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No Episódio De Hoje:

Neste episódio recheado, nós falamos sobre:

  • Qual a melhor dieta para controle de peso na menopausa? Novo estudo indica.
  • O que fazer quando se tem gota ou ácido úrico elevado? Parar de comer carnes? Será mesmo?
  • Comer “bastante” proteína faz mal?
  • Todos carboidratos são ruins?

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Referências

Estudo no Jornal Britânico de Nutrição Sobre o Padrão de Dieta e Ganho de Peso em Mulheres Pós-Menopáusicas

 Estudo da Dieta de Alta Proteína (Dieta Atkins) e Ácido Úrico

 

 

Transcrição do Episódio

Rodrigo Polesso: Olá! Bom dia, boa tarde para você. Você está neste momento exato ouvindo o podcast número 75 aqui da Tribo Forte, onde nós defendemos a boa ciência na nutrição, no emagrecimento, na alimentação… Estilo de vida no geral. O podcast de hoje, como tem sido comum ultimamente, está bastante recheado. A gente vai falar hoje de ácido úrico. A gente já falou isso antes já. Mas tem um estudo novo bacana. Acho que vocês vão querer saber sobre isso. Qual dieta alimentar ajuda a solucionar talvez o problema da gota… Que o pessoal tem com o ácido úrico. Além disso, vamos falar também sobre o controle de peso na menopausa. As mulheres depois da menopausa. Qual é a intervenção alimentar… O estilo de vida alimentar que tem mais benefício no controle de peso na menopausa. Saiu um estudo novo também falando sobre isso. Aí a gente vai falar um pouco sobre ingestão de proteína. Falar um pouco sobre carboidratos também. Enfim, está recheado. Acho que vai ser bastante útil para vocês esse podcast, com certeza. Dr. Souto, tudo bem por aí? Aquecido?

Dr. Souto: Tudo bem, Rodrigo? Tudo bem, ouvintes? Aquecidíssimo.

Rodrigo Polesso: Maravilha. Eu vou dizer que não dormi nada essa noite. Eu vim de viagem à noite lá do Low Carb USA. Eu tinha comentado nas mídias sociais aí. Foi um evento bastante bacana de quatro dias. Normalmente os eventos de saúde são de três dias. Esse foi de quatro dias. Quatro dias sentado ouvindo palestras dia e noite lá em San Diego. Foi bastante legal. Anotei bastante coisa. Pude falar com algumas pessoas. Entre elas, o Gary Taubes. Nosso grande Gary Taubes. Eu falei com ele sobre a Tribo Forte, bati um papo com ele. Falou que está bastante ocupado. Está trabalhando. Ele continua lutando, tentando disseminar a ideia dele. Foi bastante legal a palestra dele sobre o açúcar. Mas o importante é que ele saiba o trabalho que a gente está fazendo no Brasil. Isso é bacana. Uma pessoa bastante influente. Mas é bom estar nesse meio, se atualizando sempre. E claro, todo o conteúdo mais atual que eu peguei, atualizações… Vou incrementando, embutindo, nos podcasts, nos vídeos que gravo semanalmente para o Emagrecer De Vez e etc. O importante é que, se você está ouvindo aqui na Tribo Forte, está garantido que terá acesso à melhores e mais atualizada informação sobre saúde, emagrecimento e boa forma que pode você pode ter acesso no mundo. Prova disso é mais esse podcast de hoje que vai trazer para você algumas coisas novas… Novas em termos. Novos argumentos. Novos resultados científicos para embasar o que a gente já bem falando há muito tempo. É sempre legal a gente reforçar esse tipo de coisa. O primeiro tópico. Qual é a melhor “dieta” de controle de peso para mulheres depois da menopausa? A gente recebe perguntas que elas têm problemas em manter o peso… Que engordam depois da menopausa… Fica mais difícil controlar. Então, tem um estudo novo mostrando qual seria a intervenção, o estilo de vida alimentar que seria melhor, mais propício para as mulheres conseguirem controlar o peso melhor. Na minha opinião, esse estilo de vida alimentar não é só para mulheres na menopausa, como vocês vão já saber. Esse estudo novo foi publicado agora em abril de 2017. E que avaliou os dados de mais 88 mil mulheres que fizeram parte do Women’s Health Initiative Observational Study em busca de ganhar clareza de qual é a melhor dieta de controle de peso depois da menopausa, como eu falei. Para vocês terem uma ideia, para a gente ficar tudo na mesma página, foram analisados quatro padrões alimentares, entre esses milhares de mulheres depois da menopausa. As dietas foram as seguintes. Dieta baixa em carboidrato foi uma delas. Dieta baixa em gordura foi a outra. Dieta de acordo com as diretrizes alimentares americanas. E por fim uma dieta mediterrânea. Eles procuraram nesse conjunto enorme de mulheres esses quatro padrões alimentares para ver se eram associados ou não ao ganho de peso depois da menopausa. Sabe o que é legal, Dr. Souto? Eu estava lendo as entrelinhas do estudo. Algumas observações interessantes antes de a gente trocar uma ideia sobre isso. O padrão alimentar mediterrâneo que eles estavam identificando era o mais alto em consumo calórico nessas pessoas que praticavam ele. Depois, era o low carb. A dieta low carb era a segunda com a maior ingestão calórica. Isso é interessante pelo fato de que as mulheres que seguiam uma dieta reduzida em carboidratos low carb conseguiam controlar melhor o peso e estava associada à perda de peso e não ao ganho de peso, mesmo sendo a segunda maior ingestão de calorias – como a gente já sabe e fala há bastante tempo também. Agora, importante. A dieta baixa em carboidratos que eles mencionam no estudo não é muito baixa em carboidratos de fato. A média de gramas de carboidrato por dia que eles consideram é 163 gramas. Seria 37% das calorias de carboidratos e somente 41% das gorduras. Então, não é a alimentação forte low carb, como a gente fala. Mas, mesmo assim, deu esse resultado. E a dieta alimentar de acordo com as diretrizes alimentares americanas, para você ter como comparação, foi 205 gramas de carboidratos por dia. Que foi parecido. A low carb foi 163. E a low fat, que baixa em gordura, foi 211. A mediterrânea teve 253 gramas. Então, no meio de tudo isso, é mais um exemplo daquele estudo, ainda que observacional, que mostra que uma pequena redução na quantidade de carboidratos resulta em grande benefício de perda de peso e controle de peso. Se você pudesse falar mais sobre os resultados sobre essa questão do peso, seria bastante legal para o pessoal ficar esperto.

