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No Episódio De Hoje:

Neste podcast de hoje tocamos em alguns pontos importantes:

  • Será que o consumo de frutas é danoso e tóxico?
  • Novo escândalo na indústria do açúcar com a revelação de novos documentos que provam falta de integridade da conduta.
  • Crise de competência profissional no ramo da saúde.

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Ouça o Episódio De Hoje:

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Referências

Artigo no NY Time Sobre o Escândalo nos Estudos do Açúcar

Dr. Aseem Malhotra em Artigo para o Jornal The Guardian

Artigo na BBC Sobre Colesterol

Artigo no The Telegraph Sobre Remédios Prescritos de Colesterol que Não Previnem Ataques Cardíacos

Artigo de Peter Gøtzsche

 

 

Caso de Sucesso da Renata

Renata La Roque

 

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Olá! Bem-vindo! Eu sou Rodrigo Polesso e você está ouvindo o episódio número 90 do podcast oficial da Tribo Forte, sua dose semanal de saúde, de estilo de vida saudável. Hoje nós vamos falar sobre frutas. A gente vai falar sobre o quanto nós estamos ferrados se colocarmos a nossa saúde nas mãos da indústria e propaganda. A gente vai falar da qualidade e credibilidade de estudos científicos e também de competência profissional. Então, vamos que vamos! Dr. Souto, tudo bem por aí?

Dr. Souto: Tudo, boa tarde! Boa tarde aos ouvintes! Noventa, hein, Rodrigo!

Rodrigo Polesso: Logo, logo vamos para os três dígitos!

Dr. Souto: Sensacional!

Rodrigo Polesso: É muita coisa! Acho que a melhor forma de aquecer essa discussão de hoje aqui é responder essa pergunta da comunidade. Quem pergunta dessa vez é o Lucas Caitar, ele fala o seguinte: “Rodrigo, eu utilizo frutas como sobremesa. Principalmente laranja. A frutose in natura tem esse nível de toxicidade? Ou vai me prejudicar com resistência insulínica? Abraço!” Bom, ele postou essa pergunta num vídeo que eu fiz explicando, basicamente a questão dos açúcares, da glicose, da frutose, dizendo que a frutose é especialmente tóxica porque ela é metabolizada direto no fígado e provoca resistência à insulina lá direto. Mas eu estava falando de açúcar, ou, por exemplo esses xaropes de agave, essas coisas refinadas, enfim… doses exageradas, digamos assim, de frutose como ela sendo tóxica metabolicamente, principalmente para quem quer emagrecer e ser saudável. Daí ele perguntou, ele come frutas como sobremesa de vez em quando, principalmente a laranja e ele está preocupado se essa frutose da fruta que ele com como sobremesa vai ou não ser tóxica para o organismo dele e se pode prejudicar ou não na questão da resistência à insulina. Então vou rolar a bola para o seu campo, dr. Souto para você dar seu input aí.

Dr. Souto: É importante essa pergunta, porque da mesma forma que a gente comenta que o ideal seria se a gente tivesse palavras diferentes para chamar a gordura do nosso corpo e a gordura da dieta, senão as pessoas pensam numa e na outra… comer gordura, vou engordar, porque é gordura… o nome é o mesmo. Então, frutose… é uma pena que o nome desse açúcar lembre fruta. Então, essa substância frutose não está presente só na fruta e o lugar que mais tem frutose não é na fruta. O lugar que mais tem frutose é no açúcar refinado que é 50% frutose. E que por sinal vem da cana-de-açúcar que é uma gramínea, não é uma fruta. Então, sabe aquela frase: o veneno depende da dose? Isso se aplica perfeitamente a esse contexto. Então, o pouco de frutose que a gente vai ter nas frutas, para uma pessoa saudável, para uma pessoa que não é diabética, que não tem resistência à insulina, provavelmente essa pessoa pode comer fruta a vontade. E na realidade, se a gente ver a maioria dos estudos epidemiológicos, tudo bem, observacionais, mas não mostram nenhuma relação entre consumir frutas e desenvolver doenças. Pelo contrário, os estudos tendem a mostrar uma relação inversa: as pessoas têm menos doenças. Isso não significa que a fruta necessariamente proteja, mas é difícil a gente imaginar que ela cause doenças se ela está associada com proteção nos estudos.

