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No Episódio De Hoje:

Neste episódio iremos por abaixo mais mitos e responder 2 perguntas:

  • Fazemos uma análise do estudo mais recente que condena a carne vermelha, onde mostramos a quantidade incrível de pontos falhos que ele tem e evidenciamos que o mesmo não possui credibilidade alguma para concluir qualquer coisa em relação a carne vermelha e saúde.
  • Respondemos 2 perguntas, uma sobre Hashimoto (Hipotireoidismo) e outra sobre gordura no fígado (esteatose hepática) e lowcarb.
  • O que comemos na última refeição.

Espero que aproveite este episódio ?

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Ouça o Episódio De Hoje:

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Referências

Estudo sobre a carne publicado no BMJ

Análise do estudo acima feita pelo professor Grand Schofield

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Olá! Bem-vindo ao podcast número 63 da Tribo Forte. Eu sou o Rodrigo Polesso e, novamente, estou aqui com o Dr. Souto para mais um episódio. E novamente, a carne vermelha vai te matar. Dessa vez a carne vermelha vai te pegar. De novo. Se você acompanha os podcasts da Tribo Forte há um tempo, você já tem ouvido a gente falar sobre esse assunto… Desses estudos que saem periodicamente condenando a carne vermelha. Você já deve saber mais ou menos a verdade por trás disso. Saiu um estudo novo agora que a gente via tratar. Acho que é interessante tratar dele, porque tem vários pontos a serem considerados que podem inspirar sua visão crítica para o próximo estudo que sair com um tema parecido. Além da questão da carne vermelha, a gente vai responder duas perguntas do pessoal no final. Um sobre tireoide e outra sobre esteatose hepática e low carb. Vai ser útil para muita gente esse tipo de assunto. Antes disso, vou dar boa tarde ao Dr. Souto. Tudo bem por aí, Dr. Souto?

Dr. Souto: Tudo. Boa tarde, Rodrigo. Boa tarde aos ouvintes.

Rodrigo Polesso: Pois é, Dr. Souto. Acho que dessa vez a carne vai pegar. Dessa vez não tem saída.

Dr. Souto: Acho que dessa vez ela nos mata.

Rodrigo Polesso: Dessa vez ela vai matar. Vou colocar o pessoal na mesma página, atualizada, com a gente. Saiu um estudo bem recente dia 9 de maio de 2017 no British Medical Journal. É um jornal conceituado, como você já deve saber. A conclusão desse estudo foi a seguinte. “Os resultados mostram o aumento de risco de mortalidade de nove diferentes causas, associado à carne processada e carne não processada”. Carne vermelha. Para começo de história, qual foi a proporção desse estudo? Esse estudo contou com a análise de dados de 536.969 pessoas, que são membros da AAA. São pessoas entre 50 e 71 anos. Essas pessoas foram acompanhadas por 16 anos. É um enorme grupo de pessoas que foram acompanhadas ao longo de 16 anos. No final eles mexeram nos números lá e decidiram concluir que a carne processada e não processada têm uma associação com a mortalidade de todas as causas. Dr. Souto, tem vários pontos que podemos discutir sobre isso. Eu tirei um tempo para me divertir analisando e achando os buracos nesse estudo. Acho que o pessoal vai tirar de benefício disso o senso crítico de pontos fracos que esses estudos geralmente têm em comum. Antes de começar, você quer dar uma palavra para colocar o pessoal em alerta?

Dr. Souto: A primeira coisa é aquilo que a gente sempre pergunta em qualquer estudo. Ele é observacional ou é um ensaio clínico randomizado? Este aí é um estudo observacional. Pessoal, não se espantem, não se deixem intimidar pelo tamanho da amostra. Um estudo observacional com meio milhão de participantes é um estudo observacional grande, mas continua sendo observacional. Ele continua não podendo estabelecer causa e efeito. Não é um ensaio clínico randomizado. Não é um experimento. O fato de ter 500 mil pessoas de certa forma – por incrível que pareça – acaba tornando mais fácil de achar associações muito pequenas, mas acabam sendo estatisticamente significativas pelo número. Então, se algo aumentar em 5% as chances de ter uma doença X… Primeiro que nada aumenta nada porque ele é um estudo observacional. Esse uso do verbo “aumentar” o risco, já implica causa e efeito. Agora vou falar da forma certa. Se comer determinado alimento estiver associado com um risco aumentado de determinada doença… Mesmo que essa associação seja diminuta, 2%, 3%… Porque é meio milhão de pessoas, acaba sendo estatisticamente significativo e acaba sendo relatado. Paradoxalmente, o fato de ser um estudo desse tamanho torna mais provável encontrar associações ridículas e que não são baseadas em causa e efeito de verdade.

