Bem vindo(a) hoje ao segundo episódio do podcast oficial da Tribo Forte!

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No episódio de hoje:

  • É possível se tomar álcool e ainda se manter um estilo de vida saudável?
  • Uma dieta rica em gorduras naturais “causa” câncer mesmo?
  • Uma dieta paleo faz com que ganhemos peso ao invés de perdermos?
  • Como adoçar o café sem impactar no seu estilo de vida saudável?
  • Receita de Brodo simples

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Referências do episódio:

Receita do Caldo De Ossos (para membros da Tribo Forte)

Artigo publicado no G1 sobre câncer e gorduras

Artigo publicado no site da Universidade De Melbourne sobre dieta paleo e ganho de peso

Artigo de Harvard sobre o maior estudo já feito sobre dietas alimentares

Transcrição Completa deste episódio do podcast

Rodrigo Polesso: Pegue seu caldo de osso, seu café, seu chazinho e relaxe. Você está ouvindo o podcast semanal oficial da Tribo Forte com Rodrigo Polesso, Dr. José Carlos Souto e convidados. Aqui, emagrecimento, saúde e nutrição são tratados de forma séria, direta e imparcial. Episódios novos são postados todas as terças-feiras às 7 da manhã. No episódio de hoje, falaremos sobre um estudo que saiu essa semana que vincula a dieta gordurosa a um risco maior de câncer. Será que isso é sério? A gente vai analisar. Outro estudo recente diz que a dieta paleolítica faz com que ratos ganhem peso. Isso inspirou títulos na mídia, do tipo “Dieta Paleo = Ganho de Peso”. Faremos uma análise crítica imparcial sobre esses dois estudos embasados em uma análise científica. Vamos ver se merecem atenção ou não. Ainda, vamos passar uma dica rápida para a adaptação para quem está começando uma dieta low-carb. É uma dica bastante esperta. O pessoal do episódio passado já pode baixar o bônus; o pessoal que faz parte da Tribo Forte. Hoje vamos começar respondendo duas perguntas da comunidade. Você pode se sentir à vontade para postar suas próprias perguntas. Quem sabe no futuro a gente não responda elas também. Antes de partir para a primeira coisa, quero dar um bom dia ao Dr. Souto que está na ligação também.

Dr. Souto: Bom dia a todos. Bom dia Rodrigo. É um prazer falar com você.

Rodrigo Polesso: Ótimo, ótimo. Esse é o segundo podcast. Estamos em ritmo inaugural nessa nossa iniciativa. Espero que possa crescer e inovar cada vez mais para trazer o melhor conhecimento que existe na nutrição mundial ao alcance de todo mundo. É aquela questão que falamos sobre encurtar a distância entre a melhor nutrição mundial e qualquer pessoa no Brasil. Antes de partir para a análise dos estudos, vou fazer duas perguntas que o pessoal da comunidade mandou. O Dr. Souto não sabe quais são, tudo é no improviso, ao vivo mesmo. Vou fazer a pergunta para você, Dr. Souto, tudo bem?

Dr. Souto: Tudo. Manda.

Rodrigo Polesso: Acho que tem muita gente interessada na resposta da primeira pergunta. O Vagner Borgo fala o seguinte: “No seu livro, você não aborda com detalhes a questão das bebidas alcoólicas. Eu gostaria de saber sobre o impacto e ação no organismo relacionado ao uso de bebidas alcoólicas do tipo cerveja, destilados, vinhos, cachaça e etc.” Qual é o impacto do álcool no organismo, doutor?

