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No Episódio De Hoje:

No episódio de hoje vamos compartilhar contigo :

  • Colesterol “alto” mesmo em uma dieta de baixo carboidratos? Veremos alguns pontos que podem ser a causa.
  • Um estudo novo com conclusões erradas, seria o oposto da dieta paleo o melhor para nossa saúde? Como nos proteger deste tipo de balela?
  • O que almoçamos na última refeição…

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Referências do Episódio

Artigo do Dr. Souto: Quando high fat se torna “too high”?

Reportagem da Business Insider sobre o “oposto da paleo”

 

Transcrição Completa Do Episódio

Rodrigo Polesso: Você está ouvindo o podcast oficial da Tribo Forte, com o Rodrigo Polesso e o Dr. José Carlos Souto. Assuntos como emagrecimento, saúde, alimentação e estilo de vida são tratados de forma imparcial doa a quem doer. Para se tornar um membro da Tribo Forte, entre em TriboForte.com.br. Olá, olá! Esse é o episódio número 32 do podcast oficial da Tribo Forte. É o podcast número 1 em saúde no Brasil. É muito bom estar aqui com você para mais uma semana e mais um episódio. Como você está essa semana? Muito ocupado? Animado com o verão? Agora é época na qual todo mundo começa a se preocupar com a boa forma. A saúde é importante só para mostrar para os outros! A medida que o verão vai chegando o pessoal começa a se importar mais com saúde. Vou começar a monitorar o acesso ao podcast para ver se vai aumentar durante essa estação. O pessoal só se lembra da saúde quando existe algum motivo específico. Hoje falaremos sobre um novo estudo bem recente – não sei nem se merece o nome “estudo”. Isso nos inspirou a falar hoje sobre como se proteger das balelas ditas por aí. Devemos tirar nossas próprias conclusões das coisas e tentar fazer o melhor por nós mesmos. Também teremos uma pergunta da comunidade cuja resposta pode ajudar muita gente. É um assunto do qual ainda não falamos ainda. Acho que a resposta pode ajudar muitas pessoas a entenderem como esse mecanismo funciona. Você vai ficar de boca aberta com esse estudo caso você já nos acompanha. Falaremos sobre os perigos de estudos como esse. Enfim, Dr. Souto, tudo bem com você por aí?

Dr. Souto: Tudo tranquilo.

Rodrigo Polesso: Tudo ótimo. Vamos partir direto para a pergunta da comunidade. Você é a pessoa mais qualificada para responder isso, pois com certeza deve vivenciar isso muito na sua prática. O Erlon de Bazar pergunta o seguinte: “Olá, gente. Alguém pode me ajudar? Eu faço low carb high fat há 5 meses e nunca tive sobrepeso. É por saúde e estilo de vida mesmo. Só que agora eu fiz exames e veio o desespero. Colesterol total 424; HDL 60; LDL 338 e triglicerídeos 130. Mostrei os resultados para meu médico e eu disse que tenho uma doença chamada dislipidemia hereditária familiar. No meu caso, é o número 3 (grave) e terei que tomar remédios o resto da vida para baixar o colesterol. Eu sempre acompanho o Dr. Souto e o Emagrecer de Vez, e estou num dilema muito grande. O pior é que não tem médico com essa abordagem aqui na cidade. O que eu faço, gente?” Então, a pessoa começou o low carb high fat há 5 meses e tem colesterol alto. O médico dele disse que ele tem dislipidemia hereditária familiar. Dr. Souto, o que você tem a dizer para ele?