Rodrigo Polesso: Acho que o primeiro passo é entender quem é essa população que foi estudada. Quem são essas mais de 500 mil pessoas que foram analisadas? Esse pessoal foi a Associação Americana de Aposentados. É uma associação gigantesca nos Estados Unidos de pessoas aposentadas. Como a Wikipedia define a AART… Essa associação de americanos aposentados… Ela fala o seguinte… É uma organização sem fins lucrativos, de caridade, que ajuda pessoas acima de 50 anos que têm dificuldades sociais e econômicas. Aí vai uma pergunta para você começar a questionar isso. Será que existe a possibilidade de pessoas aposentadas com dificuldades financeiras terem vivido uma vida também com dificuldades financeiras… E tenham, pelo menos em maior parte consumido comidas mais baratas, como farinhas, doces, massas, pães, carnes processadas, do que carnes não processadas como steaks, bifes de qualidade, legumes frescos e etc.? Antes de mais nada, será que tem alguma possibilidade de distorção de um tipo de pessoa que foi analisada que já coloca, talvez, essas pessoas associadas a um maior risco de mortalidade? Acho que sim. Só isso já coloca a pulga atrás da orelha.

Dr. Souto: Com certeza. Sempre a gente tem que ver se a população estudada tem alguma coisa a ver conosco. Será que americanos aposentados em situação financeira precária representam você que está nos ouvindo?

Rodrigo Polesso: O próprio estudo reconhece algumas coisas. Mas é claro que a maioria das pessoas vão ler a headline, a conclusão e passar adiante. Mas o próprio estudo alerta e reconhece o bias… A tendência desse tipo de população. O que eu vou falar aqui não é piada. É o que está escrito lá no estudo. São pontos de falha que já estão gritando e questionando a qualidade do estudo. “Participantes com um maior consumo de carne vermelha eram mais prováveis de serem homens, fumantes, terem diabetes, terem uma pobre percepção da situação de saúde e serem menos fisicamente ativos. Larguei o microfone. Preciso falar mais alguma coisa? Não preciso falar mais nada. Os alicerces do estudo já foram derrubados. Mas eles continuam. “Ainda é menos provável que eles tenham uma situação socioeconômica melhor, que sejam estudantes, graduados ou pós-graduados. O consumo de carne vermelha foi também associado com o menor consumo de frutas e legumes, com maior IMC, maior consumo calórico, maior consumo de carne processadas e conservantes.” Só esse parágrafo que está escrito no próprio estudo… Eu acho que já coloca abaixo toda essa conclusão.

Dr. Souto: É a mesma coisa de sempre. Nenhum estudo observacional pode diferenciar se o que está sendo visto é a influência da carne em si ou se é a carne diferenciando tipos diferentes de pessoas. Quer dizer, as pessoas que comem carne são diferentes daquelas que não comem… Numa quantidade gigantesca de outras coisas, como você bem falou… Atividade física, tabagismo, obesidade, etc. Coisas essas que influenciam as chances de morrer por todas as causas. Todas as causas têm um lance interessante que acho que você vai falar. A história dos acidentes.

Rodrigo Polesso: Dos acidentes não, pode falar.

