Bem vindo(a) hoje a mais um episódio do podcast oficial da Tribo Forte!

Os podcasts são 100% gratuitos e episódios novos saem todas as terças-feiras.

Certifique-se de colocar seu email aqui em cima do site para ser avisado das novidades e de futuros podcasts.

No Episódio De Hoje:

  • Comer pouco desacelera o metabolismo mesmo? Jejum intermitente desacelera o metabolismo?
  • Mostramos os enormes furos de um estudo que está sendo usado por “defensores” das dietas high carb e relacionado a diabetes tipo 2

Compartilhe e ajude as pessoas a verem as verdades e se protegerem contra balelas!

 

#triboforte #alimentacaoforte #codigoemagrecerdevez #emagrecerdevez

?

 Tribo-Forte-Se-Torne-Membro2

Ouça o Episódio De Hoje:

Quer se juntar ao grande movimento e fazer parte da familia de membros VIP da Tribo Forte e ganhar acesso ao portal exclusivo e privilegiado e ao fórum para membros? Clique AQUI.

Quer Emagrecer De Vez? Conheça o programa Código Emagrecer De Vez

Logo-Banner-quadrado1Abaixo eu coloco alguns dos resultados enviados pra mim por pessoas que estão seguindo as fases do Código Emagrecer De Vez, o novo programa de emagrecimento de 3 fases que é o mais poderoso da atualidade para se emagrecer de vez e montar um estilo de vida alimentar sensacional para a vida inteira.

Este programa é 100% baseado na melhor ciência nutricional disponível hoje no mundo.

Se quer colocar um sorriso novamente no seu rosto com um corpo e saúde que te dê orgulho, CLIQUE AQUI.

Alguns dos resultados REAIS de membros que estão finalizando os primeiros 30 dias do programa Código Emagrecer De Vez.

test15

test16

test17

Quanto_peso_1_mes_rtfd4

Quer seguir o Código Emagrecer De Vez você também? Clique AQUI e comece HOJE!

 

Referências

Ensaio Clínico Randomizado Publicado em Setembro Deste Ano no The Journal of Nutrition

Página que Sumariza os Resultados de 58 Ensaios Clínicos Randomizados Que Comparam Perda de Peso com Low Fat e Low Carb.

 

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Olá, bem-vindo a mais um podcast da Tribo Forte. A sua dose semanal de saúde, estilo de vida saudável e boa ciência, é claro. Eu sou o Rodrigo Polesso e hoje nós vamos falar sobre desaceleração do metabolismo… E também sobre uma má interpretação científica grave. Falar um pouco sobre dieta de alto carboidrato e diabetes tipo 2. Umas coisas bacanas que eu acho que você vai gostar de saber nesse episódio. Primeiro, deixa eu dar um oi para o Dr. Souto. Tudo bem, Dr. Souto?

Dr. Souto: Tudo bem.  Boa tarde. Boa tarde aos ouvintes.

Rodrigo Polesso: Boa tarde a todos. Primeiro, a pergunta da comunidade. Quem pergunta… Bom, ele não colocou o nome dele, mas tem a fotinha aqui. O nome está como “Smart Dog”, cachorro esperto… O nome dele. Ele perguntou o seguinte. “Aprendo muito com você, pois necessito perder 12 quilos. Mas achei contraditório. Ontem eu assisti um vídeo seu dizendo que, para emagrecer, é preciso passar um pouco de fome e que isso aumenta o metabolismo. Agora diz que comer menos desacelera o metabolismo. Explica isso para a gente Rodrigo.” Para colocar em perspectiva, acho que ele não perguntou da forma que deveria. Ele falou que eu falei no vídeo que precisa passar um pouco de fome para emagrecer. Não. Não é isso. A gente sabe e fala isso direto, que não é isso. Provavelmente era um vídeo que eu estava fazendo sobre jejum intermitente. Jejum intermitente… Falando que jejum intermitente pode ser uma ótima alternativa para potencializar o emagrecimento. E de forma que você talvez não sinta tanta fome assim. O jejum intermitente pode sim turbinar o metabolismo. A gente já viu isso em estudos. Eu demonstro, inclusive, no Código Emagrecer de Vez. Agora, em outra parte desse vídeo eu comentei que se reduzir calorias… Começar a comer pouco voluntariamente… Isso sim demonstra uma redução na velocidade do metabolismo. A desaceleração do metabolismo. Então, de um lado a gente tem jejum intermitente que tende a turbinar o metabolismo e do outro lado a gente tem uma dieta restrita em calorias onde você come pouco e passa fome. Isso sim, por sua vez, desacelera o metabolismo. Dr. Souto, você quer dar uma pitada porque isso acontece… Qual é a diferença das duas coisas…

