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No Episódio De Hoje:

Rompendo a barreira dos 40 episódios, hoje falaremos principalmente de:

  • Exercícios em jejum. Pode, não pode? Saudável? Não saudável?
  • Colocaram no ring nutricional o óleo de côco e o óleo de semente de girassol. Um riquíssimo em gorduras saturadas e o outro não. Qual o resultado?
  • Uma meta-análise recente vem pra confirmar o que já sabíamos a muito tempo sobre o consumo de ovos.
  • O que comemos na última refeição

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Referências do Episódio

Estudo sobre o óleo de côco e o de girassol

Meta-análise sobre o consumo de ovos

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: É um lindo dia frio aqui no norte, no Canadá. A neve já começa a cair no chão. Você está agora ouvindo o podcast número 41 oficial da Tribo Forte. Você está ouvindo o podcast oficial da Tribo Forte, com o Rodrigo Polesso e o Dr. José Carlos Souto. Assuntos como emagrecimento, saúde, alimentação e estilo de vida são tratados de forma imparcial doa a quem doer. Para se tornar um membro da Tribo Forte, entre em TriboForte.com.br. Bom dia, boa tarde para você. Estou aqui novamente com o Dr. Souto para a gente falar sobre dois assuntos interessantes. Não são novidades. Mas são assuntos que valem a pena serem trazidos novamente ao nosso ringue de discussão nutricional. A ciência colocou nesse ringue nutricional dois combatentes: O óleo de coco versus o óleo de girassol. Quem ganha? Esses óleos tem composições bem opostas… Gordura saturada versus gordura não saturada. Tem um estudo recente que traz novos resultados sobre isso. Também temos uma nova metanálise que avaliou o impacto do consumo de ovos inteiros na nossa saúde. Quem alguém quer chutar o resultado dessa metanálise? O pessoal que acompanha a gente já deve ter uma ideia do resultado. Falaremos sobre algumas nuances disso aí. Também teremos uma pergunta da comunidade. Antes de partir para o podcast, vou dar um boa noite para o Dr. Souto. Tudo bem?

Dr. Souto: Tudo bem? Boa noite, Rodrigo. Boa noite, ouvintes.

Rodrigo Polesso: Boa noite a todos. Antes de partir para o ringue nutricional que eu falei e para a questão dos ovos, vamos partir para uma pergunta da comunidade. Já vi perguntas desse tipo em todos os lugares. A pergunta vem da Regina Silva: “Você aprova fazer exercícios em jejum no período da manhã?” Vou passar a bola para o Dr. Souto, depois vou dar meu pitaco também e a gente segue em frente. Dr. Souto, vai lá.

Dr. Souto: Eu não vejo absolutamente nenhum problema em fazer exercício em jejum pela manhã ou no horário que a pessoa preferir. Isso não significa que a pessoa deva fazer exercício em jejum no sentido de que isso fará uma grande diferença para a saúde. Se a pessoa fizer exercício em jejum, ela vai estar queimando mais gordura naquele momento. Se isso vai significar que ela vai ter uma perda maior de gordura ao final de semanas ou meses, é questionável. Alguns estudos sugerem uma pequena diferença – não chega ser uma diferença muito grande. Muitas pessoas têm pouco tempo para fazer exercícios, então elas acordam bem cedo para fazer sua atividade física, tomar um banho e aí ir para o trabalho. As pessoas dizem: “Eu acordo às 5:30 da manhã para ir para a academia e nessa hora eu não estou com fome.” Às vezes elas não têm tempo de preparar alguma coisa. Daí, elas perguntam: “Eu posso fazer exercício em jejum?” Vamos pensar um pouco. Nossos antepassados, no paleolítico, quando o ser humano não tinha inventado a agricultura ainda… ele fazia exercício de barriga cheia ou de barriga vazia? Pegar o carro e ir para a academia fazer exercício físico é uma coisa completamente alienígena para qualquer população humana que não seja a sociedade moderna. Os nossos antepassados faziam de tudo para não fazer exercício. O objetivo deles era fazer o mínimo de atividade física possível. É claro que dentro do estilo de vida de caçadores coletores, o exercício involuntário faz parte. A pessoa para sobreviver tinha que se descolar, correr atrás da comida, caçar, coletar. Mas as pessoas não faziam exercício de propósito. E se tivesse comida abundante na tribo, vocês acham que o pessoal iriam fazer um jogging? Claro que não! O ser humano evoluiu fazendo exercício exclusivamente de barriga vazia para poder encher a barriga. Então, não faz sentido que a pessoa não possa fazer exercício na única circunstância que as pessoas evolutivamente fizeram exercício. A ideia de fazer exercício como nós fazemos é porque vivemos numa sociedade tecnológica completamente sedentária. Então, surge a necessidade de escolhermos um horário para fazer um exercício que não tem uma utilidade – ele é um exercício para a saúde, não para achar comida, construir uma casa ou reparar o telhado da oca que foi destruído na tempestade. Isso é um fenômeno novo. É evidente que o exercício pode ser feito em jejum. Todos os animais predadores somente caçam em jejum – se ele tiver alimentado, ele não vai caçar e vai dormir. Quem já esteve num safari, num zoológico ou já assistiu Animal Planet sabe do que estou dizendo. O animal alimentado dorme. O animal em jejum é perigoso e ativo, porque ele precisa comer e fazer exercício.