Dr. Souto: Tem um autor… Está me falhando o nome dele agora… Mas depois talvez eu me lembre. Ele fez uma análise desse estudo. Não é a primeira vez que os autores publicam um estudo epidemiológico sobre esta mesma coorte de pacientes. Em 2009 eles publicaram. Em 2009 eles colocaram mais dados. E essas pessoas tinham uma chance muito maior de morrer de acidentes de carro. As pessoas que comiam mais carne morriam mais de acidente de carro. Tinham mais doença pulmonar. Eu até posso imaginar que comer mais carne vermelha pudesse estar relacionado com doença cardíaca. Eu pessoalmente não acredito nisso, mas existe uma lógica na forma tradicional de se pensar… Porque tem a presença de ferro em maior quantidade… É um oxidante… Tem gordura saturada… Aquelas coisas. Mas o que diabos a carne tem a ver com acidente de automóvel? Será que ao viajar para o açougue a chance de bater o carro é maior do que ao viajar para a peixaria? O que tem a ver com doença pulmonar, pneumonia e doença pulmonar obstrutiva crônica? O que tem a ver é óbvio. As pessoas que comem mais carne são as mesmas que fumam mais. Não é a carne que está causando a doença no pulmão, é o cigarro. Num outro podcast quando a gente falou do reductio ad absurdum… Quando a gente pega uma situação absurda dessas… Quem come mais carne morre mais de acidentes automotores… Realmente não existe nexo causal possível entre comer carne e acidente de carro. É óbvio que é o viés que está sendo visto. E mais, o risco relativo de morrer de carro para quem comia carne foi da mesma magnitude. Do que o risco relativo de morrer do coração. Ou seja, se eu aceito que a carne é o que causou a morte do coração, eu sou obrigado a aceitar que comer carne faz com que a gente tenha tendências suicidas, jogue o carro em penhascos e esse tipo de coisa. Se eu digo que no caso do carro é evidente que é um viés… Por que não é um viés no caso da doença cardíaca? As pessoas têm que fazer todas as semanas… Acho que vamos conseguir isso, porque toda semana sai um artigo ridículo com a mesma coisa… De pensar sempre em qual outra explicação não causal poderia estar por trás daquele achado no estudo que é observacional e não é um ensaio clínico.

Rodrigo Polesso: Perfeito, perfeito. Até a agora a gente sabe no estudo que estamos analisando aqui… A gente sabe que foram meio milhão de pessoas. A gente sabe que essa população é de 50 a 71 anos. A gente sabe que são pessoas com dificuldades socioeconômicas, pessoas com menores condições financeiras. Dentre essas pessoas, as que mais consomem carne são aquelas que mais fumam, aquelas que têm pouca percepção de suas saúdes, são mais diabéticas, comem mais calorias no geral, pouca atividade física. Com isso a gente já começa a questionar a qualidade do estudo. Agora uma parte interessante e fundamental para a gente poder continuar essa crítica é entender qual é a fonte dos dados para a análise. É muito interessante. Eles falam o seguinte no estudo. “No começo, todos esses milhares de pessoas receberam pelo correio um questionário com 124 perguntas sobre frequência alimentar. É um questionário padrão da National Cancer Institute.

Dr. Souto: Depois da vigésima, o sujeito já está chutando.

Rodrigo Polesso: O pessoal vai entender melhor que tipo de pergunta é porque vou mostrar alguns exemplos. Eles receberam no começo 124 perguntas nesse questionário padrão que está disponível e você pode achar na internet também. Eles estavam coletando informação sobre o consumo das comidas e bebidas e o tamanho das porções ao longo de 12 meses. Essas perguntas incluíram o consumo de carne vermelha não processada como bife de gado, porco, hambúrguer… Eu colocaria hambúrguer na processada.

Dr. Souto: Mas, Rodrigo… Muito importante isso… A Zoë Harcombe também fez análise desse artigo. Ela deixou claro, “Qual é maior quantidade de carne consumida pelo americano? É hambúrguer.” Disparado… O americano consome mais carne na forma de hambúrguer do que cortes de carne como filé. E o hambúrguer foi colocado por esses autores como carne não processada.

Rodrigo Polesso: Sim, não só o hambúrguer. Sabe o que mais foi considerado como carne não processada? Carne que você coloca em comidas tipo chilli, lasanha e ensopados. É muito questionável isso.

Dr. Souto: Eles consideram hambúrguer carne não processada. Hambúrguer é consumido dentro de hambúrguer, dentro de sanduíche, com molho, ketchup. Para descer pela garganta, vai uma Coca-Cola. Para acompanhar, vai a batata frita. A culpa é da carne vermelha.

Rodrigo Polesso: Exato. A lasanha é a mesma coisa. Tem 5% de carne dentro.

Dr. Souto: Eles não diferenciam, nesse estudo, quem come um filé e quem come carne processada, porque o que eles consideram como carne não processada é processada. E mais do que isso… Lembrando… É uma população norte-americana. Eles comem hambúrguer no contexto de fast food. Então, está se culpando a carne pelo o que o fast food está causando nessas pessoas. A carne não é apenas um marcador epidemiológico de quem se exercita menos, fuma mais, bebe mais… De quem tem tantos comportamentos de risco… Se mata mais no trânsito… Ela não apenas é um marcador disso, mas é um marcador de junk food nos Estados Unidos.