Dr. Souto: Bom, a ideia é assim… A restrição calórica crônica… “Crônica”… Essa é a palavra-chave… Costuma sim produzir uma redução do metabolismo basal. Uma das pessoas que primeiro demonstrou isso foi justamente o Ancel Keys, aquele que é o pai da Teoria Lipídica da doença cardiovascular. Nesse sentido ele estava errado porque ele fez metodologia científica inadequada. Escolheu países específicos, estudo observacional, aquelas coisas. Mas ele conduziu um experimento chamando o experimento… Starvation Experiment, de Minnesota, onde ele pegou aquelas pessoas que não queriam servir na guerra por questões de consciência… Religiosas… A religião não permitia servir na guerra… Essas pessoas tinham duas opções: ou irem presas ou passarem fome no estudo do Dr. Keys. Então, elas passaram fome. É complicado. Ele conseguiu demonstrar que uma série de alterações ocorrem quando há uma restrição calórica crônica. Não só o metabolismo desacelera, mas a pessoa fica com o corpo mais frio. Passa muito frio mesmo em dias que não estão tão frios. Tudo no sentido de tentar conservar energia. Desaceleração do metabolismo. Uma coisa real. A pessoa que mais estudou… Mais afundo… O que acontece na restrição calórica e jejum prolongado foi o Dr. Cahill (escreve C-A-H-I-L-L). O Dr. Cahill também mostra que o metabolismo basal em situações de restrição calórica crônica é capaz de reduzir até 30%. Então, não é uma redução pequena. Simplesmente, o corpo realmente poupa energia. O que acontece com o jejum é que ele é uma situação aguda. Ele não é uma situação crônica. Então, na situação do jejum nós temos o quê? A pessoa está há 48 horas sem comer, por exemplo. Então, a tendência da glicose é baixar. Os níveis de insulina ficam muito baixos. E existem hormônios, que são hormônios contra-regulatórios da insulina. Um deles é o hormônio de crescimento (GH), mas tem também as catecolaminas, que é a adrenalina e a noradrenalina. A adrenalina… As pessoas nem precisam ser da área da saúde… As pessoas sabem que a adrenalina acelera as coisas. A adrenalina e a noradrenalina é provavelmente um dos motivos pelos quais no jejum nosso metabolismo tende a acelerar. O ritmo cardíaco acelera. A pessoa fica mais ativa. O que faz sentido do ponto de vista evolutivo, porque quando o animal está com fome, aí que ele tem que estar ativo para poder caçar e não morrer de fome. Já aquele animal que está passando por uma situação crônica de privação… Bom, para esse pode ser vantagem poupar energia, ficar encolhido num canto para não morrer tão rápido. Então, nos não devemos confundir a restrição calórica crônica com o jejum que é um fenômeno agudo. Evidentemente, se esse jejum se prolongar muito, por muito tempo, ele vai acabar se equivalendo a uma restrição calórica crônica. Então, se a pessoa ficar um número incontável de dias em jejum, chega uma hora que o corpo se entrega. A pessoa não vai viver de luz. Mas nós estamos falando de jejuns agudos. Vinte e quatro horas. Um dia. Dois, três.

