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Neste podcast:

  • Um APELO comovente de uma estudante de nutrição. Você precisa ouvir!
  • Além disso, falamos também de frutose! Conhecimento essencial!

 

Passe adiante, vamos mudar a saúde no Brasil!

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Referências

Estudo Publicado no Jornal Cell Metabolism, Conduzido em Princeton, Sobre a Associaçãodo Consumo de Frutose e Obesidade 

 

Caso de Sucesso do Dia

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Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Olá, olá para você! Bem-vindo a mais um podcast com as últimas notícias do esporte. Não! Estou brincando! Você está ouvindo aqui o podcast Tribo Forte. Eu sou o Rodrigo Polesso e esse é p podcast número 1 do Brasil em saúde, estilo de vida saudável. E você está aqui mais uma vez escutando a gente, é um prazer ter você… a sua presença assídua aqui com a gente. Hoje a gente vai falar, principalmente, de dois assuntos. Olha só! E o primeiro assunto é um apelo de uma estudante de nutrição no Brasil. Olha só! Você já vai entender um pouco mais sobre isso. Acho que vai ter uma discussão bastante bacana sobre esse assunto. Em seguida tem um estudo bastante interessante sobre frutose. Ele tenta elucidar um pouco mais sobre os mecanismos, metabolismo da frutose. Como isso pode, enfim, jogar uma luz aí sobre um fato que a gente já conhece, que frutose é um componente importante que pode colaborar para turbinar o seu caminho até a síndrome metabólica. Então você vai entender um pouco mais à medida em que a gente passa por esse assunto. No mais, dr. Souto, como que vai por aí? Não é porque é feriado que a gente vai deixar de gravar o podcast, não é?

Dr. Souto: Com certeza não! Bom dia, Rodrigo, feliz carnaval aí para você. Hoje é terça-feira de carnaval e estamos aí gravando o podcast. Bom dia aos ouvintes também.

Rodrigo Polesso: Bom dia a todo mundo! Inclusive, antes de começar a gravação aqui o dr. Souto estava falando que ele está em Porto Alegre e é terça-feira de carnaval, antes das 9 da manhã a gente está gravando este podcast e ele falou que, basicamente, está completamente deserta a cidade. Até o guarda que abre as portas do escritório do dr. Souto abriu uma cara assustada. Como que pode alguém estar acordado? Alguém que não é obrigado a estar acordado uma hora dessas, não é, dr. Souto?

Dr. Souto: É, o dever chama! Dever e diversão, não é?

Rodrigo Polesso: O dever! Exatamente! O dever chama! Não é trabalho é o dever… enfim, é o prazer de colaborar com tudo isso. Bom, pessoal, o seguinte: dr. Souto recebeu por e-mail um apelo. Ou, segundo ela, um apelo ou um pedido de socorro de uma estudante de nutrição. E ele compartilhou comigo isso aí e eu achei bastante interessante também para a gente cobrir esse tipo de assunto. É um apelo um tanto longo, mas eu reduzi um pouco para passar as partes mais importantes. Mas ainda assim é um texto bacana, eu acho que vale a pena ler aqui. A gente vai preservar a identidade tanto da moça, da estudante, como também da instituição onde ela estuda. Mas eu acho que isso vai dar margem para uma boa discussão no geral sobre esse problema comum que existe no Brasil no estudo da nutrição, por exemplo. Então eu vou ler literalmente aqui o que ela escreveu, então sente-se confortavelmente e siga junto aqui que depois a gente vai discutir esse assunto. Ela começa: “Estou te escrevendo em pleno sábado de carnaval, à meia noite e 30, pois estava lendo o livro da Nina Teicholz – o Gordura sem medo que a gente fala aqui direto – e matutando bastante sobre tudo que me é lecionado na faculdade. Eu curso nutrição na Universidade X – vamos preservar a identidade – e disponho de um corpo docente extremamente inflexível. Eu tentei conversar sobre o outro lado da moeda com a coordenadora do meu curso logo após o evento da Tribo Forte do ano passado – olha que bacana! – e não obtive retorno algum. A resistência é imensa! Eu pratico há algum tempo um estilo de vida baseado em alimentação forte, sem medo de gordura, respeitando a minha fome, além de jejum. Sempre com viés paleo, utilizando estratégias low carb e cetogênicas. Eu acompanho o seu blog – no caso do dr. Souto – e seus podcasts, além de ler os livros indicados. O resultado disso foi eu me apaixonar por alimentação e ciência, largar o curso de direito e mergulhar na nutrição, pois a área da saúde é o que realmente me faz brilhar os olhos. Assim como tive significativa melhora em diversos exames, eliminação de 29 kg e tratamento mais do que eficaz para o meu transtorno alimentar compulsivo, minha intenção na nutrição é desescravizar as pessoas da comida.” Ela fala.

Dr. Souto: Faz uma pausa agora, Rodrigo. Porque assim, 29 kg a moça perdeu. 29 kg, largou uma carreira que ela tinha no direito porque ela se apaixonou pela ideia de promover saúde e bem-estar. Quer dizer, ela está entrando na profissão coma aquilo que realmente interessa. Com vontade de ajudar as pessoas. E vocês veem que coisa incrível o impacto, não é, Rodrigo? O impacto que o trabalho está tendo. Ela esteve no evento da Tribo Forte, ela acompanha os podcasts, isso aí está mudando vidas. E eu imaginaria o que? Que essa alegria dela iria contaminar os professores. Mas parece que não foi bem o que aconteceu.

Rodrigo Polesso: É, eu acho que é bem o oposto disso. Ela fala: “Bom, eu ando bastante angustiada – e você ouvindo vai ficar mais angustiado ainda, depois de ouvir o que ela vai contar aqui – bastante angustiada pois literalmente tudo o que eu pratico, acredito e prego é ensinado ao avesso na faculdade. Na aula de sexta-feira eu tive que ouvir diversas afirmações – ela fala – provocativas de uma professora que sabe que eu sigo essa linha.” Ela, inclusive, mandou anexo um slide da apresentação da aula dela. Então agora o show de horrores vai começar. São várias afirmações que eu vou falar aqui, umas dez ou um pouco mais, afirmações que ela sumarizou que foram passadas nessa aula de nutrição dela. E como você pode ver, se você acompanha os podcasts junto com a gente aqui, você vai tender a cair da cadeira. Então eu já sugiro que você coloque os dois pés no chão, se você estiver mais relaxado, porque são emoções muito fortes aí que estão vindo na sua frente. Então vamos lá para começar ela fala o seguinte sobre o que foi ensinado na aula: “Corpos cetônicos são extremamente tóxicos para o corpo. Além de tudo, ela ainda soltou que dieta cetogênica tem 30% de carboidrato.” Próxima! Dr. Souto, depois a gente volta e dá uma olhada em alguns principais deles.