Rodrigo Polesso: Perfeito, perfeito. Cada um desses pontos individualmente seria o suficiente para colocar abaixo qualquer credibilidade desse estudo. A gente falou da carne não processada… Eles consideram gado, porco, hambúrguer, fígado, bife e carnes em comida como chilli, lasanha e ensopados. As carnes processadas eles consideram bacon, cortes frios de carnes como presunto e salsichas. Basicamente isso. Eles falaram que as pessoas foram acompanhadas por 16 anos. Vamos ver. Você estaria completamente correto em perguntar se eles atualizaram os questionários para acompanhar as pessoas ao longo de 16 anos, certo? Não. Só checavam se eles estavam vivo ao longo de 16 anos. Ou seja, eles tiraram uma foto extremamente borrada do que teoricamente seria o estilo de vida alimentar daquelas pessoas. Depois de 16 anos eles analisaram, com base nisso, possíveis associações. Depois de eu ver esses erros grotescos no estudo… Eu fui ver mais para baixo no estudo que o próprio estudo reconhece esse buraco, que também é engraçado na minha opinião. Eles falam o seguinte. Finalmente, nós confiamos numa única avaliação dietética no começo do estudo e nós não conseguimos avaliar mudanças na dieta ao longo do período de tempo. Isso é bizarro.

Dr. Souto: Veja bem, Rodrigo. Eu me alimento com alimentação low carb com tintas paleo nos últimos 6 anos. Esse estudo viu como as pessoas comiam 16 anos atrás. Sete anos atrás eu comida completamente diferente do que eu como hoje em dia, quem dirá 16 anos atrás; 10 anos mais do que desde de quando eu comecei a mudar minha alimentação. Mas agora eu vou aproveitar e fazer um parêntese e dizer para o pessoal. A pessoa não precisa comer nenhuma carne vermelha se ela não quiser ou se ela não gostar. Para nós, falando em termos de alimentação forte, em termos de alimentação low carb, se a pessoas quiser comer aves, quiser comer peixes… Talvez seja melhor comer mais peixe… Tem bastante evidência epidemiológica nesse sentido. O motivo que nós estamos falando isso não é porque se descobrirem que a carne vermelha faz mal cai por água abaixo tudo o que nós defendemos. Não. É possível fazer um alimentação low carb sem nenhuma carne vermelha. O que queremos fazer é educar vocês que estão nos ouvindo no sentido de não cair nesse tipo de coisa. É um estudo observacional com sempre os mesmos vieses. Isso não deveria nem ser publicado. As revistas deveriam recusar esse tipo de estudo porque não tem mais cabimento hoje em dia. Isso é uma espécie de um fóssil intelectual da epidemiologia nutricional que já devia estar enterrado. Houve um período em que era interessante isso aí… Até que se descobriram todos esses vieses. Os ensaios clínicos randomizados muitas vezes mostraram resultados opostos ao que os estudos observacionais mostravam e sempre que há uma contradição entre esses dois significa que o observacional está errado. Então, esse tipo de estudo nem deveria ser publicado. O motivo que estamos falando isso é para mostrar: não caiam nisso. Sempre vejam se é observacional ou não. Sempre pensem que outras coisas podem explicar aquele efeito, além de ser um efeito ruim da carne vermelha em si. Provavelmente ela é um marcador de outros hábitos. Se a pessoa não quiser comer carne vermelha, não gostar… Ou mesmo se no fundo ela tiver medo por causa dessas manchetes… Vai comer peixe.

Rodrigo Polesso: Exatamente. O que a gente costuma defender aqui é a boa ciência. A informação tem que ser concreta para que as pessoas tomem a decisão com base na melhor informação e não cometerem erros. A gente fala muito de questionários alimentares… A gente já falou isso em outros episódios também. Esses questionários que dão origem a todos esses estudos epidemiológicos. Eu fui atrás para ver o questionário que eles usaram nesse estudo por exemplo. Vou mostrar uns exemplos para vocês terem uma ideia do que ele é. Já no começo do questionário, nas instruções gerais, em cima, em negrito, está assim: “Resposta a cada pergunta da melhor forma que você puder. Estime se você não tiver certeza. Um chute é melhor do que deixar em branco.” A primeira instrução do formulário já é essa: “Chute, porque é melhor do que deixar em branco”. A gente já começa a perceber o nível de exatidão que essas respostas vão ter. Nesse estudo… Todas as 124 perguntas desse questionário são a respeito dos 12 últimos meses das pessoas. Ou seja, as pessoas tem que responder tudo com base no consumo… Das práticas alimentares das pessoas nos últimos 12 meses. Aí eu te pergunto… No mês passado você comeu quantos porcento de carne vermelha, quantos porcento de carne branca? Quem dera nos últimos 12 meses. Eu separei umas três perguntas para exemplificar o que é responder um questionário desses e que tipo de peso de evidência isso irá ter, independentemente de serem 2 pessoas ou 500 mil pessoas. Eu peguei a pergunta 73 de exemplo: “Referente aos últimos 12 meses da sua vida, quão frequentemente você comeu carne moída em misturas como almôndegas, caçarolas, chilli ou outras coisas?” As opões são: Nunca, de 1 a 6 vezes por ano, de 7 a 11 vezes por ano, 1 vez por mês, 2 a 3 vezes por mês, 1 vez por semana, 2 vezes por semana, 3 a quatro vezes por semana, 5 a 6 vezes por semana, 1 vez por dia ou 2 ou mais vezes por dia. Tentem responder. Quantas vezes nos últimos 12 vezes você comeu carne moída em misturas? De 1 a 6 vezes por ano, de 7 a 11 vezes por ano? Dr. Souto, qual foi sua resposta?