Dr. Souto: Tenho várias coisas a dizer. A primeira é: será que ele precisa fazer low carb high fat se ele não tem peso para perder? Se o objetivo é por saúde, bem-estar, longevidade… recomendamos uma dieta mais paleo – uma alimentação com alimentos mais semelhantes aos quais os nossos antepassados estavam expostos. Por exemplo: aquilo que podia ser caçado, pescado, frutas e raízes. Se a pessoa não é diabética e não precisa perder peso, ela não precisa fazer uma restrição severa de carboidratos. Então, no caso do nosso leitor, talvez essa dieta não precise ser tão low carb assim. Vamos conversar sobre “high fat”. Os autores de língua inglesa têm adotado ultimamente que “LCHF” (low carb, high fat) deve ser na verdade “low carb healthy fat” – ou seja, baixo carboidrato e gordura saudável. O “high fat” que nós traduziríamos como “alta gordura” às vezes acaba sendo interpretado de maneira não adequada. Uma dieta de baixo carboidrato será high fat quando comparada com a quantidade de gordura na dieta que a maioria das pessoas faz. A maioria das pessoas come tudo desnatado, procura as versões com restrição de (ou sem) gordura, tira a pele do frango, come a omelete só com a parte branca do ovo… a maioria das pessoas busca isso e acha que está fazendo bem para a saúde. Em relação a este tipo de dieta, a dieta que propomos aqui é uma dieta high fat (de alta gordura). Mas muita gente interpreta “high fat” como “quanto mais gordura melhor”. “Se um pouco de uma coisa é bom, muito dela deve ser melhor.” Isso normalmente não é verdade. Uma vez eu atendi um casal no consultório. Os dois queriam fazer uma dieta low carb para a perda de peso. Então, eu os orientei. Dois meses depois, os dois retornaram e tinham perdido peso. Normalmente, o homem perde mais peso do que a mulher, como aconteceu naquela situação. A mulher disse: “Doutor, eu acho que ele está exagerando na gordura.” Eu perguntei: “Por que?” Ela disse: “Quando vamos comer uma picanha, eu corto fora a capa de gordura, porque eu não gosto. Ele come a picanha dele com a capa de gordura e come a capa da minha picanha também.” Eu disse para ele: “Eu acho que realmente é um exagero.” Já conversamos aqui em outro podcast sobre densidade nutricional. A capa de gordura pura não tem uma alta densidade nutricional. Aquilo é só gordura. Aquilo seria como comer manteiga ou beber azeite. Não tem muito sentido comer gordura pura – seria como consumir exclusivamente calorias sem muitos nutrientes. É diferente de comer a carne (que tem uma densidade nutricional altíssima) e comer as gorduras entremeadas nas fibras da carne, mesmo que eu tire a capa grossa de gordura. A resposta do marido desse casal foi: “Mas o senhor disse que podia comer gordura.” Ele tinha entendido que quanto mais gordura, melhor. Nisso a genética manda: tem pessoas que podem comer quantidades muito grandes de gordura e mantêm seus lipídeos normais e mantêm o colesterol em níveis aceitáveis. Já outras pessoas, se consumirem uma quantidade grande de gordura vão poder desenvolver um quadro de dislipidemia como esse. Para dizer que isso é uma hipercolesterolemia familiar, teria que saber desse nosso ouvinte se o colesterol dele já era assim antes dele fazer a dieta. Pela pergunta, tenho a impressão de que não. Se ficou assim depois, não tem cabimento resolver isso com remédio. O ideal seria modificar sua dieta para resolver o problema. Sim, 400 de colesterol é um problema. Nós provavelmente já falamos em outro episódio, mas o colesterol total isoladamente não é uma métrica importante. Ele praticamente não tem valor preditivo no que diz respeito à doenças cardiovasculares. Temos que avaliar o colesterol total junto com o HDL e com os outros marcadores. Se uma pessoa tem 230 de colesterol total e 70 de HDL, ela não precisa fazer nada para baixar seu colesterol porque a relação entre colesterol total e HDL (um dividido pelo outro) está excelente. Uma boa parte da “elevação” do colesterol total da pessoa é às custas do HDL, que é uma coisa boa. Se a pessoa tivesse 180 de colesterol e um HDL de 30 estaria num risco cardiovascular muito maior do que uma que tem 230 e HDL de 70. Então, é comum numa dieta low carb que a pessoa tenha uma elevação do colesterol total concomitantemente a uma elevação do HDL. Isso é até uma evolução favorável. Obviamente, isso não se compara com a situação desse nosso ouvinte que está com 400 de colesterol total, e 300 e tantos de LDL. Isso é sim um fator de risco cardiovascular. Isso não pode ficar dessa forma. Mas eu repito: se não era assim antes, por que ele teria que tomar remédio o resto da vida? Então, o primeiro passo é saber se o “high fat” não está sendo levado ao pé da letra no sentido de consumir o máximo de gordura possível, acrescentando mais gordura além da gordura natural dos alimentos. A segunda coisa é a seguinte: se ele tem tendência familiar (hereditária) a dislipidemia, ele pode fazer modificações como evitar a gordura da carne gorda, diminuir a quantidade de bacon, banha, manteiga; e se focar mais em peixe, frutos do mar, nozes, castanhas, abacate, azeite de oliva, e outras gorduras insaturadas. Assim, é provável que ele retorne a níveis não somente adequados, mas bons; com um colesterol total dentro do aceitável com um bom HDL; sem ter que abandonar a dieta low carb; sem ter que deixar de comer gordura. As comidas que acabamos de citar aqui (abacate, nozes, castanhas, salmão, sardinha) são alimentos de alta gordura, mas é a gordura saudável. Alguém pode estar pensando: “A gordura natural dos alimentos não é sempre saudável?” Sim. Mas existe uma tolerância individual que indica quanto cada pessoa pode consumir de gordura antes de desenvolver uma alteração nos lipídeos. Vou usar uma analogia. Nós sabemos que a intolerância individual das pessoas aos carboidratos é muito variável. Tem pessoas que podem consumir 100 gramas de carboidrato por dia sem ter alterações importantes na glicemia, sem engordar, sem nenhum problema. Para outras pessoas, para conseguir manter o peso e manter a glicose controlada, precisam consumir 50 gramas de carboidrato por dia. Se for um diabético com o diabetes controlado graças a uma dieta low carb, e comer três bananas bem maduras a glicemia dela vai a 250. Ela terá uma alteração grave na glicemia. Isso significa que banana faz mal para a saúde? Isso significa que frutas são venenosas? Não! Isso significa que aquela pessoa não pode comer frutas tão doces. Ela vai ter que escolher frutas com menos açúcar. Alguém que desenvolve uma dislipidemia com 300 de LDL e 400 de colesterol total não pode comer a quantidade de carne gorda que talvez eu e o Rodrigo possamos. A vida é assim, pessoal. Isso não significa que a pessoa tenha que abandonar uma dieta low carb. Significa que ela tem que fazer uma dieta low carb com gorduras saudáveis (healthy fats). As mono insaturadas e as insaturadas presentes nos alimentos tendem a ajudar nesse sentido.