Dr. Souto: Esse estudo é muito interessante por algumas ironias. O Women’s Health Initiative foi um grande estudo que tinha um componente prospectivo e randomizado no qual se randomizou mulheres para restringir gordura na dieta e aumentar o consumo de grãos, frutas e vegetais. Portanto, diminuir a gordura e aumentar o carboidrato. O grande objetivo desse estudo era provar, de uma vez por todas, que uma dieta de baixa gordura era melhor. Eu já estou rindo. A parte prospectiva e randomizada falhou completamente. A restrição de gordura na dieta não provocou nenhuma redução na incidência de doença cardiovascular, nenhuma redução em derrame, nenhuma redução em doença coronariana e nenhuma redução em câncer de mama. Quando vocês ouvem dizer na imprensa que a gordura na dieta está relacionada ao câncer de mama, isso é estudo observacional. Estudo prospectivo randomizado… Esse Women’s Health Initiative foi o maior prospectivo randomizado que já existiu de dieta. Isso foi refutado. Eles continuaram observando essas mulheres. E continuaram medindo uma série de desfechos. Então, esse estudo não randomizou mulheres para dieta low carb, dieta low fat e dieta mediterrânea. O que eles fizeram aqui foi o seguinte. Dentro desse estudo maior eles viram o que as pessoas respondiam que elas comiam nos questionários e viam os desfechos. Portanto, o que nós vamos falar hoje é a porção observacional desse estudo. Aí sempre tem aquele negócio. Estudo observacional não pode estabelecer causa e efeito. Por outro lado, a gente espera que se uma coisa causa algo que haja uma associação. Aquilo que a gente sempre fala. Esse estudo foi desenhado com a ideia de que quem seguia um padrão alimentar considerado prudente ou saudável eram pessoas que evitavam a gordura a todo custo e se entupiam de grãos integrais. Isso era o que era recomendado pelo estudo. As pessoas que optaram por não fazer isso, as pessoas que não faziam isso, neste estudo observacional foram as que mais perderam peso. E as pessoas que fizeram aquilo que os autores do estudo queriam que elas fizessem foram as que mais ganharam peso. É um estudo observacional de quase 90 mil mulheres. Os números não mastodônticos. Quase 90 mil mulheres. Eu vou ler porque está tão bonito a conclusão. Vou ler traduzindo. Conclusão… É um parágrafo só. “Consumir uma dieta reduzida em carboidratos, com gordura moderada e mais proteína pode diminuir o risco de ganho de peso em mulheres pós menopausa. Entretanto, as recomendações dietéticas atuais que sugerem limitar o consumo de gordura para produzir uma saúde ótima e prevenir doenças crônicas. Nossos achados, portanto, questionam as recomendações dietéticas atuais, sugerindo que, em vez disso, uma dieta de baixa gordura pode promover ao invés de prevenir o ganho de peso pós menopausa.”

Rodrigo Polesso: Que coisa linda.

Dr. Souto: Que coisa linda. Que coisa linda isso escrito por um grupo que acreditava piamente no contrário. A história é assim. Em 1982 foi produzido um estudo chamado MRFIT. MRFIT é um acrônimo de Multiple Risk Factor Intervention Trial. MRFIT. Esse estudo foi conduzido só com homens. Eram homens com alto risco, com colesterol muito elevado. Muitos hipertensos, muitos fumantes. Eles resolveram fazer dois grupos. Randomizaram 12800 homens. Metade deveria reduzir a gordura da dieta, deveria também fazer esforço para parar de fumar e medicar a pressão alta. O outro grupo foi deixado como estava. Ao final de um segmento de 7 anos e pouco, não houve diferença nenhuma entre os grupos. Não só isso, não houve diferença estatisticamente significativa, mas havia um pouco mais… Um certo excesso de mortes no grupo que reduziu a gordura. A gente já comentou isso num podcast, mas a ironia é muito boa para deixar passar. Esse grupo reduziu a gordura, parou de fumar e tratou a hipertensão. Todo mundo sabe que parar de fumar reduz o risco de doença cardíaca. E todo mundo sabe que tratar hipertensão reduz o risco de doença cardíaca. A conclusão que me ocorre é que reduzir a gordura na dieta é algo tão ruim que acabou cancelando o benefício de parar de fumar e de tratar a hipertensão. Mas o fato é que não houve diferença. Então, o Women’s Health Initiative foi planejado para ser a pá de cal. Para botar finalmente uma pedra em cima desses doidos que ficam dizendo que a gordura na dieta não é importante. Um estudo com milhares de mulheres… Dezenas de milhares… Prospectivo, randomizado, multicêntrico… “Nós vamos acabar com essa dúvida ridícula.” E o estudo concluiu o contrário.

Rodrigo Polesso: Exatamente.

Dr. Souto: Por isso que eu digo que a ironia é maravilhosa. A gente come frio, mas é bom.

Rodrigo Polesso: É bom demais. Sabe outra coisa interessante a respeito do grupo de baixo carboidrato? Dentre os comparados eles foram os que mais consumiam álcool semanalmente. O pessoal que gosta do vinho, do álcool…

Dr. Souto: E é mais interessante ainda porque nesses estudos observacionais existe aquele viés do paciente bem comportado. O natural seria que esse pessoal do baixo carboidrato fosse pessoas com um risco maior de adoecer, porque também fuma mais, bebe mais, não usa cinto de segurança e etc. No entanto, ainda assim os desfechos foram melhores. O que significa que se fosse randomizado, ou seja, o número de gente irresponsável fosse equivalente em todos os braços, provavelmente o benefício teria sido maior ainda. Existe uma figura 1 nesse estudo… A gente vai linkar o estudo no podcast… Ele é aberto. Ele é disponível. Não é pago. A figura 1 mostra um detalhe interessante que é bom para reforçar aquilo que a gente sempre fala. No próprio estudo eles dizem que é uma dieta de mais alta proteína. Mas na realidade não é verdade.