Dr. Souto: Não faço a menor ideia. Eu já estaria chutando nesse momento.

Rodrigo Polesso: Essa é a 73.

Dr. Souto: Sim. Imagine as pessoas terem todas essas gradações… São cento e quantas perguntas?

Rodrigo Polesso: 124.

Dr. Souto: 124. Eu sempre me lembro daquele artigo que saiu na Mayo Clinic Procedures onde o autor, que é da Universidade do Alabama, coloca bem claro. Ele diz, “Temos que parar de brincadeira e parar de basear estudos de imprimir papel… Botar no lixo o papel de revista científica… Com coisas baseadas em pseudociência.” O que ele queria dizer com “pseudociência”? É esse tipo de questionário. Isso é pseudociência. As pessoas que respondem acreditam que estão mais ou menos acertando. Se não acreditam, elas estão orientadas pelo próprio questionário a chutar e não deixar em branco. O pesquisador acredita que aquilo é fidedigno, bota num computador, faz um monte de contas, vê o que se correlaciona com o que e os bobalhões da imprensa publicam isso e fazem um auê. Isso é um pouco mais do que horóscopo.

Rodrigo Polesso: Exatamente. Temos mais dois exemplos de perguntas aqui para o pessoal ficar ligado no tipo de pergunta que é. A pergunta 77b é a seguinte: Quão frequentemente você comeu bife magro nos últimos 12 meses? As respostas são: Quase nunca ou nunca, mais ou menos um quarto do tempo, mais ou menos metade do tempo, mais ou menos três quartos do tempo ou quase sempre ou sempre. Essa pergunta é sobre bife magro, especificamente. A pergunta 84a.

Dr. Souto: Já pensou o sujeito intuir… “Eu acho que três quartos do tempo eu comi bife magro nos últimos 12 meses.”

Rodrigo Polesso: O que isso significa anyways?

Dr. Souto: What the hell?

Rodrigo Polesso: Essa é legal também. 83a. Cada vez que você comeu carne de porco, quanto que você comeu mais ou menos nos últimos 12 meses? Três opções só: Menos que duas onças (pedida dos Estados Unidos), menos de 1 pedaço de 2 a 5 onças, 1 pedaço com mais de 5 onças ou mais de 1 pedaço. Então, cada vez que você comeu porco nos últimos 12 meses, quanto você comeu? 100 gramas, 200 gramas? Você não tem a mínima ideia. Nem lembro quando comi porco nesse ano.

Dr. Souto: É fazer um monte de estatística sofisticada com dados que são primitivos e pseudocientíficos. Quem olha o estudo e vê aquele monte de gráficos, aquele monte de contas, aquele monte de tabelas… Mas do que adianta isso? Tem uma expressão em inglês que diz assim, “Crap in, crap out”. Se o que entre é porcaria, o que sai… Não importa quanta matemática, quanta sofisticação dos modelos multivariados… O que sai continua sendo porcaria. Não tem como colocar cocô de cachorro de um lado e tirar perfume do outro.

Rodrigo Polesso: Exatamente. Isso é para você ter uma ideia de quanta credibilidade merece um estudo desse. Tem uma análise bem legal. Vou colocar um link depois no artigo, feita pelo Professor Grant Schofield. Tem uma frase que eu peguei de lá… Que a gente compartilhou… Eu, Souto e a Patrícia, no nosso grupo… A gente estava discutindo esse estudo. A frase que esse professor fala sobre esse estudo é a seguinte… Eu acho muito impactante e verdadeira. “A epidemiologia da carne vermelha é o exemplo moderno de má ciência. Não está sendo devidamente criticada e é frequentemente permitida para mal informar o público sobre nutrição.” Eu acho que isso resume tudo isso que viemos falando aqui. Esse é mais um exemplo dessa má ciência.