Dr. Souto: Ok!

Rodrigo Polesso: Só para a gente mostrar o show de horrores logo, porque haja paciência! Daí o próximo é: “Corpos cetônicos causam cetoacidose.” Depois: “Dieta de baixo carboidrato a longo prazo provoca danos irreparáveis, como sobrecarga dos rins. Carboidratos são essenciais. Gliconeogênese é algo ruim, que força o organismo ao extremo.” Pessoal, acreditem, eu estou me segurando também! Segura as pontas aí! A próxima é: “Paleolítica é uma modinha. Açúcar é tolerável 3 vezes por semana. Cereais devem ser a base da alimentação. A nossa obrigação como profissional nutricionista é seguir as diretrizes vigentes. Gordura saturada não deve ser consumida.” E para fechar: “Low carb não tem evidência em saúde, por isso não é recomendada.” E ela ainda adiciona: “E para piorar outra coisa, estudos observacionais são os de maior peso.” E ela fala: “Pois, é, o cenário é lamentável.” Dr. Souto, eu nem sei o que dizer, na verdade, sobre isso.

Dr. Souto: Assim, eu fiquei pasmo. No que eu recebi o e-mail dessa moça, eu imediatamente mandei para o Rodrigo, mandei para a Paty Ayres, para a gente pensar um pouco. Eu vou começar não pelas partes de nutrição em sim, mas vou começar por uma frase que é… para mim, Rodrigo, uma das que mais me chocou. “Nossa obrigação como profissional nutricionista é seguir as diretrizes vigentes.”

Rodrigo Polesso: E quem que faz as diretrizes vigentes, senão nutricionistas?

Dr. Souto: Veja bem, existe um motivo pelo qual os cursos são divididos em ensino básico, ensino médio… ensino fundamental, ensino médio, ensino superior. Ensino superior é um momento em que a obrigação é questionar as diretrizes vigentes.

Rodrigo Polesso: É gerar conhecimento, não é?

Dr. Souto: É gerar conhecimento. Veja bem: o que ela está colocando aqui, seria mais ou menos o que acontece dentro de um convento…

Rodrigo Polesso: Regime militar.

Dr. Souto: Dentro de um regime militar, onde a obrigação é seguir e recitar as diretrizes vigentes. Ok? Se todo mundo fizesse isso nós ainda estaríamos na idade média. Se todo mundo simplesmente seguisse as diretrizes vigentes. Claro, a gente não vai questionar a diretriz com uma coisa doida. A gente não vai questionar a diretriz com uma coisa que a gente imaginou quando estava comendo um cogumelo alucinógeno. Está certo? A gente questiona diretriz com novos estudos, novos fatos. Como, por exemplo, ensaios clínicos randomizados. Mas aí vem a segunda frase que ela coloca: “Para piorar: estudos observacionais são os de maior peso.” Aí você vê, Rodrigo, a coisa… o furo é mais em baixo. Nós estamos falando em professores do ensino superior. Então assim, hoje em dia, para a pessoa ser uma professora, professor de um curso de ensino superior, tem que ter um doutorado, tem que ter um mestrado. Uma pessoa que conseguiu chegar nesse ponto da estrutura acadêmica e não entende a pirâmide da evidência, na qual o ensaio clínico randomizado vem acima, é mais importante que o estudo observacional. Essa é uma pessoa… como eu vou dar um exemplo? É como alguém que tivesse se formado em engenharia, mas não soubesse fazer uma raiz quadrada. É uma coisa tão básica, tão elementar! Então realmente me deu uma tristeza pelo… Porque, claro, quando a gente imagina: não, olha, nós vamos pegar essas pessoas que são professores, são docentes de um curso superior, vamos mostrar as evidências e com isso as pessoas vão refletir sobre as suas condutas, quem sabe muda-las. Mas são pessoas incapazes de sequer interpretar evidências. Não tem condições disso. É grave!

Rodrigo Polesso: É gravíssimo!

Dr. Souto: Vamos ver, por exemplo, alguns exemplos aqui. “Corpos cetônicos são extremamente tóxicos para o corpo.” Certa vez eu escrevi uma postagem sobre corpos cetônicos lá no blog (quem quiser, coloca no Google: Souto dieta cetose) argumentando que eu desafio o leitor a encontrar qualquer outra substância que seja menos tóxica do que um corpo cetônico. O que eu quero dizer com isso… Vamos ver, pessoal, a diferença entre os níveis de corpos cetônicos no sangue de uma pessoa que está comendo bastante carboidrato. Se você pegar o seu amigo que comeu arroz e depois comeu churros de sobremesa e medir os corpos cetônicos nele. Depois você pega alguém que está fazendo uma dieta cetogênica há 30 dias e mede os corpos cetônicos de novo. Pode haver uma diferença de cerca de 30 vezes entre os níveis de corpos cetônicos em um caso e no outro. E, no entanto, essa pessoa que está há um mês fazendo uma dieta cetogênica, ela não está em cetoacidose como a pessoa imaginou. Ela está em cetose nutricional. Ela tem os corpos cetônicos, cerca de 30 vezes mais alto do que aquela que está comendo arroz com churros, no entanto esses níveis estão longe, mas muito longe de representar doença ou qualquer risco. Então, por exemplo, pessoal, se nós pensarmos assim: a glicose normal é até 100 no sangue. Uma pessoa com 600, 700 de glicose está em risco de vida. E isso é apenas 6 ou 7 vezes o nível normal de glicose. Ou seja, a glicose que a própria professora da nossa leitora diz que é absolutamente essencial que você coma… a glicose é mais tóxica do que os corpos cetônicos.

Rodrigo Polesso: Até água e oxigênio no sangue é mais tóxico, não é?

Dr. Souto: A água é bem mais tóxica que a glicose, por exemplo. Por quê? Porque se eu… a pessoa vai morrer muito menos antes de eu conseguir dobrar a concentração de água no sangue. Mas muito menos.

Rodrigo Polesso: Pois é!

Dr. Souto: Se nós formos ver então os eletrólitos, coisas como sódio, potássio, cálcio, fósforo, a tolerância do organismo é muito menor. Vou dar um exemplo para vocês: potássio varia de 3,5 mais ou menos até 5 e pouco mais ou menos. Ou seja, se eu pegar um potássio 3,5 e dobrar ele para 7, a pessoa está em risco de vida. Agora, corpos cetônicos eu posso fazer 30 vezes mais e a pessoa está melhor do que ela estava antes. Ok? Porque agora ela vai estar se sentindo bem, tendo um resultado melhor na atividade física, com menos fome, mais clareza mental. Enquanto que a pessoa do potássio vai estar morta, tendo uma arritmia cardíaca.