Rodrigo Polesso: 17%.

Dr. Souto: É isso aí. O grupo low fat consumiu 18% de proteína. O grupo low carb consumiu 18% de proteína. O grupo mediterrâneo foi 17% de proteína. E o grupo da pirâmide alimentar foi 18% de proteína. Ou seja, todo mundo consumiu a mesma quantidade de proteína. Então, vamos deixar de ser ignorantes e falar em dieta da proteína. Não é isso. O que acontece é que o grupo low fat consumiu 62% de carboidrato e 21% de gordura. Enquanto que o grupo “low carb” consumiu 39% de carboidrato e 43% de gordura. Então, consumir 43% de gordura em vez de 21% de gordura foi a diferença nos grupos terem maior ganho de peso ou menor ganho de peso. Mas o que eles achavam lá nos anos 90 era que consumir gordura engordava. Como quem nos escuta há 70 e tantos podcasts já sabe, é o contrário.

Rodrigo Polesso: Exato. E o resultado foi bastante expressivo do pessoal que seguiu essa dieta mais baixa em carboidrato, em termos de controle de peso. Foi bastante expressivo. Mesmo com essa pequena diferença em quantidade de carboidratos e gorduras…

Dr. Souto: A Nina Teicholz, nossa autora do Gordura Sem Medo… Livro que eu vou dizer de agora em diante em todos os podcasts. Comprem esse livro. Eu não ganho nada com isso. Não tenho nenhum acordo com a editora. É porque ele é muito bom. A Nina Teicholz diz que a dieta que os americanos consumiam antes da introdução das diretrizes nutricionais, antes da Associação Americana de Cardiologia… Em 1960 e poucos… Dizer que tinha que cortar a gordura… A dieta que os americanos consumiam antes dos anos 60 era uma dieta com 40% de carboidratos. Em termos populacionais simplesmente reduzir de 60% de carboidratos para 40% de carboidratos é uma low carb muito moderada, mas muito moderada. Já produz benefícios espetaculares na vida das pessoas.

Rodrigo Polesso: Exato. Imagina uma low carb bem feita, de verdade.

Dr. Souto: Exatamente.

Rodrigo Polesso: Você falou muito bem sobre a questão da proteína, que a gente já falou várias vezes. Quem falar dieta da proteína na nossa frente vai levar um na orelha. A gente já falou várias vezes esse negócio aí. A primeira pergunta das duas que eu coloquei aqui para quebrar o gelo… Que é um follow-up do episódio passado que a gente fez de perguntas e respostas… Quem não ouviu o episódio 74, foi só perguntas e respostas. Pode voltar lá e ver. A pergunta agora é a seguinte. Comer muita proteína faz mal? Para começar, é muito difícil você comer proteína demais. Se tem uma coisa em comum entre todos os estudos que a gente tem visto, inclusive esse que a gente acabou de comentar, é que o consumo de proteínas, independente do resto dos macronutrientes tende a se manter estável. Como a gente viu agora… 17%, 18%. Geralmente 20%, por aí. Tende a se manter nessa redondeza. Só que o pessoal continua falando sobre essa questão de proteína… Comer proteína demais faz mal… Então, Dr. Souto, a gente já falou sobre isso. Mais para frente a gente vai falar sobre o ácido úrico. Mas para os rins… Faz mal para os rins comer proteína demais? É possível comer proteína demais de fato?

Dr. Souto: O primeiro aspecto é esse que você já falou. Estudo após estudo mostra que faixa espontânea de consumo de proteína nas populações… Não importa se a pessoa coma high carb ou low carb. Fica em torno de 18%, 20%, 21% de proteínas. Não muda muito disso. O apetite regula isso. Vamos ir um pouco adiante. Eu acho que comer mais proteína pode ser uma coisa boa. Na realidade, embora uma dieta low carb não seja uma dieta hiperproteica… Nós vamos repetir isso sempre aqui… Mas uma dieta hiperproteica pode ser uma alternativa interessante. Ela é uma alternativa que preserva bem a massa magra durante a perda de peso. Ela é uma alternativa que inibe o apetite de uma forma importante. Tem vários estudos que mostram que se a gente isolar os macronutrientes o que mais sacia é a proteína. Alguns estudos em diabéticos… Já comentamos um em pré-diabéticos… Sugerem que se a gente aumentar a proteína… Está na faixa de 25%, 30%… Reduzir os carboidratos e moderar as gorduras… Ou seja, fazer uma dieta low carb, moderada em gordura e de alta proteína, que isso possa ser realmente benéfico especialmente para quem tem resistência à insulina. Então, embora low carb não seja uma dieta da proteína, uma dieta da proteína não seria um ideia ruim.

Rodrigo Polesso: Exato. Porque não faz mal para o rim, eu assumo. A maior dúvida do pessoal é essa. Eles escutam falar isso.

Dr. Souto: Então, a confusão toda vem do fato de que rins doentes têm dificuldade de excretar os subprodutos do metabolismo proteico. Mas rins doentes têm dificuldades de excretar um monte de coisas, entre elas água. Então quer dizer que água faz mal para o rim?

Rodrigo Polesso: Mesmo raciocínio.