Rodrigo Polesso: Esse sinal verde para fazer exercício em jejum, obviamente, é para pessoas normais. Mas aquelas pessoas que estão com o metabolismo todo estragado, que sentem tontura se tentarem mexer o braço rápido demais de manhã cedo, que está com síndrome metabólica, acima do peso… Nesses casos sempre recomendamos arrumar o corpo e a saúde antes de se exercitar. Não é porque você falou que pode fazer exercício em jejum que uma pessoa que está doente também possa.

Dr. Souto: Claro. Vamos pegar um exemplo. Uma pessoa diabética que está usando uma medicação hipoglicemiante oral, especialmente do tipo sulfonilureia (que é uma medicação que aumenta os níveis de insulina faz com que) se a pessoa estiver em jejum, ela pode ter uma hipoglicemia. Isso será agravado se a pessoa tiver uma atividade física que também ajuda a abaixar a glicose no sangue. Essas são situações que devem ser acompanhadas por um profissional de saúde. Para pessoas saudáveis, que já estão adaptadas a uma dieta de baixo carboidrato, já há algumas semanas, está se sentido bem, está com energia sobrando e não está com fome… ela pode fazer atividade física em jejum. Não vejo nenhum problema. Repito, só para ficar claro: Não é que eu ache que toda atividade física deva ser feita em jejum. Não estou dizendo que as pessoas devem parar de comer antes de ir para a academia. Tem gente que se sente melhor tendo praticado atividade física tendo comigo algo. Tem gente que é o contrário, se elas comem alguma coisa aquilo pesa no estômago e elas não rendem na atividade física, como se a comida estivesse voltando na garganta. Têm pessoas que dizem que, se não comerem algo, se sentem fracas ou tontas. A pessoa faz o que achar melhor. Desde de que ela esteja fazendo uma alimentação forte ou low carb… se ela comer ou não antes da atividade física… tanto a atividade física quanto o processo de perda de peso vão ocorrer.

Rodrigo Polesso: O pessoal tende a acreditar que a refeição é igual a energia na hora. “Quero jogar um futebol em meia hora, então vou encher a pança.” Não, você não vai encher a pança. Aquilo demora para ficar disponível no organismo, virar energia, ser alocado como energia depois. Então, as pessoas tendem a acreditar que, para fazer uma série boa na academia, elas precisam estar alimentadas. Na verdade, existem dias de calorias estacados nos nossos corpos na forma de gordura – a diferença é se a gordura está disponível ao acesso no nosso corpo ou não (como nos casos do pessoal que está com síndrome metabólica e etc.). Essa ideia de que você precisa comer bem para performar na academia é uma falácia. Nós não vivemos de refeição em refeição. Se vivêssemos assim, estaríamos andando em uma navalha.