Rodrigo Polesso: Só um adendo. As pessoas que comem bastante frutas como sobremesa, como ele falou, é um tipo de pessoa que tende a não comer um brownie de sobremesa, digamos assim, porque ela substitui aquele açúcar refinado por uma fruta. Eu me lembro na minha época, quando eu estava viciado em doces, eu queria comer pudim, brownie, quindim, coisas bem doces. Eu não queria nem ouvir falar em fruta. Então, eu imagino que você, uma pessoa que come fruta como sobremesa é um tipo de marcador de pessoa que tenta evitar essas outras alternativas talvez não tão adequadas assim.

Dr. Souto: É uma coisa que vai junto com outros bons hábitos. A pessoa, na realidade, é uma pessoa que se preocupa com a saúde, tanto que ao invés de comer brownie de sobremesa, vai comer fruta, e ela também, portanto, tende a ser uma pessoa que se exercita, uma pessoa que se cuida em outros aspectos da vida. Mas continuando na pergunta do nosso leitor. Tem alguns estudos, desses que estudam mecanismos, e eles mostram o seguinte: que a fruta consumida in natura… como ali também tem fibra, como ali também tem outras substâncias antioxidantes, etc., o efeito é diferente de consumir o açúcar refinado. Então mesmo que a gente esteja comparando, vamos dizer, consumir 10 gramas de frutose na forma de fruta versus 10 gramas de frutose na forma de açúcar, 10 gramas de frutose na forma de fruta parecem ser muito diferentes no seu efeito metabólico. O que a gente não pode confundir, o que tem que cuidar, é que nós estamos falando pra um público diverso. Então, daqui a pouco o sujeito que tem uma resistência à insulina severa, que tem diabetes (e ele não ficou assim por comer muita fruta, ficou assim por comer o brownie e o pudim que você estava falando aí, Rodrigo) essa pessoa já metaboliza mal mesmo pequenas quantidades de açúcar. E quem duvida, que faça o teste: pegue uma pessoa com resistência à insulina e síndrome metabólica, manda comer duas bananas e mede a sua glicemia, 30, 60, 90 minutos depois. Vai dar um pico muito elevado. Isso não vai acontecer numa pessoa saudável. Então depende da situação metabólica da pessoa e, claro, depende da quantidade. A pessoa comer uma ameixa, um pêssego de sobremesa depois de uma refeição, mesmo num contexto de uma dieta low carb visando emagrecimento e visando controle de síndrome metabólica, provavelmente não será problema nenhum. É diferente de comer uma salada de frutas e repetir.

Rodrigo Polesso: Ou fazer um suco com 15 laranjas.

Dr. Souto: Suco é outros quinhentos.

Rodrigo Polesso: A pessoa entende: fruta faz bem, então vou comer fruta de qualquer forma. E não quer dizer isso.

Dr. Souto: É, porque no suco a maior parte da fibra foi removida, mesmo que a pessoa diz assim: “foi batido no liquidificador, tem a fruta ali”, mas aqueles gominhos dentro dos quais o suco fica foram rompidos. A glicemia vai subir muito mais rápido do que ela subiria se a pessoa tivesse comido, mastigado e engolido uma fruta com bagaço. Então, suco de fruta está fora. É uma coisa que está tão bem estabelecida… e é claro, a gente está falando de fruta doce, não é limonada, suco de maracujá, nós estamos falando de suco de laranja, suco de uva, frutas doces. Está tão bem estabelecido isso daí que até as diretrizes da Sociedade de Pediatria mudaram este ano para recomendar que não se dê suco de frutas para crianças pequenas. Porque mesmo diretrizes que são tão conservadoras, que demoram para mudar já reconheceram. A literatura é pacífica no sentido de que suco de fruta não é muito diferente de dar açúcar para a criança.

Rodrigo Polesso: Exato! Talvez ainda pior, porque concentra frutose mesmo.