Rodrigo Polesso: E outra coisa, a cetoacidose nunca vai acontecer em uma pessoa saudável, mesmo que a pessoa fique semanas sem comer absolutamente nada, nunca vai chegar em um nível de cetoacidose.

Dr. Souto: Exatamente! O que nos traz para a segunda frase incrível da pessoa. Que é aquela ali: “Corpos cetônicos causam cetoacidose.” Sim, a rigor está certo. Assim como glicose causa hiperglicemia, se você tiver demais. Assim como potássio causa hiperpotassemia, se você tiver demais. Agora, como o Rodrigo acabou de dizer, não tem como uma pessoa que não tenha diabetes tipo 1 ou que produza, simplesmente, uma quantidade suficiente de insulina, que não esteja a caminho de desenvolver um diabetes insulinodependente, desenvolver cetoacidose com dieta. Não importa o que coma. Uma pessoa que dá aula de nutrição em um curso superior tem que saber isso. Por isso o que me preocupou nesse e-mail não… vamos dizer, não é tanto a ignorância das coisas em si. Mas é que essa ignorância não está sendo professada por uma pessoa que foi pinçada aleatoriamente na rua. Era uma professora de ensino superior.

Rodrigo Polesso: É a mesma que acredita que, como ela falou “Gliconeogênese é algo ruim que força o organismo ao extremo.” Se gliconeogênese não existisse a gente estava todo mundo morto já.

Dr. Souto: Exatamente! E vejamos, existem ensaios clínicos randomizados… Aliás, semana passada nós conversamos sobre o estudo da Virta Health que não, não é um ensaio clínico randomizado, mas é interessante porque eles mediram cetose picando o dedo por um ano. E o grupo da dieta low carb permaneceu em cetose por um ano e não houve nenhum problema. Então ali tinha duzentas e poucas pessoas, um ano em cetose! Eu não falei um mês, eu não falei uma semana, eu falei um ano em cetose. Portanto, em gliconeogênese por um ano. E as provas de função hepáticas estavam melhores no fim do exame do que no início. No fim do estudo do que no início.

Rodrigo Polesso: Um ótimo exemplo.

Dr. Souto: Então, veja bem… é uma coisa filosófica. Eu acho que sempre é uma oportunidade dos ouvintes… tem muita gente que sabe, talvez tenha gente que não tenha se dado conta. Pessoal, não é possível provar um negativo. Eu não tenho como prova que algo não existe. Talvez eu já tenha dado esse exemplo aqui para vocês. Mas se eu não dei, é engraçado. Bertrand Russell, quem não conhece: um filósofo da primeira metade do século XX, tem que ler, são coisas curtas, coisas engraçadas. O Russell dava um exemplo que era o seguinte: imagina que eu afirme para você que tem um bule de chá, imagina um bule de chá assim de porcelana, orbitando o sol entre as órbitas de Marte e Júpiter.

Rodrigo Polesso: Bom, tem um Tesla orbitando Marte, então, não é? Vai saber…

Dr. Souto: É, agora tem um carro, não é? Mas imagine que eu afirme que além do carro do Tesla tem um bule de chá. E a pergunta dele era a seguinte: quem consegue provar que eu estou errado? Que o bule de chá não está lá? E é interessante porque quando você pensa… Bom, na época não existia uma tecnologia que permitia isso. Mas hoje ainda não existe. O nosso telescópio mais poderoso não é capaz de ver uma coisa tão pequena como um bule de chá a essa distância. Então eu não tenho como provar que não existe. E o que ele estava querendo explicar com isso é o seguinte: não existe como provar o negativo. É absolutamente impossível provar que não existe um bule de chá orbitando. E aí a conclusão é: quem afirma um absurdo é que tem o ônus da prova. Quem diz que tem um bule de chá é que tem que provar que tem um bule de chá.

Rodrigo Polesso: Perfeito! Exatamente!

Dr. Souto: Então, assim, eu não tenho como provar que a gliconeogênese não faz mal por 50 anos. Ah, mas o estudo durou 2 anos. Ah, mas se tivesse durado 3… Aí eu pego e digo: Olha, tem o DiRECT trial do Neil England lá que durou 3 anos. Ah, mas e se tivesse durado 5? Bom, se esse joguinho for dessa forma, nunca é possível provar um negativo. A pessoa que afirma que faz mal é que tem que provar que faz mal. Cadê a evidência de que faz mal? Cadê a evidência de que o bule de chá está orbitando o Sol? Está certo? Não é minha obrigação provar que algo que não existe nenhuma evidência que faz mal, que a lógica evolutiva diz que deve fazer bem, faça mal. Eu não sou obrigado a provar um negativo porque filosoficamente, pessoal, é impossível provar um negativo. O Carl Sagan, um livro que lá no blog eu já sugeri que as pessoas leiam, O Mundo Assolado (ou acossado) pelos Demônios.

Rodrigo Polesso: É, muito bom.

Dr. Souto: Também tem aquele exemplo. Ele diz assim: a pessoa diz “olha, eu tenho um dragão que mora no meu quarto.” Aí a pessoa diz assim “ah, mas eu não estou vendo o dragão. Ah, é que ele é invisível. Não, então vamos fazer o seguinte: vamos espalhar talco ou farinha no chão, que aí nós vamos ver as pegadas do dragão. Aí ele diz: não, mas o meu dragão flutua.” E aí ele vai argumentando: “vamos colocar óculos que vão ver a temperatura, que aí nós vamos ver o calor dele. Não, mas ele não emite radiação infravermelha.” Bom, eu não tenho como provar que o dragão não existe, vocês entendem? É impossível provar que o dragão não existe. Mas justamente por isso existe a inversão do ônus da prova. Quem afirma que tem um dragão no quarto é que tem que provar que ele está lá. Então até que alguém prove que gliconeogênese no longo prazo é um problema, sendo que por mais longos os prazos dos estudos, até hoje só apareceram vantagens. É obrigação da pessoa que afirma que tem o bule de chá, que tem o dragão, que a gliconeogênese faz mal provar que faz mal. “Dieta de baixo carboidrato a longo prazo provoca danos irreparáveis como sobrecarga nos rins.” Sempre que eu leio esse troço de sobrecarga nos rins, isso me causa um incômodo, Rodrigo.

Rodrigo Polesso: É. Um incômodo é uma boa palavra, viu!