Dr. Souto: É o mesmo raciocínio. Todo mundo sabe que beber líquido é uma coisa boa para rim. Proteína não faz mal para o rim. E existe, felizmente, Rodrigo, um ensaio clínico randomizado sobre este assunto. A gente não precisa ficar especulando. Sabe como fato. Esse é muito interessante. Ele é um ensaio clínico randomizado. Nós já comentamos em algum podcast… Nem todo mundo escuta tudo. Quem já escutou via lembrar, quem não escutou vai saber. Foram 190 e poucos pacientes diabéticos e já com algum grau de insuficiência renal. Aqui nós estamos falando de gente que já tinha rins problemáticos. Eles foram randomizados (sorteados) para dois grupos. Um grupo comeu a dieta tradicional para insuficiência renal. Um dieta com 0,8 grama de proteína por quilo de peso. Com 60% e poucos de carboidrato. A mesma dieta que engordou nossas pacientes pós-menopausa. E com baixa gordura. O outro grupo foi randomizado para uma dieta com até 35% de proteína. Mas com baixa carboidrato. Não muito baixo. Era carboidrato na faixa de 30% e poucos. E mais gordura. Qual foi a conclusão do estudo? Após uma média de 4 anos de seguimento, houve 19%… Estou falando de diferença absoluta, não relativa. Digamos que a cada 100 pacientes que adotou uma dieta com menos carboidrato e mais proteína… 19 deixaram de morrer ou fazer hemodiálise. Foi repetir: de cada 100 pessoas que mudaram a dieta para ter mais proteína e menos carboidrato, sendo que eles já tinham insuficiência renal crônica, 19 deixaram de morrer ou fazer hemodiálise. Números absolutos. Não existe nenhuma intervenção medicamentosa que possa produzir um efeito dessa magnitude em pacientes com insuficiência renal crônica. Então, eu já conversei sobre esse estudo com o Dr. José Neto, que é nefrologista em Minas Gerais. Trabalha com hemodiálise, trabalha com pacientes em lista de transplante, domina bem esse assunto. Realmente é um estudo muito bem feito. Talvez um dos estudos mais significativos em chamar atenção de que esse dogma de que a proteína possa ser problemática para os rins tem que ser questionado. Se a gente pode ter um pouco mais de proteína, desde que tenha menos carboidrato, em pacientes que já tem algum grau de insuficiência renal, e com isso retardar a evolução desses pacientes para diálise, quem dirá em pessoas que tem rins normais?

Rodrigo Polesso: Exatamente.

Dr. Souto: Vamos inverter a coisa. Qual é a evidência de alto nível, de ensaio clínico randomizado, de intervenção… Qual é a evidência que mostra que proteína faça mal para rins?

Rodrigo Polesso: Zero, com certeza.

Dr. Souto: O que existe são alguns estudos que mostram que pode aumentar a filtração glomerular. Para quem é da área da saúde vai entender o que estou dizendo. Mas isso basearia a teoria de que um consumo excessivo de proteína iria forçar o glomérulos… forçar o rim. Tem um monte de estudos em dieta hiperproteica mostrando que, embora a filtração glomerular aumente, não há indicação de que haja uma piora da função renal. Aí eu volto a dizer. Está aqui o estudo. Estou com o gráfico aqui na minha frente. Os pacientes em low carb consomem 18% de proteína. Os pacientes da pirâmide alimentar consomem 18% do proteína. Portanto, mesmo, ouvinte, que você acredite piamente a despeito que tudo o que falamos que proteína faz mal para rim, low carb não é hiperproteico. O que estou querendo dizer para você é um pouco mais ousado. Eu acho que alta proteína também não faz para o rim. Mas está bem. Vamos ser mais ponderados. Simplesmente faça sua low carb. Coma de acordo com a fome. Você vai comer 18% de proteína. É o que todos os estudos mostram.

Rodrigo Polesso: Exato.

Dr. Souto: Digamos assim… Não há evidência de que alta proteína faça mal para o rim. E discutir isso é discutir o sexo dos anjos, porque low carb não é alta proteína. É uma dupla proteção contra essa dúvida. Se quer evidência de que proteína faça mal para o rim, e ainda por cima low carb não é hiperproteica. Então, por favor, quando falarem de rim e direta, sintam raiva.

Rodrigo Polesso: Está errado em muitos ângulos diferentes. Essa preocupação… Esse medo é gerado… As pessoas não tiram essa ideia das cabeças delas. Esse é gerado por esses profissionais, infelizmente, que não estão atualizados… Há muito tempo propagando a mesma coisa… Se formou ouvindo isso e nunca mais foi atrás de evidência… e continua falando esse tipo de coisa… A pessoa tem problema no rim e continuam sugerindo comer menos carne… No ponto que as pessoas se atualizarem, o conselho vai mudar e o medo também vai sumir com o tempo.

Dr. Souto: O Dr. Neto, nefrologista, é diretor científico da Sociedade de Nefrologia. No Congresso de Nefrologia… Plateia só com nefrologistas… Ele perguntou assim, “Quem aqui na plateia já viu algum paciente ir para hemodiálise porque comia muita proteína?” Nenhuma mão se levantou. Isso não existe. Isso é um mito, é uma lenda urbana tão ridícula quanto o pé grande.

Rodrigo Polesso: Exato.

Dr. Souto: É uma entidade mitológica isso da dieta da proteína que faz mal para os rins. As pessoas vão para a diálise por coisas que a proteína previne. Diabetes, obesidade, hipertensão. Nem toda hipertensão tem a ver com obesidade. Mas sim, obesidade causa muitos casos de hipertensão. Síndrome metabólica causa muitos casos de hipertensão. Então, diabetes, obesidade, hipertensão… É a maior parte dos casos. Proteína… Comer um churrasco não bota ninguém em hemodiálise.