Dr. Souto: Então, resumindo é assim: se a pessoa tem realmente uma resistência à insulina muito grande, é diabético e tal tem que evitar fruta doce mesmo. Para a maioria das pessoas comer uma fruta de sobremesa não tem problema. É uma questão de dose, de quantidade. Agora, suco de fruta é diferente de comer fruta.

Rodrigo Polesso: Maravilha, acho que deu para entender bem. O pessoal deve ter entendido bem. Tem muita gente que precisa extrapolar o que a gente fala sobre fruta mas é sempre muito bom manter o contexto e manter o bom senso. O bom senso não faz mal a ninguém. Bom, a gente vai falar um pouco agora sobre algo interessante. Se você já acompanha nosso papo aqui há um tempo, você já está careca de saber que o açúcar é um enorme vilão do emagrecimento e da saúde no geral. Nesse ponto é até difícil de acreditar que o açúcar já foi tido como um alimento saudável e até remédio no início da sua existência como documenta muito bem, por sinal, o Gary Taubes no livro dele O Caso Contra o Açúcar. Agora, em pleno século XXI muita ainda acha que o açúcar é inofensivo. E quem não se importa nem um pouco de que isso continue dessa forma é a indústria do açúcar, que não faz a mínima questão da gente aprender que o açúcar faz mal. Há um tempo atrás a gente falou sobre um grande escândalo quando descobriram alguns documentos que haviam sido escondidos pela indústria do açúcar e que mostravam o quão danoso ele poderia ser à saúde. Bom, agora em novembro novos documentos vieram a público e mostram o tamanho da falta de integridade dessa indústria que mais uma vez, e na época, escondeu da população o fato de o açúcar ser sim danoso. Esse achado foi tema de um artigo no New York Times que começa da seguinte forma, ele diz: a indústria do açúcar patrocinou estudos em animais nos anos 60 que analisaram os efeitos do consumo do açúcar na saúde cardiovascular e então enterraram os dados quando eles sugeriram que o açúcar poderia ser danoso. Os documentos internos da indústria foram descobertos por pesquisadores da Universidade da Califórnia, em San Francisco, e foram descritos em um relatório publicado no jornal PLOS Biology. Os autores desse relatório dizem que tudo isso se adiciona a um corpo de evidência que mostra que a indústria do açúcar tem há muito tempo enganado o público e protegido seus interesses escondendo estudos preocupantes, tática essa também utilizada pela indústria do tabaco. Veja, a Sugar Association, o grupo que conduziu esses estudos no passado, se pronunciou em relação a esse novo relatório dizendo que é um conjunto de especulações. Ainda, eles adicionam que o consumo moderado de açúcar é parte de um estilo de vida equilibrado, segundo eles. Bom, eu acho que mais uma vez fica aquela mensagem que a gente está tentando promover aqui: a sua saúde é a coisa mais importante que você tem, e ninguém tem mais interesse nela do que você mesmo. Então tome controle e responsabilidade sobre ela e pratique o ceticismo inteligente a respeito do que vê e ouve por aí. Dr. Souto, mais uma leva aí de documentos que vieram à tona dessa indústria protegendo o peixe dela e continuando, enfim, expandindo o comércio do açúcar por aí e fingindo que não tem tanta importância assim, tanto impacto para a saúde da população.

Dr. Souto: Você vê que a palavra equilibrado ou balanceado, que é a mesma coisa, virou uma espécie de lema da indústria alimentícia no sentido de permitir a porcaria. Tá certo? Então assim, em vez de dizer: olha, o açúcar é gostoso, é doce, comam… não, ela diz assim: se você vai ter uma dieta balanceada, precisa ter um pouco de cada coisa, e o açúcar faz parte. Então, isso virou uma forma de vender aquilo que no fundo a pessoa sabe que não devia estar comendo, mas ela diz: bom, para ser equilibrado tem que ter de tudo um pouco. Então, seria a mesma coisa assim, bom, além de respirar oxigênio, nitrogênio, eu também vou aproveitar e respirar um pouco de fumaça de cigarro, que a minha respiração vai ser mais balanceada, mais equilibrada… esse troço de respirar só ar é uma coisa que não é balanceado. Então, assim, o termo é muito abusado pela indústria. Cada vez que eu ouço balanceado eu tenho a impressão que tem alguém tentando me enganar.