Rodrigo Polesso: É. Eu acho uma forma muito legal de entender isso aí. O que você falou realmente, da questão evolutiva. Se a gente analisar de forma evolutiva, a gente não precisa de muito estudo para provar. Imagine um animal, como o Dr. Souto falou, na selva. Ele por um dia não encontra comida. Ele ficou 24 horas sem comer. Se ele ficar fraco, sem energia, metabolismo desacelerado, ele vai ter menos chances ainda de conseguir achar comida no segundo dia. Então, a natureza não é burra. A natureza te dá mais força, mais habilidade, para ir atrás desse alimento e conseguir pegar esse alimento, quando você tem essas privações agudas de alimentos. Agora, se esse mesmo animal estiver na sua caverna, digamos assim… Ou um fazendo na época antiga com sua colheita. Daí bate o inverno. O que acontece? Ele tem muito pouca comida. Ele começa a comer pouquinho. A racionar… a racionar o que ele tem para comer comendo pouquinho durante o dia. Ou seja, a comida vem, mas vem em pouca quantidade. A natureza entende. O corpo entende. “Nossa, ok. Está vindo comida, mas está vindo muito pouco.” Tenho que me adaptar para consumir menos calorias… Desacelerando o metabolismo para me adaptar a essa situação de escassez para nos ajudamos a ter maior chance de sobrevivência. O que é muito diferente dessa privação aguda, como o Dr. Souto falou, do jejum intermitente. Se a gente pensar dessa forma, a gente entende claramente porque um desacelera o metabolismo sim e porque o outro potencializa, ou turbina, o metabolismo. Então, é sempre bom manter em mente essa questão evolutiva. Outra coisa que o pessoal é fissurado, e você Dr. Souto, com certeza sabe disso… Na internet… Dietas por aí… Todo mundo é fissurado em acelerar o metabolismo. Todo mundo quer termogênicos e acelerar metabolismo. Aqueles alimentos que têm zero de caloria… Você come e gasta a mesma quantidade para processar. Então, tem gente que foca tanto nisso, eu não sei porquê. Na verdade, eu sei porquê. As pessoas acham que esse efeito termogênico… Essa questão de acelerar metabolismo… Vai ser a solução mágica para a perda de gordura extremamente rápida. A gente sabe que não é bem assim. Eu costumo dizer o seguinte. Em vez de você pensar em acelerar o metabolismo para emagrecer, para queimar gordura… Por que não pensar em como parar de desacelerar ele retirando os obstáculos que tem no caminho para deixar seu corpo funcionando de forma correta? Não sei sua opinião a respeito disso.

Dr. Souto: Boa. Concordo. O pensamento deve ser exatamente esse aí. Tira o que está travando, que normalmente a coisa vai bem.

Rodrigo Polesso: É, exatamente. Beleza, pessoal. A gente falou sobre essa questão importante que eu queria tocar novamente. Agora veja só. Um estudo ganhou atenção na mídia recentemente e tem sido usado como argumento por muitas pessoas que ainda insistem em defender uma dieta alta em carboidratos e baixa em gorduras. Ele é um ensaio clínico randomizado… Que a gente vai falar, mas foi publicado há muitos anos já. Mas o papel foi publicado recentemente em setembro sobre esse mesmo estudo no Journal of Nutrition. Por isso que ele renovou forças, digamos assim. Para você entender o que foi esse estudo… Foram 3234 pessoas que participaram. Todas elas com risco aumentado de diabetes tipo 2. O objetivo do estudo era ver se uma mudança no estilo de vida ou o uso de uma droga chamada metamorfina poderia postergar ou prevenir o desenvolvimento do diabetes tipo 2. Essas pessoas foram divididas em três grupos. O grupo de mudança de estilo de vida. O grupo da metamofina. E um grupo placebo. Para você entender. O grupo da metamorfina ia tomar esse remédio duas vezes por dia. E recebeu uma lição em hábitos saudáveis também. Hábitos saudáveis tradicionais. Uma vez por ano… Receberam essa lição… Esse grupo. O segundo grupo é o grupo placebo, que ia tomar as mesmas duas pílulas por dia, só que de placebo, não do remédio. Por fim, o grupo de mudança de estilo de vida intensivo… Que eles chamam… Que teve as seguintes orientações. Eles foram instruídos a manter uma perda de peso de 7% do peso corpóreo pelo menos ou mais em relação ao peso atual. Eles foram instruídos também a consumir uma dieta reduzida em calorias e baixa em gorduras. Eles foram instruídos a fazer duas horas ou mais de exercícios moderados por semana. E, para finalizar, eles receberão 16 lições de mudanças alimentares e contaram com o acompanhamento intenso de coaches durante esse processo. Bom, de cara você pode notar que não existe nenhum outro grupo para ser comparado. Não existe nenhuma outra intervenção no estilo de vida para ser comparada. Não tem nenhum grupo low carb para ser comparado nesse estudo. São três grupos, sendo apenas um deles que foi instruído a comer melhor – de fato – e reduzir o consumo calórico, digamos assim. E agora, olha só o nível de inteligência desse pessoal. “Como esperado, o aumento no consumo de carboidratos no contexto de uma redução geral de calorias foi fortemente associado com perda de peso no grupo de mudança de estilo de vida que provavelmente foi causada pela dieta baixa em gordura e alta em carboidratos que eles fizeram.” Olha só o nível de inteligência. Dr. Souto, resumindo… Eles pediram para o pessoal perder peso. Pediram para o pessoal perder peso… Começar a comer menos e comer mais legumes e folhas. Aí eles concluíram que eles tiveram essa perda de peso óbvia… E que essa perda de peso foi por causa da diminuição da gordura e do aumento de carboidratos e não pela restrição calórica. Essa é uma das conclusões que a gente vai falar a respeito desse estudo hoje, mas só para iniciar com o pé direito essa questão. Dr. Souto, esse estudo é pior do que um queijo suíço em termos de interpretação assim.