Dr. Souto: Nós temos gordura justamente por isso. A nossa gordura tem o papel que a bateria tem no celular. Seu celular não precisa estar ligado na tomada o tempo todo, só se a bateria estiver muito viciada. Se a bateria funcionar a pessoa liga na tomada, carrega a bateria, desliga da tomada e fica vivendo da bateria. O ser humano faz exatamente a mesma coisa. A gordura cumpre o papel da bateria. O problema é que por algum motivo bizarro as pessoas são orientadas a botar na tomada de 3 em 3 horas (comer de 3 em 3 horas). Aí, é claro que a bateria vai ficando cada vez mais cheia. Só que a bateria chega em 100% e para de carregar. A gordura não tem esse problema – ela vai a 1000% se precisar. Ela é expansível, aumenta de tamanho.

Rodrigo Polesso: Sim, perfeito. Eu sempre faço exercício em jejum. No ano passado eu não fazia. Na verdade, era uma ideia estranha na primeira vez que eu pensei nisso. Mas eu fiz a primeira vez e vi que minha performance foi igual ou superior. Hoje eu faço questão de ir de jejum. Eu me exercito perto do meio-dia e como depois da academia. Acho bem melhor fazer em jejum. Minha dica pessoal é: antes de pensar em exercício em jejum ou não, verifique se esse é realmente o próximo passo para otimizar sua saúde ou se você talvez precise verificar sua alimentação no geral como algo a ser otimizado. Se a sua alimentação não estiver em ordem, com uma alimentação forte correta correndo no seu organismo, você terá problemas em se exercitar, fazer jejum e etc. Quando você tiver uma pergunta de “pode isso” ou “pode aquilo”, eu sempre costumo dizer para que as pessoas pensem com uma perspectiva evolutiva (ancestral). Será que que na modernidade faz sentido não poder se exercitar em jejum? Não faz, porque o pessoal ia caçar um animal porque estava de barriga vazia. Podemos ver que tudo faz mais sentido quando pensamos na questão evolutiva, usando um olhar mais geral e menos focado nos detalhes. Recentemente falei sobre jejum intermitente para a rádio CBN. Tem um vídeo no canal do YouTube do Emagrecer de Vez. O povo estava perguntando sobre jejum, se podia, se ia passar fome, se ia diminuir o metabolismo… Se alguém quiser ver é só pesquisar “CBN Jejum Intermitente Emagrecer de Vez” no YouTube que você achará essa conversa. O primeiro estudo que comentaremos hoje é de 2016, do Jornal do Coração da Índia. É um ensaio clínico randomizado que colocou o óleo de coco de um lado e o óleo de semente de girassol do outro lado para medir o tipo de risco de doenças cardiovasculares que as pessoas teriam ao substituir esses óleos como meio de cozinhar alimentos. Foram 200 pacientes que já tinham doença cardiovascular estável. Eles foram divididos em 2 grupos e seguidos por 2 anos. 100 pacientes cozinharam os alimentos em óleo de coco e o outro grupo em óleo de girassol. Óleo de coco é 87% gordura saturada, 1.8% polinsaturada e 6% monoinsaturada. O óleo de girassol é 13% de gordura saturada, 36% polinsaturada e 46% monoinsaturada. A conclusão, depois desses 2 anos foi a seguinte. O óleo de coco, apesar de ser rico em gorduras saturadas, em comparação com o óleo de girassol, quando usado para cozinhar os alimentos num período de 2 anos, não mudou o risco de doenças cardiovasculares. Essa foi a conclusão. Dr. Souto, quais são suas palavras de sabedoria para esse assunto?

Dr. Souto: É interessante porque ele é um ensaio clínico randomizado – ou seja, o nível de evidência mais alto. Eu dei uma palestra esses dias e usei uma metáfora que acho legal a gente reproduzir aqui. Assim como no mundo da ciência tem diferentes níveis de evidência, numa investigação criminal também é assim. Quando a polícia está investigando um crime, existe um nível de evidência muito baixo, que é o testemunho. O testemunho é quando um sujeito diz “eu vi que aquele homem matou o outro. O homem é aquele do meio, o número 3.” Não é que o testemunho não serve para nada, já que ele é uma evidência. Mas é uma evidência que a polícia considera secundária. A pessoa pode estar enganada, ela pode estar confundindo com alguém parecido, ela pode estar mentindo. Mas vamos comparar com uma evidência que seja uma gravação com vídeo e áudio. Se o testemunho e a gravação dizem a mesma coisa, então todo mundo se convence de que a coisa aconteceu daquela forma. Mas se o testemunho diz uma coisa e a gravação com vídeo e áudio diz outra, em qual eu acredito?