Rodrigo Polesso: É uma desculpa muito grande.

Dr. Souto: É uma desculpa, é uma desculpa. Esse estudo é mais um na esteira daquele anterior. Aquele anterior, para quem não lembra, eram documentos que foram descobertos mostrando que a indústria do cigarro… já ia falar do cigarro. Mas é muito parecido, não é? Que a indústria do açúcar pagou pesquisadores de Harvard nos anos 60, para que eles fizessem uma revisão da literatura favorável ao açúcar, mas principalmente desfavorável à gordura saturada, de modo que as pessoas ficassem prestando atenção na gordura, demonizando a gordura, e o açúcar fosse esquecido. Passava despercebido, porque se estava todo mundo jogando pedra numa coisa, as pessoas deixam de olhar para outra. E aí era uma coisa que a gente podia especular, imaginar, mas o que se encontrou foram documentos internos, cartas, e as cartas foram reproduzidas. Então aquilo deixou de ser uma teoria da conspiração e virou uma conspiração de fato.

Rodrigo Polesso: Não é uma especulação, como eles mesmos dizem. É fato, foram descobertos os documentos.

Dr. Souto: Foram descobertos. Os documentos estão lá. Quem quer poder ler. São cartas datilografadas na época, máquina de escrever, dizendo… olha, eu me lembro daquele artigo, ainda, que eles estavam cumprimentando o professor de Harvard dizendo que: estamos muitos satisfeitos com a forma como vocês fizeram a revisão. Tem os valores em dólares que foram pagos na época atualizados para valores de hoje. O que que esse estudo, essa reportagem de agora mostrou: dessa vez é o seguinte, a indústria do açúcar resolveu pedir para um determinado pesquisador, está aqui o sobrenome dele, Glents, professor da Universidade da Califórnia em São Francisco, para fazer um… ah, não, o Glents é o autor dessa pesquisa atual.

Rodrigo Polesso: O Glents é o do relatório.

Dr. Souto: Mas enfim, pediram para um pesquisador da época fazer uma pesquisa em camundongos. Eles queriam testar de que forma o açúcar poderia interagir em camundongos livres de germes. Eles já estavam tendo a intuição de que a flora intestinal poderia ter alguma coisa a ver. E o que aconteceu foi o seguinte: eles viram que os camundongos adoeciam com o açúcar e que parte disso era o efeito inflamatório que o açúcar tinha sobre a flora intestinal dos animais. Eu achei interessante porque 1968… estava bem avançado. E o que que eles fizeram? Eles não deixaram publicar esse estudo, cortaram a verba desse cientista que eles mesmos tinham pedido para fazer a pesquisa, mas como o resultado veio contra o que eles pensavam, eles abafaram, fizeram uma operação abafa e isso agora veio à tona. Então, um detalhe muito interessante é que ele cita uma determinada figura nessa reportagem, que era uma das figuras que foi importante na época para abafar esse estudo. Foi uma das figuras que esteve envolvida no pagamento para os professores de Harvard na época, e esse cara depois saiu da Associação do Açúcar e foi pra onde?

Rodrigo Polesso: Tabaco!

Dr. Souto: Foi trabalhar na indústria do cigarro. Então, o mesmo tipo de gente que trabalhava na indústria do açúcar trabalhou também na indústria do cigarro com o mesmo objetivo: tentar confundir o publico no que diz respeito à ciência, está certo? A ideia é: vamos produzir um número grande de estudos, de modo que as pessoas pensem “olha, tem estudo para tudo que é coisa… tem estudo que diz que o problema é o açúcar, mas tem outro que diz que o problema é a gordura. Ah, então esses cientistas não sabem nada!” e aí continua comendo açúcar. Então, como você disse: precisa de um ceticismo, saber que nessa área a coisa não é mais nível teoria da conspiração, é conspiração mesmo.