Rodrigo Polesso: Ficou uma aula bastante bacana. Quero dar uma questão menos clínica e mais sóbria na questão. O Erlon parece uma pessoa nova pela foto dele. Antes de nos preocuparmos com qualquer detalhe da nossa alimentação, e outros pontos mais avançados, eu acho que todo mundo pode tirar proveito de um verdadeiro banho de bom senso. Você deve parar e pensar o que está fazendo com sua alimentação. No que estamos exagerando? Talvez seja algo que já acostumamos por causa do hábito. Pode ser algo que, há 5 meses atrás quando ele começou a dieta, não fazia. O que você entende que é essa dieta low carb high fat? O que você está fazendo no seu dia a dia? Quais alimentos você está consumindo em excesso? Os triglicerídeos estão meio alto, então ele não deve estar totalmente em low carb high fat. Antes de ficar desesperado, é bom tomar um banho de bom senso para descobrir o que você está fazendo que possa ser fora do normal. Talvez você ache um ponto que possa ser melhorado rapidamente para que você possa seguir em frente. Depois que você não souber mais o que fazer, você poderá “abrir as portas para o desespero”, para avaliar as coisas mais clínicas.

Dr. Souto: Eu tenho uma postagem no blog que fala exatamente desse assunto. O título é “quando high fat se torna too high” (quando o alto vira alto demais). Podemos linkar essa postagem depois para as pessoas darem uma revisada. Ali eu boto um caso real de uma pessoa que chegou a esses níveis de colesterol (superior a 400) e com modificações (iguais a essas que falamos) conseguiu normalizar tudo, sem remédio. Se a coisa era normal e se alterou numa dieta high fat, vamos reinterpretar esse “high fat” como “healthy fat”. Não fuja obcessivamente da gordura, mas também não persiga objetivamente a alta gordura. A ênfase é na redução de carboidratos processados. E não “quanto mais gordura melhor.

Rodrigo Polesso: Perfeito. Vale lembrar que gorduras como manteiga, azeite e óleo de coco são processadas. Elas são concentradas. Então, ao invés de comer isso de forma exagerada, por que não comer os alimentos que contém essas gorduras naturalmente? Se você comer um coco inteiro, tudo bem. Mas é fácil exagerar comendo colheres e colheres de óleo de coco. A mesma coisa acontece com azeite de oliva e manteiga. É sempre melhor focar nos alimentos nos quais pegamos todos os nutrientes e minerais e não só a gordura isolada.