Dr. Souto: É, me causa um desconforto quase físico, assim. Como, sei lá, se a gente subitamente se desse conta que tem alguma coisa dentro do sapato que não deveria estar lá. Porque sobrecarga… isso não é exatamente uma linguagem que deveria ser aplicada dentro do curso superior. Então, por exemplo, quando eu digo assim: se a pessoa tomar excesso de anti-inflamatórios, tomar muito ibuprofeno, indometacina, essas coisas, que isso vai fazer mal para o rim… se é o Dr. José Neto, que é nefrologista e que esteve conversando conosco no episódio passado… Ele estaria aqui comigo dizendo assim, “Não. Palavra técnica não é sobrecarga.” Se você falar com um nefrologista ele vai dizer, “Olha, isso aí vai provocar uma nefrite túbulo-intersticial.” Quer dizer, é uma linguagem cientificamente correta. Nós estamos dizendo qual é o dano que ocorre. Sobrecarga é mais ou menos como… Como… Sei lá… Como sua vó diria. Se botar muito peso na carroça vai sobrecarregar o burro.

Rodrigo Polesso: Exatamente.

Dr. Souto: Isso não é uma linguagem se quer precisa para estar sendo utilizada no curso. Sobrecarga como? Se que forma uma dieta de baixo carboidrato sobrecarrega o rim? Isso tem que ser preciso. Isso é um curso superior, pessoal. Isso não é ensino fundamental. Eu sei a resposta. Eles vão dizer, “Porque tem muita proteína.” É imprecisão de novo. É um curso de nutrição. Pega qualquer estudo, qualquer ensaio clínico randomizado de low carb. Onde é que está essa muita proteína? Os grupos low carb, em praticamente todos os estudos consomem a mesma quantidade de proteína do que os grupos que não são low carb. Isso é sabido.

Rodrigo Polesso: Até o excesso de… A tentativa de sobrecarregar o rim em pessoas saudáveis não acontece… É comprovado isso já.

Dr. Souto: Exatamente. Mas eu digo assim… Rodrigo, se fosse assim… A pessoa que falou isso para ela é uma professora de um curso de nutrição. Se fosse um professor de um curso de urbanismo… Entendeu? E o professor de urbanismo achasse que o excesso de proteína está sobrecarregando o rim, eu entendo. Mas o professor de nutrição, como estuda isso, ele deveria dizer assim, “Olha, pessoal, tem gente que imagina que o excesso de proteína possa ser ruim porque causa hiperfiltração glomerular… Estamos num curso superior da área de saúde. É hiperfiltração glomerular que ela tem que falar, porque a linguagem tem que ser técnica. Sobrecarga é um negócio na carroça. Na realidade, ela ia dizer… “No entanto, nós somos nutricionistas. Nós fomos no Pubmed, nós avaliamos os ensaios clínicos randomizados e, pessoal, a verdade é que os estudos em condições de vida livre de dieta low carb mostram que o consumo de proteína é virtualmente o mesmo do que em qualquer outra dieta. Indo um pouco mais longe, o Rodrigo acabou de falar, há um minuto atrás. Existem estudos nos quais, de propósito, foi utilizado uma dieta hiperproteica. E mesmo nesses não existe prejuízo da função renal. “Mas os estudos duram um ano. Os estudos duram dois anos.”

Rodrigo Polesso: Aquele mesmo argumento.

Dr. Souto: Bule de chá. Cadê o estudo que mostra dano a partir do qual eu posso intuir… “Bom, olha só. Tem esses três estudos que mostraram prejuízo para a função renal por causa de dieta. Em função disso, pessoal, nós temos que ter precaução.” Cadê os estudos? Eu posso citar para vocês… Quem quiser, bota aí no Google: “Souto dieta insuficiência renal”. Vocês vão ver lá estudos. Um estudo observacional com 6 mil e tantos pacientes acompanhados por uma média de 6 anos mostrando que aqueles que consumiram uma dieta com mais proteína tiveram mais proteção contra a piora da função renal. Um outro estudo com 8 mil e poucos pacientes na mesma postagem, mostrando que após um segmento de não me lembro quantos anos não houve nenhuma relação entre o consumo de proteína e piora da função renal. E por fim tem um ensaio clínico randomizado nesta mesma postagem que vocês vão dar uma olhada. Esse ensaio clínico randomizado com 190 pacientes acompanhado por uma média de mais de quatro anos… Pessoal, um ensaio clínico randomizado… Todos os pacientes nesse estudo já tinham insuficiência renal… Pessoal que já tinha o rim doente. O grupo que consumiu menos proteína teve uma piora mais acentuada para a função renal. Quer dizer, havia uma relação inversa. Então, assim… Isso significa no mínimo… Se você não quer aceitar que é o oposto do que a professora ali falou, significa no mínimo que não dá para afirmar que exista correlação entre proteína na dieta e desenvolvimento de disfunção renal em quem tem rins normais. Além do que ela, como professora de nutrição, deveria estar por dentro da literatura científica da área dela, ou seja, da área de nutrição, e saber que dietas de baixo carboidrato são normoproteicas, não são hiperproteicas. Então, sim, é lamentável. É como se fosse um engenheiro que não sabe fazer potenciação, que não sabe fazer raiz quadrada, que não sabe fazer MMC.

Rodrigo Polesso: É, é. Nos meus vídeos às vezes eu critico veementemente nutricionistas incompetentes ou médicos incompetentes. E tem os comentários que vêm, “Ah, Rodrigo, tem que respeitar a profissão.” Eu estou respeitando a profissão. Eu estou chamando a atenção dos incompetentes, assim como tem mecânicos competentes, professores competentes em todas as áreas. Se você é incompetente, essa é uma falha muito grande. Você não está exercendo sua profissão na melhor da sua habilidade. No caso da saúde o dano pode ser potencialmente fatal. Então, é grave o problema.