Dr. Souto: Várias pessoas me mandaram esse estudo e eu achei estranho. Eu achei muito fraco. E é fraco. Aí depois eu entendi. É porque nas redes sociais parece que o pessoal que é contra low carb… Inclusive me disseram que professores… Gente da universidade estavam usando esse estudo de forma triunfante… Para dizer, “Viu? Um estudo que prova que mais carboidrato é o que precisa para prevenir o diabetes.”

Rodrigo Polesso: Falando e iliteração científica…

Dr. Souto: Exatamente… Falando em problemas de metodologia científica. Então, eu passei os olhos no estudo e disse, “Isso é uma bobagem”. Mas, enfim, mas pessoas continuaram mandando. Então, vale a pena a gente falar para vocês. Como o Rodrigo já falou, observe o seguinte. Não existe um braço low carb nesse estudo. Então, esse estudo não está comparando alto carboidrato com baixo carboidrato. Esse grupo é o seguinte… Algumas milhares de pessoas foram randomizadas para três grupos, todos com a mesma orientações dietética ruim, lamentável. Então, nós estamos querendo ver o seguinte. Dentre as pessoas que foram orientadas a reduzir a gordura e aumentar o carboidrato, quais as que tiveram o melhor resultado. Todas foram orientadas a fazer restrição calórica e a comer mais carboidrato. Sendo que o grupo chamado de alteração intensiva no estilo de vida deveria restringir as calorias o suficiente para perder 7% do peso corporal e manter essa perda.

Rodrigo Polesso: Dr. Souto, deixe eu adicionar uns parênteses nessa questão que você falou do tipo de instrução que eles receberam. O grupo de intervenção de estilo de vida… Eles receberam 16 lições para ensinarem eles a mudar esse estilo de vida e também tiveram acompanhamento contínuo de coaches, enquanto o grupo placebo e os outros grupos encontraram uma vez por ano alguém para dizer para eles o que comer. Há mudança intensiva de hábitos foi praticamente só nesse grupo de intervenção e estilo de vida. Piora a situação ainda mais.

Dr. Souto: Isso é uma observação importante. E lembrem-se do seguinte. Estamos falando de um estudo muito antigo. Um estudo que começou em 1996. O estudo começou há 21 anos. Isso do que estamos falando hoje é uma reanálise daquele estudo de 21 anos atrás. Bom… Naquele momento, nos anos 90… Não existia Tribo Forte. Não existia Gary Taubes explicando sobre essas coisas. Nós estávamos na idade média da nutrição. Nós estávamos num momento em que todo mundo, inclusive este que vos fala e o Rodrigo Polesso, acreditavam que se você queria ter uma vida saudável você não deveria comer nenhuma gordura e deveria basicamente comer grãos. Polesso, naquela época você não comida low fat?

Rodrigo Polesso: Naquela época eu estava viciado em doce, provavelmente.