Rodrigo Polesso: Exatamente.

Dr. Souto: Um ensaio clínico randomizado tem um nível elevado de evidência, como uma gravação com vídeo e áudio. Eu posso ter um estudo observacional, semelhante a um testemunho – ele serve como evidência, mas é uma evidência secundária. Ele serve para levantar hipóteses e não é uma prova definitiva. O que acontece se eu tenho um estudo observacional que diz uma coisa e um ensaio clínico randomizado que diz outra? A gente vai pelo ensaio clínico randomizado, porque ele é muito mais importante. Vamos repetir mil vezes, em todos os podcasts, a importância dessa diferença. Esse estudo que estamos discutindo é um ensaio clínico randomizado. O que esse ensaio clínico mostrou? Eram pacientes de alto risco. Eles escolheram pessoas que já tinham doença coronariana, com coronárias obstruídas, com algum stent, ou que tinham obstrução coronariana estável tratada com remédio. Não eram pessoas saudáveis. Se escolhermos pessoas doentes, o risco delas terem um evento durante o período do estudo é maior. Se pegar eu e o Rodrigo e esperar que tenhamos um enfarte, vão ter que esperar uns 50 anos.

Rodrigo Polesso: Espero que mais.

Dr. Souto: Se pegar pessoas que já estão doentes, num período de 2 anos, alguns vão enfartar, e alguns vão ter eventos. O estudo mostrou que não houve diferença. “O óleo de coco, muito embora seja rico em gorduras saturadas em comparação com o óleo de girassol, quando usado como meio de cozinhar, durante 2 anos não mudou os fatores de riscos relacionados a lipídeos, ou os eventos em comparação com o normal (óleo de girassol).” A linguagem dessa conclusão mostra a surpresa dos autores. “Óleo de coco, muito embora seja rico em óleos saturados não provocou nenhum problema cardíaco.” Na realidade, quando li o estudo, fiquei surpreso ao contrário. Eu imaginei que o grupo do óleo de girassol iria morrer mais. Dependendo do paradigma de onde se parte, o espanto pode mudar de lado.

Rodrigo Polesso: Eles foram bem corajosos. Imagine conseguir a aprovação para dar uma dieta rica em óleo de coco para pessoas com risco. Só na Índia mesmo para fazer isso.

Dr. Souto: Seguramente o comitê de ética teve que ter sido convencido com muita evidência. Mas não falta evidência de que a gordura saturada não tem relação alguma com doença cardiovascular. Eles conseguiram, fizeram o estudo e mostraram num ensaio clínico randomizado prospetivo com 2 anos de segmento e um bom número de pessoas já doente. Se o follow-up fosse mais longo (de vários anos) provavelmente iria começar a aparecer uma diferença e eles iriam ficar mais surpresos ainda. Acho que essa diferença seria no sentido contrário do que eles imaginam. O pessoal do óleo de girassol provavelmente iria se dar mal. É isso que apareceu no ensaio clínico randomizado de 9400 pacientes de Minnesota, que foi feito nos anos 70 e só foi publicado agora. Nele houve uma diferença. Os que tiveram o melhor desempenho foram os que utilizaram manteiga em comparação com os que utilizaram óleo de milho. Naquele estudo a diferença foi maior quando se viu em necropsia. Naqueles que morreram que receberam necropsia, o grupo que recebia manteiga teve muito menos aterosclerose nas coronárias do que o grupo que consumia óleo de milho. Só que esse estudo teve uma duração muito mais longa e um número de pacientes muito maior.

Rodrigo Polesso: As pessoas podem perguntar: “Não deveriam ter melhorador com o óleo vegetal?” Aí vem a questão da inflamação. Quantos anos de maus hábitos com um excesso de óleos vegetais, ómega-6 pró-inflamatórios… Quantos anos leva para desenvolver uma doença cardíaca a ponto de ter um infarto? Imagino que seja bem mais que 2 anos.