Rodrigo Polesso: É conspiração mesmo! É uma coisa você vender uma coisa como o açúcar sem você saber ao certo se tem algum ou não dano nas pessoas. Outra coisa é você continuar vendendo e expandindo essa venda sabendo que existe um malefício às pessoas que consomem. Aí já é uma linha ética que a gente cruza que não tem como voltar atrás.

Dr. Souto: Terrível. Esses dias eu vi no Twitter, eu não me lembro, mas acho que era na Austrália (depois talvez eu possa até recuperar e a gente até colocar nos créditos). Mas era uma associação de nutrição, acho que da Austrália, tinha um stand sugerindo que o açúcar podia fazer parte de uma dieta balanceada e tal. E sugeria que o açúcar fosse utilizado, por exemplo, pra colocar nos vegetais pra fazer as crianças comerem mais vegetais.

Rodrigo Polesso: Está brincando? Isso de quando? É antigo? De quando é isso?

Dr. Souto: 2017.

Rodrigo Polesso: Está brincando?

Dr. Souto: Então, a gente está lendo esse negócio, vocês estão nos ouvindo achando: ah, tudo bem, mas é 1968, aquela época que não se usava cinto de segurança, todo mundo era louco. Não, pessoal. 2017 a indústria do açúcar está pagando Associação de Nutricionistas que está colocando que o açúcar pode ser colocado assim na alface que aí a criança vai comer.

Rodrigo Polesso: Meu Deus do céu! É difícil de acredita nisso!

Dr. Souto: É! Juro! Tinha até foto… não é só o relato de alguém. A pessoa bateu uma foto e botou no Twitter, do stand.

Rodrigo Polesso: Nossa! Imagina! Outra coisa ainda sobre tudo isso… falta de integridade, falta de competência… outra coisa preocupante é a falta de proficiência que até mesmo profissionais da saúde tem a cerca de ciência. E o dr. Aseem Malhotra, que a gente já fala dele bastante, o britânico, cardiologista, em um artigo para o jornal The Guardian ele fala o seguinte… se segure na cadeira porque tem muitos número impactantes. Durante a minha palestra na conferência anual da Associação Britânica de Cardiologia eu perguntei qual seria o risco de se retirar estatinas (aquele remédio que as pessoas tomam para proteger o coração, supostamente), retirar estatinas por duas semanas de um homem que já tenha tido um ataque cardíaco. A plateia, de novo, a Associação Britânica de Cardiologistas, ok? A plateia disse: 25% do risco de aumentado. E todos ficaram de queixo caído quando eu disse que o risco era de, no máximo, 0,01%. Aí ele continua: a maioria dos profissionais da saúde parece incapaz de interpretar a literatura médica. Um estudo revelou que 70% deles falharam em um simples teste sobre entendimento de medicina baseada em evidência. Outro problema é a qualidade dos estudos publicados. Ele menciona um estudo que avaliou a qualidade de ensaios clínicos publicados em jornais científicos e dentro de 60 mil estudos analisados, 60 mil… somente 7% foram considerados de alta qualidade e relevantes ao paciente. Ainda, veja um exemplo que ele citou só para elucidar aqui o que a gente sempre fala: cuidado com o que você lê. É o seguinte: a BBC nesse ano reportou os resultados de uma nova, de um novo estudo… de uma nova droga para baixar o colesterol que, inclusive a gente já mencionou aqui no podcast. Então, eles publicaram artigos sobre essa nova droga para baixar o colesterol e a manchete da matéria foi o seguinte: um enorme avanço na luta contra o maior matador, o maior killer, o maior assassino, que seria o colesterol. Um enorme avanço. Aí, depois de uma certa análise disso aí, foi revelado que não houve nenhuma redução em taxas de mortalidade do coração e não teve nenhuma redução em mortes de todas as causas. E nas pessoas, nos europeus que participaram, não teve redução nenhuma em eventos cardíacos não fatais. E na verdade teve 18 mortes a mais em pacientes que receberam essa droga do que pacientes que não receberam. E ainda assim a manchete na BBC, que é um enorme canal de mídia, disse um enorme avanço na luta contra o colesterol. E sobre medicação, segundo Peter Gotzsche, que é o cofundador da Cochrane Collaboration, ele falou que os efeitos colaterais de medicações prescritas são a terceira maior causa de morte depois de doença cardíaca e câncer. É muita coisa ruim no mesmo artigo. É um artigo espetacular do Aseem Malhotra, por sinal, dr. Souto.