Dr. Souto: É. É bom porque a gente sempre tem assunto. Semana que vem será a carne vermelha, o glúten ou qualquer outra bobagem… O próximo estudo observacional será exposto nem nenhuma crítica pelos autores e comprado sem nenhuma crítica pela mídia. No fim não deixa de ser um treinamento para nossos ouvintes irem ficando espertos com essas coisas.

Rodrigo Polesso: Então, é isso aí, pessoal. Maravilha. Espero que tenha sido útil para vocês essa análise, com exemplos do questionários e tudo mais. Se você quiser passar adiante essa informação, acho que será muito útil para quem puder ouvir. Você acaba colocando ferramentas melhores na sua caixa de ferramentas de proteção contra balelas. Agora vamos partir para as perguntas. Duas perguntas que selecionei de uma lista que ficaram a ser respondidas do evento de Viçosa que prometemos responder ao longo dos episódios. Estamos fazendo isso conforme prometido aqui. A primeira pergunta que a gente via pegar é do Fabrício Oliveira. Ele pergunta o seguinte. “A dieta low carb high fat, ou a cetogênica, previne ou trata a tireoide de Hashimoto (hipotireoidismo)? E o jejum intermitente, é indicado? Dr. Souto, manda ver.

Dr. Souto: Nós já abordamos esse assunto em pelo menos dois podcasts anteriores. Mas não custa reforçar, porque é um assunto que surge tanto. A doença de Hashimoto é uma doença autoimune, quanto o corpo forma anticorpos contra a própria tireoide. Portanto não é uma doença relacionada à dieta ser ou não low carb. O que existe é uma confusão de determinada autora na blogosfera em inglês que sugere que a pequena diminuição dos hormônios tiroideus que a gente vê normalmente numa dieta very low carb – numa dieta de restrição severa de carboidratos – que isso pudesse ser causa de doenças na tireoide. Quando, na realidade, a maioria dos autores entende que essa leva diminuição do T3 e T4 é fisiológica. Existem alterações que surgem quando se faz uma dieta de muito baixo carboidrato, que se espera. Assim como a insulina baixa nessas situações, também pode baixar os hormônios tiroideus de forma discreta. Lembrando também… Nós já falamos sobre isso num podcast passado que existe um único estudo… Ele não é randomizado. É um estudo grande com cento e poucas pacientes com hipotireoidismo. E que fizeram uma dieta mais próxima do que seria uma dieta paleo. Uma dieta sem grãos, sem nada processado, sem laticínios… Foi uma dieta relativamente low carb. Acho que eram 190 mulheres. Era um número grande. Neste grupo houve uma melhora significativa com a dieta. Como não era um estudo controlado… Como não tinha um grupo controle que não fez a dieta, a gente não tem muito como dizer se isso é realmente verdade ou não. Mas vamos combinar que se fosse uma intervenção dietética deletéria para tireoide, seria difícil explicar como melhorou ao invés de piorar.

Rodrigo Polesso: Com certeza.

Dr. Souto: Quando um estudo não é prospectivo randomizado, quando não é um ensaio clínico, é difícil a gente poder estabelecer causa e efeito. Não dá. Quando um estudo como nesse caso, mesmo sem ser randomizado, mostra que, em vez de piorar, melhorou, nós podemos dizer que esse tipo de dieta não provoca piora. Acho que isso responde. Ele também perguntou sobre jejum intermitente. Provavelmente, se forem jejuns muito longos, de vários dias e etc… Quando começa a entrar na questão do consumo calórico muito baixo… Da desnutrição crônica… Esse tipo de coisa pode provocar hipotireoidismo como uma resposta fisiológica. Se estamos falando em jejum intermitente no sentido de ficar 16 horas sem comer, 20 e poucas horas sem comer… De vez em quando… Um dia sim outro dia não… Não consigo imaginar nenhuma doença em que isso prejudique, fora talvez a situação do paciente diabético que usa insulina. Nesses casos ele obviamente tem que ajustar de forma muito bem orientada as suas doses, porque ele não está comendo naquele momento. No futuro, quando a Lara, que eu já mencionei um podcast passado… Que é diabética… Que contou usa história do evento de Viçosa… Ela ainda participará do nossos podcast e vai comentar sobre essas coisas.