Dr. Souto: Exatamente. Essa época aí eu estava viciado em doce tomando leite de soja e evitando gordura completamente. Então, coloquem isso no contexto. Qualquer pessoa normal e informada nesta época… 1996… Qualquer um que se preocupasse com sua saúde o mínimo que fosse… Tinha certeza absoluta que a gordura era o inimigo e que a dieta deveria ser baseada na pirâmide alimentar. É importante ter isso em mente, vocês vão ver porquê. Então, o que aconteceu. O que eles estão fazendo agora é um estudo observacional em cima dos dados desse randomizado de 21 anos atrás. Vamos ver aquelas pessoas de 21 anos atrás e ver os questionários de alimentação que elas responderam para ver se nós conseguimos fazer uma correlação entre o que elas comiam e o que aconteceu… Quem teve melhora… Desfecho de evitar o diabetes ou não. E aí, de forma absolutamente não surpreendente, aquelas pessoas que seguiram mais à risca as orientações que elas receberam foram as que tiveram melhores resultados. Só que as orientações eram de comer menos gordura e mais carboidrato. Então, o que acontece… Quem eram as pessoas que comiam mais carboidratos? Eram as mesmas que faziam os pelo menos 150 minutos de exercício por semana. Eram as mesmas que perderam pelo menos 7% do peso corporal e mantiveram essa perda. Então, acompanhe meu raciocínio. Comer da forma como as pessoas foram orientadas a comer… Quem seguia isso eram as mesmas pessoas que seguiam todo o resto do plano. Veja bem… Perder 7% do peso corporal reduz sem nenhuma dúvida o risco de desenvolver diabetes, não importa como você perca. Vou dar um exemplo. Se você fizer uma cirurgia bariátrica e perder peso, você deixa de ser diabético – independentemente da sua dieta. Se sua dieta for um lixo, depois de um tempo você ganha o peso de novo e fica diabético outra vez. Mas você perde peso mesmo comendo mal depois de uma bariátrica e deixa de ser diabético. Perder peso por si só é capaz de produzir reversão de diabetes… Que quanto mais, como é o caso desse estudo diminui o risco de desenvolver diabetes. Outra coisa interesse é que o estudo coloca numa linguagem traiçoeira a coisa. Eles falam assim. “Os que comeram mais carboidratos foram os que desenvolveram menos diabetes.” Mas quando você vai ler o estudo, não são os que comeram mais carboidratos… Os que comeram mais carboidratos na forma de fibra. Bom, todo mundo que nos escuta aqui sabe que se você tiver um alimento que tem 20 gramas de carboidrato dos quais 15 é fibra… Na verdade, só vai afetar sua glicose… Ter importância… Os cinco que não são fibra. Porque fibra não apenas não aumenta a glicose, como fibra é boa para saúde e melhora o controle da glicose. Então, ele não estão apenas ignorando uma coisa que vou falar daqui a pouco… Que é o viés do usuário bem-comportado… Paciente bem-comportado… Mas a linguagem não está muito correta, porque foram os que comeram mais carboidratos na forma de fibra.

Rodrigo Polesso: Sabe de uma coisa… Eles começaram essa revisão… Na mente deles isso vai estar provado na conclusão que vou ler depois… Com a ideia de que esse pessoal do low carb está popularizando… Vamos tentar quebrar tudo isso… Vamos tentar mostrar o contrário. Estão usando carboidratos de forma genérica para simbolizar folhas e legumes. Olha só… Vou ler entre aspas o que eles escreveram justamente sobre esse ponto que você falou, Dr. Souto, que é a redução calórica… A redução de peso como suficiente para reduzir o risco de diabetes. Eles escrevem. “Estes achados são consistentes com outros estudos que reportam que um aumento no consumo de carboidratos (quando ajustados para calorias total)…” Ou seja, num contextos de redução calórica… “É associado com menos risco de diabetes.” E outras palavras… Comer menos calorias independente do que for sua dieta sempre será associado com menor ganho de peso, não é verdade? Não parece óbvio… Também com a redução de diabetes. Só que eles colocam entre aspas, olha só. “Em contraste, vários estudos já mostraram maior perda de peso em dietas mais altas em proteínas e baixas em carboidratos quando comparadas a dietas isocalóricas baixas em gordura e alta em carboidratos.” Eles colocaram isso no estudo, dizendo que quando compararam low carb com este tipo de dieta que estão defendendo aqui, o pessoal da low carb tem mais resultado.