Dr. Souto: Essa é uma pergunta muito boa. Ela é importante para a maioria das pessoas. Não que todo mundo beba todos os dias, mas todos terão alguma festa ou outro evento social onde beberão um pouco. Existe uma ideia por aí que diz que o álcool se transforma em açúcar. Essa ideia não procede. O álcool não se transforma em açúcar. Ele é metabolizado de forma semelhante à gordura. Ele é metabolizado no fígado, se transformando em energia, mas ele não se transforma em açúcar. Nós temos que primeiro diferenciar aquelas bebidas alcoólicas que contém, além de álcool, açúcar ou algum outro tipo de carboidrato. É o caso da cerveja, por exemplo, que contém uma quantidade grande de carboidrato na forma de maltose. Isso é um tipo de carboidrato presente nos cereais. Bebidas doces, como um vinho suave, um espumante doce, um drink adoçado com açúcar não ajuda no tipo de dieta que estamos propondo. E o efeito do álcool? Eu diria que é uma questão de quantidade. A pessoa beber uma pequena quantidade de álcool (2 doses para o homem e 1 dose para a mulher). Uma dose é um cálice no caso do vinho e um pequeno copo no caso do destilado. Essas pequenas quantidades, até duas doses por dia, não parecem ter impacto algum nas dietas de baixo carboidrato ou cetogênicas. Eu acho que é uma coisa que pode ser incluída no estilo de vida sem problemas. Ou seja, beber com moderação, que é aquilo que já escutamos como uma recomendação de saúde, pode ser incluído no estilo de vida.

Rodrigo Polesso: Perfeito. Acho que o bom senso se aplica bem a isso. Quando o hábito se torna muito seguido, tem alguma coisa errada. Uma segunda pergunta para depois a gente partir para a análise desses dois estudos polêmicos. A Pati pergunta o seguinte: “O que usar para adoçar um eventual café?”

Dr. Souto: Pati, eu era viciado em açúcar. Quem me conheceu no passado, vai lembrar de alguém que tinha que adoçar tudo. Nos refeitórios e hospital eu comia minha sobremesa e a sobremesa da pessoa do lado. Por que estou mencionando isso? Para dizer que esse vício no doce é uma coisa que passa com o tempo. Hoje eu tomo meu café puro. Mas eu entendo essa pergunta, por que quando eu comecei a fazer uma modificação na minha dieta, há cinco anos atrás, eu precisava muito do gosto doce. Eu ainda estava saindo do vício. Eu costumo comparar o uso do adoçante como uma estratégia semelhante ao do fumante que para de fumar mas ainda é viciado na nicotina. Então, ele precisa utilizar adesivos de nicotina, por exemplo, para conseguir superar a falta daquele vício. Eu acho que o adoçante deve ser usado da mesma maneira que se usa o adesivo de nicotina. A pessoa que usa um adesivo de nicotina não tem como objetivo usar o adesivo pelo resto da vida. A pessoa quer usar o adesivo para se desligar do cigarro e com o tempo ela também se desligará do adesivo de nicotina. Então, eu acho que eu objetivo no longo prazo deve ser tomar o café puro, sem açúcar. Mas, nesse momento, o adoçante não calórico é uma alternativa. Existem vários. Existe polêmica na literatura sobre o uso de adoçantes. Vou falar aqui a minha opinião. Provavelmente, o adoçante que causa menos polêmica é a stevia. A stevia é de origem natural e não é calórica. Nós temos também os adoçantes não calóricos tradicionais, ciclamato, sacarina, sucralose. Segundos alguns estudos, esses adoçantes podem aumentar a resistência à insulina, o que é uma coisa ruim. Mas esses estudos usam doses bem elevadas. Eles usam uma dose máxima tolerada por dia. Algo em torno de 10 ou 12 latas de Coca Zero. Então, se a pessoa quiser pingar algumas gotas de adoçante artificial ou preferencialmente stevia no café, não tem impacto algum.

Rodrigo Polesso: Vou começar a criar inimizade com o pessoal. Tem muita gente que fala que stevia tem um gosto ruim. Vamos parar de ser mimados. Eu também tomava com açúcar no passado. Comecei a tomar sem açúcar e isso ficou muito melhor. Hoje eu consigo apreciar as diferenças entre os cafés. É uma adaptação tão rápida, que vale a pena tentar. No começo você vai estranhar, mas em poucos dias você acostuma. Ela perguntou como adoçar um eventual café. Se você gosta de café, torne esse café menos eventual, algo mais seguido, mas sem adoçante algum.

Dr. Souto: Nós falamos há pouco de bebida alcoólica. Vamos pegar um exemplo de um vinho seco. Aquilo não é doce. Uma pessoa que nunca bebeu vai achar amargo, vai achar ruim, não vai gostar. Todo mundo que bebe vinho sabe que vinho é vinho seco, não vinho doce. Todo mundo que bebe vinho aprendeu a beber vinho seco. No início achava muito amargo, mas com o tempo aprendeu a apreciar. Isso se aplica para uma série de coisas na minha, inclusive para o café. Depois que aprendemos a tomar um café de boa qualidade, bem aromático, sem açúcar, não conseguimos beber um café adoçado.