Dr. Souto: Eu me lembrei agora de um autor que colocou isso maravilhosamente bem. Ele disse assim: “Uma coisa é consumir um determinado nutriente. Outra coisa é consumir doses farmacológicas dessa substância.” Quando consumimos doses farmacológicos de uma gordura, passamos a ter efeitos farmacológicos. Então, é isso. O bom senso é sempre bom.

Rodrigo Polesso: Beleza. Vamos partir para o estudo. Vamos ver os cuidados que temos que ter e como avaliar o que sai por aí na mídia. Para quem já nos acompanha, se segurem na cadeira. “Cientistas dizem que o exato oposto da dieta paleo parece ser o melhor para quem quer viver uma vida longa.”

Dr. Souto: O que seria o “exato oposto da dieta paleo”? Para mim, seria comer exclusivamente alimentos que saem de fábricas, de preferência farinha e açúcar. Isso para mim seria o “exato oposto” da dieta paleo. É de uma imbecilidade o título desse negócio…

Rodrigo Polesso: Pois é. Mas é o tipo de título que pega a atenção e sabemos que o objetivo de muitos canais de mídia é pegar a atenção.

Dr. Souto: Os cliques.

Rodrigo Polesso: É. A bola começa a rolar quando começarmos a analisar o que é esse estudo. Vou ler alguns parágrafos que estou traduzindo do artigo. O artigo estará no artigo do podcast 32 no EmagrecerDeVez.com. Vamos lá: “Uma dieta de baixa proteína e alto carboidrato pode ser a maneira mais efetiva para estimular o hormônio da longevidade, de acordo com uma pesquisa australiana recente. Esse estudo, publicado no Cell Metabolism, dá uma ideia mais clara sobre um hormônio que tem um nome bastante complicado: Fibroblast Growth Factor 21 (FGF21). Em estudos anteriores, eles descobriram que esse FGF21 tem uma influência em diminuir o apetite, moderar o metabolismo, melhorar o sistema imunológico e estender a vida. Ele também é usado terapeuticamente para diabetes. Esses pesquisadores universitários de Sydney, na Austrália, descobriram que dietas altas em carboidrato e baixas em proteína são a melhor maneira de você turbinar esse hormônio FGF21 em ratos.”

Dr. Souto: Era isso que eu ia dizer… Em que espécie mesmo?

Rodrigo Polesso: Em ratos. Vamos ver o que o Doutor que conduziu o estudo falou: “Independentemente da popularidade das dietas paleo, a nossa pesquisa sugere que o exato oposto pode ser o melhor a medida que a gente envelhece. Uma dieta alta em carboidratos e alta em proteína foi a mais benéfica no estudo observado.” Então, eles fizeram um estudo em ratos e descobriram que esse FGF21 teve uma resposta maior quando a dieta foi alta em carboidratos e baixa em proteína. Ou seja, eles concluíram que uma dieta baseada em alimentos que saem da fábricas seria a melhor resposta para uma vida longa. Que maravilha, Dr. Souto!

Dr. Souto: Chega a dar um desânimo. Você já ouviu falar em “ciência da fada do dente”, Rodrigo?

Rodrigo Polesso: Não, mas imagino o que você quer dizer com isso.

Dr. Souto: Esse conceito não é meu, mas sim de uma médica chamada Harriet Hall. Ela usa essa expressão para explicar algo que se aplica muito bem a esse caso. Imagine que eu resolva fazer uma série de anotações científicas sobre a fada do dente. “Será que ela vai dar mais dinheiro para o primeiro dente que eu perder ou para os últimos? Será que se eu colocar o dente debaixo do travesseiro em um pacote bonito ganharei mais dinheiro?” É possível coletar uma série de dados sobre isso e fazer uma maravilhosa teoria sobre a fada do dente. Mas existe um detalhe: antes de fazer tudo isso, convém verificar se a fada do dente existe. É possível construir teorias complexas… Criando estatísticas com o dinheiro dado para os incisivos versus os molares. Mas antes disso convém verificar se a fada do dente realmente existe e não é mãe que está botando o dinheiro lá. Vamos ver esse estudo. “Se o rato comer uma dieta com mais carboidrato e menos proteína, um marcador chamado FGF21 vai elevar. O FGF21 está associado com bons desfechos em ratos.” Por que estamos falando que esse estudo é algo secundário se na semana passada festejamos um outro estudo? Para quem está nos ouvindo, pode ficar parecendo que só achamos bom quando o estudo é favor do que pensamos. Mas eu vou explicar a diferença. Já existe um grande conjunto probatório de estudos mostrando que o açúcar está altamente relacionado ao desenvolvimento de diabetes em humanos. Então, é um fato estabelecido que o consumo excessivo de carboidratos (especialmente de açúcar) leva a hiperinsulinemia, excesso de peso, gordura no fígado, síndrome metabólica e diabetes tipo 2. Já sabemos que isso é real – não é a mamãe que está botando dinheiro debaixo do travesseiro. O açúcar causa esses problemas no ser humano. Quando chega um estudo em ratos que mostra um mecanismo provável através do qual isso acontece, é interessante por ser um estudo por explicar algo que já sabemos que é real. Mesmo assim, quem escutar o podcast que gravamos escutará nossa advertência: é algo preliminar e não sabemos se é assim em humanos, mas se isso se confirmar é mais um motivo para não comer tanto açúcar. Agora vamos para um estudo em tela. Qual é a evidência que nós temos que mostra que comer bastante carboidrato e pouca proteína é uma coisa maravilhosa para a saúde humana?