Dr. Souto: Claro, mas isso está escondido lá na discussão. Eles escolheram a dedo um estudo onde todo mundo foi mal orientado… E nos anos 90, numa época em que ninguém pensava em low carb. Num contexto onde todo mundo come um monte de carboidrato, quem come um monte de carboidrato, mas é com mais fibra… E faz mais exercício… E perde 7% de peso corporal… Terá um risco menor de desenvolver diabetes. Pessoal, o que eu queria lembrar vocês é de um viés que é muito importante, chamado de viés do paciente bem-comportado. Já falamos aqui uma vez, mas vou relembrar. Houve um estudo sobre uma droga chamada colestiramina, lá nos anos 80. Era um remédio para baixar o colesterol. Não existiam as estatinas ainda. Foi um ensaio clínico randomizado. Nesse estudo, os pacientes que usaram a colestiramina o colesterol diminuiu. Os pacientes que usaram placebo o colesterol não diminuiu. No entanto, quando foi se ver a mortalidade, ela era igual entre os dois grupos. Deixou o pessoal perplexo. Afinal, diminuiu o colesterol, como não diminuiu a mortalidade? A gente sabe que o colesterol não é o único fator de risco cardiovascular – nem é esse o motivo que estou falando. Alguém teve a seguinte ideia. “Olha, quem sabe o problema não é o seguinte. Esse pessoal não está tomando o remédio direito. Vai ver que a gente dá o remédio para eles, mas eles não tomam direito. Por isso que não está dando diferença. Se eles tomassem bem direitinho, teria. Então vamos analisar quem tomou o remédio direito e quem não tomou.” E aí, bingo, Rodrigo. Aqueles que tinham tomado o remédio corretamente tiveram 10% menos mortalidade do que os que tomaram o remédio de forma incorreta. Só que aí os pesquisadores disseram assim, “Vamos fazer um controle para isso aí. Vamos ver quem tomou placebo direito e quem tomou placebo de forma irregular.” Lembrando, pessoal… Placebo, não tem nada ali dentro. É uma pílula vazia. Então, o pessoal que tomou o placebo certinho morreu muito menos do que o pessoal que tomou o placebo de forma errada. Então, não era tomar o remédio certo ou errado que estava fazendo a diferença. É que quem é Joãozinho do Passo Certo, quem paciente bem-comportado, quem faz certinho aquilo que o protocolo do estudo manda, é uma pessoa que tende a ser mais regrada em tudo na vida. Ela se exercita, ela não fuma, ela bebe menos, ela cuida o peso. Então, essas pessoas têm desfechos melhores em tudo na vida. Se vocês forem ver, esse tipo de pessoa tem um desfecho melhor na sua vida financeira, inclusive. Porque cuida direito o quanto gasta, o quanto ganha. Então agora pensem nesse estudo aqui. Eles estão comparando as pessoas que comeram mais carboidratos, preponderantemente na forma de fibras em um estudo onde a orientação era comer mais carboidratos preponderantemente na forma de fibras. Então as pessoas que eram bem-comportadas e cumpriram aquilo que os pesquisadores disseram tiveram melhores desfechos. Alguma surpresa?

Rodrigo Polesso: Nenhuma surpresa.

Dr. Souto: Tá, pessoal? Não é um estudo randomizado comparando low carb com low fat. Não é um novo estudo que mostrou: olha, nós fizemos um estudo prospectivo randomizado e quem comia mais carboidrato teve menos diabete do que o grupo que foi randomizado para comer mais carboidrato. Não é isso. Esses estudos existem e eles sempre mostram que a dieta de menos carboidrato é melhor. Porque obviamente a diabete é uma doença de intolerância à glicose. O que eles estão mostrando aqui é o seguinte: num estudo dos anos 90, onde todo mundo foi orientado a restringir a gordura e comer mais carboidrato e perder peso (no mínimo 7% do peso corporal) e fazer pelo menos 150 minutos de exercício por semana, quem fez tudo isso (perdeu peso, começou a fazer exercício pra caramba e seguiu uma dieta que não era tão boa) foi melhor do que quem também seguiu uma dieta que não era tão boa mas não perdeu todo o peso e não fez todo o exercício.

Rodrigo Polesso: Em outras palavras eles viram que quem fez mudança no estilo de vida, como você acabou de falar, transformou a forma como vive, teve mais benefícios do que o pessoal que tomou esse remédio e teve pouca alteração no estilo de vida, ou o pessoal que continuou com o mesmo estilo de vida que vinham levando antes com risco aumentado de diabetes. Ou seja, é uma conclusão muito fraca, mas olha só o que eles concluem oficialmente nesse artigo…

Dr. Souto: Tenho certeza que nós estamos olhando o mesmo parágrafo, Rodrigo. Eu estava com este na ponta da língua. Mas fala você.

