspiração isso aí. De fato, é necessário que haja… Que um maior número de cientistas independentes… Instituições de pesquisa independentes tenham acesso aos dados e possam ver esses dados de forma crítica. É importante ter uma democratização disso. Dados que são extraídos de pacientes voluntários que contribuem com sua vida na realização desses estudos ficam sendo propriedade privada das empresas… Sim, legalmente elas têm esse direito porque pagaram pelo estudo, mas eticamente é uma coisa muito questionável. Especialmente quando vemos exemplos como esse que aconteceu com o Tamiflu nos quais a Roche acabou tendo que pedir desculpas.

Rodrigo Polesso: É isso que eu ia dizer. A pulga que fica atrás da orelha da gente é a seguinte. E os outros remédios? E as outras centenas de remédios que a população toma rotineiramente e que não recebem atenção como as estatinas ou Tamiflu? Quem nos promete que nós não estamos causando mais malefícios do que benefícios ao corpo no curto e no longo prazo? Tem muita coisa que a gente não sabe. Dr. Souto, você como médico sabe… As pessoas, dadas a opção… Tipicamente elas prefeririam não tomar remédio do que tomar, não é verdade?

Dr. Souto: Pelo menos a minha experiência de consultório é essa. Quando eu pergunto… É muito interessante, Rodrigo. Depende da forma como o médico coloca. Se você disser assim… Analisa os exames da pessoa… “Acho que seria bom tomar esse remédio aqui.” A pessoa vai dizer, “Está bem”. Agora, se você coloca de outra forma… “Olha, dada essa situação, nós poderíamos usar uma medicação. Mas, provavelmente, nós podemos obter o mesmo efeito se você perder uns 5 ou 6 quilos. E existe uma forma de fazer isso. Não é difícil. Não vai precisar passar forme.” A grande maioria diz, “Eu prefiro não tomar remédio”. Então, depende muito de como a coisa é colocada.

Rodrigo Polesso: É aquela questão que a gente estava falando. Essa decisão conjunta. Eu não sei… É a minha impressão… Eu acredito que no sistema público… Ou no dia a dia dos médicos… Até por eles não terem muito tempo com os pacientes… Não acho que exista muito essa conversa… Não sei o que você acha.

Dr. Souto: Não existe até porque a ênfase nisso na formação do médico é muito pouca. Eu sempre explico para as pessoas que um congresso de cardiologia ou endocrinologia não é focado em estilo de vida. O pouco que se fala em estilo de vida é mais ou menos como um disclaimer para não dizer que não falei no assunto. A pessoa bota um slide e diz assim: “No manejo do diabetes a alimentação e atividade física são muito importantes. Próximo slide.” Aí o próximo slide começa a entrar em mecanismos e remédios. A coisa é tocada… “Para não dizer que não falei no assunto.” Não é a ênfase. Não é o tópico principal. O sujeito passa anos aprendendo na escola… Na faculdade… Basicamente mecanismos e medicamentos. E procedimentos. Depois ele sai de lá e passa a frequentar a educação médica continuada. Os congressos. Os cursos. Onde basicamente é mecanismos, medicamentos e procedimentos. Isso passa a ser o paradigma. Acho que o ensino vai ter que mudar muito. Acho que nós temos um chão muito longo pela frente.

Rodrigo Polesso: É, com certeza. É bom ver também que muita gente está mudando. Alguns médicos decidiram mudar isso por si só e acabam inspirando as pessoas também. Existem alternativas. Existe gente que está mudando positivamente tudo isso. Então, é bacana. A gente só espera catabolizar… Ou melhor, catalisar, esse processo. Acelerando um pouco ou incentivando as pessoas a fazer isso de forma mais aberta. Bom, maravilha, Dr. Souto. Acho que esse episódio ficou completo, ficou bacana, com assuntos interessantes. A gente como sempre vai se falar no próximo episódio semana que vem. Por agora eu agradeço pelo seu tempo. A gente se fala.

Dr. Souto: Beleza. Obrigado. E até semana que vem.