Rodrigo Polesso: Nenhuma.

Dr. Souto: Em termos de dieta, espécie é uma coisa importante. Em seres humanos, o consumo excessivo de carboidratos tende a estar associado com o desenvolvimento de síndrome metabólica, gordura no fígado, ganho de peso. Um monte de ensaios clínicos randomizados mostram que a redução de carboidratos na dieta leva à melhora dessas doenças e à perda de peso. Um estudo epidemiológico publicado há alguns anos atrás causou um caos na impressa. O estudo epidemiológico só observa e não pode estabelecer causa e efeito. Esse estudo dizia que o consumo maior de proteína estava associado com um risco maior de doenças e morte. Mas, esse estudo percebeu que quando se separa as pessoas com mais de 60 anos, isso se invertia – quanto mais proteínas elas comiam, menos elas morriam. Eu não dou muita bola para a conclusão daquele estudo porque ele é um estudo epidemiológico cheio de vieses e problemas. Mas, a evidência que se tem, mesmo com estudos epidemiológicos, é que justamente nas pessoas mais velhas o consumo de mais proteína é importante. Então, o que esse estudo em ratos está sugerindo é algo diferente daquilo que se observa em humanos. Quando isso acontece, temos que nos questionar mil vezes se esse estudo tem qualquer aplicabilidade em humanos. Certa vez, no meu blog, escrevi sobre estudos em animais. Eu escrevi que estudos em animais servem apenas para levantar hipóteses. Estudos em animais se tornam pouco relevantes quando estudos em humanos mostram que o fenômeno ocorre de forma diferente. Acontece muito de doenças sendo curadas em roedores, mas o mesmo não ocorre em humanos. Quantas vezes vocês já leram que “cientistas conseguem curar determinado tipo de câncer em roedores?” Passam 5 anos e as pessoas continuam morrendo de câncer. O fato de algo ter funcionado em roedores não significa muito quando este algo não está funcionando em humanos. Nessa mesma postagem eu falei: “Imagine que temos um estudo no qual bodes ou ovelhas ganham peso se comem muitas folhas verdes.” Isso é verdade, se eu quiser engordar uma ovelha, eu daria bastante grama para ela comer. Imagine que eu diga que, baseado nisso, eu vou pedir para as pessoas evitarem as folhas verdes, já que está demonstrado que ovelhas engordam comendo folhas verdes. Esse exemplo é bizarro, mas em pessoas as folhas definitivamente não engordam. Até que surja um estudo de qualidade que mostre que uma dieta rica em carboidrato e pobre em proteínas traga uma série de benefícios para a saúde, esse estudo em questão é uma curiosidade. Esse estudo pode levantar algumas questões. “Será que uma dieta com muita proteína é uma coisa boa ao longo prazo?” Acho que é uma coisa a ser estudada. Por um lado, a proteína ajuda a manter a massa muscular, massa magra, massa óssea. Por outro lado bastante proteína ativa uma via chamada mTOR, que é uma via que está associada alguns tipos de câncer. Então, a pessoa consumindo menos proteína pode ser que ative menos essa via e tenha um risco menor de câncer. Por outro lado, a perda da massa magra está associada com o decréscimo da longevidade – as pessoas que entram na velhice com mais músculo vivem mais. Então, é algo muito complexo e multifatorial. Esse estudo não mostra, portanto, que o exato oposto da dieta paleo fará você viver muito. Esse estudo mostra que ratos que comem uma dieta com menos proteína e mais carboidratos tem uma elevação na proteína chamada FGF21. É só isso que esse estudo mostra. Portanto, serve para levantar hipóteses. Serve para testar, talvez, a dieta com mais proteína num animal mais parecido com o ser humano, quem sabe um babuíno. É claro que seriam estudos mais caros e mais demorados, já que são animais que vivem anos, diferente dos roedores que em dois anos estão morrendo de velho. Enfim… o fato do FGF21 aumentar num camundongo que come pouca proteína e bastante carboidrato não significa que o exato oposto da dieta paleolítica é o ideal para o ser humano.