Dr. Souto: É que, Rodrigo, o que acontece, assim… O que nós estamos fazendo aqui não é argumentar que qualquer um que acha que low carb não é a melhor estratégia é um incompetente. Não é isso que estamos dizendo. Existem argumentos interessantes. Existem argumentos bem fundamentados a favor de outras estratégias. Mas aí a pessoa não chega falando… Se a pessoa chega falando que causa cetoacidose, é uma pessoa de uma ignorância crassa e não tem como conversar. Se a pessoa chegar e disser o seguinte… Não tem um estudo… Um ensaio clínico randomizado durando dez anos comparando uma dieta low carb com a dieta usual das pessoas e mostrando, por exemplo, que vai haver uma mortalidade menor. Aí eu vou ter que me sentar e aceitar. Realmente, não tem. Realmente não tem e eu acho que deveria ter. Acho que está caindo de maduro dado o nível de evidência que nós temos dos benefícios no curto prazo. É muito importante que institutos e organizações governamentais… Que tem o dinheiro e a condição de fazer um ensaio clínico randomizado com duração de 10, 15 anos, envolvendo 20, 30 mil pessoas… Que conduzam esses estudos para botar uma pá de cal logo sobre o assunto. Afinal, low carb além de te ajudar a emagrecer, além de reverter o diabetes, além de reverter síndrome metabólica, será que low carb vai aumentar sua longevidade nos próximos 10 ou 20 anos? Eu estou louco para saber isso. E eu concordo que nós não sabemos. Agora isso sim é uma discussão num nível elevado de discussão. Num nível compatível com curso superior. Num nível compatível com que a gente espera da crítica de um curso superior. Agora, dizer assim… Você é bobo… Você é feio… Você é chato… Que é o nível que está sendo a discussão da professora… Da nossa leitora… É complicado, pessoal. “Por que não gosta de fulano?” “Porque ele é chato. Porque ele é bobo.” É esse o nível da discussão. “Porque dá cetoacidose essa dieta.” Meu Deus, pessoal. Isso é grotesco. É triste. É ridículo. Provoca uma vergonha alheia muito grande. Uma vergonha alheia que chega a doer.

Rodrigo Polesso: Se você está ouvindo esse podcast há um bom tempo você deve ter notado que o Dr. Souto se alterou com esse assunto. E merecidamente, vamos dizer a verdade. Não tem como manter a paz mental… Zen… De fronte a uma aberração dessa… De pessoas que estão gerando novos profissionais. A raiz da árvore está no problema.

Dr. Souto: Eu escolhi esses tópicos porque esses me deixaram loucos mesmo. “Cereais deve ser a base da alimentação.” É possível ter uma discussão séria sobre esse assunto. Eu acho que não, a pessoa acha que sim. A gente tem uma série de argumentos pelos quais a gente pode justificar. Isso não é um absurdo grotesco… Dizer um negócio desses. “Açúcar é tolerável três vezes por semana.”

Rodrigo Polesso: Cianeto também é em pequenas doses.

Dr. Souto: Exatamente. A pessoa não colocou a dose. Eu até achei uma evolução. Mal ou bem, originalmente as diretrizes norte-americanas das quais o mundo copia… Até 2015 falava que podia comer uma quantidade grande. Não lembro se… Doze colheres de chá de açúcar todos os dias. Aí baixaram para seis, se não me engano. Provavelmente se a pessoa for comer o equivalente a uma colher de chá de açúcar por dia, acho que não vai fazer mal mesmo. Aliás o outro assunto que nós vamos falar depois também toca nesse assunto. O corpo é sim capaz de tolerar pequenas quantidades de açúcar. Vamos dizer… Aquilo ali é questionável. Obviamente, o que seria ridículo seria afirmar que a pessoa é obrigada a comer açúcar algumas vezes por semana para não morrer ou algo assim. “Paleolítica é modinha”. É uma dessas outras coisas que pega mal e produz vergonha alheia a pessoa dizer isso a partir do momento que tem ensaios clínicos randomizados publicamos na literatura peer review, inclusive uma análise publicada sobre dieta paleolítica na literatura peer review mostrando não apenas que é eficaz para a melhora na saúde das pessoas, mas que é melhor do que as dietas com a qual foi comparada. Veja bem… Eu acho que tem muito modismo ao redor da dieta paleolítica. Com certeza. Inclusive, me irrita às vezes. Às vezes eu posto alguma coisa lá no Facebook. E aí já vem o pessoal que segue de forma mais fanática a paleolítica… Argumentar, enfim… Se aquele sal era o Himalaia… Esse tipo de coisa que sim, é modinha. Mas dizer para… Pensa bem… Isso aqui foi dito num superior, na sala de aula para alunos de graduação. A pessoa teria que dizer, “Olha, embora tenha muito modismo hoje em dia em torno deste conceito, a realidade, pessoal, é que existem estes ensaios clínicos randomizados mostrando que essa dieta paleolítica apresenta uma série de vantagens em pacientes com sobrepeso, em pacientes com síndrome metabólica, incluindo perda de peso e melhora de uma série de parâmetros de risco cardiovascular. Esse é o nível do discurso que se espera num curso superior.

Rodrigo Polesso: Exatamente. Mas vamos ver o apelo final da nossa estudante? Ela pede… Faz um pedido de ajuda no final. Só para completar o email dela. Ela passou todas essas coisas e falou, “Pois é, o cenário é lamentável. Eu me sinto extremamente triste. Esse tipo de posicionamento dos meus professores mexe muito comigo. Tenho que afirmar essas atrocidades na prova. É difícil fingir demência. Minha vontade é imprimir diversos estudos e metanálises além de comprar alguns livros para dar para meu corpo docente. Por enquanto me mantenho quieta. Gostaria muito de uma luz e de um direcionamento. Queria saber se devo insistir, levar estudos, livros, levar até o fim… Não desistir de jeito nenhum de mudar essa realidade ou se só vou fazer o povo pegar bronca de mim à toa. Meu coração diz para continuar firme no propósito. Você está mudando o mundo de muita gente e quero fazer isso também. Quero melhorar minha realidade como aluna para disseminar a verdade academicamente e no mundo das minhas colegas que já já atuarão no mercado e trabalharão comigo. Como posso fazer isso?” É um pedido. É um apelo verdadeiro isso.

Dr. Souto: Bom, a primeira coisa a gente está fazendo aqui… Lavando sua alma hoje. Eu pelo menos estou lavando a minha.

Rodrigo Polesso: Largando todos os demônios soltos.

Dr. Souto: Nós estávamos – eu e o Rodrigo – conversando com a Paty Ayres que está se formando em nutrição este ano. E a Paty falou aquilo que talvez eu ache a abordagem mais correta. Vamos imaginar professores com este nível de anticorpos de preconceito com qualquer coisa que seja diferente do que está nas diretrizes. Se você mostrar um episódio do podcast da Tribo Forte, especialmente aqui, depois de eu falar as coisas que eu falei… Não vai dar certo. Só vai aumentar a inimizade da pessoa… Os anticorpos. Da mesma forma, se você mostrar blog, a pessoa vai dizer… “Blog… O que é blog? Por que vou respeitar um blog escrito por alguém que não é um professor, que não é nutricionista.” Então, também não é o caminho. E o caminho também não me parece ser confrontar a pessoa em sala de aula e deixa-la embaraçada. Levantar a mão e dizer assim, “Mas, professora, e o ensaio clínico randomizado que saiu no New England em 2008?” Aí a pessoa vai estar confrontada perante uma turma. Constrangida, embaraçada, envergonhada. E a reação dela não vai ser dizer, “Poxa vida, foi mal, desculpa.” A reação dela vai ser falar que você é um lixo… Lhe humilhar em público de volta. Não, não é por aí. A Paty disse que conseguiu ganhar a confiança e mudar a cabeça de professores no curso dela. Mas de que forma ela fez isso? Apenas com os ensaios clínicos randomizados originais impressos. E fora de aula.