Rodrigo Polesso: O jejum intermitente está associado com a melhora de algumas condições. Ainda que não tenha um suporte científico muito grande por trás, tem coisas interessantes a se pensar a respeito desse hábito que sempre foi natural ao longo da evolução da espécie humana. Estão programados a funcionar dessa forma… Não vai fazer mal agora subitamente. Vamos partir para a próxima pergunta, que vem as Sheila. A Sheila pergunta o seguinte: “Uma pessoa esteatose hepática pode aderir a low carb ou ingerir mais gordura?” Dr. Souto…

Dr. Souto: Não é uma questão de poder. É uma questão, neste caso, de dever. Na realidade, é justamente uma das patologias que melhora muito com a restrição de carboidratos. Eu entendo o motivo da pergunta. A pergunta tem dois motivos. Primeiro é a ideia de que é gordura no fígado, então a pessoa já pensa “vai comer mais gordura e a gordura vai para o fígado”. Não é assim que funciona. Na verdade, esteatose é uma situação na qual o fígado produz muita gordura. Produz induzido pelo consumo excessivo de carboidrato, mas mais especificamente de açúcar, de frutose. Frutose, lembrando… Não tem muito a ver com o consumo de frutas. Frutose é um marcador do consumo de açúcar, que é grande fonte de frutose da dieta na maioria das pessoas. Tem vários estudos mostrando que low carb é eficaz para a melhora da esteatose. Dr. José Neto, lá no evento de Viçosa, mostrou uma aula sobre isso. Ele disse que até existem estudos mostrando low fat como sendo eficaz para esteatose, mas é low fat com restrição calórica.

Rodrigo Polesso: Low sugar, provavelmente também.

Dr. Souto: E low sugar. É um low fat com uma alimentação de melhor qualidade, e com restrição calórica. É possível melhorar a esteatose com low fat, desde de tenha restrição calórica e menos comida lixo? Sim. Mas com low carb é possível melhorar a esteatose sem restrição calórica voluntária. A pessoa não precisa passar fome. Então, respondendo de forma bem objetiva para a Sheila. Se a pessoa tem esteatose, esse é um belo motivo para adotar esse estilo de vida.

Rodrigo Polesso: Exato. Até porque a gente sempre fala… Low carb… Paleo… Alimentação forte… O que estamos falando aqui é de uma alimentação baseada em alimentos de verdade. Qual outro estilo de vida alimentar – a não ser um baseado em alimentos de verdade – que pode ser superior a esse? Se retirarmos essa vista dessa análise micro… De low carb, cetogênica, alimentação forte… E olhar mais por cima… É uma alimentação baseada em alimentos de verdade. Como isso pode ser uma ameaça ao nosso corpo? “Doutor, estou fazendo uma alimentação mais baseada em carnes de qualidade, legumes frescos, gorduras boas, azeite de oliva.” Ele não vai te xingar. Se você chegar e falar, “Estou fazendo uma dieta cetogênica.” Está cheio de carga negativa. Uma dieta paleo está cheia de estereótipo. Então, esse tipo de coisa vai trazer uma reação negativa também. É legal a gente ter essa visão sóbria de vez quando para a gente novamente se posicionar e poder analisar as coisas de cabeça fria.

Dr. Souto: Perfeito. É isso aí. É bom lembrar que existem muitos anticorpos contra paleo, low carb. Então, se a pessoa evitar o rótulo e se fixar mais nesse conceito… Como diz o Stephan Guyenet num artigo recente dele… Na heurística da comida de verdade. O que é heurística? É aquele truque de pensamento. É aquele pensamento rápido. Comida de verdade, pouco processada, ok… Será uma opção melhor do que uma opção mais processada.

Rodrigo Polesso: Ótimo. Falando em comida, então, para a gente fechar esse episódio, vamos falar o que você degustou na última refeição que você fez. Agora você está viajando. Está nos Estados Unidos. Compartilhe o que você teve a oportunidade de degustar.