Rodrigo Polesso: Na minha opinião isso é ridículo por vários motivos. O primeiro é que eles consideram a dieta paleolítica como “alta em proteína”. Não tem nem porque mencionar a dieta paleo aqui.

Dr. Souto: Se a dieta rica em proteína ao longo prazo é boa ou ruim é uma questão interessante de ser respondida. Felizmente, como a dieta que propomos tem proteína normal, esse estudo se quer diz respeito ao que propomos.

Rodrigo Polesso: Sim. Esse não é nem o ponto dessa pesquisa. Eu sempre falo que as pessoas devem conferir qualquer estudo, seja ele do lado “claro” ou “negro” da força. Avalie tudo com a mente cética. Nesse estudo, nós vemos que o FGF21 aumenta em ratos – muito bom! Isso é um fato. Mas só um maluco da cabeça pode chegar à conclusão que por isso o oposto da dieta paleo é ideal para o ser humano. O FGF21 aumentou… e os triglicerídeos, a glicemia, a obesidade, a diabetes, o Alzheimer… nada disso tem problema. Eles acham que esse fato é o suficiente para sustentar a dieta oposta. No estudo eles falam assim: “Sabe-se que essa FGF21 aumenta sua atuação em ambientes de baixa proteína. Esse FGF21 também aumenta em outros contextos, como jejum, dietas cetogênicas e em dietas altas em carboidratos.” No final, eles ainda dizem que “ainda existe muita discussão a respeito disso”. Então, eles não concluem nada. Não sei se o Doutor foi pago ou não para associar à dieta paleo. Mas é interessante eles falarem que esse FGF21 também aumenta em jejum e dietas cetogênicas. Sabemos que a restrição calórica está vinculada à longevidade – isso não é segredo. Eles criaram uma bola de neve com um estudo fraco.

Dr. Souto: O estudo em si é de ciência básica. A grande porcaria é quando sai o press release envolvendo dieta paleo. Eles botam porque todo mundo está falando disso… está na moda. Portanto, isso atrai cliques. Muitas vezes nós xingamos o autor do estudo mas ele nem é o culpado. Essas grandes universidades têm departamentos de imprensa que desenvolvem esse texto pronto e entregam esse texto para os jornais e revistas. E os jornais e revistas estão sempre procurando uma manchete. Talvez a vida desse cientista seja estudar esse FGF21. Ele achou algo interessante: variando a dieta do rato de diversas formas, a que deu maior aumento foi assim. A conclusão é que se você quiser que seu rato tenha um FGF21 aumentado, dê carboidrato para ele. Mas daí o pessoal do press release fala: “Me dê mais alguma coisa… o que significa isso?” Aí ele diz: “Esse FGF21 está associado com longevidade.” Aí eles perguntam: “Posso dizer, então, que em ratos a longevidade aumenta com uma dieta pobre em proteínas e rica em carboidratos?” Aí dele diz que pode e desliga o telefone. Depois disso, o pessoal do press release pensa em como gerar cliques: “Dieta rica em proteína é a dieta da proteína… e a dieta da proteína é a paleo. Se uma dieta de baixa proteína aumenta o FGF21, as pessoas deveriam comer o total oposto da paleo.” É dessa forma que surgem essas obscenidades na imprensa. É uma ganância por cliques gerada por um telefone sem fio. Quando isso cai na rede, as pessoas que são contra a dieta low carb começam a republicar isso: “Os ratos que comem carboidrato têm FGF21 aumentado. Vocês vão morrer se continuarem comendo assim.”