Rodrigo Polesso: Exato. Muito bem dito. Acho que esse assunto está morto mesmo. O Dr. Neto vai estar novamente palestrando no evento Tribo Forte Ao Vivo deste ano. Ele foi ano passado também. Foi sensacional. Ele vai estar esse ano lá de novo compartilhando mais informação de impacto. Se você não garantiu seu ingresso ainda, se você tiver sorte de ter lá… Eu não sei quando você vai ouvir esse podcast… Você consegue ver os ingressos em TriboForte.com.br/AoVivo. A próxima pergunta, antes da gente partir para a questão do ácido úrico é: Todo carboidrato é ruim? Vou dar meu palpite aqui. Para quem está acima do peso, diabéticos… Para quem quer perder peso, todo carboidrato tenderá a não ajudar você a perder esse peso. Tenderá a não ajudar você a regularizar sua saúde. Quem está com resistência à insulina, bem acima do peso, com diabetes, pode se dizer que você está num estado de intolerância a carboidratos, mais ou menos. Quando menos você comer, independente da fonte, você tenderá a melhorar sua condição. Agora, todo carboidrato é ruim? Claro que não. Todo carboidrato ruim é ruim. A gente sabe que tem populações estudadas no mundo que comem carboidratos de qualidade, de acordo com a alimentação forte, por exemplo. São alimentos reais, como a batata doce, o aipim, a mandioca, frutas e etc. Elas são plenamente saudáveis, porque esses alimentos tendem a não ser tóxicos em pessoas que estão com a saúde em ordem. Se você está há décadas se alimentando de carboidratos ruins, como farináceos, açúcares, bebidas adoçadas, processados, refinados e etc., e você atingir um caso de pré-diabetes, ou você está acima do peso, está com resistência à insulina, qualquer carboidrato, até esses mesmos de qualidade não irão te ajudar a melhorar sua condição. Porque os açúcares do sangue, independe da sua origem, nesse caso, estão alimentando seu ciclo de resistência à insulina. Eu acredito, particularmente, que, se uma pessoa por décadas come uma dieta bastante rica em carboidratos, desde que seja alimentos de verdade, não acredito que essas pessoas vão desenvolver diabetes ou outros problemas. Esses alimentos não são tóxicos e é muito difícil exagerar… É diferente de você encher seu prato de grãos, de pães, de açúcares, bebidas adoçadas ao longo de décadas… Isso é comprovado, sem a menor dúvida, que gera todos os problemas de síndrome metabólica que você tem hoje. Novamente, eu acredito que todo carboidrato ruim é ruim. Ou seja, carboidratos criados na indústria, refinados, processados. E não os carboidratos que sempre existiram na nossa Terra. O pessoal tem muito medo de carboidrato porque a gente fala em dieta baixa em carboidrato. Então, eles colocam tudo num balde só. Tem que ter medo de tudo que tem carboidrato? Tem que ter medo de comer alface, por que tem carboidrato? As pessoas têm que ter um pouco de perspectiva nessa questão.

Dr. Souto: Você falou tudo agora. Na realidade, só vou ressaltar isso que você falou. Para quem tem resistência à insulina, para quem é diabético, para quem é obeso e pretende perder peso utilizando low carb como estratégia, obviamente a pessoa deve reduzir os carboidratos. Mesmo carboidratos que são saudáveis. Vou dar um exemplo: uma fruta. Vou dar outro exemplo: uma batata. Não são ruins para você. Não são tóxicos. Não são maus alimentos. Mas eles não ajudam numa estratégia de restrição de carboidrato terapêutica. Agora, para pacientes saudáveis, pacientes que estão no peso, que não são diabéticos, que não têm resistência à insulina… Não vejo nenhum problema com carboidratos não refinados. Uma coisa que acontece é o seguinte. Se a pessoa tirar os refinados, parar de comer açúcar e parar de comer farináceos, ela pode não necessariamente ficar com uma dieta de muito baixo carboidrato, mas seguramente ela vai cair naqueles 40% ou menos de carboidrato na dieta. Porque é muito difícil comer 60% das suas calorias na forma de carboidrato consumindo apenas frutas e raízes. Normalmente, se a pessoas consumir frutas e raízes, são alimentos pouco densos. O exemplo que a gente sempre usa… 100 gramas de batata são 20 gramas de carboidrato. Se eu quiser comer 200 gramas de carboidrato, eu teria que comer 1 quilo de batata. Difícil. A não ser que a pessoa queira. Esteja focada. Tentar engordar com batatas.

Rodrigo Polesso: Mas 200 gramas de carboidrato seria o que em latinhas de refrigerante? Duas, três?

Dr. Souto: Não sei. Em latinhas de refrigerante mais chocolate Bis, mais biscoito recheado, mais pão… É fácil comer 400 gramas de carboidratos com essas coisas. Tranquilamente. Uma resposta curta para nosso ouvinte é não. Não são todos os carboidratos que são ruins. Todos os carboidratos são ruins para quem não tolera carboidratos. Para quem tolera carboidratos são ruins os carboidratos ruins. Ou seja, os refinados. Açúcar e farináceos.

Rodrigo Polesso: Exato, maravilha. Ácido úrico. Gota. Tem bastante gente que pergunta a respeito disso. Comer mais carne, mais proteína na dieta, vai piorar meu ácido úrico? Será que vamos ter que tirar carne da dieta? Infelizmente a gente escuta bastante esse tipo de recomendação de profissionais tendo em vista o corpo de evidência que já existe. Tem um estudo publicado recentemente. Vamos falar aqui agora. Ele conclui o seguinte: “Os nossos achados sugerem que uma dieta Atkins, mais alta em proteína, sem restrição calórica pode reduzir os níveis de ácido úrico no sangue mesmo tendo esse aumento de purinas.” Purinas o Dr. Souto pode falar um pouco mais o que é depois. É parte das carnes, por exemplo. Eles continuam. “Este efeito pode ser ainda mais forte e mais significativo clinicamente entre as pessoas com hiperuricemia e obesidade.” Ou seja, quem mais precisa, quem mais está sofrendo com esse problema pode mais se beneficiar, ironicamente, de uma dieta mais alta em proteínas, mais baixa em carboidratos e sem restrição calórica. Além da diminuição do ácido úrico, nesse estudo eles mostraram outros bônus. Outros benefícios. As pessoas que fizeram a intervenção da dieta Atkins tiveram também benefícios de triglicerídeos que diminuíram em média 46 pontos. 46 pontos é bastante. O HDL aumentou em média 5,1 pontos. A insulina em jejum diminuiu 7.7 pontos. O peso caiu 7.2 quilos em média. Bastante resultados. O quadro melhorou no geral. Mas o mais interessante, que vale repetir… É que o estudo conclui que uma dieta mais alta em proteína ajuda a diminuir o ácido úrico no sangue e esse efeito é melhor ainda em pessoas que têm já o ácido úrico elevado ou são obesas. Dr. Souto, essa é uma evidência forte.

Dr. Souto: Espetacular. A gente já via isso em consultório. Nós já comentamos num dos primeiros podcasts, se não me engado de número 5.

Rodrigo Polesso: Acho que foi o quatro, estou olhando aqui agora.