Dr. Souto: Exatamente. Além do que, não dá para ignorar o fato de que esses são pacientes que receberam o tratamento padrão. Eles estavam super medicados. Eles já eram cardiopatas com problemas coronarianos. Então, também tem a interferência da medicação. As Estatinas, além de baixar colesterol, são anti-inflamatórios. Então, nessas pessoas talvez mitigasse essas gorduras omega-6 ou do óleo de girassol. Não temos como saber, é especulação. Mas quem é a favor das diretrizes vigentes vai dizer que o pessoal do girassol não morreu mais. Quem é a favor de utilizar o óleo mais natural (óleo de coco) vai dizer o contrário. Na realidade, o estudo mostrou que não tem diferença. O importante é o seguinte: o óleo de girassol não precisa de advogado. Os nutricionistas e as diretrizes vigentes adoram o óleo de girassol. Quem precisava de advogado era o óleo de coco. Esse estudo, em sendo prospectivo e randomizado… É uma gravação com áudio e vídeo… Está provado que o óleo de coco não aumenta nem os fatores de risco relacionados a lipídeos (colesterol, HDL, colesterol total, triglicerídeos). O óleo de coco não teve nenhum efeito adverso sobre essas coisas e nem em desfechos cardiovasculares (infartos e etc.)

Rodrigo Polesso: Tem outro ponto que pode justificar o fato de não ter uma diferença para o lado do óleo de coco. Eles colocaram uma quantidade de óleo (de coco e girassol) para completar 15% das calorias totais adquiridas pelas pessoas. Então, eles não tinham controle sobre o restante da gordura ingerida. Talvez as pessoas continuaram ingerindo óleo vegetal para outros fins… acho que isso não foi controlado.

Dr. Souto: Não, não foi. Em 2015 houve uma discussão nacional desse assunto. Uma nutricionista foi na televisão falar mal do óleo de coco. Ela foi criticada nas redes sociais. Aí sociedades especializadas entraram na briga e fizeram uma declaração pública dizendo que o óleo de coco não deveria ser utilizado porque era uma gordura saturada e portanto causaria problemas cardíacos. Está aí, um ensaio clínico randomizado… não causa problema cardíaco.

Rodrigo Polesso: Perfeito. O segundo assunto é essa metanálise recente de outubro de 2016. Saiu no jornal do American College of Nutrition. Foi postada uma metanálise sobre o consumo de ovos relacionado ao risco de doenças cardiovasculares coronárias e infarto. A metanálise levou em consideração 7 estudos que relacionam essas duas coisas. Baseado nos resultados da metanálise pode contribuir para a redução do risco total de infarto. O consumo diário de ovos não parece estar associado com o risco de doença cardiovascular. Bem suave, né Dr. Souto? Mas acho que é válido como algum nível de evidência. Não é a “gravação” que você falou, mas já é melhor que um testemunho.

Dr. Souto: Aqui a coisa funciona da seguinte forma. Isso é uma metanálise de estudos observacionais. Como você disse, não é a gravação, é um testemunho. Vamos fazer um experimento mental. Vamos supor que ovos causem doença cardiovascular e derrames. Se isso fosse verdade, eu encontraria uma correlação positiva num estudo observacional. Mas se eu faço um estudo observacional e não encontro correlação e ainda encontro uma correlação inversa… Eles encontraram que o consumo de ovos está relacionado à uma redução do risco de derrame e nenhum aumento de doença cardiovascular… É porque provavelmente ovo não causa problema. Uma coisa não pode ao mesmo tempo causar ao e estar correlacionada de forma inversa ao estudo observacional. Se um estudo observacional mostra que ovo causa derrames, isso não prova que ovo causa derrame. Mas se ovo causar derrame, o estudo observacional tem que mostrar alguma correlação. Então, há uma assimetria aqui. Nesse caso, numa metanálise, se encontra uma correlação inversa, de que o consumo de ovos protege contra o derrame, é evidente que causar derrame não causa. É mais um pedaço de evidência em cima dos incontáveis pedaços de evidência que tem de que o ovo virou o vilão por muitos anos simplesmente por ignorância. Os estudos não mostram que hajam problemas. O próprio Ancel Keys (o pai da hipótese lipídica da doença cardiovascular) já dizia que o ovo não tinha nada a ver e que o colesterol na dieta não altera o colesterol no sangue. Essa metanálise foi repercutida no Medscape, que é um agregador de notícias médicas que todos os médicos leem. Com os médicos vendo essas notícias eles vão atualizando seus conceitos.