Dr. Souto: É um artigo espetacular. Eu li esse artigo e imediatamente mandei para o Rodrigo, mandei para os outros palestrantes da Tribo Forte, eu disse: cara, vocês tem que ler esse artigo. Ele realmente conseguiu fazer um sumário da coisa, e acho que isso ajuda quem está nos ouvindo a entender que existe sim uma deficiência de formação dos profissionais da saúde no que diz respeito a metodologia científica e epidemiologia. E, na realidade, muito do que se faz em medicina, ou deveria ser feito em termos de medicina, baseado em evidências, depende desse conhecimento. E uma coisa que a gente já conversou, Rodrigo, é que muito tempo se perde, eu diria… vou usar essa palavra: se perde muito tempo na faculdade de medicina aprendendo ciência básica num nível de detalhe que só é útil para cientistas. Então assim, o cara tem que decorar a rota metabólica da glicose, lembrar todas as dez etapas, tem que decorar o ciclo de Krebs. Assim, sinceramente, para quem não vai trabalhar com isso em laboratório depois, é inútil. Não tem para que.

Rodrigo Polesso: Não tem aplicação prática.

Dr. Souto: Não tem aplicação prática para a vida do médico. Não vai ajudar eu a tratar melhor o paciente que está aqui na minha frente querendo saber se ele precisa usar um remédio ou não. Agora, o tempo dedicado à metodologia científica deveria ser muito maior. Eu acho que precisaria encolher esse tempo excessivo dedicado às minúcias de ciência básica. A pessoa tem que ter noções de ciência básica. Eu vou dar um exemplo melhor que é o seguinte: nos Estados Unidos, por exemplo, é diferente daqui. A pessoa faz o college primeiro, que são 4 anos e depois faz 4 anos de ensino médico. E no college, a pessoa para poder entrar para medicina depois, ela tem que ter feito cálculo. Cálculo esse que é o mesmo que o pessoal estuda na engenharia, na física, aquele cálculo diferencial, aquelas coisas. Vamos combinar que não precisa saber cálculo para fazer medicina. Então, eu considero que perde-se muito tempo com minúcias de ciência básica e a gente não estuda o suficiente dessas coisas. E e vê que não é só no Brasil, nem lá, ele dá números absolutamente alarmantes. Então, eu volta e meia converso com colegas médicos no hospital e chamo a atenção deles das diferenças de números absolutos e números relativos. Ainda hoje de manhã eu estive na reunião de especialidade lá no meu hospital, numa participação de uma pessoa que veio falar de um estudo de um laboratório. Então, basicamente ficaram falando de risco relativo: diminuiu em tantos porcento a mortalidade e tal, e quem tinha um mínimo de visão crítica podia ver nos slides que a diferença daquele remédio que custa dez mil reais por mês era uma diferença de três meses de sobrevida.

Rodrigo Polesso: No mesmo esquema da estatina. Não é significante.

Dr. Souto: Essa pelo menos não é tão cara, a estatina.

Rodrigo Polesso: Ah, está louco!