Rodrigo Polesso: Com certeza.

Dr. Souto: Eu diria mais uma dica. Para quem realmente faz questão de adoçar o café e estranha o gosto dos adoçantes, existe o xilitol. Ele não é realmente um adoçante artificial. Ele existe na natureza em pequenas quantidades em algumas frutas. O xilitol tem um índice glicêmico muito baixo. Então, ele eleva minimamente a glicose e a insulina. Além disso, ele tem um gosto bem mais parecido com o do açúcar. Ele até oferece alguns benefícios como agente prebiótico para a flora intestinal. Então, para adoçar coisas em pequena quantidade, como um café, é uma alternativa. O problema do xilitol é o preço. Ele é muito caro no Brasil. Botar um pouco no café. O eritritol seria melhor ainda. Mas no nosso país eu nunca vi. Ele recentemente foi introduzido nas lojas de produtos naturais, mas é um preço bem caro.

Rodrigo Polesso: Dicas bacanas. Espero que tenha sido respondido de forma completa essa questão. Agora é a parte mais polêmica, mas faremos isso para um bem comum. Vamos começar a analisar os dois estudos super polêmicos que saíram essa semana. O primeiro saiu essa semana em vários lugares, mas peguei como exemplo o que saiu no portal G1 da Globo. O título do artigo é “Estudo explica ligação entre dieta gordurosa e maior risco de câncer”. Ele segue: “Gordura faz células-tronco precursoras de tumor proliferarem no intestino. Em experimentos, cientistas identificaram moléculas responsáveis pela interação”. Vou ler uma parte do artigo para a gente começar a discutir depois. Ele diz: “Em um novo estudo, pesquisadores mostraram que o consumo de gordura faz o intestino produzir mais células-tronco – células versáteis responsáveis por regenerar a parede intestinal, que sofre desgaste constante. Células-tronco são indiferenciadas, capazes de se tornar outros tipos de tecido no organismo – uma qualidade que, por outro lado, também as coloca em maior risco de produzir tumores. Daí surge a ligação entre a gordura e o câncer.” Não deem risada, por favor. Continuando: “A descoberta foi estabelecida em um experimente que comparou roedores alimentados com muita gordura a outros mantidos sob dieta balanceada. Uma dieta gordura aumenta o número e a proliferação de células-tronco no intestino, que podem ser parcialmente responsáveis pelo número de tumores intestinais.” Bastante coisa. Dr. Souto, eu abro as portas para a gente começar a analisar isso aí.

Dr. Souto: Eu já escrevi bastante sobre isso no blog. Há muito o que comentar sobre isso. A primeira coisa é que estudos em animais são muito importantes. Muitas coisas que sabemos de ciência e fisiologia foram descobertas em animais. Mas há certas coisas que obviamente não podem ser comparadas entre espécies. As vezes utilizamos exemplos bem óbvios: Se eu estudar peixes, eu posso sugerir que as pessoas vão respirar melhor debaixo d’água. Se eu estudar herbívoros, eu posso chegar à conclusão que o ser humano deveria comer exclusivamente capim. Então, quando algumas coisas são muito diferentes, os modelos animais às vezes não se aplicam. A questão fundamental é a seguinte. Antes da gente dar credibilidade para um exame desse tipo, a gente ter que ver se isso já foi examinado em seres humanos. Vamos colocar da seguinte forma. Imaginemos que os estudos em humanos mostrassem que uma dieta rica em gordura aumentasse o risco de câncer. Nesse caso, se eu desse uma dieta rica em gordura para roedores e os roedores desenvolvessem câncer, eu estaria mostrando que roedores são bons modelos experimentais. No entanto, se os estudos mostram que a gordura não tem nenhuma relação com câncer em humanos, o fato de que roedores adoecem ou desenvolvem câncer comendo gordura torna-se completamente irrelevante. Bem entendido até aqui?