Rodrigo Polesso: E pedindo consideração deles. Pedindo o que eles achavam dos estudos…

Dr. Souto: Respeitosamente. Depois, olha só… “Professor eu achei um estudo muito interessante. Queria que o senhor desse uma olhada e me dissesse depois, porque fiquei confusa com o resultado. Precisava de uma ajuda para entender. É um pouco diferente daquilo que a gente normalmente aprende.” Feito com jeitinho. Com educação. Talvez seja a melhor forma. Essa professora específica… Essa que disse que um estudo observacional é mais importante que um ensaio clínico randomizado. Veja bem… Isso é como você dar uma partitura para um gnu. Ele não vai sair tocando piano. Existem limitações. Tem pessoas que têm limitações. Como essas pessoas são escolhidas para vida acadêmica, é melhor não saber. Mas, assim, existe muita gente boa ali. Veja bem, às vezes aquele seu professor fez a sua tese sobre um assunto super específico. Então a pessoa fez ali sua tese sobre… Enfim… Polimorfismos genéticos de determinada enzima do ciclo de Krebs. Então, quer dizer… Aquela pessoa pode não estar ligada nos ensaios clínicos da nutrição. Mas ela tem formação científica. ela sabe fazer raiz quadrada. Ela tem condições de pegar o estudo ler, e dizer assim, poxa vida. Isso é incrível. Eu nunca tinha me dado conta. Talvez para esta pessoa que você entregou este ensaio clínico randomizado… Impresso na impressorinha… Papel… Talvez aquilo seja a epifania dela. Seja como dizia o Tim Noakes… O momento Damacena. Acho que era São Paulo que estava indo para Damasco quando viu a luz. Viu o anjo. Pode ser que este seja o momento Damacena da pessoa. Ela olha aquele estudo e diz assim, “Nossa! Olha que incrível. Realmente, o grupo low carb, mesmo sem restrição calórica, perdeu mais peso. E os seus exames de sangue… O seu risco cardiovascular diminuiu, ao contrário do que a gente pensava.” Aí a pessoa diz assim para ti. “Muito interessante este estudo.” Na hora que a pessoa voltar e disser, “Muito interessante este estudo”… “E como este tem vários outros. Aliás, o senhor gostaria de dar uma olhada nesse livro aqui? É um livro que toca exatamente nesse assunto.” Mas já dá de presente o livro. Não diz assim, “Quem sabe compra”. Leva escondido dentro da pasta. O sujeito deu uma abertura, entrega o livro. Isso aí é mais ou menos como funciona aquele esquema o Hare Krishna. Hare Krishna pega e te entrega o livro. “Está aqui o Bhagavad Gita.” Aí você fica meio constrangido de dizer, “Obrigado, não quero.” “Não, mas é presente.” Aí você diz assim, “Está tudo bem. ” Aí diz assim, “Em compensação gostaria de uma doação para nosso templo.” Então é isso. Se a pessoa der uma aberturinha, dá o livro da Nina Teicholz. E depois quando ele disser, “Não precisa.” “É presente, professor.” Talvez, ao invés de dar uma doação para o templo a pessoa doe sua atenção e seu tempo para ler aquilo ali. Você vai estar fazendo o mundo um lugar melhor. Às vezes funciona.

Rodrigo Polesso: Maravilha. Acho que esse podcast é um pilar mesmo. Por favor, pessoal, passe adiante isso aí. Se você conhece pessoas que estão nesse tipo de situação ou se você quiser ensinar esse conhecimento. Estamos falando em geração de conhecimento, geração de novos profissionais que vão atuar no mercado por décadas à frente. Eu acho um assunto bastante interessante colocar essa pulga atrás da orelha das pessoas que estão cursando e não sendo céticas o suficiente. Ou talvez desrespeitosas… Em vez de usar essa estratégia mais inteligente de realmente persuadir os profissionais usando a boa vontade deles. Não acredito que estão fazendo isso por mal. Bom, vamos partir para o próximo assunto para a gente dar tempo. Primeiro tem um caso de sucesso do dia. O caso de sucesso foi enviado pela Adriana Silva. Ela falou, “Pronto. Terminei o desafio com menos 4,3 quilos. Estou adorando minhas calças jeans mais folgadas e vou precisar apertar todas as bermudas e shorts.” Olha que problema. Tudo tem um ponto negativo, até mesmo ficar mais saudável e perder peso. Ela seguiu o desafio que é a primeira fase do programa Código Emagrecer de Vez. Trinta dias. São quatro semanas. Ela já está tendo todo esse problemão em ter que ajustar bermudas e shorts dela. Maravilha. Obrigado, Adriana, por mandar o testemunho. O pessoal que quer emagrecer, acesse aí CodigoEmagrecerDeVez.com.br e faça parte desse processo de três fases para levar você ao seu peso ideal e te manter lá, o que é mais importante ainda. O segundo tópico, então, para a gente fechar, é um estudo bastante interessante que foi publicado há seis dias atrás no jornal Cell Metabolism. Foi conduzido na Universidade de Priceton e joga mais luz sobre os mecanismos que podem explicar porque o alto e frequente consumo de frutose é associado à obesidade, doenças do fígado gordo e síndrome metabólica no geral. Bom, o estudo foi feito em ratos para começo de história. A gente sempre coloca as coisas em perspectiva aqui. estudo em animais. Estudo feito em ratos. Só que é interessante. Eles queriam analisar em mais detalhes como ocorre o metabolismo da frutose no corpo de acordo com a quantidade dela ingerida. Para isso, eles injetaram tanto glicose quanto frutose em ratos. Não só ingetaram como fizeram via oral. Fizeram ambos e depois compararam. Ambas, glicose e frutose… Eles carregavam elas com um isótopo não radioativo para eles poderem acompanhar isso depois com equipamento para saber o caminho que essas moléculas seguiram dentro do corpo. A glicose, como esperado, é levada direto do intestino para o fígado, onde ela então é colocada na corrente sanguínea para onde ela iria para o resto corpo para onde ela iria para o resto do corpo para quem precisasse de energia. Já a frutose, interessantemente, em pequenas quantidades, ela é mantida no intestino delgado, onde 90% mais ou menos, é metabolizado no intestino delgado. Quando eles aumentaram a dose de frutose para equivalente a uma bebida… Refrigerante da vida… Adoçada com frutose e etc… Eles viram uma dose maior, mas não excessiva. Uma dose maior comumente consumida pelas pessoas. Um pouco maior. Eles viram que o intestino delgado parecida não dar conta de metabolizar toda aquela frutose que chegou. 30%, eles viram, dessa frutose acabou “vazando” no intestino delgado para o fígado, onde parte dela foi então convertida em gordura local. Eles hipotetizam aqui… É como se o intestino delgado estivesse tentando proteger o fígado do excesso de frutose. É um ponto. eles questionam os danos hepáticos possíveis ao longo prazo, devido ao consumo alto de frutose. É como a gente falou, Dr. Souto. A gente sabe que tem uma associação forte entre frutose e todos problemas de resistência à insulina direto no fígado… Do fígado gordo e etc. Mas os mecanismos não estão 100% elucidados ainda. Apesar de ser em ratos, acho que é um mecanismo bem interessante que eles descobriram aqui. O que você acha?