Dr. Souto: Falta realmente essa capacidade crítica. Então, nós antes falamos do ponto de vista da Indústria do Açúcar, não é teoria da conspiração, é conspiração mesmo. Mas, eu diria do ponto de vista do seu profissional da saúde, do seu médico que está te atendendo, muitas vezes não é nada conspiratório, é simplesmente falta de conhecimento porque não aprendeu isso na faculdade. E toda a informação que ele recebe, essa sim tem a coisa conspiratória por trás. A informação é dada em risco relativo e não em risco absoluto, a pessoa não é ensinada a ter crítica para ler um artigo e ela vai aprendendo aquilo. Existe uma figura que são chamados de líderes de opinião, líderes de opinião médica. São aquelas pessoas que são identificadas pela indústria como médicos que são influentes na sua área, que são muito conhecidos. O sujeito é… pergunta: lá na sua cidade quem é o grande especialista em cardiologia? Ah, é o doutor Fulano, ele é o mais conhecido, ele é o top. Bom, a indústria sabe disso. A indústria vai paparicar aquela pessoa e pagar viagens e benefícios para ele, convidá-lo para falar em congressos em tudo que é lugar, e aos pouquinhos, dessa forma, eles conseguem ir passando essa mensagem e aqueles médicos que estão ouvindo isso na plateia pensam: bom, este doutor eu quero ser ele amanhã, quando eu crescer eu quero ser que nem ele. E a pessoa vai engolindo aquilo sem crítica. Então, ele não está querendo lhe prejudicar no consultório, ele acha que está lhe ajudando, ele não tem a formação crítica para escapar da matrix.

Rodrigo Polesso: É isso que eu ia dizer. Combinando com essa má intenção entre aspas da indústria farmacêutica em convencer o médico ou colocar a goela abaixo alguns estudos, combinar isso com a falta de proficiência de análise de evidência por parte do profissional, eu acho que o resultado não pode ser bom nunca, não é? Não vai dar nada bom saindo disso daí.

Dr. Souto: É muito complicado!

Rodrigo Polesso: Muito complicado. Bom, pessoal, tem um caso de sucesso do dia aqui. Quem mandou foi a Renata Laroque. Enquanto tem muita notícia ruim que a gente tem falado, só para vocês entenderem que realmente é um campo minado. A gente está num mundo que infelizmente não quer ser bom para todo mundo, então precisa realmente tomar o controle das rédeas da nossa própria saúde. Esse é o nosso objetivo aqui: trazer essa conscientização para você, para você não confiar em nada mais do que você mesmo, na sua capacidade de interpretar e, claro, achar um profissional de respeito, um profissional de qualidade, um profissional qualificado que existem muitos por aí sim, só precisa garimpar um pouquinho e você fazer suas próprias pesquisas. Bom, o caso de sucesso, como eu falei, da Renata Laroque ela fez o… só um segundinho, o telefone começou a tocar aqui… ela fez o desafio 30 dias do código emagrecer de vez. Começou com 85 quilos. Em 30 dias só ela está com 73 quilos. Ela fala: é muita felicidade. Em 30 dias ela fez a primeira fase, as quatro semanas, e ela diz que eliminou também 14 centímetros de cintura durante 30 dias só. Então, é mais um exemplo de quão resiliente o nosso corpo é quando a gente começa a tirar os obstáculos do caminho e permitir com que ele volte a funcionar de maneira otimizada, pessoal. É por isso que a gente traz esses casos de sucesso. Claro, se você quer entrar no código emagrecer de vez é só você entrar em codigoemagrecerdevez.com.br, uma forma fácil de você seguir passo a passo, os dados são comprovados cientificamente para te levar à sua melhor forma e à sua saúde também. Dr. Souto, para a gente fechar aqui, vamos falar sobre o que foi degustado na última refeição. Pode começar.

Dr. Souto: Sem muita novidade, Rodrigo. Foi o famoso bifinho com ovo, salada. Eu já falei que eu sou mais criatura do hábito.

Rodrigo Polesso: Falou sim! E é interessante, esses hábitos bons… eu também não enjoo de muitas coisas que eu posso comer bem rotineiramente. Só que uma das coisas que a gente escuta direto o pessoal falar é essa questão de variedade como se fosse algo obrigatório na nossa vida, que tem que ter uma variedade enorme de alimentos e sabores. Aí fica aquela questão: acho que a pessoa está mais para o mimado do que pela necessidade dessa variedade para manter uma dieta equilibrada como a gente falou aqui com centenas de sabores diferentes. Não é necessário, a gente sabe disso.