Rodrigo Polesso: Pena que o Ancel Keys falou tarde demais… Eu imagino que as pessoas estejam se perguntando o seguinte: “Ovo não tem problema. Mas quantos ovos por dia eu posso comer, então?”

Dr. Souto: Eu já devo ter falado isso em algum podcast… Da vez que eu fui numa galeteria e perguntei pro dono do estabelecimento quantos dias de vida tinham os galetinhos. Ele me disse que era em torno de 17 a 20 dias. Eu fiz a pergunta porque eu vi que as pessoas tinham pratos com cemitérios de ossos. Todo mundo tinha comido vários galetinhos. E aqueles galetos, há 20 atrás, eram ovos. Quando eles eram ovos, eram letais e iriam entupir suas artérias, mas agora que eles nasceram, 20 dias depois, dá para comer sem problemas? Enquanto eles são ovos, estão envoltos na mística, em algo que não tem a ver com ciência. Nos falaram isso por tantos anos que olhamos para os ovos e enxergamos uma coronária se entupindo. Depois que o pintinho bicar ali e quebrar a casca… ele faz bem… Pode comer porque é uma carne magra. Se pegar um pinto e colocar no liquidificador e medir quanto porcento de cada ingrediente tem, evidentemente não será muito diferente do ovo – ele nasceu dali de dentro.

Rodrigo Polesso: Vou limpar minha imaginação um pouco aqui. Essa foi pesada. Todos esses “vilões” que surgiram… A gordura saturada da carne e do ovo são os alimentos que encontramos na natureza desde sempre. Agora os “santinhos” são aqueles que não encontramos… Se você pisar numa massa de coco, você consegue óleo de coco, mas tente tirar óleo da semente do girassol. Por que esses são “santos” e o que está disponível facilmente na natureza virou “vilão”? Por que o ovo é um “vilão” e uma farinha de trigo é uma “santa” porque não tem gordura? Não faz sentido algum!

Dr. Souto: Isso seria um tributo ao poder da propaganda e marketing. Quando colocamos isso nesses termos, vemos que é muito absurdo. Uma população inteira, mesmo nas regiões mais distantes do país, está convencida de que aquilo que sai da terra, que os bichos que as pessoas criam nos seus sítios, vão lhe matar. Já aquilo que a pessoa compra na mercearia, que vem de uma fábrica vai fazer bem. A pessoa vende o leite que ela tirou da vaca na sua propriedade, pega o dinheiro e vai trocar por uma margarina, por um leite desnatado. Isso acontece. Um casal veio consultar comigo, trazido pelo filho. O filho disse que eles vendiam os produtos e iam na mercearia comprar as coisas desnatadas, óleo de soja… enquanto eles poderiam estar utilizando a banha do porco da fazenda deles. O fato da propaganda ter conseguido fazer uma lavagem cerebral numa pessoa que mora lá no interior numa pequena propriedade é o espanto do fenômeno da propaganda e marketing. Se existisse um prêmio Nobel para coisas incríveis e malignas, isso deveria ganhar.

Rodrigo Polesso: Isso está tão tatuado na cabeça das pessoas que elas não pensam mais a respeito. Esse é o perigo. Já é senso comum. Já é “óbvio” que isso é verdade. As pessoas nem passam um tempo pensando sobre isso. Imagine só se a criação da indústria será mais correta do que milhões de anos de trabalho da natureza em criar um alimento para sustentar a própria criação do ser humano. Se você for pensar sobre isso, a gente vê logo que alguma coisa não faz sentido. O problema é que a gente não pensa. Essas informações foram tatuadas na gente ao longo de décadas. A geração nova já nasceu ouvindo esse tipo de coisa como verdade absoluta. A gente nem pensa nisso. Outra coisa interessante de se mencionar a diferença de perfil lipídico entre um ovo de granja e um ovo caipira de verdade. A diferença de qualidade dentro do ovo também se diferente, assim como na carne e no peixe. Devemos preferir os ovos caipiras, suportar o produtor pequeno, apoiar o orgânico… Quando tem mais demanda, tem mais oferta também. Mas, Dr. Souto, se não respondermos pergunta, muita gente vai perguntar: “Quantos ovos podemos comer por dia?”