Dr. Souto: Eu achei fascinante. Realmente, é um estudo de mecanismo. E é um estudo em camundongos, em roedores. O fato é… Vamos começar pelo o que a gente sabe em seres humanos. O excesso de frutose está associado ao desenvolvimento de síndrome metabólica, resistência à insulina, obesidade e diabetes. A questão é… Por que que, por exemplo, o consumo de frutas é uma coisa que epidemiologicamente falando está associado com bons desfechos? Então, aqui não estou falando de pessoas que já são diabéticas para as quais mesmas pequenas quantidades de açúcar não ajudam. Se eu pegar um diabético e ele comer uma banana, a glicose no sangue vai subir muito, de modo que, para um diabético, melhor do que comer uma banana é comer vegetais de baixo amido como as saladas. Agora não estou falando de diabético. Estou falando de pessoas normais. O consumo de frutas não está associado com o aumento de peso, não está associado com o desenvolvimento de diabetes, nem de doenças. Pelo contrário, o consumo de frutas, epidemiologicamente falando, está associado com bons desfechos. O que torne pouco provável que o consumo de frutas cause doenças. Então esse estudo é fascinante porque ele sugere um mecanismo de limiar. Ou seja, é possível que frutose até uma certa quantidade não cause problema não porque ela não é tóxica para o fígado. Frutose é tóxica para o fígado. Mas porque ela não chega no fígado. É fascinante essa ideia. Ou seja, a frutose é sim tóxica, mas, evolutivamente, os animais expostos à frutose desenvolveram um mecanismo para que essa frutose seja inativada ainda no intestino. É incrível, pessoal, é genial. Claro, eu posso estar pulando a carroça na frente dos bois. Até que eu saiba, o estudo não foi reproduzido em seres humanos. Então, a gente nem sabe se isso acontece em seres humanos. Mas eu apostaria que deve ocorrer e talvez ocorra ainda mais do que nos roedores, porque entre primatas… Entre os grandes primatas o consumo de frutas está presente do ponto de vista evolutivo. Então, é bem provável que nossos intestinos consiga sim detoxificar… Transformar em glicose e impedir que faça mal para o fígado… Quantidade de frutose evolutivamente compatíveis. Esse é o ponto. Os autores… Uma das reportagens que comenta o estudo fala assim… A quantidade de frutose para fazer o bypass deste mecanismo intestinal… Quer dizer, para acabar vazando para o fígado… Seria equivalente à meia lata de refrigerante. Então, passou de meia lata de refrigerante, é uma quantidade de frutose que o intestino não tolera mais. Agora, para consumir a quantidade de frutose que tem em meia lata de refrigerante… A quantidade de frutas silvestres que nossos antepassados teriam que ter consumido na natureza… É impossível.

Rodrigo Polesso: É desumano.

Dr. Souto: Eu acho realmente interessante quando um aparente paradoxo se resolve ou tem o potencial de se resolver através de um mecanismo elegante que ninguém tinha pensado antes.

Rodrigo Polesso: E quer saber sobre essa questão que você falou, que eu achei muito interessante… Um fato muito interessante. Não sei se mencionei antes sobre exatamente essa questão que você falou da fruta silvestre… E se as pessoas podem ter deixado isso passar. Frutas silvestres são diferentes das frutas que a gente vê no mercado hoje. Eu estava visitando o zoológico de Toronto… Cheguei na parte dos macacos. Não sei se mencionei isso antes. Tinha a mulher que cuida deles lá. Uma pessoa responsável por cuidar dos macacos. Ela estava falando com a gente. Acho que era um macaco… Um orangotango. Um bicho maior. Ela falou que na selva, na alimentação… Eles tendem a comer bastante frutas. Eles pensaram que essa raça de macaco deve comer bastante fruta na selva… Então a gente começou a dar fruta para eles também para tentar simular o ambiente natural deles. O que aconteceu? Os macacos começaram a ficar diabéticos… Com a mesma quantidade de fruta que eles estavam comendo na selva. As frutas de hoje em dia não são mais as frutas que eles comiam na selva.