Dr. Souto: Essa é uma das perguntas que as pessoas mais fazem. “O ácido úrico já é alto. O médico mandou cortar carne vermelha, cortar peixe, cortar proteína, cortar tudo. Como vou fazer?” Nós comentamos de um estudo de 2000. Foi um estudo piloto que mostrou isso. Uma dieta com menos carboidrato e mais proteína, na realidade, reduziu os ataques de gota e reduzia o ácido úrico. Este estudo aqui utilizou dados de um ensaio clínico randomizado que nós já discutimos aqui. Eu já coloquei no meu blog. Se chama Direct Trial. Quem botar no Google… Souto, dieta, Direct Trial vai encontrar a postagem na qual eu discuto esse estudo. Eles voltaram nesse estudo nos pacientes desse estudo e observaram o seguinte. Ele era um estudo que comparava dieta de baixa gordura, dieta mediterrânea e dieta low carb. Não preciso dizer para vocês que low carb foi melhor em praticamente todos os aspectos. Como o Rodrigo citou, melhorou tudo. Mas eles foram observar o que aconteceu com um subgrupo de pacientes neste estudo que tinha randomizado por uma dieta Atkins e que tinha ácido úrico elevado. O que eles observaram? Eu vou ler um rápido texto para vocês. Depois de muita pressão de vários amigos nutricionistas… Pessoal do grupo low carb… Eu finalmente ativei meu Instagram. Quem quiser, é @jcsouto. Lá eu postei esse estudo. Eu coloquei assim. Dieta Atkins reduz o ácido úrico em pacientes obesos, embora contenha proteínas, carne vermelha e calorias ilimitadas. Eu linkei para o estudo original. Os autores avaliaram os efeitos da dieta Atkins low carb em pacientes obesos. O estudo foi feito em pacientes do Direct Trial. Botei o link lá do blog. Muito embora os pacientes em dieta Atkins consumissem uma dieta rica em proteínas, carne vermelha, frutos do mar… Ou seja, tudo aquilo que nós aprendemos que deveria ser removido da dieta para baixar o ácido úrico. Muito embora as pessoas consumissem uma dieta rica nessas coisas todas, o valor do ácido úrico sérico reduziu significativamente nesse grupo após 6 meses. Esse após 6 meses é importante porque não é raro que um mês depois da dieta o ácido úrico até suba um pouco. Depois ele cai. Ele cai quando a pessoa começa a perder peso, quando começa a reduzir a resistência à insulina tudo começa a melhorar. Não adianta assim… Começou low carb, daqui duas semanas faz um exame, o ácido úrico deu uma aumentada… “Viu? Isso é uma loucura. Vou voltar a comer pão.” Não é assim. Esse resultado foi mais significativo nos pacientes que tinham o ácido úrico superior a 7. Níveis elevados. Nesse grupo, houve uma redução média de 7,9 para 5,5. 7,9 é um valor alto. 5,5 é um valor normal de ácido úrico. Quanto mais obesos e quanto mais jovens os pacientes, maior foi o benefício de uma dieta Atkins. Ao contrário das dietas de baixa purina… Depois vou falar o que é isso… Que são comumente recomendadas, mas que nunca demonstraram eficácia em ensaios clínicos randomizados… Uma dieta low carb, rica em proteína, rica em carne vermelha, rica em frutos do mar reduz significativamente o ácido úrico. Por que? É a frutose que está por trás da maioria dos casos de gota. A gora faz parte do espectro da síndrome metabólica. E a síndrome metabólica é combatida pelo o que? Low carb. O exemplo é maravilhoso do sentido da gente fugir um pouco desse negócio da gordura faz bem, gordura faz mal… É mais um exemplo de que a gente não pode se fixar em mecanismos. Então vamos falar mais sobre essas purinas. O ácido úrico é o subproduto do metabolismo das purinas. Quem se lembrar do colégio, no segundo grau, do DNA, do RNA, vai lembrar o seguinte. As bases tinham aquelas letrinhas do DNA, que é A, T, C e G. Tem duas delas que são as purinas. E tem as outras que são as pirimidinas. Coisa linda. As purinas, quando são degradadas no metabolismo, dão origem ao ácido úrico que tem que ser excretado na urina. O ácido úrico, quando está muito alto no sangue pode se cristalizar nas articulações… Se deposita na articulação e cria uma situação dolorosa que é a gota. O raciocínio dos nossos maravilhosos nutricionistas do passado foi o seguinte. Purina tem onde? Tem na carne, no peixe. Gota é um problema de muito ácido úrico. Então, vamos tirar a purina da dieta. Vocês entendem o paralelo? Vocês se dão conta que é um raciocino simplista muito parecido com… O que acumula na parede da artéria é placa de gordura e colesterol. Então vamos tirar gordura e colesterol da dieta. O metabolismo simplesmente é mais complexo do que isso. E erraram no assunto da gordura na dieta. E erraram no assunto da gota. E erraram pelo mesmo motivo. A teoria não é absurda. A ideia de que se o ácido úrico é um subproduto do metabolismo das purinas, e se eu comer menos purinas vai melhorar, até podia ser que fosse verdade. A gente levanta a hipótese e testa. Faz um ensaio clínico randomizado. Pega duzentos pacientes com gota, sorteia 100 para um grupo que vai comer o que quiser e 100 para outro grupo que vai tirar as purinas e ficar comendo só farinha, pão e açúcar, que é basicamente o que não tem purina. Acompanha e vê o que acontece. Quantos ensaios clínicos randomizados foram feitos testando a hipótese de que uma dieta baixa em purinas pudesse ajudar na gota? Eu respondo. Nenhum. Nenhum ensaio clínico randomizado jamais mostrou que uma dieta com diminuição de carne, diminuição de peixe, diminuição de outras coisas que tem purina… Então por que todo mundo recomenda isso? Bom, não vão perguntar para mim nem para o Rodrigo. Pergunta para quem recomenda. Infelizmente, a nutrição é uma área dentro das ciências da saúde que parece ser imune à evidência. Eles ainda se baseiam em mecanismos simplistas. Alguém um dia disse que era assim e todo mundo passou a fazer isso. Aquilo que começou como uma espécie de boato, de uma lenda, vai se incorporando nas diretrizes. Aí quando a gente vai ver, sai um estudo mostrando… Se eu pudesse ter o inverso de uma dieta para gota… Tipo dieta para gota na menos um… Um dividido por dieta da gota… O inverso seria a dieta Atkins. Eu tenho a dieta adequada para gota. Faz tudo o contrário e eu tenho uma dieta Atkins. E ela reduziu significativamente os níveis de ácido úrico. Qual é a explicação? Na natureza, no mundo real, saindo dessas teorias que já foram comprovadamente erradas, o que realmente aumenta a excreção de ácido úrico pelos rins, aumenta o ácido úrico no sangue… É o aumento da produção endógena de ácido úrico. Ou seja, não é o ácido úrico que você está comendo. É muito parecido com a história dos triglicerídeos. Não é a gordura que você está comendo, é a gordura que o fígado fabrica. Não é o colesterol que está na gema do ovo. É o colesterol que o fígado fabrica. Não é o ácido úrico que você está comendo. É o ácido úrico que o fígado fabrica. O fígado fabrica ácido úrico em que circunstância? Quando a pessoa come muito açúcar. Mas o açúcar não tem purinas. Sim, o açúcar não tem purinas. Mas aí a gente tem que falar um pouco de bioquímica. Não custa. Quando a frutose, que é o componente realmente tóxico do açúcar entra para dentro do fígado… É metabolizado no fígado… O corpo precisa pegar o ATP… Lembra o ATP? Aquela molécula de energia que a gente aprendeu lá no colégio? O ATP vai empresta seus fosfatos para fosforilar a frutose. Nesse processo o ATP vira ADP, que vira AMP que é degradado em ácido úrico. O ATP é uma purina. É o consumo do pool de purinas do fígado para metabolizar a frutose que faz com que aumente o ácido úrico no sangue. Isso se sabe há muitos anos. Tem estudos experimentais em humanos nos quais se dá frutose pela boca ou se injeta frutose na veia e imediatamente depois aumenta o ácido úrico no sangue. Tudo isso é sabido e documentado. Quem ainda fala que tem que tirar peixe da dieta do paciente com gota é o mesmo tipo de pessoa que acha que se você comer alface vai ficar verde, se comer beterraba vai ficar roxo. Eu não vou ser tão radical assim. Até 2010 eu pensava a mesma coisa. A gente aprende isso na faculdade. Eu nunca tinha estudado nada sobre nutrição até 2010. Então eu acreditava nisso aí.