Dr. Souto: Definitivamente eu acho que não exista uma resposta científica para isso, assim como não existe uma resposta científica para “quantas postas de peixes eu posso comer por dia?” Está escrito isso em algum lugar? Quantos moranguinhos posso comer num dia?

Rodrigo Polesso: Quantas pizzas?

Dr. Souto: Quantas pizzas eu acho que tem uma resposta científica. Nenhuma. Está comprovado. Se eu dizer “quantas postas de peixe você quiser”, talvez a pessoa coma um quilo de peixe e passe mal. Mas é o bom senso. Coma peixe até ficar saciado. Coma ovos até ficar saciado. Dificilmente uma pessoa não ficaria saciada 3 ou 4 ovos numa refeição. Se a pessoa quiser comer 3 ou 4 numa refeição e 3 ou 4 numa refeição no mesmo dia, eu não vejo nenhum problema – desconheço que exista uma evidência forte no sentido disso ser um problema. Por que eu partiria do princípio que comer X ovos é perigoso se eu não tenho esse limite para comer mais do que X galetos ou X bananas? Como é uma coisa que nunca esteve associada com risco cardiovascular e é simplesmente um alimento muito nutritivo, desde que a pessoa não coma o suficiente para passar mal… é uma comida normal como qualquer outra. Ela é tratada como qualquer lógica e bom senso como qualquer outra comida natural e saudável.

Rodrigo Polesso: Acho que resumiu perfeitamente. Não ficamos pensando “será que consigo comer 10 pedaços de salmão?” Você pega só 1 porque sabe que se comer 2 vai passar mal. Vale para toda comida. O pessoal sempre pergunta se pode ou não pode… “pode quanto?” Vamos praticar o bom senso… Estamos aí para ajudar nisso também. Vamos falar o que você degustou na sua última refeição para a gente fechar esse episódio de hoje.

Dr. Souto: Na minha última refeição a coisa diferente do habitual, que é o bife com salada… Foi que eu tive num evento em Brasília. A Cacau, que deve estar nos ouvindo, fabrica doces maravilhosos… São doces feitos com eritritol, com farinha de amêndoas, com chocolate orgânico 100%. Eu comi uma dessas coisas maravilhosas hoje. Eu podia comer de joelhos. No entanto, era feito só com componentes da melhor qualidade, sem farinha de trigo, sem carboidratos, sem açúcar.

Rodrigo Polesso: Você comeu só o doce de refeição?

Dr. Souto: O doce foi a sobremesa. A refeição foi o famoso bife com salada que eu já falei.

Rodrigo Polesso: Tudo bem. Você falou bem dessa questão da sobremesa. Esse final de semana eu tentei fazer um pão de abóbora aqui em casa. O nome é “pão de abóbora”, mas ele é mais um bolo de abóbora. Ele é feito sem farinha e sem açúcar refinado. Estou lapidando a receita. Quando ela ficar boa, vou postar dentro do portal da Tribo Forte. Essa primeira tentativa ficou muito boa. Fico emocionado em ver a quantidade de coisas que podem ser feitas só com alimento de verdade. Fica muito mais gostoso, muito mais nutritivo… Você come com paz mental e não com peso na consciência. tem um universo de possibilidades quando você abre os braços para esse tipo de coisa. Fora isso, foi um salmão, um avocado e uma salada mixta. Só um pedaço desse bolo de abóbora que ficou uma delícia. Falando em receitas… A Poliana Freitas, que é nutricionista, gaúcha, nossa amiga, falou no evento da Tribo Forte… Ela está incluindo receitas dentro do portal da Tribo Forte. Todas as semanas temos receiras dela e da Pati Ayres. Já temos uma base de receitas muito grande lá dentro. A alimentação só é chata para quem quer. Se você não é membro da Tribo Forte, entre em TriboForte.com.br. Você poderá ter acesso a tudo isso. Veja com seus próprios olhos lá dentro. Inclusive, o segundo dia de palestras do evento está disponível no portal. Então, todas as palestras estão disponíveis para os membros assistirem. Novamente: TriboForte.com.br. Dr. Souto, muito obrigado pelo seu tempo nesse episódio de hoje. A gente se fala na próxima semana.

Dr. Souto: Isso aí. Muito obrigado. Obrigado aos ouvintes e até a próxima semana.

Rodrigo Polesso: Abração.

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