Rodrigo Polesso: Super bem entendido. Tem um ponto que saltou aos meus olhos quando eu estava lendo o artigo que eu quero mencionar novamente: “Células-tronco são indiferenciadas e capazes de se tornar outros tipos de tecido no organismo. Uma qualidade que, por outro lado, também as coloca em maior risco de produzir tumores. Daí surge a ligação entre a gordura e o câncer”. Não estou acreditando que fizeram essa ligação entre gordura e câncer baseando-se na ideia de que células-tronco são capazes de se tornar qualquer coisa inclusive tumores de câncer.

Dr. Souto: A expressão que eu utilizei no blog quando escrevi sobre isso, é que algumas coisas são explicações complexas para fenômenos fictícios. O exemplo que eu dei foi a história da fada do dente. É um exemplo criado por uma médica americana chama Harriet Hall. Ela diz assim: “Vamos imaginar que um cientista resolva estudar a fada do dente para responder coisas tipo: Será que a fada do dente dará menos dinheiro para um dente menor? Será que a medida que vou perdendo dentes eu recebo um valor maior de baixo do meu travesseiro?” Você vai construindo uma teoria complexa para explicar como funciona o fenômeno da troca do dente de leite da criança por dinheiro através da fada do dente. As pessoas constroem uma grande teoria unificada sobre como funciona a fada do dente, mas ninguém se lembra de perguntar se a fada do dente existe ou não. Então, antes de explicar que a ativação de determinado genes fazem com que as células-tronco se proliferem, e essa proliferação facilita o eventual desenvolvimento de tumores, convém verificar se a gordura causa câncer ou não. Essa é a parte fundamental. O fato é que em humanos isso não acontece. Como eu posso dizer que isso não acontece? Porque isso já foi estudado da forma que isso deve ser estudado em humanos, que é o ensaio clínico randomizado. Vamos falar um minuto sobre ensaios clínicos randomizados?

Rodrigo Polesso: Vamos falar, eu acho que é importante.

Dr. Souto: “Ensaio clínico randomizado” é um nome complicado para uma coisa que é bem simples. É um experimento. Eu pego um número grande de pessoas e eu sorteio essas pessoas entre dois grupos. Um grupo vai retirar a gordura da dieta e o outro grupo é o grupo controle. Os grupos criados serão estatisticamente iguais em tudo, exceto na dieta que estou testando. Eu vou ter o mesmo número de colorados e gremistas nos dois lados, mesmo número de gordos e magros, mesmo número de fumantes de não fumantes, mesmo número vegetarianos e carnívoros. O maior estudo de dieta feito nesses moldes na história da humanidade tinha 48 mil mulheres. Quase 50 mil mulheres, uma coisa inacreditável. 25 mil foram sorteadas para um grupo e 25 mil foram sorteadas para outro grupo. Um dos grupos foi orientado a retirar a maior parte da gordura da dieta. O outro grupo era o grupo controle.

Rodrigo Polesso: Durante oito anos, não é?

Dr. Souto: Mais de 8 anos de segmento. O resultado foi que não houve nenhuma diferença em nenhum tipo de câncer entre os dois grupos. Esse é o mais alto nível de evidência que existe. É o ensaio clínico randomizado. Qualquer outro tipo de estudo será uma evidência mais fraca do que esta. Esse foi o maior e mais longo ensaio clínico randomizado de dieta realizado na história. Ele mostrou que não houve diferença especificamente no que diz respeito a câncer de colón retal. Então, esse estudo prova que se eu tiver um roedor de estimação, é melhor eu não dar gordura para ele.

Rodrigo Polesso: Exatamente. Também tem que entender o que ele consideraram como dieta gordurosa. Talvez o rato não esteja acostumado a comer esse tipo de dieta. Qualquer coisa que não é natural ao animal vai ter um impacto negativo.