Rodrigo Polesso: Você acordou um dia com conhecimento? O que você mudou?

Dr. Souto: Não. Eu um dia ouvi um cara chamado Gary Taubes. Foi esse aí que você abraçou e me mandou uma selfie. Falar que na realidade não é assim… Tem ensaios clínicos randomizados mostrando o contrário. Quando eu ouvi “ensaios clínicos randomizados” eu pausei o podcast. Esse cara não está falando bobagem. Isso é sério. Mas eu nunca vi esses estudos. Então, o que eu disse? “Esse Gary Taubes é um imbecil, tudo isso é mentira.” Não! Eu fui ler os ensaios clínicos randomizados. Ninguém é culpado por ignorar algo que não está nas diretrizes. Mas sim, eu culpo e vou culpar até a última gota do meu esforço pessoas que foram expostas à evidência. A pessoa leu ali o ensaio clínico randomizado. Está ali no blog. Ela diz, “Não, isso é bobagem.” A pessoa vê a evidência e não muda de opinião é uma coisa inaceitável. Me desculpe. É a minha opinião.

Rodrigo Polesso: Ainda mais na área da medicina, mexendo na saúde do ser humano. As pessoas não são culpadas por não saberem o que elas não sabem. Mas no momento em que elas têm consciência do que elas não são… Onde elas poderiam saber o que elas não sabem, aí não tomam atitude… Aí são culpadas em todos os níveis. Eu concordo plenamente. Na nutrição… É interessante que você falou que é uma área imune de evidências. Existem várias áreas do conhecimento humano. Nem todas são perfeitas. Todos têm seus erros, suas imperfeições, suas imprecisões. Só que é hilário e triste e impressionante como na nutrição eles não erram por pouco. Eles erram o mais errado possível. Estamos vendo no caso da gota… Da gordura… Geralmente o certo é o completo oposto do que é recomendado. Não dá para errar mais. Isso que eu fico abismado… Que na nutrição isso ainda aconteça… Se a gente não soubesse… Não tivesse evidência, tudo bem. Não sei o que é certo e o que é errado… Se o ovo nasceu antes da galinha ou não… Mas com evidências… Com o pessoal ignorando evidências… Pessoal fazendo clubinho contra a gordura… Clubinho do vegetarianismo… Clubinho não sei do quê… Em vez de basearem suas opiniões em evidências… É difícil de compreender. Mas é por isso que a gente está fazendo o trabalho que estamos fazendo. Por isso que estamos aqui chamando a atenção.

Dr. Souto: É bem com você falou. Se eu pegar dentro da medicina, na área em que eu atuo, urologia, é o contrário. A gente se orgulha da mudança. A gente diz, “Até ano passado a gente usava tal procedimento cirúrgico ou determinado procedimento diagnóstico. Mas, a partir de agora, do último congresso, está se sugerindo mudar. Parece que existe uma forma melhor de se fazer isso. Parece que existe uma forma mais eficiente de tratar ou fazer diagnóstico.” A gente se orgulha da mudança. A gente se orgulha de superar uma coisa errada por uma coisa certa. A gente se orgulha de superar um procedimento pior por um procedimento melhor. Pelo menos no resto da medicina. Mas onde chega na nutrição, parece que há um bloqueio. É uma coisa muito estranha. É um fenômeno a ser estudado pela psiquiatria, pela sociologia. Não é, definitivamente, algo normal. Não é mesmo.

Rodrigo Polesso: Não, não é mesmo. Bom, vamos fechar esse podcast recheado compartilhando o que você saboreou na sua última refeição.

Dr. Souto: Hoje foram vagens refogadas com ovo duro picado. Mais um salmão com alcaparras. Aquele sofrimento do low carb.

Rodrigo Polesso: Sofrimento total

Dr. Souto: Uma limonada para acompanhar. Seguido por aquele café expresso. E acompanhado por quadrado de chocolate 85%. Uma dieta muito monótona, muito sofrida. A gente tem que ter uma força de vontade bárbara para manter isso com tempo.