Rodrigo Polesso: É que eu traduzi aqui já. Olha lá: nossos achados sugerem, em um contexto de redução geral de calorias, que uma mudança de dieta para maior consumo de carboidratos e menor consumo de gordura, aumentando especificamente o consumo de fibras, frutas e legumes, promove perda de peso em indivíduos com alto risco de diabetes tipo 2. Portanto, ênfase em aumentar os carboidratos e frutas ricas em fibras, legumes e grãos integrais, enquanto reduzindo o total de calorias consumidas pode ser uma oportunidade única para se atingir o emagrecimento de longo prazo e manutenção. Dada a percepção generalizada de que carboidratos aumentam o risco de diabetes e a popularização das dietas low carb para perda de peso, nossos achados são críticos para o desenvolvimento de recomendações baseadas em evidência para intervenções perfeitas de prevenção de diabetes. Que coisa!

Dr. Souto: Nós estávamos olhando para o mesmo parágrafo.

Rodrigo Polesso: Que comédia!

Dr. Souto: Que quando eu li eu tive a mesma percepção que você. É o desespero total. Esse estudo demonstra o desespero. Como não… como os ensaios clínicos randomizados mostram que low carb é melhor tanto para perda de peso, como para a melhora da síndrome metabólica, como para diabetes, como o mundo está desabando, como o castelo de cartas está caindo, como o chão está desaparecendo de baixo dos pés. Pessoal, vamos pegar um estudo lá dos anos 90 e fazer uma reanálise observacional cheia de vieses… e assim, isso aqui vai ser a salvação da lavoura. Quer dizer, quando você precisa usar esse tipo de estudo metodologicamente pobre para defender a sua posição quando é a única coisa que restou… E eu vou ler de novo o que você acabou de dizer: dada a popularidade das dietas low carb. Dada a percepção pública generalizada de que os carboidratos são problemáticos em aumentar o risco do diabetes. E a proeminência das dietas low carb para perda de peso… então, pessoal… acreditem em nós. Ainda dá para fazer com low fat, high carb. É um estudo de desespero. E assim, as pessoas estavam mandando isso para mim dizendo: olha, parece que tem um novo estudo aí. E o pessoal está excitadíssimo, os professores nas Universidades, chega a dar uma pena.

Rodrigo Polesso: Está um desespero, mas sabe uma coisa que você só nota se for ler o artigo completo? É uma coisa que eu notei, é o seguinte: eles se protegeram um pouquinho, porque toda vez que eles falam que a dieta alta em carboidrato é boa para proteção de diabetes, eles falam o seguinte: uma dieta alta em carboidratos, eles sempre colocam entre parênteses, em um contexto de redução geral de calorias. Falam isso várias vezes ao longo do estudo. Ou seja, eles estão falando, na verdade, que uma dieta alta em carboidratos… sim, claro, se você diminuir a quantidade de calorias que você come, se você emagrecer no processo vai ser benéfico. Eles nunca falam que o alto carboidrato especificamente por si só é proveitoso. Eles se protegem dessa forma, mas ninguém vai ver se não ler.

Dr. Souto: É, Rodrigo. Vamos deixar bem claro que eu não estou dizendo… a gente não diz assim que é impossível atingir os objetivos com alto carboidrato. Mas a pessoa vai estar fazendo isso da forma mais difícil, mais irracional e os resultados jamais serão tão bons como com uma opção low carb, que além do que é mais racional e mais fácil. Então, sim, é possível fazer uma dieta high carb e low fat que seja melhor do que outra dieta high carb e low fat, que é o que eles estão mostrando aqui. Uma dieta high carb e low fat altamente restrita em calorias, associada a bastante exercício e com ênfase em fibras e frutas e legumes e, portanto, por definição, com pouca ênfase em açúcar e farináceos, será uma alternativa melhor do que uma dieta também low fat, mas que tenha mais calorias, que tenha menos exercício, que tenha mais açúcar e farinha. Então existe uma gradação, existe o horrível, existe o ruim, existe o bom e existe o ótimo. Então o que eles estão dizendo é que o ruim é melhor que o horrível.