Dr. Souto: É, tem mais isso. Podem no Wikipedia, em inglês, a palavra “camundongo” e vejam qual é a dieta do camundongo. O camundongo, na natureza, é fundamentalmente vegetariano. Ele come frutas e gramíneas. E ele é oportunista, se tiver algum inseto ou alguma larva, ele vai comer. A dieta de alta gordura de um camundongo não é um filé e uma salada com azeite de oliva. A dieta de alta gordura de um camundongo é óleo de milho, óleo de canola, misturado com sacarose. É uma coisa muito diferente daquilo que se propõe como uma dieta humana que seja mais pobre em carboidrato e mais rica em boas gorduras. Esse tipo de estudo é uma aberração em vários níveis. Se eu pudesse deixar uma mensagem para quem está nos ouvindo é a seguinte: qualquer estudo em roedores cujo resultado seja incompatível com aqueles estudos em humanos que são os de melhor qualidade, que são os ensaios clínicos randomizados, servem exclusivamente para levantar a pergunta “por que os roedores são tão diferentes dos seres humanos?” Essa é a única utilidade de um estudo desse. Esse tipo de estudo só seria útil se aquele ensaio clínico randomizado que nós falamos, chamado de Women’s Health Initiative, que foi publicado em 2006, tivesse mostrado que a gordura na dieta causa câncer. Aí passaria a ser muito relevante estudar um modelo animal em que os camundongos desenvolvessem câncer com uma dieta rica em gordura. Por que que os jornalistas não se atentaram a isso? Provavelmente porque vende mais cliques na internet, mais revistas e mais jornais aquilo que está dentro do pensamento único.

Rodrigo Polesso: Ainda vou mencionar o título que eu achei para o próximo estudo que vamos analisar. Antes de pular par ao próximo estudo, quero ler sobre o estudo das mulheres, que foi o maior feito na história. Uma parte do artigo está publicado na escola de saúde pública de Harvard. O artigo está em inglês aqui e eu vou tentar traduzir simultaneamente. Ele fala o seguinte: “Resultados de um grande e longo estudo, o Women’s Health Initiative, mostrou efeito nenhum na questão de doença cardíaca, doença de peito, câncer do cólon e peso. A dieta de baixa gordura e alto carboidrato que tem sido foco das diretrizes de alimentação durante a década de 90 – um corpo crescente de evidências tem apontado o quão ineficaz para perda de peso ou prevenção de câncer e doença cardíaca esse tipo de dieta é. O último prego no caixão vem desse estudo de 8 anos que analisou 49 mil mulheres”. Eu acho que isso é muito mais considerável do que um título de revista que fala de camundongos e assume que existe relação entre dieta gordurosa e câncer no cólon.

Dr. Souto: Perfeito. Eu acho que a gente pode colocar isso no final do podcast para que você possa clicar e verificar. Não é o Rodrigo Polesso e o José Souto que estão falando isso. Isso nós estamos lendo diretamente do site da Escola de Saúde Pública de Harvard, referenciando o ensaio clínico randomizado sobre o maior estudo sobre dieta já realizado na história. E ele está dizendo que a gordura na dieta não tem relação com o câncer e não há quantidade de estudos feitos em coelhos, ratos, bodes e galinhas que vai mostrar algo mais relevante do que isso.

Rodrigo Polesso: Exatamente. Quando a gente não tiver falando de fatos científicos a gente vai dizer especificamente que é uma opinião pessoal nossa. Lembrando aquele disclaimer básico de que nada substitui uma consulta com um profissional. Seu médico e nutricionista que vão avaliar sua situação e vão dar o sinal verde para fazer qualquer alteração na sua dieta. Com isso, a gente vai para o segundo estudo que é mais sensacional ainda. Ele é mais ou menos relacionado ao estudo anterior. É um artigo publicado pela Universidade de Melbourne, na Austrália. O título em inglês diz “Dieta paleolítica = ganho de peso”. Aí ele continua: “Pesquisadores dizem que ciência está em cima das dietas de baixo carboidrato e alta gordura. Elas não funcionam e podem causar problemas de saúde.” Esse é o título desse artigo. Essa é aquela questão dos camundongos, Dr. Souto. Os camundongos ganham peso com uma dieta de baixo carboidrato. A gente já cobriu isso, mas você pode falar um pouco mais. Podemos falar “dieta paleolítica”, que é um termo mais popular do que “low-carb, high-fat”.