Rodrigo Polesso: É pior ainda quando o autor do estudo fala besteira. Nesse caso não tem nem como falar que é culpa do pessoal da publicidade. Então, para concluir isso aqui… Para quem tem rato em casa e quer aumentar o FGF21 do rato, é só dar uma dieta alta em carboidrato e baixa em gordura. Essa é a conclusão. Não entendo como eles saem disso e chegam na manchete do artigo: “Cientistas descobrem que o exato oposto da dieta paleo parece ser o melhor para uma vida longa”. Isso serve para ficarmos céticos com tudo que lemos, seja a favor ou contra nossas ideias. O Carl Sagan sempre dizia: “O método científico tem que ser respeitado e sempre temos que pensar em formas de provar o contrário do que acreditamos.” É bom ter esse ceticismo. Tenha cuidado com esse tipo de manchete. Avalie o que é verdade e o que é mentira. Não dá para ler somente a manchete, tirar conclusões e espalhar isso por aí. Dr. Souto, vamos fechar o episódio falando do que comemos nas nossas últimas refeições. Você comentou que hoje foi um dia bastante longo. Você teve alguma refeição depois do café da manhã?

Dr. Souto: Não, hoje não teve. Como eu viajei, estamos gravando podcasts em dias atípicos. Se vocês ouvirem ruído de fundo, é porque não estou no meu consultório. Essas são as vantagens da dieta low carb (mas se você for um rato, talvez te mate). Meu café da manhã foram ovos mexidos, queijo, orégano, tomate e pimenta. Depois do café da manhã eu fui trabalhar. Eu sou cirurgião, eu tive duas cirurgias que acabaram se prolongando e entrou no horário do almoço. Depois eu fui para o consultório. Agora são 9 da noite. Minha última refeição foi lá pelas 8 da manhã. Eu até vou comer alguma coisa depois de gravar o podcast, mas eu não comeria até amanhã tranquilamente. Para quem ainda não faz isso, pode parecer um absurdo. Mas pode acreditar, é tranquilo. Podemos pular uma refeição se não tivemos tempo. Às vezes nem lembramos. É uma liberdade muito grande. A palavra que melhor expressa é essa: liberdade. Não sou escravo de ter que ficar comendo de tantas em tantas horas. E se estou num local que não ofereça algo interessante para meu corpo, eu não como. A resposta curta é: hoje não teve almoço.

Rodrigo Polesso: Muitas pessoas que seguem a dieta low carb e paleo gostam dessa liberdade. “Alimentação forte” é um termo mais geral, que pode ser ajustado como você quiser. As pessoas ganham a liberdade de ficarem saciadas o dia inteiro e ter o poder de escolher comer quando quiser. Se você for viajar de avião, você sabe que aquela comida via te deixar com a barriga inchada. Se você estiver estressado de fome, terá que comer aquela porcaria e ficará ruim depois. Mas se você tiver essa liberdade, pode recusar a comida e passar 10 horas de voo sem sofrer. Essa é uma liberdade muito grande. Hoje no almoço eu comi dois filés de salmão fritos no óleo de coco (que eu gosto muito), com chucrute e brotos de brócolis. O pessoal falou que achou para comprar no Brasil. É bem interessante. É uma coisa nova para deixar o dia a dia mais criativo, dinâmico e flexível. Nesse episódio de hoje vimos a questão da dislipidemia. Lembramos também que “high fat” não é um sinal verde para exagerar na gordura.

Dr. Souto: Veja o exemplo do seu almoço, Rodrigo. Você não comeu torresmo, nem colocou um pedaço gigante de manteiga no salmão. Se você colocar num aplicativo o salmão, o óleo de coco… você verá que ela foi uma refeição que tem mais gordura. Mas não é o conceito de quando mais gordura melhor. É uma “low carb healthy fat”.

Rodrigo Polesso: Corretíssimo. A definição de high fat é exatamente isso que você falou. Temos três macronutrientes: carboidratos, gorduras e proteínas. Como a maioria das calorias virão da gordura, na alimentação low carb high fat ou paleo, é por isso que é chamada de high fat – é mais alta do que as outras, não é alta por si só. É muito importante lembrar disso. Fechamos o podcast de hoje, espero que tenha sido útil. Sempre seja cético com tudo que você vê por aí. Acredite: coisas ridículas ainda são publicadas e são levadas a sério. Vale sempre lembrar disso. Um grande abraço para todo mundo. Dr. Souto, obrigado pela participação.

Dr. Souto: Obrigado, boa noite a todos.