Rodrigo Polesso: Exatamente! Ótima forma de…

Dr. Souto: E se vangloriando disso. Dizendo que o ruim é melhor que o horrível, portanto, faça o ruim.

Rodrigo Polesso: E o pior é que eles falam que esses achados são críticos para o desenvolvimento de recomendações baseadas em evidência para intervenções perfeitas de prevenção à diabetes. Olha o tipo de linguagem que eles estão utilizando. São uns paspalhos mesmo, não é?

Dr. Souto: A dissonância cognitiva destilada e transformada em uma essência, não é? É esse finalzinho… é a dissonância cognitiva total.

Rodrigo Polesso: Para fechar e colocar a cerejinha em cima do bolo, vamos só colocar em perspectiva. Sumarizando em termos simples a questão de diabetes. Nós sabemos que diabetes é uma intolerância à glicose e também definida pela resistência à insulina. Isso é diabetes. A gente sabe que carboidratos… o carboidrato vira glicose no sangue e a glicose estimula a insulina no sangue. Essa mesma insulina que o corpo do diabético é resistente. Então ele potencializa ainda mais a resistência se você aumenta mais ainda esse hormônio. A pergunta é: em que mundo o maior consumo da substância que causa o problema pode ser a solução para o mesmo problema?

Dr. Souto: Exatamente. Basicamente o que acontece é o seguinte: quando a pessoa faz exercícios ela está diminuindo a sua resistência à insulina. Quando a pessoa emagrece 7% do peso corporal ela diminui a gordura visceral, inclusive a gordura do fígado e do pâncreas, e ela passa a ter menos resistência à insulina.

Rodrigo Polesso: E diminui o consumo também de glicose absoluto.

Dr. Souto: Claro! E aí a pessoa, mesmo fazendo uma dieta como que eles estão propondo que é uma dieta com um aumento de carboidratos e uma redução de gordura, mas carboidratos como eles fazem questão de citar no estudo só os ricos em fibra, a pessoa por ter perdido peso com restrição calórica e fazer exercício ela consegue tolerar agora melhor essa quantidade de carboidrato que ela não deveria estar comendo, mas que ela é o obrigada a comer porque são  os anos 90 e o estudo mandou comer. Ela consegue tolerar melhor graças ao exercício e graças à perda de peso. Porque algo é melhor que o péssimo não torna esse algo o bom. É só esse o resumo da coisa. Só porque é possível fazer uma dieta com mais carboidratos e menos gordura que seja um pouco menos pior… bom, repito, Rodrigo, não tem braço low carb nesse estudo. Eles não estão comparando com o ótimo. Eles estão comparando o ruim com o péssimo.

Rodrigo Polesso: Exato! E falando exatamente nisso, eu vou colocar aqui nas referências uma página que sumariza os resultados de 58 ensaios clínicos randomizados que compararam a perda de peso low carb com low fat. 58! Se fosse um jogo de futebol acho que o outro time deixaria de existir.

Dr. Souto: Podemos colocar também aí uma metanálise de 2017 que avaliou o efeito de dietas low carb com diferentes graus de restrição de carboidrato para o diabete tipo 2, que é bem o assunto desse estudo. E a conclusão é a seguinte: há uma relação inversa… uma relação direta, quanto menos carboidrato mais cai a glicose no sangue, mais cai a hemoglobina glicada. O que é óbvio, mas é bom saber que existe. E aí sim, é alto nível de evidência. É uma metanálise de ensaios clínicos randomizados, não é esse lixo observacional retrospectivo relacionado aos anos 90.

Rodrigo Polesso: Ótima maneira de fechar! Então o pessoal que quer usar um artigo dessa categoria que a gente está falando aqui, boa sorte, espero que você não encontre ninguém com senso crítico na sua frente, porque você vai ter uma conversa bastante difícil. Mas, enfim, a gente está fazendo a nossa parte, compartilhando um pouco de luz em cima desse papo todo aí. Dr. Souto, vamos ficando por aqui esse podcast, então. Um grande abraço para você! Obrigado ao pessoal que ouviu e a gente se fala na próxima semana!

Dr. Souto: Beleza! Obrigado! Até a próxima!

Rodrigo Polesso: Até a próxima!