Dr. Souto: Esse estudo é impressionante. Ele foi feito de forma deliberadamente mal intencionada. Ele foi desenhado por um autor que nas redes sociais fala raivosamente contra a dieta paleolítica. Ele quis desenhar um estudo para mostrar que esta dieta é ruim. Como ele fez isso? Primeiro ele escolheu o camundongo que sabidamente ganha peso com uma dieta de alta gordura. Uma vez no meu blog eu coloquei a foto de um bordi, bem barrigudo e coloquei embaixo uma legenda assim: o estudo de bordis comprova que comer capim engorda. Estudos de camundongos comprovam que comer gordura engorda porque a gordura não faz parte da dieta natural dos camundongos. Mas não bastou isso. Ele escolheu uma Serpa especial de camundongos mutantes chamados de Camundongos Obesos da Nova Zelândia. São camundongos que foram produzidos em laboratório com cruzamento seletivos para engordar com que tipo de dieta, Rodrigo? Dieta de alta gordura! Eles são camundongos que a gente encomenda num catálogo. Se eu for um cientista, eu os escolho num catalogo esses camundongos para fazer um experimento. Eu posso produzir obesidade experimental neles se eu colocar gordura na dieta dele. Então, eu pego um camundongo que que é pré-disposto geneticamente a engordar com uma dieta de alta gordura e vou usar ele para saber se uma dieta com gordura engorda. A segunda coisa é que a dieta paleolítica é baseada na dieta com a qual o ser humano evoluiu. É uma dieta que não produtos da agricultura moderna: farináceos, grãos, farinha de trigo, açúcar. É uma dieta o mais natural possível, feita de plantas e bichos, comidas de verdade. Mas qual foi a dieta paleolítica dos camundongos? É engraçado, se não fosse triste. Era gordura isolada, tipo gordura de cacau, mais banha, mais canola. O que pode ser menos paleolítico do que óleo de canola? A única fonte de carboidrato na dieta dos camundongos que consumiram essa dieta “paleolítica” foi sacarose. Açúcar refinado de mesa. Então, os pesquisadores pegaram esses animais que foram pré-selecionados para ganhar peso em uma dieta com mais gordura, deram para eles uma dieta com gorduras artificiais e refinadas, cuja única fonte de carboidrato era sacarose, chamaram isso de dieta paleolítica e publicaram que dieta paleolítica engorda. O exemplo é semelhante ao anterior. Antes de verificar se é relevante ou não saber se roedores comendo canola com açúcar engordam, vamos ver os estudos de dietas paleolíticas em seres humanos. Existem ensaios clínicos randomizados, aquele estudo no qual sorteamos as pessoas. Esses ensaios clínicos randomizados mostram benefícios de perda de peso e melhora metabólica e melhora da resistência à insulina de forma inequívoca em humanos. Portanto, só seria relevante um estudo desses em camundongos se os estudos em humanos mostrassem que a dieta paleolítica engorda serem humanos. Eu desafio qualquer pessoa a encontrar na literatura um ensaio clínico randomizado que mostre que essa dieta produz ganho de peso em humanos. Existem alguns estudos que mostram que uma dieta de baixo carboidrato é eventualmente equivalente a um outro tipo de dieta. Eu e você já lemos bastante essa literatura. Não tem, não existe. É uma explicação complexa para um fenômeno fictício mais um vez. No entanto, a mídia publica esse tipo de coisa e seu amigo, seu pai, sua mãe vão mostrar e falar “olha aqui um estudo mostrando que aquela dieta que você faz é ruim”.

Rodrigo Polesso: É exatamente isso que eu ia dizer. Eu acho um absurdo como a Universidade de Melbourne na Austrália, que supostamente deveria ser uma universidade séria posta uma coisa dessa. Não cheguei a analisar como essa mensagem saiu no Brasil. Dr. Souto, você viu ela publicada em algum lugar?

Dr. Souto: Por sorte, Rodrigo, essa da Austrália não chegou a ser repercutida no Brasil. Essa da Austrália foi bizarra. Inclusive, existem autores pedindo a retratação desse estudo. Foi tão mal feito e tão mal intencionado, que vários autores e cientistas no mundo estão escrevendo para a revista científica que publicou esse estudo solicitando a retratação – ou seja, que a revista retire da literatura científica esse estudo. Ele é muito absurdo. Foi mal intencionado e foi feito com o único objetivo de enganar quem lê.

Rodrigo Polesso: Eu considero isso um crime contra a humanidade divulgar esse tipo de coisa. A minoria das pessoas é expert em nutrição. A minoria das pessoas sabe avaliar o que está lendo. As pessoas normais do dia a dia vão olhar para as pessoas de autoridade que estão passando a mensagem. A revista, a Universidade de Melbourne, um estudo científico são considerados como autoridade. Então, as pessoas não vão questionar. Elas vão ler “Dieta paleolítica = ganho de peso” e vão começar a falar mal disso. Isso é um crime sem medidas contra a comunidade. A revista que publicou foi a revista Nature. É um absurdo que eles tenham aceitado uma publicação desse tipo. Mas eu fico feliz que você esteja ouvindo o podcast da Tribo Forte, pois faremos o máximo para proteger você contra essa má informação disponível aí.