Dr. Souto: É, e já que estamos falando de variedade, eu comi de sobremesa uma fruta, já que nós tocamos nesse assunto. E a fruta foi uma fruta que eu ganhei de presente em Campo Grande, de um cardiologista que estava lá assistindo uma palestra que eu dei. Era um cardiologista, um senhor já com mais de 70 anos, e que segue a Tribo, escuta os nossos podcasts. Infelizmente não me recordo o nome dele, mas ele vai saber quem é. Eu estou aqui agradecendo para ele. Ele me deu guaviras, que são frutinhas típicas do local. Bem docinhas, pequenas, com gosto assim que lembra um pouquinho goiaba, mas é um nome… é também conhecida como guabiroba, se não me engano é a mesma coisa.

Rodrigo Polesso: Sim, já ouvi falar, guavirova…

Dr. Souto: Então, comi umas duas dessas depois do almoço. Que reforça aquilo que nós estávamos falando: comer uma frutinha, mesmo que ela seja bem doce, mas ela é pequenininha, depois do almoço é o melhor momento, ou depois da janta. O impacto, em termos de glicemia e insulina, é menor do que se a gente comesse no meio da tarde, em jejum. A minha sugestão é quando vai comer uma fruta deixe para comer de sobremesa, tem menos impacto na glicose. E mostrar que na realidade nunca é tarde para a gente sair da matrix. Este médico cardiologia com mais de 70 anos, assistindo e prestigiando uma palestra de low carb.

Rodrigo Polesso: Sensacional! Que sirva de motivação para quem ainda não saiu da bolha. Bom, o almoço que eu fiz aqui é muito prático. Carne moída, tem coisa mais prática que carne moída? Então peguei uns cogumelos, cortei eles em fatias, coloquei na manteiga, dei uma frigida na frigideira, depois de um tempinho coloquei a carne moída, misturei, temperei. Ótimo, uma fonte de proteína bacana. Com um pouco de óleo de coco, um pouco de manteiga, coloquei também porque a carne era bem magra. E também um avocado do lado e um pouco de chucrute, pronto, fechou. É uma refeição só para ficar muitas horas sem se alimentar. E uma coisa bacana que você falou que eu também concordo plenamente, essa questão de frequência que você come. Por exemplo, se você comeu o almoço agora e você deixa para comer essas frutinhas daqui uma hora e depois você belisca, digamos, umas amêndoas daqui mais 30 minutos, você está sempre colocamos, digamos, alimentos no corpo. Eu acho que, bom, não sei, eu acho que não seria o mais adequado. Eu tento acreditar que quanto mais espaçadas você deixar suas refeições, mais tempo você dá ao corpo de ter uma folga, de metabolizar essa energia toda e poder se preocupar com outras coisas, por exemplo: reconstituição do DNA, ou se refazer, se otimizar em si, como a gente sempre fala da questão da autofagia, etc. Na sua opinião, o que você sentido da frequência das refeições e lanches?

Dr. Souto: Também acho. Acho que a gente não pode estar num constante estado alimentado. Tem que existir também o estado não alimentado. E o que nesse estilo de vida é muito fácil. Agora nós estamos gravando, aqui são quase 6 da tarde e definitivamente eu não estou sentindo necessidade de comer. E eu almocei ao meio dia… enfim, é uma questão de você fornecer ao corpo um alimento saciante. Tem que ter um pouquinho de gordura, senão a gente fica com fome. Então, é como você disse: a carne era muito magra, bota uma gordurinha que ela fica boa.

Rodrigo Polesso: Com certeza, com certeza. Maravilha! Então, a mensagem é que não é um esforço. É meio que uma consequência positiva natural desse método de alimentação. Alimentação forte, que seja. Bom, maravilha. Fechando esse podcast de hoje, se você quer ser membro, fazer parte da família Tribo Forte, é só você entrar em triboforte.com.br. se junte à família lá e aproveite do conteúdo que tem privilegiado lá dentro. Com isso a gente fecha o podcast. Obrigado, dr. Souto! A gente se fala na próxima.

Dr. Souto: Obrigado, até a próxima.