Dr. Souto: Aqui o que eu tenho feito é o seguinte. Estou em Washington. Tenho um café da manhã bem servido, com várias opções. É claro que a maior parte das opções é de altíssimo carboidrato. É altissimamente processado. Muito interessante… Não se encontra nenhum tipo de iogurte com gordura. Foi abolido nos cafés da manhã. Nem queijo tem. Em compensação tem ovos mexidos… Ovos mexidos com cebola e tomate… Salsicha… Aquilo que eles chamam de sausage, que na realidade não é salsicha… É como se fosse um mini-hambúrguer. A carne do mini-hambrúguer, sem o pão. A gente junta aquilo ali tudo, faz um prato bem cheio. Na realidade foi minha refeição hoje. Eu comi isso de manhã. Agora são 5 e meia da tarde. Não comi nada desde então. A vantagem da alimentação low carb é que a gente tem fome menos vezes. “Mas o que vou comer se estou nos Estados Unidos e só tem porcaria para comprar?” Sempre se dá um jeitinho. Essas são as situações em que, se o sujeito tem um pouco de prática com jejum intermitente, facilita muito a vida. A gente deixa para fazer uma janta… Aí sim gastar um pouco mais, comer uma comida de qualidade. Objetivamente, respondendo a sua pergunta, foram ovos mexidos com um sausage. Estava gostoso e eu repeti.

Rodrigo Polesso: Ótimo. Isso de que não se acha e só tem porcaria é coisa de preguiçoso. Se a sua prioridade é achar um alimento e nutrir seu corpo, você vai conseguir achar. Você não fica na fila para subir no Empire State por não sei quantos minutos? Então você vai andar duas quadras a mais, numa loja mais natureba e comprar alguma coisa mais saudável. É tudo questão de prioridades.

Dr. Souto: Deixe eu até comentar, Rodrigo. Eu encontrei uma farmácia dessas, que é um supermercado… Eu encontrei para vender as barrinhas da…

Rodrigo Polesso: Epic.

Dr. Souto: Feitas de bisão.

Rodrigo Polesso: Epic. Uma marca bem conhecida.

Dr. Souto: Exatamente, Epic. Para quem nunca viu, é uma barra de bisão. Tem uma foto de um bisão. O primeiro ingrediente do negócio é bisão. O segundo ingrediente era bacon. Existe para vender isso aqui até em farmácia. Tinha também na farmácia para vender um outro negócio muito interessante. Em vez de ser uma barra de proteína, era uma embalagem segmentada em três pedaços. Um pedaço tinha uns pedaços de presunto defumado, no outro segmento tinha castanhas e no outro segmento tinha cubos de queijo. Tinha umas cinco variedades diferentes disso aí, variando o tipo de queijo, o tipo de defumado o tipo de noz. Eu não precisei nem ir numa loja natureba. Isso até em farmácia normal a gente encontra. Quem fica uma hora na fila para ir no Empire State, pode caminhar algumas quadras para encontrar alguma coisa para comer que não seja cheeseburger.

Rodrigo Polesso: Exato. É questão de prioridade mesmo. Eu resolvi fazer um peito de frango com temperos indianos que eu fiz sem receita. Ficou muito bom. Com tomate e um abacate de sobremesa. Bastante nutritivo também. É sempre fácil. É só uma questão de priorizar as coisas e com o tempo fica mais fácil ainda à medida que você fica mais acostumado com seu novo estilo de vida. É um novo estilo de vida. As coisas ficam mais fáceis com a prática. Nesse caso não é diferente. Acho que esse episódio foi bastante útil. Espero que as pessoas tenham gostado. Deixe um comentário lá no EmagrecerDeVez.com. Lá você encontra todos episódios. Tem a transcrição dos episódios também. Você pode deixar comentários lá. As perguntas que você post lá podem “correr o risco” de serem respondidas aqui no podcast também. É basicamente isso. Se você quer se tornar um membro da Tribo Forte, parte dessa tribo incrível, entre em TriboForte.com.br. E se você quer ir no evento ao vivo em outubro em São Paulo… O maior evento de saúde e estilo de vida saudável do Brasil… Tribo Forte Ao Vivo 2017… É só você garantir seu ingresso em TriboForte.com.br/AoVivo enquanto há tempo enquanto tem ingressos disponíveis. Dr. Souto, obrigado pela conversa. A gente se fala na semana que vem.

Dr. Souto: Obrigado, Rodrigo. Para quem estranhou a qualidade técnica ruim, nós estamos gravando num hotel. Aqui tem barulho de ar condicionado. Mas na semana que vem eu devo estar estreando um microfone novo.

Rodrigo Polesso: Aleluia, irmão.

Dr. Souto: Aleluia. Comprei, finalmente.

Rodrigo Polesso: Maravilha. Grande abraço, Dr. Souto.

Dr. Souto: Abraço. Tchau.