Rodrigo Polesso: Como meus pais dizem, nem cachorro come isso aí, de tão ruim que é. Meu Deus do céu. Espetacular. A resposta minha é muito fácil. Eu comi nada. É interessante, eu peguei o voo às 11 da noite em Los Angeles. O voo dura 4 horas. Nessas quatro horas já era de manhã cedo quando cheguei em Toronto. Eu não dormi porcaria nenhuma. Só que até então… A gente estava numa casa… Eu aluguei uma casa com um grill. Se tem uma coisa que olho numa casa no Airbnb, por exemplo é se tem um grill. Com um grill você vai no mercado, compra um baita de um bife… Tem aqueles New York steak… Tem o rib eye… Aquele baita bife… Meio quilo… Põem em cima do grill ali com sal e pimenta… Está feito… Às vezes com um salsichão mais de qualidade para comer junto… Para mim não tem mais nada. Os homens de divertem. A minha mãe já prefere uma salada para acompanhar. Mas é muito fácil comer bem, de forma nutritiva. Então, eu não comi nada ontem à noite. Não dormi nada, só tomei café.

Dr. Souto: Por isso que você não está conseguindo nem falar hoje no podcast.

Rodrigo Polesso: Por isso que estou cansado. Meu cérebro está precisando de um açúcar. Tem que comer um biscoito urgente. É isso que eu ia dizer. Geralmente, o pessoal que não dorme bem ou perde a noite… É conhecido que você tem uma maior insensibilidade à insulina quando você dorme mal. Eu lembro que antigamente quando eu dormia mal eu acordava com fome de café da manhã. Eu tinha fome no café da manhã já. Eu acho que o cortisol está tão alto… Aquela montanha russa de glicose no sangue… Hoje eu não sinto mais. Mas o pessoal que passa uma noite ruim… Você pode imaginar que você que você fique impactado na questão da insulina e açúcar no sangue. Tem gente que fica com um quadro de pré diabetes de passa uma noite em claro. O pessoal que trabalha em turnos, que tem bastante risco também desse problema.

Dr. Souto: Isso é complicado. Uma coisa que me lembrei e vou comentar agora… Temos aí dezenas de milhares de pessoas que baixam nossos episódios de podcast e vai ter necessariamente, por uma questão estatística alguma pessoa que começou a fazer low carb e depois que já está fazendo low carb teve um episódio de gota. Aí a pessoa vai dizer assim, “Viu? Low carb causou gota.” Pense um pouco. Se essa pessoa não estivesse fazendo low carb e tivesse tido um episódio de gota, ela atribuiria a o quê? “Pois é, que pena, meu ácido úrico é alto. Meu pai também tinha gota. Que azar, eu tive gota.” Não é porque algo ocorreu depois de algo que algo causou algo. É importante isso. Os estudos científicos mostram que você diminui suas chances de ter uma crise de gota em fazer low carb. Você não anula sua chance de ter um episódio de gota fazendo low carb. Você não zera completamente sua chance de ter. Você não fica imortal. Você não se torna um highlander. Na realidade… Vou inventar um número… 100 pessoas fazendo low carb e 100 pessoas não fazendo low carb. Daquelas que não fazem low carb, digamos que 15 vão ter ataques de gota. Das que fazem low carb 3 vão ter ataques de gota. Isso significa que low carb diminui seu risco de ter gota, mas aquelas três pessoas que tiveram gota fazendo low carb vão dizer, “Viu? Foi essa dieta maluca da proteína.” Por favor, usem a lógica. A gente sabe. É fato que diminui o risco de ter gota. Você pode ter azar. Você pode estar usando alopurinol, que diminui os níveis de ácido úrico e diminui o risco de ter gota. Por acaso a pessoa não pode ter uma crise de gota usando alopurinol? Pode. É a mesma coisa. Só para ficar claro. Quando são milhares de pessoas ouvindo, sempre vai ter uma que vai ter o azar.

Rodrigo Polesso: É bom também manter a racionalidade quando está interpretando esse tipo de coisa. Gota não é… “Comi tal coisa, deu crise de gota.” Você passou décadas… 20, 30, 40, 50 anos da sua vida comendo porcaria… Você decidiu fazer low carb por duas semanas, deu crise de gota… E agora a culpa é do low carb. É bom manter essas coisas em mente. Perspectiva. E também um bom senso do ridículo. Um senso sóbrio do ridículo é sempre saudável para todo mundo também, eu acredito.

Dr. Souto: É aquele negócio assim… Você tem um monte de gente, cada um torcendo pelo seu time… Todo mundo lá tem um pé de coelho. Para a maioria das pessoas, o time vai perder e tudo bem. Aquela pessoa cujo time ganhou de goleada, vai acreditar que foi o pé de coelho.

Rodrigo Polesso: Exatamente.

Dr. Souto: Sempre que eu tenho milhares de pessoas, eu sempre vou ter uma pessoa que vai ter uma grande coincidência. Só que convencer essa pessoa de que aquilo foi uma coincidência é difícil, especialmente quando a sociedade toda diz que é essa dieta maluca da proteína. O único antídoto que eu e o Rodrigo temos para oferecer para você é informação. Nós mostramos um estudo científico que mostra que redução de carboidratos na dieta produz uma melhora dos níveis de ácido úrico. Isso é o fato. Melhorar os níveis de ácido úrico… O corpo não é obrigado a não ter gota só porque reduziu seus níveis de ácido úrico. Diminui a chance. Infelizmente, pessoal, em biologia, nós lidamos com estatística. Você pode fazer tudo certo e ter um ataque do coração, ter câncer, ter gota. A gente pode diminuir as chances desses desfechos. É para isso que a gente trabalha.

Rodrigo Polesso: Com certeza. Faça parte do movimento. Faça parte dessa nossa bolha saudável de estilo de vida e boa ciência… Hábitos saudáveis. Viver bem. Viver bastante com qualidade. Se torne um membro da Tribo Forte. É só você entrar em TriboForte.com.br e fazer parte dessa família tão bacana. TriboForte.com.br. Obrigado por mais esse episódio, Dr. Souto. A gente se fala no próximo episódio na semana que vem. Até mais.

Dr. Souto: Obrigdadão. Até mais.