Dr. Souto: Estou muito feliz que agora teremos esse podcast semanal com data e hora certa para ser publicado toda semana. Toda terça-feira vocês vão saber a análise do que aconteceu na semana anterior. Para aqueles que participam da Tribo Forte e do meu blog, esse tipo de coisa não vai passar batido.

Rodrigo Polesso: Com certeza. Taremos convidados para bater um papo com a gente aqui. Vamos responder perguntas da comunidade. Daremos dicas também. Daremos uma dica para o pessoal que se adapta a low-carb. A Tribo Forte é uma iniciativa nova. Esse é um podcast 100% gratuito. A Tribo Forte é um portal de conteúdo privilegiado com ferramentas para medir seu peso, receitas, documentários legendados em português, acesso à perguntas diretas para o Dr. Souto. São várias informações que ajudam a manter esse estilo de vida saudável. É o único seguro de saúde que te ajuda a viver melhor. A qualquer momento você pode clicar no botão abaixo do podcast para saber o que é a Tribo Forte, que é um projeto novo que tem como objetivo mudar a forma como o Brasil entende saúde e emagrecimento. Estou muito feliz de ter encontrado o Dr. Souto como membro. Fazendo isso, você acaba suportando essa iniciativa nossa, nos ajudando a fazer cada vez mais coisas de qualidade. Vou passar uma dica rápida para deixar a adaptação à uma dieta low-carb muito mais fácil, principalmente no começo. O pessoal às vezes reclama de dores de cabeça, fraqueza. Isso leva 30 segundos para se solucionar.

Sr. Souto: Nem todo mundo passa mal na transição para uma dieta de baixo carboidratos. Isso recebeu alguns apelidos – gripe Atkins ou gripe low-carb. Algumas pessoas sentem dor de cabeça, enjoos, intestino preso, sem energia para fazer atividades físicas. A maioria das pessoas pensam que isso é por falta de glicose. Quando falam isso eu sempre falo para pegar um aparelho para medir a glicose na hora que você está se sentindo assim. A glicose dá normal. A glicose é mantida estável pelo fígado, não precisa vir da dieta. O problema não é a glicose, o problema é um desequilíbrio hidroeletrolítico – ou seja, um desiquilíbrio de água e eletrólitos (sódio, potássio e magnésio). Numa dieta super rica em carboidratos, o hormônio insulina é estimulado. Além de dificultar a perda de gordura no corpo, a insulina ajuda a reter líquido e sódio nos rins. Esse é um dos motivos pelos quais a síndrome metabólica, que é a situação na qual a pessoa tem a insulina cronicamente alta, além de ganho de peso, muitas pessoas ficam hipertensas, porque retêm sódio e água. Quando mudamos o estilo de vida e a insulina baixa, várias coisas começam a melhorar. Uma das coisas que melhoram é a retenção de líquido e sal. Só que a pessoa que está acostumada a ouvir as recomendações tradicionais, já vinha cuidando para comer pouco sal. Todo mundo houve e lê todos os dias que devem comer pouco sal. Agora ela está comendo pouco sal e pouco carboidrato. O corpo começa a perder sal, começa a perder água e a pessoa começa a ficar tonta, com dores de cabeça, com fraqueza, com cãibras. A dica é muito simples. A gente tem que repor o sal. Nós temos que consumir uma quantidade maior de sal. É diferente uma pessoa consumir mais sal numa dieta errada, cheia de açúcar e farinha. Sal com açúcar e farinha é um desastre. Quando a gente concerta nossa dieta, passamos a perder sal e água pelos rins e precisamos repor. Então, pode usar o sal na sua comida. Pode fazer uma sopa com vegetais, com frango e carne. Um caldo salgado. A reposição diária de sal ajuda a diminuir esses sintomas que a gente falou. Se a pessoa fizer isso desde o primeiro dia de mudança de dieta, ela provavelmente vai prevenir a ocorrência de sintomas desagradáveis.