Dr. Souto: É fascinante. Ano passado, em determinado momento, eu coloquei no meu Instagram… Que a propósito, pessoal, é @jcsouto. Eu boto de vez em quando foto de comida e alguns estudos também. Mas ano passado eu coloquei no Instagram um artigo que falava justamente sobre isso. Sobre primatas em zoológico desenvolvendo diabetes porque estavam comendo muita banana. O pessoal se chocou… Os comentários no Instagram diziam assim… “Poxa vida, agora é contra a banana.” Não, pessoal, vocês não entenderam. O que eu queria dizer é o seguinte. Evolutivamente não existia na dieta destes primatas algo como uma banda cultivada. A banana cultivada está para a banana silvestre assim como o poodle está para o lobo selvagem. O ser humano criou um yorkshire, o chihuahua… Esses cãezinhos pequenos, peludinhos, fofinhos… O ser humano conseguiu criar isso em poucas centenas de anos através de cruzamentos seletivos. Os nossos antepassados tiveram milhares de anos para fazer cruzamentos seletivos das plantas que nós comemos. Sim, o ser humano gosta de gosto doce e acaba fazendo plantas com uma quantidade maior de açúcar do que tem na natureza. Eu não estava querendo dizer naquela postagem que banana faz mal para a saúde. Se você é diabético, faz. Já estou avisando. Mas para pessoas normais não digo. O que acontece é o seguinte. Esse estudo que sugere… Isso que eu achei interessante… Por isso a gente selecionou para vocês… De que possa haver simplesmente um mecanismo de limiar, ou seja, uma certa quantidade de frutose naturalmente presente nos alimentos não é problema. Mas a mesma frutose em quantidade maior pode ser problema, porque o fígado é protegido pelo intestino delgado até uma certa quantidade. Outra coisa muito interessante que o estudo mostrou é que se o animal, se o camundongo, tivesse comido comida antes de consumir a frutose, o intestino era ainda mais capaz de proteger o fígado. O que fecha um desses estudos… Aí sim, clínicos, em humanos, que mostram que se você vai comer carboidrato… Se você vai comer uma sobremesa, vai comer uma fruta, ela deva ser depois da refeição, e não em jejum. Porque a capacidade do intestino delgado de buffer… De proteger… De segurar o excesso de glicose é aumentado quando você consome um alimento antes de consumir o alimento rico em frutose. Eu achei o artigo muito interessante. Aqui é basicamente o contrário, embora… Vamos dizer… Justamente… A realidade… A gente sempre diz… Tem precedência sobre os mecanismos. Mas, no caso, nós já tínhamos a realidade. Nós já sabíamos que a frutose em excesso faz mal. E nós já sabíamos que a frutose na quantidade presente em frutas para pessoas saudáveis não apenas não faz mal, como faz bem. O que nos faltava era um mecanismo para explicar esse paradoxo.

Rodrigo Polesso: Está aí uma boa hipótese.

Dr. Souto: Eu realmente nem sei se isso aqui acontece em seres humanos. Foi testado em roedores. Mas é uma bela de uma hipótese. Quem de vocês aí está precisando arranjar um assunto para seu doutorado?

Rodrigo Polesso: É. Olha só que maravilha. Exatamente… Uma coisa que vi… Estava lendo o estudo… Eu vi nas entrelinhas. Achei particularmente interessante. Gluconeogenesis, novamente. Grande parte dessa frutose que é tratada… Metabolizada no intestino delgado… É transformada em glicose através do processo de gluconeogenesis. Uma coisa interessante, que é a parte que pega… A insulina, um hormônio conhecido já… Ele é conhecido por bloquear a gluconeogenesis. Isso é um dos princípios dele. Ele não bloqueia gluconeogenesis feita no intestino nessa conversão da frutose. Ou seja, ao meu ver, converter essa frutose em glicose é tão urgente que nem a insulina consegue bloquear esse mecanismo. Bastante interessante.

Dr. Souto: Assim… Nitidamente emula um mecanismo de detoxificação.

Rodrigo Polesso: É. Exatamente.

Dr. Souto: Uma forma de pensar seria mais ou menos como a gente pensar assim. Por que nosso intestino que metaboliza a lactose? Provavelmente lactose não foi feita para ser absorvida na íntegra. Não sei se algum estudo já tentou injetar lactose na veia de um animal para ver o que que acontece. Mas obviamente não é natural. O organismo transforma a lactose em galactose e glicose ainda no intestino. São mecanismos… Me ocorreu agora enquanto eu estava pensando… Em que o intestino está transformando algo em algo mais suave, menos tóxico antes que isso entre para a corrente sanguínea. Sim, o fígado é capaz de lidar com uma certa quantidade de frutose. O fígado é capaz de lidar com uma certa quantidade de várias toxinas. É quanto ultrapassa um certo limiar que aí a coisa vira um problema.

Rodrigo Polesso: Exatamente. Vamos fechar. Sei que está de manhã para você. Mas o que você degustou ontem à noite? Ontem à noite foi feriadão… Ainda durante o feriadão… O que você aproveitou?

Dr. Souto: Então, Rodrigo. Engraçado. O que eu degustei ontem à noite é o mesmo o que eu degustei hoje de manhã. Porque eu resolvi comer uma coisinha antes de vir para cá. O que a gente faz? Quando a gente acorda de manhã… Abre a geladeira e encontra a janta. A gente come a janta de manhã. É simples assim.

Rodrigo Polesso: Abre um sorriso no rosto. Exatamente.

Dr. Souto: Abre um sorriso… Puxa vida, está pronto, é só botar no micro-ondas… Eu tinha comprado esses dias sobrecoxa desossada. Eu gosto com osso também, mas assim… Desossado estava bonito… A quantidade de pele era bem maior. Na realidade foi isso que me chamou atenção na embalagem. Eu já imaginei aquela pele virada para baixo na forma… Dourando. Ontem de noite eu tinha comido esse franguinho desossado e aproveitei e comi mais um pouquinho agora de manhã. Porque pessoal, não existe nenhuma lei no Talmude… Ou no Antigo Testamento… Que proíba a pessoa de comer frango assado no café da manhã. É comida. Mata a fome igual. E pode ser muito mais prático do que misturar uma granola com mil grãos inflamatórios… Pega a droga no frango e bota no micro-ondas. Foi isso que eu fiz.

Rodrigo Polesso: Eu também segui o método preguiçoso por coincidência. Peguei um frango inteiro… Aqueles que vêm assados já no mercado. Comprei inteirinho. Comi metade do peito e uma coxa com abacate e umas nozes macadâmias. Uma delícia. Muito fácil. Está pronto. É só pegar, cortar, colocar. É o método mais preguiçoso possível. Ainda assim você tem sua alimentação forte fácil para te manter com pique total durante várias e várias horas. Pessoal, esse podcast ficou recheadíssimo. Espero que vocês tenham gostado. Muita coisa boa aqui. Por favor, passem à frente. Lembre-se… Você pode achar esse podcast em todo lugar… De acordo com sua preferência… Pode ser no Spotify, pode ser no iTunes, ou aplicativo que você quiser adicionar aí de podcast. No EmagrecerDeVez.com onde você acha as transcrições todas dos episódios também. Dentro dos portais da Tribo Forte. Não tem desculpa para não acessar isso aí. É de graça. Aberto a todo mundo. Novamente, se você quer se tornar um membro da Tribo Forte, é com muito prazer que a gente vai aceitar você lá dentro, obviamente. É só você acessar TriboForte.com.br e vestir essa camisa aí. Fazer parte do fórum e ter acesso a um mar de informação… E receitas incríveis que estão lá dentro também desse portal. Pessoal, obrigado por mais este episódio, pela sua audiência. Dr. Souto, obrigado por mais esse episódio quente. Acho que vai ajudar muita gente.

Dr. Souto: Obrigado. Um abraço. Bom feriado. Até a próxima.

Rodrigo Polesso: Até a próxima.