Rodrigo Polesso: Com certeza. Dou outra dica, que é tomar sopa de ossos, o brodo, o caldo de ossos. Você pode adicionar o tempero que quiser e sal também. Além do sal, ele vai te nutrir com um monte de outras coisas. Para o pessoal que faz jejum intermitente, é uma bebida aprovada. Isso torna muito mais fácil a sustentação do jejum ao longo prazo.

Dr. Souto: Essa é uma dica muito boa. Tenho uma postagem no blog sobre isso. Com certeza dentro da área de membros da Tribo Forte deve ter a receita da sopa de ossos.

Rodrigo Polesso: Sim. Vou colocar variações dela para o pessoal. É muito fácil de fazer. Eu fiz na semana passada. Eu encontrei ossos à venda no açougue, já cortados. Eu coloquei os ossos numa panela funda. Eles não estavam cozidos. Eu enchi de água e coloquei sal e pimenta de tempero. Eu deixei ferver por umas 7 horas, porque eram ossos de carne bovina. Se for fazer com peixe ou frango, pode ser menos tempo. Carne bovina tem gente que ferve pro até 48 horas. Depois disso eu deixei resfriar, porque a gordura sobe para a superfície e fica fácil de retirar para poder tomar durante um jejum intermitente. O resta é somente o suco de saúde. Você pode congelar isso e aquecer no micro-ondas como eu fiz agora mesmo para iniciar esse podcast. Essa é uma dica extra, espero que tenha sido útil.

Dr. Souto: Essa é uma coisa mais nutritivas a se fazer, além de ser extremamente barato. Ali você terá vários minerais, cálcio, fósforo, magnésio, potássio, além do sódio na forma de sal. Por cima de tudo, existe o colágeno. As pessoas compram cápsulas de colágeno. Toda a proteína do osso é, basicamente, colágeno. Aquilo é rico em um aminoácido muito importante que é a glicina. Essa dica é fantástica, Rodrigo. Talvez seja a melhor forma de evitar os sintomas de adaptação no início de uma dieta low-carb.

Rodrigo Polesso: Com certeza. Vou me certificar de que a receita estará na área de membros da Tribo Forte. Maravilha! Com isso a gente fecha o que queria passar nesse segundo episódio. Espero que tenha sido recheado o suficiente para você e tenha ajudado a elucidar muitas das balelas que são ditas por aí na mídia e divulgadas sem o menor julgamento. A Tribo Forte é um projeto novo. Tem uma área de membros completa, 100% nova. Nós vamos te auxiliar para que você mantenha um estilo de vida saudável e até emagrecer. Temos ferramentas, documentários, acesso direto ao Dr. Souto, estudos científicos completos. Tem muita coisa e está sempre crescendo. Todos os podcasts que fizermos estarão lá dentro com transcrição e tudo mais. Fazemos também bônus e forneceremos para os membros lá dentro. Na última vez fizemos um bônus com 10 alimentos para você abraçar e 10 alimentos para você chutar. Para você se juntando à Tribo Forte, você precisa fazer um pagamento mensal muito baixo. Você nos ajudará a manter isso e fazer cada vez mais coisas melhores. O podcast vai continuar sendo semanal, todas terças-feiras às 7 da manhã, totalmente gratuitos. Mas os membros têm acesso a muitas outas coisas privilegiadas e exclusivas que a população geral não tem. Mas esse serviço nosso aqui é gratuito, para que possamos atingir o maior número de pessoas. Vou deixar o Dr. Souto dar a palavra final e a gente vê o pessoal na próxima terça-feira às 7 da manhã no próximo episódio.

Dr. Souto: Eu gostaria de agradecer todos que estão nos ouvindo e agradecer o Rodrigo pela iniciativa. Essa era uma ideia que eu tinha há muito tempo. Ter um podcast semanal, periódico, onde podemos desenvolver temas. Nem sempre temos tempo para desenvolver um texto na maneira que desenvolvemos com um bom bate-papo. Toda essa estrutura que temos aqui permite que possamos fazer isso semanalmente, com um tempo dedicado a discutir os assuntos mais quentes.

Rodrigo Polesso: A gente se vê na próxima semana um grande abraço para todo mundo e até lá.

Dr. Souto: Até lá.

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